Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 23
O segredo


Notas iniciais do capítulo

POV - Narrador



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─ Eu tinha 14 anos quando o convento pegou fogo. – Isabella estava deitada de lado e Edward a abraçava por trás.

Edward abriu os olhos, estava quase dormindo, mas essa frase repentina o despertou.

─ As meninas foram divididas e algumas freiras as acompanharam. Eu e mais três meninas, fomos para uma espécie de pensão. A princípio achamos que fora muita sorte, mas depois... – Isabella apertou os olhos.

─ Não precisas falar nada, Bella. – Edward ergueu um pouco o corpo para tentar olhar seu rosto.

─ Eu quero. – ela suspirou e continuou.

A tal pensão tinha uns quatro andares, eu sempre ficava na parte de baixo, eu era a mais nova das meninas e rapidamente aprendi a cozinhar. A cozinheira, Leah, me adorava. Talvez fora por causa dela que esperaram tanto para me mandarem para o último andar. Realmente funcionava uma pensão com quartos no térreo e no primeiro andar. Era um lugar de aparência pobre, porém mantinha-se tudo bem limpo. E era à noite que tudo acontecia.

Existia uma freira, que pegava as correspondências de nossos familiares e trazia para nós, nos entregavam tudo aberto e revirado, mas às vezes nas cartas, mamãe dizia que tinha enviado um dinheiro que nunca chegou em minhas mãos. Só podíamos responder as cartas duas vezes no ano ou quando havia muita insistência dos familiares, eles tinham medo de que viessem querer saber de nós. A freira sempre acrescentava uma carta com o timbre e o selo do convento.

Eu, no início, ainda achava que era provisório e que logo voltaríamos para o convento reformado para nos formarmos, mas isso nunca aconteceu. E então, chegou a minha vez...”

─ Pare. Não precisas me contar nada! Posso sentir a dor em sua voz e isso está me deixando em pedaços...

Isabella se virou de frente para ele e segurou o rosto de Edward entre as mãos.

─ Eu preciso contar. Tu confiaste em mim me mostrando seu lado mais obscuro e juntos o tornamos algo bom e possível. Não quero que haja mais segredos entre nós.

Edward fechou os olhos assentindo e voltaram a mesma posição.

─ Foi exatamente no dia do meu aniversário de 15 anos.

Dona Leah me arrumou e me deixou deslumbrante, eu estava eufórica. Não sabia o que se passava exatamente lá em cima. Não conversava mais com as meninas que tinham ido comigo. Eu sabia que um casal poderia fazer sexo, mas não sabia como era isso. Dona Leah tentou explicar-me algumas coisas mas eu não compreendia.

Os homens se amontavam na sala, eram homens de todas idades e tamanhos. Mas todos eram homens de posses, ricos, muito ricos, disso eu sabia. Madame Jane começou a falar e me vi num leilão. Ela estava me leiloando. Depois de muitos lances, um cavalheiro.. – Isabella riu em desdenho – deu o maior lance de todos e então fui levada para um quarto muito bonito, apesar de pequeno, para aguardá-lo. Lembro que fiquei até animada em poder conhecê-lo, ele era jovem, na casa dos trinta anos e muito bonito. Quando ele entrou no quarto eu estava sentada na cama sorrindo como uma boba. Ele fechou a porta atrás de si e sorriu para mim.

Ele não deu uma única palavra comigo. Se aproximou e cheirou meus cabelos. Pegou uma champanha que estava ao lado da cama e me deu para beber. Bebi quase a garrafa toda e então, ele me empurrou na cama caindo sobre mim, tentei empurrá-lo falar com ele, mas ele parecia não ouvir. Ele rasgou minhas roupas de baixo com um canivete que puxara do bolso, ele era muito rápido nos movimentos. Segurou meus braços e então começou a enfiar dedos dentro de mim, eu gritava, mas o quarto parecia ter algo nas paredes que abafavam meus gritos.

