Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 25
Noivo e "cia"


Notas iniciais do capítulo

POV - Narrador



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Isabella saiu do quarto contrariada. Tentou por diversas vezes falar com sua mãe sobre o assunto, mas estavam sempre rodeadas de roupas de cama, cortinas e escravas. Por ela, nem sairia do quarto, sequer para ver seu pai. Mas sua mãe insistia em que esperassem por eles na sala.

Dona Esme dava os últimos retoques na mesa do jantar, ensinava a Emily a posição de cada um e dos pratos e talhares. Emmett ainda terminava de limpar a prataria, sempre calado.

─ Minha filha, por que não puseste aquele vestido que compramos na corte, aquele cor-de-rosa?

Isabella passou a mão esticando a saia do vestido que usava, um que trouxera em sua mala, era todo em tons de cinza. Combinava com seu estado de espírito. Não estava nem um pouco com vontade de se arrumar para receber ninguém. Quanto menos o filho do primo Newton a achasse atraente, melhor.

─ Gosto desse. – disse simplesmente.

Enquanto se banhava, Isabella decidiu que de nada adiantaria importunar sua mãe com essa história do noivado. A seu pai, muito menos, afinal, assim que soubera de sua volta, fora ele mesmo para o Rio Grande do Sul, buscar pessoalmente a família do primo. Portanto tentaria uma outra estratégia, iria direto ao ponto, tentaria fazer com que o filho do primo Newton a detestasse. Tinha de funcionar.

Ouviu-se o barulho dos cascos dos cavalos e dona Esme arrastou Isabella para a porta da entrada. Eram eles, três carruagens, uma para seu pai e o primo Newton, uma para a filha deles com as crianças, sem o marido e outra para o filho, Mike, como todos o chamavam.

Isabella abriu um largo sorriso ao ver seu pai, apesar de tudo ela o amava e sentira muita saudade. Comendador Carlisle subiu as escadas ao lado do primo Newton.

─ Minha filha! – ela falou abrindo os braços.

─ Papai!

Os dois se abraçaram brevemente.

─ Estás bela por demais, minha filha. Conheces o primo Newton não?

─ Olá, senhor Newton. – ela esticou a mão e Newton a beijou com cortesia.

─ Como está crescida e mui bela!

Newton era um fazendeiro no Sul e usava vestes um pouco fora do comum para o Rio de Janeiro. Um imenso chapéu de couro bege, completava seu visual. Tinha porte médio e era parrudo. Uma barba grisalha e olhos muito azuis. Devia ter uns cinquenta anos de idade.

Logo a prima Jéssica subiu as escadas com seus dois filhos. Uma menina de aproximadamente quatro anos e um menino de seis. Jéssica tinha os cabelos encaracolados e soltos por baixo de um chapelão, era loira, olhos azuis, os seios quase saltavam de seu vestido de tão volumosos, não era magra nem gorda, aparentava ter um corpo bem moldado por baixo do espartilho apertado. Tinha por volta dos trinta anos de idade, apesar da aparência bem jovial. Era uma mulher muito bonita e que provavelmente chamava a atenção aonde chegasse.

─ Como vai prima? Acredito que não se lembre de mim. – Isabella a olhou com curiosidade – A última vez que nos vimos, você devia ter a idade de Robert! – ela gargalhou.

Isabella a cumprimentou meio sem jeito por suas maneiras espalhafatosas. E então, por trás de um imenso arranjo de flores do campo, estava Mike. Altura média, ombros largos, possivelmente praticava algum esporte, cabelo loiro muito liso, mas aparado, lábios finos e rosados, e olhos profundamente azuis. Isabella não esperava que ele fosse tão bonito e de aparência tão gentil. Isso tornava a tarefa de insultá-lo mais difícil.

─ Senhorita Isabella. - falou lhe entregando o arranjo de flores.

─ Primo Mike.

─ Tenho que dizer que por todo esse tempo imaginei como a senhorita seria na realidade e confesso que estou decepcionado com minha imaginação. – Isabella franziu o cenho e ficou confusa – Nem em um milhão de anos minha imaginação seria capaz de reproduzir qualquer traço seu devido tamanha beleza. – falou beijando o dorso de sua mão. Seus lábios estavam frios, Isabella não conseguiu evitar um arrepio. Ele sorriu.

