Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 11
Appassionata ao piano


Notas iniciais do capítulo

POV - Narrador



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A semana passou voando. Dona Esme enviara um escravo ao Engenho para avisar ao Comendador sobre a chegada da filha, mas até agora nenhuma resposta. Isabella ocupava seu tempo lendo, ou ajudando a mãe no jardim, ou até mesmo auxiliando Renée na cozinha. Esperava que seu pai voltasse para fazer seu grande pedido: Montar uma escolinha. Sabia que poderia enfrentar uma barreira para alfabetizar os escravos, mas não desistiria de seu sonho. Não dessa vez.

Dona Esme estava adorando a companhia de sua filha, depois de tantos anos longe, mas temia confessar que sentia falta de Edward. Tinha medo que Isabella não entendesse e sentisse ciúmes. Por outro lado, Isabella estava cheia de dedos para pedir que sua mãe chamasse Edward, ela não o via desde o dia do encontro na cozinha e já nem se lembrava do motivo de ter se irritado tanto com ele. Saiu umas duas vezes para passear na chácara e uma na côrte, mas não o encontrara.

─ Algo a incomoda, minha filha? – dona Esme perguntou ao ver Isabella, em pé à janela, olhando o céu que acabara de escurecer.

─ Não, mamãe. – olhou para a mãe e sorriu.

─ Sente falta de algo? – dona Esme percebera que a filha evitava falar de sua vida na Europa, mas de certo lá era bem diferente da vida no Brasil.

─ Longe disso, mamãe! Estar em casa é mais perfeito do que eu poderia querer... – Isabella teve uma ideia. – Talvez...

─ Diga!

─ Música. Sinto falta da música. Na Europa há música por todos os lados, até mesmo nas ruas. – o que não era uma mentira.

─ Podes tocar o piano! Adoraria ouvi-la!

─ Áh mamãe, sabes como fico constrangida ao piano, e não toco a tanto tempo que me sinto incapaz... – Dona Esme balançou a cabeça sorrindo, certamente Isabella exagerava. – Gostaria apenas de ouvir, não de tocar...

─ Certamente! – Dona Esme empolgou-se com a ideia. – Só um instante.

Isabella observou sua mãe se levantar ligeiro e ir chamar Emmett. Emmett, como se dizia em Paris, era um escravo no estilo majordome. Um mordomo sem nenhum glamour, obviamente. Isabella começou a sentir seu estômago revirar, uma ansiedade latente, somente com a ideia de ver Edward. Nunca sentira algo parecido na vida. E não fazia ideia do que isso poderia querer indicar.

─ Madrinha? – depois de alguns minutos de conversa animada, finalmente Edward entrou na sala. Vestia uma calça e sapatos, talvez os mesmos que usava no dia da estrada. Uma camisa de mangas compridas e um colete simples abotoado por cima. O cabelo parecia úmido e ele exalava um cheio de terra molhada e capim-limão.

─ Meu querido! – dona Esme apenas esticou as mãos para ele.

Edward aproximou-se do sofá, onde as duas estavam sentadas. Beijou o dorso das mãos de dona Esme.

─ Sinhazinha... – falou sem jeito e evitando o olhar de Isabella.

Isabella esticou uma mão para que ele beijasse. Edward pegou com muita delicadeza e plantou um beijo macio. Isabella não podia evitar, sabia que havia corado.

─ Vamos! Isabella sente falta de música e para ser sincera também eu gostaria muito de um pouco de música para alegrar esta casa!

Edward hesitou um instante. Passou a mão no cabelo ainda úmido do banho, mas não podia negar nada à sua madrinha e muito menos à Isabella. Sabia disso, sentia isso. Sentou-se ao piano com uma postura exemplar, perfeitamente posicionado.

─ Alguma preferência? – falou tentando olhar para as duas, mas seus olhos foram atraídos por Isabella.

─ Isabella? – dona Esme chamou sorrindo ao ver que a filha não respondia.

─ Ãh? Não. Nenhuma. Toque algo de sua preferência... por favor.

Dona Esme sorriu em concordância e olhou para Edward, aguardando. Edward respirou fundo. Precisava controlar a respiração, por algum motivo, seu coração estava acelerado. Talvez fosse o olhar achocolatado de Isabella sobre ele. Fechou os olhos e começou a dedilhar.

Isabella se admirou ao reconhecer o que ele tocava. Appassionata de Beethoven. Conforme as notas iam se aprofundando, Isabella sentia algo arder dentro de si. Seu peito subia alto a cada respiração. Ao final, estava com os lábios entreabertos e ofegante. Edward suava e sentia-se consumido por uma energia intensa. Poderia tocar por horas.

─ Bravo! Bravo! – dona Esme explodiu em palmas e orgulho.

Edward sorriu com timidez. Isabella quase desfaleceu com aquele sorriso. As covinhas. Pontas molhadas de seu cabelo preto caíam-lhe sobre a testa. Isabella passou a mão no pescoço, também suava.

─ Não lhe disse minha filha? Como Edward tocava bem o piano? – dona Esme falou indo à mesa dos licores.

─ De fato, mãezinha. O senhor Edward tem muito talento. – esforçou-se para falar.

─ Agradecido. Porém a senhorita deve estar acostumada aos mais brilhantes concertos e eu apenas sou um admirador e amador desta arte.

─ Ao contrário. Tu não deixas a desejar em nada. Creio que és capaz de interpretar as mais diversas sonatas. De certo, ainda com melhor qualidade. Percebe-se como a música o domina.

─ Este é um raro momento em que me deixo ser dominado.

Isabella percebeu o tom da frase e soube de imediato ao que ele se referia. A conversa na cozinha. Prendeu um sorriso. Dona Esme entregou um cálice de licor de figo à Isabella e outro à Edward.

─ Madrinha, eu não...

─ Beba conosco, Edward. Não faças cerimônia. És nosso convidado. – dona Esme sorriu e num brinde silencioso os três tomaram do licor. Isabella e Edward tinham o olhar um preso ao outro.

─ Vamos! Toque mais! Isabella, minha filha, tinhas razão. Nada como uma boa música para dar vida às nossas vidas!

Todos sorriram e de volta ao piano, Edward começou a tocar algo mais leve e alegre: Marcha Radetzky de Johann Strauss. Sua madrinha merecia e ver o sorriso de Isabella, que tanto o lembrava do sorriso que ganhara no dia em que a salvara no lago, enchia e acalentava seu coração e sua alma.


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Notas finais do capítulo

Diário da história: Esse capítulo se passa no dia 15/06/1883, Sexta-feira.



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