Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 57
a chave de Renée


Notas iniciais do capítulo

POV Edward
16 de Abril....



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Edward

16/04/1888

A diligência balança e a cada sacudidela meus pensamentos parecem saltar numa ordem aleatória. Da imagem de Isabella na estrada quando, sem saber, me apaixonei pela estranha senhorita atrevida; pula para ela cuidando de mim no celeiro quando fui para o tronco; depois Isabella fazendo cena de ciúme por causa da senhora Jéssica; depois indo, nua, ao meu encontro e nós nos amando silenciosamente ao luar; para ela grávida, me contando que éramos irmãos, depois de passados dois anos esperando encontrar um jeito de ficarmos juntos.

Aperto os olhos lembrando-me do tiro que levei na perna no dia de seu casamento e automaticamente toco a cicatriz por cima do tecido de minha calça, na minha coxa. No meu íntimo sei que são normais todas essas lembranças, afinal, nesses quase cinco anos, pedi tanto aos céus para esquecê-la, porém quanto mais pedia mais me lembrava. Quase não leio mais, romances então, nem pensar, vejo Isabella representada em cada mocinha ou heroína.

Perto da entrada do Engenho, a lembrança mais recente de algo que está me incomodando tanto que nem sei explicar. E não é uma lembrança de Isabella, é de Bree. Bree encolhida e soluçando na minha cama.

Em parte queria que ela fosse embora, queria me lavar, me esfregar e tirar aquela sensação estranha do meu corpo. Por outra, tive uma profunda necessidade que ela me perdoasse. Estiquei o braço para tocá-la e ela estremeceu e encolheu mais a perna. Pela primeira vez, eu não sabia o que dizer ou fazer. Aquela menina iria ser minha esposa, fora eu que a escolhera, ela confiou em mim e eu a trai da pior forma.

Disse a ela que a esperaria na sala, lhe daria o tempo que ela precisasse para se recompor, mas na verdade era eu que precisava de tempo para tentar descobrir o que dizer ou fazer. Ajeitei toda a sala enquanto a esperava e quando ela apareceu, eu ainda não sabia o que dizer. Comecei dizendo a primeira coisa que me vinha a mente, disse que iria com ela na casa de seus pais, que pagaria para reparar o feito, que ela tinha o direito de anular o contrato do casamento e tudo o mais.

Ela apenas terminou de me ouvir e depois disse que não anularia o casamento, mas que pediria a seu irmão, que era advogado, que incluísse uma clausula que me impedisse de tocá-la dessa forma. Ainda lembro da expressão no rosto de Jasper quando lhe contei isso. Ele disse que achava pouco provável que existisse alguma lei que protegesse as mulheres casadas de seus próprios maridos. Eu disse que não me importava de assinar, mas que provavelmente não me imaginava a tocando mais de nenhuma forma.

Está um sol radiante, quente e brilhante quando saio da diligência. Sorrio pegando minha mala de mão ao lembrar o porquê Jasper não viera comigo. Ele e Alice irão se casar, só assim consegui fazer uma coisa boa, dei a casa da corte de presente para eles. Sei que a essa hora Jasper já deve ter lhe contado.

Subo os degraus de dois em dois. A porta está aberta, deixo a maleta no chão e chamo por Renée. Ela não demora a aparecer, mas está séria e carrega uma cesta de vime nas mãos.

─ Renée que bom...

─ Tu tá sozinho menino? – ela pergunta e estranho seu tom de voz, triste.

─ Estou sim, Renée. Jasper ficou na corte por que... – paro quando ela estica a cesta na minha direção.

Meu coração dispara. Dentro da cesta estão as cartas que escrevi para Isabella durante os dois anos que fiquei na lavoura, quando ainda não sabia que éramos irmãos. Não preciso olhar tudo para saber que também estão ali alguns desenhos que fiz de Isabella, antes e depois de nos separarmos. Ensinei Renée a ler nos últimos meses, não aguentava mais vê-la com seu analfabetismo funcional, conseguindo ler apenas o livro de receitas. Ela adorou conseguir ler os romances que eu lia para a madrinha e passara suas horas livres treinando a leitura e a escrita. Parece que ela andou lendo demais, até o que não devia.

─ Quanta dor. – ela diz com lágrimas nos olhos. Permaneço mudo. – Mas... quanto amor. – sua fala também melhorou bastante depois que começou a ler e aprendeu a escrever.

─ Renée, deixe-me explicar. – peço.

─ Não precisa. Já entendi tudinho. – uma lágrima escorre de seu olho e meu coração fica apertado.

A última coisa que queria nesse mundo era causar tamanho sofrimento para ela. Renée era como uma mãe para mim.

─ Renée, sente-se aqui. – fico preocupado, ela já tem seus quase 60 anos de idade.

Ocê que vai sentar, menino. Fiquei calada por todos esses anos, mas agora vou falar. Tudo que tá engasgado. Tu vai me ouvir, me ouvir muito bem e depois, só depois tu vai decidir o que fazer da tua vida. Tanto você quanto sinhazinhabella tiveram preso, acorrentado por um destino cruel. Isso num tá justo. Tem hora na vida da gente que a gente precisa quebrar as correntes do destino pra ser feliz. Mas tem hora que basta só encontrar a chave do cadeado.

Sento-me lentamente enquanto ela fala e se senta na poltrona a minha frente. Olho para Renée e uma voz vinda de dentro do meu coração grita que, estando eu cansado para quebrar essas correntes, a vida encontrou um meio de me dar a chave.


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