“Não, ainda não decidimos nome algum.” Jack logo informou a pequena fada a seu lado enquanto lançava pedras de gelo em direção do lago a sua frente, vendo este quicar na superfície até bater contra a enorme rocha da montanha, onde estavam aquelas belas pinturas das fadas dos dentes de Punjam Hy Loo. “Eu acho que é um garoto, sabe? Já Coelhão insiste em dizer que é uma garota.”

Emma riu levemente ao ver o irmão revirar os olhos antes de atirar mais uma pedra de gelo no lago.

Jack havia sido chamado por Toothiana e sua irmã para aparecer no palácio, porém, parecia que não havia chegado em um bom momento. Tooth pelo jeito estava estressada, em parte por seu trabalho quase sem fim de cada dia em catalogar os dentes e tudo mais, e, em parte, por suas mudanças de humor repentinas que Jack conhecia bem.

E, sem vontade de acabar tendo problemas com a rainha das fadas, os irmãos Overland rapidamente desceram do palácio para os jardins, esperando até que a fada dos dentes estivesse melhor.

“Ah, eu me sinto bem melhor que antes.” Jack respondeu às perguntas de sua irmã. “Na verdade...” Ele sorriu amplamente. “Sinto-me muito bem.” Emma tinha de concordar com aquilo, seu irmão estava radiante. “Consegue acreditar que estou já no quinto mês?! Parece que foi ontem que descobri estar grávido!”

Ele se sentou na beirada do lago, levantando um pouco a camisa e revelando sua barriga agora quase totalmente redonda. O bebê estava a cada dia mais ativo, se remexendo e chutando quase sempre quando Jack afagava levemente aonde ele estava.

“Alias... Eu estava me perguntando...”

“Jack!” Toothiana apareceu de repente, surpreendendo os dois irmãos. “Desculpem-me pelo modo como agi, estou meio cheia de coisa por aqui, como sempre.” Ela riu levemente, passando a mão pelas penas de modo um tanto encabulado. “Mas agora...” Rapidamente a fada dos dentes agarrou a mão do espírito do inverno. “Como é que vai você? E o pequenino, hein?”

“Agitado. Ambos estamos agitados.” Jack falou com aquele mesmo sorriso largo em seu rosto. “Mas e então... Emma me disse que você queria me ver aqui rapidamente para me contar algo, o que foi?”

“Ah, sim, sim!” Tooth sorriu amplamente, suas pelas eriçadas e suas asas batendo levemente. “Eu preciso da sua ajuda...”

“No que?” Jack já foi perguntando.

“... Para arrumar meu casamento!” A fada dos dentes continuou rapidamente, seus olhos cor de rosa cintilando com animação.

O guardião da diversão parou momentaneamente, surpreso pelas palavras da amiga, mas, aos poucos, ele mostrava um sorriso quase tão largo e brilhante quanto o desta, e sua irmã não estava melhor.

“Vocês decidiram mesmo?!” Jack perguntou, animado instantaneamente, agarrando as mãos mínimas da rainha das fadas. “Quando vai ser?!” O garoto ainda aproveitou para se virar para Emma, perguntando se esta sabia daquilo e apenas não havia lhe contado, mas a fadinha simplesmente deu de ombros.

“Para o fim de Julho, ou seja, tudo deve ser preparado até lá!” Toothiana logo informou. “Mas, e então, Jack? Você pode me ajudar?”

“Mas é claro! Que pergunta! Estou aqui para o que der e vier!” Jack riu, notando o quanto sua voz e seus atos se igualavam a de uma garotinha animada com sua festa de debutante. “Também, é um ótimo modo de retribuir toda a sua ajuda em meu casamento.”

Os dois guardiões sorriram um para o outro, Tooth notando a sinceridade doce na voz de Jack; Ele havia mudado bastante desde que se juntara aos quatro grandes guardiões, estava tão aberto para estes agora; era tão bom para a rainha das fadas ver como o garoto de gelo agora aceitava-os como uma grande família e que, se um precisava de ajuda, os outros deviam de estar lá para ele (ou ela).

“As garotas estão dentro da comissão de casamento então?” Jack perguntou rapidamente.

“Sim.” Tooth assentiu, ganhando um beijinho e abraço na bochecha de parabéns por Emma. “Vamos usar aquele mesmo design de vestido que Emma e eu fizemos, você se lembra? Aquele aberto na frente?”

“Lembro, sim.” O garoto riu levemente, se lembrando dos vestidos que as amigas haviam feito para ele. “A Bloom que vai fazer ou você quer que eu...”

