Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 16
Renúncia...


Notas iniciais do capítulo

POV Edward



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Edward

Preciso tirá-la da cabeça, tenho que arrancar essas palavras! Não são dela, são de Jane! Jane Eyre!

Já fiz alguns rabiscos numa tentativa frustrada de imortalizar o momento mais sufocante que vivi. Sufocante e envolvente, atraente... e improvável. Olho para o papel na prancha. Aqueles traços nunca chegarão nem perto da realidade de sua beleza, jamais captarão sua malícia, seus trejeitos, o sorriso que me deixa louco, os olhos cor de chocolate...

E mais uma vez lembro-me dela repetindo as palavras apaixonadas da senhorita Eyre... Dou um pulo ao ouvir uma batida na porta. Provavelmente é Rosalie. Cubro o cavalete com a manta. Penso em colocar a camisa, mas ouço novamente a batida e paro. É melhor despachá-la e acabar com essa história de uma vez por todas.

─ Rosalie, já conversa... – abro a porta com toda impaciência. Não é Rosalie. – mos. – encerro a frase e me pergunto se estou num daqueles meus sonhos realistas.

─ Perdão. Deves estar esperando... – sinhazinha Isabella sacode a cabeça e se vira para ir embora.

Mexa-se!”

─ Não! – seguro o braço dela a tempo. – Não estou esperando ninguém. Só achei que... – passo a mão no cabelo ligeiramente encabulado. Não quero explicar sobre Rosalie para ela.

O rosto de sinhazinha sob o capuz, a luz da lamparina que ela carrega dando uma iluminação enevoada e amarelada... estava parecendo uma santa.

─ Está frio aqui fora. Não me convidas a entrar? – pergunta num tom baixo, mas sua voz é firme.

Olho para os lados, naquela escuridão, não dava para enxergar nada, só as luzes amareladas de fora da casa grande. Meu casebre ficava no meio termo da chácara, escondido entre as árvores, entre a casa grande e a senzala. Olho para ela e sinto que seu olhar contém um brilho suplicante.

─ Sinhazinha, não posso... não é certo. O que dirão?

─ Ninguém saberá...

─ Mas se descobrem a sinhazinha no meu quarto... – coloco uma mão no batente como se estivesse impedindo sua passagem, mas eu preciso pensar. O que é difícil com aqueles olhos de chocolate sobre mim.

─ Edward... – ela coloca a mão no meu braço. Estremeço por dentro. – Só quero... conversar um pouco. Já lhe disse como me sinto sozinha...

─ Logo a sinhazinha acostuma com a vida no Rio de Janeiro. – falo num tanto ríspido. Se ela procura distração, então que vá a outro lugar.

─ Por favor... o que há de mal em dois jovens conversarem um pouco? Preciso de mais livros, já estou enjoada dos meus! Sei que temos os mesmos... gostos, afinal temos praticamente a mesma idade.

─ Tenho 23 anos, sinhazinha.

─ E eu 18. Não és tão mais velho que eu assim. Por favor...

Respiro fundo. Discutir ali fora também não iria ajudar, logo alguém poderia ver a lamparina acessa e seria muito pior.

─ Bem. Não há mal em que conversemos um pouco. A sinhazinha pode escolher um livro e depois volta para sua casa.

Ela nem espera que eu termine de falar, sorri agradecida e passa por baixo de meu braço esticado e no minuto seguinte está parada no meio do meu “quarto”. Ela se vira e seus olhos param na altura de meu peito. Olho para baixo e corro para vestir minha camisa. Posso estar enganado mas ela parece decepcionada de repente.

─ Não chega nem aos pés de seu quarto, mas aqui eu me sinto em casa.

Ela olha em volta e sorri para mim.

─ Eu gosto. É... peculiar.

Cruzo os braços e estreito os olhos. O que ela quer dizer com “peculiar”. Ela se aproxima do tronco que sustenta o telhado no meio do cômodo e eu tremo com os pensamentos excitantes que passam em minha cabeça quando ela, curiosa, passa a mão pelo tronco.

─ Tu tens um tronco no meio do cômodo? – pergunta confusa.

─ Ele sustenta o telhado. – aponto para o alto.

Ela olha para cima e depois de volta para o trono. É um tronco de madeira clara e lisa, não muito grosso. Idêntico ao que se tem próximo a senzala e aos que tem no Engenho. Sinhazinha nota o pregão com argola para passar corrente.

─ É um tronco de castigo. – fala mais para si mesma do que para mim. Ainda passando a mão no tronco.

