Vimos aquele mundo desaparecer bem diante dos nossos olhos. Todos os cem andares daquele castelo majestoso foram transformados em pequenos fragmentos virtuais que rapidamente iam desaparecendo, assim como os nossos corpos.

Um sonho, uma vida, um romance, um beijo. Tudo isso, junto com promessas de amor seladas naquele mundo estavam indo embora, para um lugar desconhecido, bem longe do nosso alcance. Vidas reais tinham se tornado virtuais. Muitas delas, acabaram, outras recomeçaram. A minha, por exemplo, foi uma delas.

Kirigaya Kazuto era o seu nome. Finalmente eu havia descoberto, depois dos anos presa no Sword Art Online. Seus cabelos eram negros, os olhos também, era japonês, assim como eu. Quem diria que eu, Yuuki Asuna seria capaz de me apaixonar por aquele menino, mais novo que eu, e que conseguia fazer o meu coração bater mais rápido. Ele, o herói Kirito, cumpriu a sua promessa, me salvando duas vezes, tirando-me daquele mundo e me fazendo voltar a sorrir ao aprender o que é amar.

No meio de todo aquele brilho, no qual Aincrad se misturava em direção ao infinito, os lábios e o toque de Kirito se tornavam cada vez mais distantes no campo físico, mas cada vez mais fortes no meu coração. Foi então que tudo desapareceu. A presença dele e a presença daquele mundo não estavam mais lá. Abri os olhos. Tudo estava branco. Pálido. Sem nada. Absolutamente, nada. Então, em um passe de mágica, uma nova imagem começou a se formar, inicialmente vaga, mas foi tomando a sua forma.

Um céu azul, nuvens branquinhas, troncos de árvores e... grades. Grades por toda a minha volta. Uma gaiola. Eu estava mais uma vez presa. Mas dessa vez, sem você. Eu estava presa a muitos quilômetros de distância virtuais e reais de você, e eu não sabia mais o que fazer. O que eu fiz? Chorei. Chorei não por não entender o que estava acontecendo, mas sim por você não estar ali comigo.

Um homem, ou deveria dizer, um demônio, se aproximou. Alto, cabelos cumpridos, usando verde e orelhas pontudas, assim como as quais eu possuía naquele novo mundo. Ele me apresentou o inferno. Um inferno sem você, pois caso o tivesse, seria o céu. Um lugar no qual não se pode ver nem ficar com quem ama, sendo obrigada a se conviver e ainda por cima ser forçada a tentar amar um demônio verde é definitivamente um inferno.

Eu tinha asas, mas não podia voar. Como um pássaro machucado que tem o poder de exercer a sua plena liberdade pela imensidão do céu azul, mas não pode. Eu estava assim, presa, incapaz de voar em direção dos meus sonhos, da minha felicidade e do seu calor. Quanto mais eu chorasse, esperneasse e perde-se o controle, os meus sentimentos, as minhas palavras não podiam mais te alcançar, e agora o que eu podia fazer?

Você deveria estar em algum lugar, procurando por mim, certamente, pois foi o que prometemos. O desespero percorria o meu corpo, as minhas veias quase explodiam, ao pensar que eu simplesmente tinha desaparecido da sua vida. Era como uma morte. Uma morte repentina. Ou, como se tudo o que vivemos, o nosso amor, os nossos beijos e as nossas promessas tivessem sido um sonho, apenas um sonho. Você acordou daquele mundo que se destruiu para a realidade, e eu para um outro, um pequeno inferno localizado no topo de uma das maiores árvores que já sequer existiu, Yggdrasil, a árvore do mundo.

Cada dia, cada hora, cada minuto, cada segundo naquele lugar era mais longo do que um ano inteiro em Aincrad. Aquele lugar era como a eternidade infestada pelo ódio, loucura, solidão, tristeza e o medo. Era como se o céu tivesse descido e o inferno subido. Todas aquelas fadas do ALfhein Online vivendo felizes lá embaixo e eu lá em cima, sofrendo nas chamas esverdeadas daquele demônio.

Pedir aos céus, orar por você, parecia não fazer mais efeito. Depois de tanto tempo aprisionada já estava quase aceitando a minha infeliz nova vida, torcendo para que o meu corpo real não suportasse mais e parti-se. Entretanto, houve um dia em que o céu amanheceu diferente.

Nuvens avermelhadas coloriam o céu alaranjado daquela manhã, como se estivessem representando o amor. Sim, o amor, o que eu não podia desfrutar a muito tempo. Ele estava bem ali, do meu lado. Era só olhar.

Kirito, o herói, destrancou a porta daquele inferno como se fosse um anjo vindo em minha direção. Seu calor, seu abraço, seu cheiro, mesmo que virtual, se tornavam reais novamente no meu peito. Podia sentir o meu corpo sendo preenchido pelo aconchegante sentimento do amor novamente. Meus lábios conseguiam desenhar o mesmo sorriso de antes. Meu coração conseguia recuperar os seus batimentos que estavam ficando cada vez mais fracos, tornando-os fortes. Agora sentia-o ritmado, quase pulando para fora do peito.

Naquele momento, em que o amor voltava a habitar em mim, do lado daquele que mais me importava e significava, pude abrir as minhas asas. Abri-as, e voei. Voei em direção a tudo aquilo que havia uma vez perdido e que não iria deixar ninguém e nada tomar de mim novamente.

Quando tudo parecia finalmente estar bem, o demônio retornou para me torturar. A tortura desta vez era dupla, não afetava só a mim, como a aquele que significava tudo pra mim. O meu coração era esfaqueado novamente a cada segundo, não por estar presa novamente, desta vez por correntes, nem e por estar sendo abusada por aquela maldade que se tornava cada vez mais verde. Mas sim, por ver o anjo jogado no chão, sofrendo, incapaz de se mover, preso como eu, sendo tomando pelo ódio assistindo tudo aquilo que estava acontecendo comigo.

O amor reinava novamente no ar. O herói conseguia mais uma vez tirar energias do infinito, da paixão que existe dentro dele para cumprir de uma vez por todas a sua promessa de me tirar daquele sofrimento e apagar as chamas verdes do inferno daquele mundo.

A dor, o ódio, a maldade, a tristeza, tudo sumia novamente, assim como aconteceu em Aincrad. Contudo, dessa vez era pra valer. Assim, tudo se repetia, uma luz branca tomou conta da minha visão mais uma vez. Quando a imagem começou a aparecer, dessa vez não tinham mais grades, nem árvores e nem um céu. Era a imagem de um anjo que estava bem na minha frente. Um anjo caloroso, um anjo real, que me deu um beijo real e um toque real, concretizando todo aquele amor virtual na realidade.

Agora eu estava voando, por cima de tudo aquilo. Por cima de todos os contratempos, dores, medos e tristezas. Tudo isso estava sendo superado. O calor daquele beijo estava me mostrando isso. Estava me mostrando o quão alto nós dois podíamos voar juntos. Até o infinito, até o paraíso, até aonde a gente quisesse. O nosso amor se tornou invencível.

Era um sobrevôo. O mais lindo de todos. Eu te amo, Kirito.