“Jack, se eu usasse um vestido feito de gelo ele iria derreter em pouco tempo, não acha?” Toothiana ergueu uma sobrancelha, um sorrisinho irônico em seus lábios. “Você é o único que pode usar esse tipo de vestido sem prejudicá-lo.” Jack riu com tal comentário, coçando a cabeça, levemente encabulado. “Bloom vai trabalhar com minha amiga Kinu, a Jorogumo, já que ela conhece bem o estilo que eu gosto.”

“E no que posso ajudar?” Jack perguntou animado, querendo, e muito, fazer parte daquele dia especial para a fada dos dentes.

“Além de me ajudar nos enfeites, gostaria que me ajudasse a aprontar as coisas.” Tooth esclareceu. “Mas já que você não pode levantar muito peso, assim como eu, vamos deixar a maior parte das coisas para nossos maridos. Afinal, é para isso que eles servem, não?” Os três riram das palavras da rainha das fadas.

Tooth, Jack e Emma continuaram conversando sobre como a fada e Norte esperavam que tudo ficasse arrumado para o casamento. A cerimônia seria nos jardins de Punjam Hy Loo, na parte mais aberta de lá, um tanto longe da lagoa e das pinturas, para o outro lado da montanha (“Desse modo...” Disse Tooth. “Vou poder ficar de olho nas fadinhas e nos dentes para ter certeza de que tudo está correndo bem.”).

“Mal posso esperar para contar para Coelhão!” O espírito do inverno disse alegre, pulando para o ar com seu cajado já que já havia acertado varias coisas com as fadas.

“Ah, Jack!” Tooth chamou o mais novo antes que este sumisse ao longe. “Não se esqueça de que hoje é dia de mais um ultrassom.”

“Como seu eu fosse esquecer.” Jack riu, afagando sua barriga. “Daqui a duas horas na oficina do Norte?”

“Na hora que você quiser, na verdade, Jack.” Tooth revirou levemente os olhos, rindo consigo mesma enquanto o garoto exclamava que estaria lá enquanto se afastava para o céu levemente coberto de nuvens.

–G–

Coelhão sentado encostado em uma das rochas à beira do córrego colorido, rabiscando aos poucos sua palheta de desenho, já criando novas ideias para o ano seguinte; e, embora distraído, suas potentes orelhas conseguiram ouvir quando mais alguém decidiu juntar-se a ele na Toca silenciosa.

Jack sorriu consigo mesmo, flutuando sem fazer barulho em direção do Pooka virado de costas para ele; sabia que era incrivelmente difícil surpreender o coelho (embora conseguisse essa façanha vez ou outra), mas não custava nada tentar de novo. Ele fez uma bola de neve na mão e foi se aproximando, aos poucos; Coelhão não mostrava sinais de que havia o notado lá.

O garoto de gelo levou o braço para trás da cabeça pronto para lançar a bola...

“Nem pense em fazer isso, Frostbite.”

Jack sentiu seus pés tocarem a grama rala da Toca quando a voz de Coelhão o tomou de surpresa; mas logo o garoto bufou, deixando a bola de neve cair para que derretesse sozinha.

“Porque está aí desenhando, Canguru?” Jack perguntou, examinando os desenhos do Pooka por cima do ombro desses – tinha de dizer que adorava a arte dele, a seu ver Coelhão era um pintor extraordinário. “A Páscoa acabou de acabar, não vai precisar se preocupar com designes novos por um bom tempo até a próxima...”

“Já ouviu falar de ‘melhor prevenir do que remediar’?” Coelhão disse simplesmente, sentindo os braços do garoto em volta de seu pescoço, antes que este deslizasse facilmente para seu colo, como sempre fazia, obrigando o Pooka a deixar sua palheta de lado. “E então?”

“Adivinha só?” Jack rapidamente contou, enquanto deixava que seu marido brincasse com sua barriga saliente, fazendo com que o bebê se mexesse mais ao reconhecer o toque do pai. “Tooth e Norte vão se casar!”

“Será em Julho, não é?” Coelhão riu ao ver a expressão surpresa do garoto. “Norte me contou. O velho não sabe guardar nada para si, sabe disso.” Ele beijou levemente a barriga do espírito do inverno, fazendo esse rir.

“Pois é.” Jack sorriu, afagando o braço forte de Coelhão que lhe segurava pelas costas. “E é claro que eu fui chamado para a ‘comissão do casamento’.” E levantou o olhar, como que se tentasse mostrar orgulho por tal cargo, empinando o nariz.

“Muito bem, ‘senhorita madrinha de casamento’.” O coelho logo tomou a chance para fazer piada com o guardião da diversão. “E o que terá de decidir? A cor das rosas, os bom-bonzinhos?”

