Correntes: Atados pelo Sofrimento escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 9
Capítulo 8: Lembranças




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-É por isso que odeio hospitais públicos! Por que, ao invés de pegarmos os exames de Bella no hospital de nossa cidade, temos que ir para o hospital da cidade vizinha? –Minha mãe bufava de raiva no banco do carona. Meu pai, a fim de evitar mais falatório por parte dela, ligou o som do carro. Eu, meu pai, Charlie, e minha mãe, Renée, estavam indo para Camp Pendleton North, a vinte e dois quilômetros de nossa cidade, São Marcos.

-Já deveria estar acostumada com isso, Renée. Ao menos conseguimos com que Bella fizesse o exame. Saberemos o porquê de suas constantes dores de cabeça. –Meu pai deixou a radio em uma estação que tocava música country. Eu me refugiei da voz um pouco irritante de minha mãe e daquela música horrível colocada pelo meu pai através de meu MP4. Era bom poder ouvir um bom blues ignorando o falatório, a música chata e a chuva torrencial que se chocava contra a lataria do carro. Encostei-me melhor em meu acento e fechei os olhos. A dor de cabeça estava controlada aquela manhã, o que era bom. Permiti-me fugir de tudo, pensando em absolutamente nada. Um barulho estrondoso ecoou chegando aos meus ouvidos. Eu abri os olhos atordoada e vi um vulto na estrada, um rapaz. Meu pai puxou o carro para o lado no momento em que um caminhão passava. O caminhão poderia ter nos esmagado, mas meu pai era policial afinal. Com sua habilidade tirou boa parte do carro, ainda sim batemos e nosso carro seguiu desgovernado, capotando, para uma vala na beira da estrada. Eu fiquei atordoada, estava escuro, frio e eu não conseguia me mover. Olhei para os demais ocupantes, minha mãe estava acordando, mas meu pai não estava no banco. Eu olhei para fora aterrorizada. Pela minha janela eu vi o rapaz que estava na estrada de pé, com o pescoço do meu pai entre seus dentes. Eu não conseguia fazer nada.

-AI MEU DEUS! –Minha mãe despertou e gritou ao olhar na mesma direção que a minha. Meu pai estava imóvel, branco. O rapaz quebrou seu pescoço com uma das mãos e o jogou. Ele olhou para nós duas, os olhos rubros. Minha mãe tentou sair, mas estava presa as ferragens.

-BELLA PEÇA AJUDA! PEÇA AJUDA! –Ela gritava. Eu sai cambaleante do carro sentindo os ferimentos protestarem, mas ignorei. Tentei correr para longe do homem, mas ele fora rápido, inumanamente rápido. Agarrou-me pelo braço e jogou-me com violência contra uma arvore, bati a cabeça fortemente e tombei no chão. Eu estava desorientada, mas vi aquele homem arrancar minha mãe da cabine causando profundos ferimentos em suas pernas pelas ferragens que a prendiam. Foi rápido. Minha mãe gritava enquanto o vampiro sugava-lhe sangue pela jugular. Seus gritos pareceram incomodá-lo profundamente. Silenciou minha mãe enfiando-lhe a mão no peito, quebrando com facilidade as costelas e rasgando a carne. E então minha mãe parou de se mover.

Eu levantei cambaleante murmurando palavras desconexas. Eu queria matá-lo! Mesmo sabendo que na conseguiria. Corri em sua direção ao assassino, aos gritos. Ele parecia se divertir perversamente com minha atitude. Quando pensei que iria tocá-lo, ele desapareceu. Eu virei para trás e recebi um forte soco na face caindo a alguns metros.  

-Ah eu adoraria me divertir com você, menina, mas estou sendo perseguido. Sendo assim terei de ser rápido. Uma pena, seria divertido brincar com você. –Ele caminhou em minha direção, eu tentei reagir avançando contra ele, mas novamente fui golpeada na testa. Cambaleei no chão. O vampiro ria, tentou me tocar na face, mas se deteve. Olhou para um ponto qualquer e rosnou. Desapareceu. Eu continuei caída. Tentei me arrastar até os cadáveres de meus pais, mas não consegui, desmaiei no processo.

Ouvi um barulho de ambulâncias.

Senti mãos me tocarem e vozes ao meu redor.

Quando abri meus olhos eu estava no hospital e minhas lembranças estavam vagas. Eu não sofri nada tão grave para ter amnésia, eu apenas me privei daquelas lembranças para manter a minha sanidade. Para viver vazia ao invés de viver com ódio daquele que matou meus pais como gado.

Quando eu abri meus olhos, desta vez, eu estava embaixo de uma chuva torrencial próximo ao grande carvalho do único parque de Forks e James estava em pé olhando-me, eu ajoelhada.

-Ah, se lembrou! –Ele falou secando uma lágrima que percorria meu rosto. –Parece que você andou reprimindo o que aconteceu, não é?

-Você... Matou meus pais... –Falei aos soluços.

-Sim e vim matar você. Entenda. Naquele dia eu estava sendo perseguido, tive de me alimentar e por isso matei seus pais. Teria matado você se meus perseguidores não tivessem seguido meu rastro. Tive de fugir e deixá-la, mas não me esqueci de você. Nunca uma presa escapa de minhas mãos. Eu a segui, eu farejei seu rastro e colhi informações apenas para estar aqui. –James afagava meu rosto, eu ainda estava de joelhos, chorando, mas calada. Ele apenas sorria simpático enquanto relatava seu desejo de me matar após a carnificina cometida contra meus pais. Eu abaixei a cabeça e fitei o chão.

-O que foi, minha menina? Com medo?

-É melhor ser rápido. Se não me matar... Acabo com você! –Falei entredentes. Ele sorriu.

-Eu pretendia dar uma morte rápida, mas agora não serei tão misericordioso. –Ele me ergueu pelo pescoço, me senti sufocar enquanto tentava lutar em vão. Algo se chocou contra nós. James foi arremessado para muitos metros longe e eu me senti sendo abraçada por algo frio.

-Bella, você está bem? –Uma voz aflita perguntou enquanto tateava meu rosto, meu pescoço, carregava todo o meu peso nos braços.

Eu o olhei, atordoada, puxando pesadamente o ar pelos meus pulmões, meu pescoço latejava. Edward abaixou-me e praticamente me deitou no chão segurando meus ombros e mantendo-me um pouco erguida. E diante de mim, mais belo do que em qualquer outra vez estava Edward.

-Ah novamente você? Por que intervêm na minha caça? –James disse aproximando-se. Edward olhou para ele e rosnou mantendo-me presa nos seus braços. Eu estava desnorteada com tudo, um caos. Edward levantou-se me colocando em seus braços, mas quando James fez menção de atacar, ele me jogou no chão. Eu acabei por machucar as costas no processo. Quando olhei para Edward, ele não estava mais lá, nem James. Eu podia ouvir ao longe um barulho, como corpos chocando-se, ou talvez pedregulhos. Então eu corri ainda desorientada não para longe daquilo tudo, para a segurança de um lar. Eu corri para o perigo, para James aquele que eu queria matar a todo custo e a Edward, aquele que, sem nem mesmo conhecer, eu estava envolvida por ele. Ou talvez muito mais do que envolvida, mas isso eu não sabia e talvez nem soubesse nessa vida.


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