Quando Mike saiu de seu campo de visão, Isabella avistou uma jovem, de roupas simples, mas muito bonita. Estava carregando uma maleta, segurando com as duas mãos a frente do corpo e mantinha a cabeça baixa.

─ Quem é ela?

─ Ah! Alice! Que bom. Isabella estava mesmo a precisar de uma mucama.

Alice. Isabella recordou que era esse o nome de uma escrava que brincava com ela quando criança. Pelo que se lembra, Alice era apenas um ano mais velha.

─ Sinhazinha. – Alice aproximou-se, olhou Isabella nos olhos brevemente e fez uma reverência.

─ Esme, espero que a janta esteja pronta, estamos todos com fome. Vamos logo para dentro, está fazendo muito frio aqui fora. Jantamos primeiro, depois alocamos os convidados. – Comendador Carlisle falou esticando o braço em convite para que entrassem.

Mike entrou atrás de seu pai e do comendador, Jéssica entrou ao lado de dona Esme com as crianças, por último ficaram Isabella e Alice. Ambas paradas no alto da escada.

─ Lembro-me de você.

Alice sorriu.

─ Que bom, sinhazinha. – falou envergonhada.

─ Por que estavas com a prima Jéssica?

─ Fui criada deste pequena pra ser sua mucama, sinhá, mas depois que foi embora, fiquei sem o que fazer aqui na chácara. Dois anos pra trás, a senhora Jéssica mais o irmão vieram pra cá quando a mãe deles morreu. Ficaram uns tempos aqui e quando foi embora, a senhora Jéssica me pediu emprestada pra sua mãe pra ajudar ela com as crianças.

─ Humm. – Isabella analisou a menina. Tinha uma fala singular, parecia ter algum estudo. – Você sabe ler, Alice?

─ Sei, sim senhora. Aprendi a ler mais Edward...

─ Edward? – Isabella perguntou sobressaltada.

─ Sim. A sinhazinha se lembra dele?

─ Lembrar? – Isabella suspirou de leve. – Claro que me lembro.

─ Sua mãe pediu que ele me ensinasse a ler e escrever. Queria que eu fosse muito útil quando a sinhazinha voltasse.

Isabella esfregou os braços sentindo uma brisa fria. Apesar de estar de mangas compridas, estava fazendo muito frio. Olhou para Alice, ela estava apenas com um xale de lã sobre os ombros.

─ Então, você e o Edward se davam bem?

─ Edward? – ela abriu um sorriso imenso – Tô morrendo de saudade dele! Edward é como um irmão pra mim, sinhazinha. Sempre ajudou eu mais mainha...

─ Sua mãe?

─ Mainha Cynthia, a parteira!

─ Ah, sim. Agora me lembro.

Isabella sentiu um alivio em saber que Alice não estava na lista de conquistas de Edward. Mas de alguma forma ela já sabia, sentia que podia confiar nela. Havia uma ligação quase fraterna entre elas.

─ Alice, não preciso de uma mucama, por mim, a escravatura no Brasil já podia ter sido abolida. Mas preciso de uma amiga. – Isabella segurou as duas mãos de Alice ao falar.

Alice era franzina, um pouco mais baixa que Isabella. Pele morena, tinha um rosto delicado, os lábios carnudos e olhos castanhos escuros e sinceros. O cabelo encarapitado, cheio, estava preso por um lenço colorido.

─ Serei o que a sinhazinha precisar, pode contar comigo.

Isabella sentiu um impulso para abraça-la, mas hesitou, seu pai não ia gostar nada disso.

Todos já tinham tomado seus lugares na mesa quando Isabella entrou na sala de jantar. Jéssica pedira que Alice colocasse as crianças para dormir. A mesa agora tinha dona Esme e Comendador sentados nas cabeceiras, Jéssica ao lado de Isabella e de frente para seu pai. Quando Isabella colocou a mão na cadeira e viu Mike a sua frente, sentiu seu sangue esquentar. Aquele era o lugar de Edward, não dele.