O homem só parou de enfiar os dedos quando ele viu o sangue. Daí ele sorriu, um sorriso louco e me penetrou com força, muita força. Eu desistira de gritar e só chorava, chorava muito. Aquele homem me machucou de todas as maneiras que ele podia. Quando ele acabou, puxou sua calça, jogou um saco de moedas em cima da cama e saiu. Eu me encolhi e estava soluçando de tanto chorar. Nem percebi quando Leah me levantou da cama. Ela me ajudou a me limpar e a trocar de roupa, mas quando achei que ia para meu quarto descansar, outro homem entrou.

Eu corri e busquei força de onde não tinha para segurar a porta, meu pânico aumentou quando vi que havia uma fila de homens para entrar no quarto. Dois negros bem altos e fortes, me seguraram e me levaram de volta para dentro do quarto. Eram empregados da madame, estavam sérios, mas vi nos olhos deles um lampejo de pena.

Dessa vez o homem era gordo e tinha a face avermelhada, tinha uma aparência gentil, teve mais dificuldade em me penetrar do que o outro, mas conseguiu me machucar da mesma forma. Leah trouxe mais bebida e me fazia beber a cada homem que saía. E depois veio outro e mais outro e mais outro... Até que entrei num estado de dormência e nada mais sentia a não ser asco. As lágrimas pareciam ter cristalizado, eu já não enxergava mais nada com nitidez. Até que acabou. Naquela noite. Depois vieram mais tantas outras.

As mulheres mais velhas me ensinaram tudo que sei, ensinam-me a fazer com que eles “acabassem” logo e também a fazer coisas para que eles pagassem mais. Quando comecei a dar lucro para a madame, ela começou a me mimar. Dava-me roupas caras, perfumes, boa alimentação. Com o tempo fiquei fria. Quando não tinha homens na casa, era tudo muito animado. Conversávamos muito e bebíamos. Foi numa dessas festinhas íntimas entre as meninas que elas me ensinaram sobre o prazer feminino.

Algumas delas, eram como... casais. Elas se beijavam e dormiam juntas. Certo dia ficamos as três no quarto, bebendo muito e eu deixei que elas me tocassem. Foi divertido e prazeroso. A partir dali, passei a me tocar sempre que tinha vontade, às vezes, com algum homem que me sentisse mais à vontade, eu pedia que ele fizesse, mas nunca era bom, eu nunca conseguia sentir nada.”

─ Por isso duvidaste que eu pudesse? – Edward limpou algumas lágrimas que teimavam em rolar de seus olhos. Todo aquele relato o entristecia muito.

Isabella assentiu e sorriu, um sorriso triste.

─ Sim. Jamais senti prazer com homem algum, jamais tive desejo por qualquer homem que fosse, até quando eram bonitos. Por muitas vezes, eu vomitava assim que eles saíam de dentro de mim.

─ Mas então, como foi que conseguistes voltar?

─ Certa feita, um senhor com seus quarenta anos, aproximadamente, entrou na casa. Fazia muito frio, a neve cobria tudo e quando era assim, o movimento caía muito e a madame ficava mal humorada.

James não era bonito, mas era bem apessoado, era alto e tinha uma postura elegante. E dinheiro, muito dinheiro. No canto da sala eu e mais três mulheres fizemos uma aposta de quem levaria ele para o quarto. Todas nós seduzimos o homem e ele me escolheu. Quando vi que ele não era violento, e parecia querer mesmo algo que lhe proporcionasse muito prazer, eu fiz tudo o que eu sabia e mais um pouco. Ele ficou louco e além do pagamento, deu-me moedas de ouro a mais. E voltou na outra semana, e depois e depois. Sempre trazia-me um agrado, uma joia, um perfume, sapatos... Até que um dia ele pediu que eu fosse morar com ele.

Pagou uma pequena fortuna por mim, para a madame e me colocou numa casinha situada numa rua estreita num bairro de Paris. Logo entendi que ele era casado e me queria para uso exclusivo. Aceitei a situação por meses, precisava juntar dinheiro para voltar, mas também não imaginava como poderia ser minha vida aqui depois de tudo isso. Certo dia, quando eu passeava pelo parque, eu o vi com sua esposa e filhos.