─ Não. – falo nervoso e pego a lamparina de sua mão para tentar distraí-la. – É um tronco que sustenta o telhado. Venha. – coloco a lamparina sobre a mesinha que fica no canto oposto da minha cama. – A sinhazinha não quer se sentar? – pergunto e analiso as opções. Uma cadeira dura de madeira velha ou minha cama. É melhor ela ir logo embora.

─ Estou bem. – ela dá um sorriso misterioso. – Mamãe disse que desenhas muito bem. São seus desenhos? – pergunta apontando para o cavalete. É claro que uma moça estudada como ela pode identificar facilmente aquele tipo de objeto.

─ Madrinha costuma exagerar em seus elogios. São só alguns... rabiscos. – corro para passar-lhe a frente quando percebo que está indo em direção aos desenhos.

Mas ela para com outra coisa lhe chamando a atenção.

─ Se enches a banheira de livros, onde tu te banhas? – pergunta divertindo-se.

Sorrio aliviado e ando com ela até a banheira.

─ Seu pai instalara um sistema de encanamento na chácara. Banho-me lá fora, ao lado da latrina.

Sinhazinha Isabella agacha-se e começa a mexer nos livros, lendo nome por nome.

─ Posso mesmo escolher um?

─ Certamente. Todos foram presentes de sua mãe. Portanto, podes levar quantos quiseres. – nossos olhares se cruzam e mais uma vez é como se estivéssemos presos um ao outro, como a descrição do senhor Rochester: “é como se eu tivesse um fio em alguma parte debaixo de minhas costelas esquerdas, firme e inextricavelmente amarrado a um fio semelhante situado na parte correspondente de seu pequeno corpo.

Ela arfa. Seria loucura minha achar que ela pensara exatamente na mesma coisa? Meu coração dá um pulo. Ela tem de partir.

─ Edward. E se... eu quiser mais que livros? – sua mão percorre a borda fria da banheira em direção a minha. Retiro minha mão e levanto-me sobressaltado.

─ Sinhazinha Isabella... esperarei lá fora enquanto escolhe o livro e...

─ Por que se afastas? Sei que apesar da camada de descaso que colocas sobre si, sentes o mesmo que eu! É impossível que não sintas! É tão forte e tão... – ela para de pé, ofegante. Sei que espera uma atitude de minha parte, mas eu não posso, não devo!

─ Sinhazinha, não sei do que estás falando...

─ Não? – ela se adianta e segura meus braços forçando-me a olhá-la nos olhos. – Então digas. Digas olhando dentro dos meus olhos, digas que não me queres. Digas que também não me deseja assim como eu o desejo. – sussurrou.

Não consigo acreditar no que ouço. Ela só pode estar adoentada! Olho-a de cima a baixo, estudando seu corpo e quando volto para seu rosto, percebo o que estava ali esse tempo todo: Sinhazinha Isabella não é mais moça. Antes mesmo que eu me desse conta, ela puxa o cordão que prendia seu manto e enquanto ele cai, ela começa a tirar os braços pelas mangas curtas de seu vestido de dormir. Meu Deus, ela vai ficar nua!

─ Sinhazinha, por favor, se vista! – não sei como consigo falar e fazer o que estou fazendo, colocando seu manto de volta, quando dentro de mim gostaria de estar fazendo o contrário.

─ Olhe para mim... – ela coloca a mão em meu rosto e eu quase cedo.

─ Senhorita, existe entre nós uma barreira social. – falo de olhos fechados.

─ E é você a se preocupar com isso? – há ardor em suas palavras. Respiro fundo e me concentro. Seguro firme seu pulso e retiro sua mão do meu rosto.

Um desespero toma conta de mim e estou insano, fora de mim.

─ Edward, o que... – ela olha incrédula, a testa franzida e tenta lutar inutilmente contra mim.

─ Vista-se e vá! Agora! – falo com aspereza e abro a porta. Vem a minha lembrança a metáfora de pai Billy sobre a flor e a batata. Ela é uma flor, eu não saberei como segurá-la.

Ela pisca, seus olhos estão marejados. Por favor, não chores...

─ Tu és homem experiente, eu sei. Conseguiu perceber que não sou mais uma donzela e me rejeitas, não é isso?

─ Não... – tento falar mas ela não deixa.

─ Que vergonha! Como eu pude achar que tu fostes diferente? Como pude pensar que... que... Agora sei que para tu sou pior do que qualquer escrava suja da senzala, não sou? Meu Pai, quanta vergonha! – ela esconde o rosto entre as mãos.

─ Sinhá... – largo a porta e vou em sua direção mas ela consegue fugir e passa correndo pela porta, sem a lamparina, cai na escuridão.


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