O jantar seguiu bastante animado, havia-se muito o que conversar. Isabella falava o menos possível. Somente se animou quando o assunto foi a escolinha que gostaria de montar, seu pai não pareceu fazer nenhuma objeção pelo menos não na frente dos convidados. Ela evitava olhar para Mike mas sabia que ele não tirara os olhos dela todo o tempo.

Após o jantar, foram para o salão de entrada para os drinques.

─ Dona Esme, como sempre, a refeição estava maravilhosa! – Jéssica falou cheia de trejeitos.

─ Agradeça a Renée!

─ Renée, sim, como sempre! Irei pessoalmente à cozinha para parabeniza-la mais tarde. E por falar em cozinha, onde está aquele escra... – Jéssica tossiu, lembrando-se que dona Esme tratava Edward como um sobrinho. – jovem, o talentoso Edward?

Isabella que estava brincando com a renda de seu vestido, totalmente entediada, virou a cabeça assim que ouviu o nome de Edward.

─ Deve estar pela chácara, à noite ele costuma ficar em seu quarto. Ele lê bastante.

Isabella sentiu um frio na barriga. Não, mamãe, a última coisa que Edward tem feito em seu quarto é ler. – pensou.

─ Bem que ele poderia animar a nossa noite, não? Um pouco de música seria perfeito para nos relaxar antes de nos recolhermos!

─ Certamente, prima Jéssica. Pedirei a Emmett que vá chama-lo.

Jéssica sorriu assentindo e Isabella pode sentir a maldade que havia em seu pedido. Levantou-se e foi atrás de sua mãe.

─ Mamãe! – chegou no instante que dona Esme ia falar com Emmett. – Não precisas chamar Edward, eu posso tocar!

─ Minha filha, sei como ficas constrangida ao piano, principalmente na frente de outrem. Emmett... – dona Esme virou-se para o escravo.

─ Mas mamãe, Edward não fica à vontade na presença do papai...

─ Sendo um pedido de Jéssica seu pai não tem o que falar.

─ Mas ele pode ficar constrangido de tocar na frente de estranhos!

Dona Esme sorriu.

─ Estranhos? Não! Edward conhece muito bem a Mike e Jéssica. Na época em que estiveram aqui, Edward e Mike andavam juntos a cavalo, jogavam carteado e iam à corte. E Jéssica inclusive teve algumas aulas de inglês com Edward.

Isabella piscou. Piscou. Piscou de novo.

─ Aulas de inglês? – perguntou incrédula.

─ Sim. O marido de Jéssica, vive viajando para a América, ele tem uma destilaria. O melhor uísque do sul. Ela disse que iria com ele na próxima viagem e como ficou sabendo que Edward falava bem o inglês, aproveitou o tempo aqui para aprender um pouco.

─ Quanto tempo eles ficaram aqui?

─ Vieram no início do mês de dezembro, quando a mãe deles falecera. Ficaram para as festas de fim de ano e também as férias de janeiro e fevereiro. Depois, Mike tinha de voltar a Universidade então eles foram todos embora.

Isabella não escutava e nem enxergava mais nada. Estava tomada por um sentimento que reprimia, mas que só descobrira que existia depois que conhecera Edward: O ciúme. Olhou para Jéssica, a linda e espalhafatosa Jéssica, que estava acendendo sua cigarrete próxima à janela, e começou a imaginar Edward em seus braços, risadas, cachos loiros bagunçados, aqueles seios enormes sufocando Edward, mais risadas, fumaça de cigarro, copos de uísque, mais risadas...

─ Isabella! – dona Esme gritou.

Isabella ouviu seu nome e saiu do transe. Havia apertado a taça de champanhe com tanta força que ela tinha estourado entre seus dedos. Por sorte estava com suas luvas de veludo e não cortara a mão no cristal. Olhou de relance para o lado e Emmett já tinha partido para chamar Edward. Arquejou. Emily começou a limpar os cacos e Isabella deixou ser levada por sua mãe até o sofá.


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