Sua esposa, Victória, parecia ser mais velha que ele, mas era magra e bonita. Aquilo me encheu de esperança. Consegui segui-los e descobrir onde moravam. Depois dei início ao meu plano. Mandava bilhetes anônimos para a senhora, contando-lhe de nosso caso. Até que um dia, ela o seguiu. Eu sempre procurava deixar a portinhola aberta para caso ela resolvesse aparecer. Ela entrou e nos pegou em cima da cama. Sem roupa alguma.

Eu me cobri e pensei que ela faria um escândalo, mas não. Ela abriu meu guarda-roupa, puxou a mala, a única que eu tinha, enfiou algumas roupas que ela viu pela frente, abriu sua própria bolsa, colocou um envelope, tudo isso em silencio. Ele começou a se vestir rapidamente e nem tentou se explicar. Depois ela virou-se para mim, e mandou que eu me vestisse com uma roupa de viagem. Ela foi para a sala junto com ele, enquanto eu me vestia.

Quando saí, ela estava em pé junto a porta, me olhou de cima a baixo e suspirou. James estava sentado no sofá de cabeça baixa, nem me olhou nos olhos. Ela disse que tinha colocado dinheiro suficiente para que eu pegasse o próximo navio para o lugar mais longe que eu conhecesse e não olhasse para trás.”

─ Uma verdadeira dama.

─ Sim. No quarto eu ainda sentia pena dela, mas depois, senti inveja. Ela não se deixou abalar um segundo sequer, agiu como se aquilo já tivesse acontecido outras vezes, não sei...

─ Ou talvez ela o tenha esfaqueado depois de sua partida... – Edward usou de humor negro para expressar sua revolta com toda aquela história.

─ Talvez... – Isabella o olhou com estranheza e tentou um sorriso.

Edward refletiu por um segundo e algo lhe veio à mente.

─ Onde entra o jovem senhor Jacob neste seu relato?

Isabella se virou de barriga para cima e sorriu. Edward sentiu o fio do ciúme querendo lhe cortar o coração.

─ O senhor Jacob eu conheci no navio de volta ao Brasil. Ele me ajudara, me defendendo de uns bêbados que me importunaram no cais. Ficamos juntos toda a viagem, ele foi um bom companheiro.

─ Vocês...

─ Não! – Isabella se adiantou em dizer. – Não acontecera absolutamente nada. Ele foi um perfeito cavalheiro e nos despedimos em Salvador. Nem sei se algum dia o verei novamente.

─ Então, se um dia o vir, devo-lhe agradecimentos por ter cuidado do meu rouxinol.

─ Sim. Deves mesmo.

─ Bella, tudo isso... – Edward fazia carinho em seus cabelos – Faz com que eu a ame ainda mais. Foste forte e corajosa. E agora está de volta em segurança. E és tão jovem... Passaste por tudo isso e eu ainda fiz... – ele balançou a cabeça em pesar – Peço-te perdão se algum dia a magoei ou...

─ Shiii... Estou aqui, nos seus braços, é o que importa agora. Com você encontrei minha libertação e descobri que era possível amar e ser amada, deste-me um prazer que antes eu jamais acreditei existir e além. Contigo, tudo que faço é consensual e prazeroso. Deste-me os momentos mais preciosos de toda minha vida.

─ Dei-te meu coração e minha vida. E tu me ensinaste a amar.

─ Sou tua.

─ Sou teu.

Eles se beijaram com paixão e Edward segurava o rosto de Isabella com ternura.

─ Isabella – Edward chamou assim que seus lábios se afastaram – Jamais outro homem irá tocá-la sem a sua permissão, até mesmo eu. Eu lhe prometo. – ao terminar de falar abraçou-a bem forte.

─ Sinto-me tão segura aqui, nos seus braços. Nenhum de meus antigos fantasmas pode me alcançar agora.

─ Nem agora nem nunca mais.


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