Jack revirou os olhos, mas riu do comentário, roubando um beijo dos lábios felpudos do guardião da esperança. Os dois ficaram ali por um momento, ambos sentindo seu bebê animado que se remexia vez ou outra, principalmente ao ouvir a voz de seus pais, ou sentir o toque destes.

“Alias, hoje é dia de ultrassom.” Jack disse, se colocando em uma posição sentada no colo de Coelhão.

“Tem razão.” Coelhão ergueu uma sobrancelha. “Eu pensava que você estaria mais animado para isso que está.”

“Eu estou animado!” O garoto de gelo sorriu, pulando de pé, embora tivesse sentido uma leve tontura no processo, mas o Pooka já estava a seu lado.

“Jack?” Coelhão deu um sorriso torto quando o espírito do inverno voltou os olhos azuis para os seus. “Você já está no quinto mês."

Demorou um pouco de tempo para que Jack juntasse os pontos, já que sua mente parecia estar um pouco descolada da realidade naquele momento; mas, em poucos segundos, um sorriso de orelha a orelha se abriu nos lábios do garoto de cabelos brancos.

“Oh, pelo Homem na Lua! É hoje!” Jack praticamente pulou no mesmo lugar, como sempre fazia ao estar afobado. “É hoje?” Ele perguntou para o Pooka, mas não esperava resposta alguma, já que estava falando abobado consigo mesmo segundos depois. “Eu não acredito que agora podemos...”

“Snowflake, acalme-se.” Coelhão segurou os ombros de Jack ao ver este começar a hiperventilar por causa de sua repentina hiperatividade. “Sim, nós vamos lá, mas você precisa se acalmar, tudo bem?” O garoto simplesmente assentiu, sorrindo abobado enquanto colocava os braços em volta do Pooka e este abria um túnel com dois toques de pata.

–G–

“Ah, aí estão vocês!” A voz forte de Norte ribombou na sala quando os outros dois guardiões enfim chegaram lá. “Pensamos até que vocês não iriam aparecer.”

“E perder essa chance, amigo?” Coelhão bufou, deixando Jack descer de seu abraço.

“Quem vai primeiro?!” Jack logo foi direto ao ponto, arrancando risadas dos outros guardiões, principalmente de Tooth que estava sentada na poltrona de Norte; e, ao ver a fada, o garoto se sentiu levemente embaraçado. “Ou melhor... Primeiro as damas?”

“Muito bem!” Norte riu, pousando sua mãozorra no ombro do espírito do inverno, quase o forçando a dobrar os joelhos.

Coelhão apenas revirou os olhos enquanto seguia junto com Jack com os outros guardiões para a sala na enfermaria, onde esperava Sandy, arrumando a maquina para que pudesse ser usada (é claro que ele não ia perder aquela chance). Tooth voou até a cama, se deitando rapidamente nesta e deixando que Sandy cuidasse de tudo (era um tanto difícil usar ultrassom já que a barriga desta era coberta de penas, porém, o guardião dos sonhos parecia saber usar muito bem a maquina).

“Ah, aí estão.” Toothiana sorriu abertamente, rapidamente encontrando seus gêmeos na tela.

“O que vocês acham que são?” Jack perguntou, logo notando que Sandy havia parado exatamente para que falassem sobre aquilo.

“Acho que deve ser um casal.” Disse Norte, ao lado de Tooth de onde podia ver melhor a imagem na tela.

“Também acho.” Tooth riu levemente. “Mas, não importa se forem dois meninos ou duas meninas, vamos amá-los do mesmo modo.”

“Bom, então agora é a hora da verdade.” Coelhão falou.

Sandy arrumou a imagem na tela, tentando enquadrar melhor os dois pequenos bebês de cinco meses; ambos estavam um tanto agitados, o que fez com que demorasse mais para que desse certo, mas logo os guardiões puderam ver e pelo jeito...

“Estávamos certos!” A nova mamãe exclamou animada, com lágrimas nos brilhantes olhos rosa, apertando fortemente as grandes mãos de seu marido.

De fato, era um casal; a menor e mais agitada era uma garotinha e o maior e mais calmo era um garotinho (e dava para se ver que suas mãos e seus pés eram pequenos, lembrando mais os de Tooth que os de Norte). Os Guardiões tiveram um momento de alta animação, Norte e Tooth trocando sorrisos e beijos contentes, enquanto Jack (incrivelmente afobado), Coelhão e Sandy parabenizavam os colegas.

“Vamos ter de dividir a cor do quarto então!” Comentou Norte com uma risada, ajudando a fada dos dentes a descer da cama.

“Venha Jack, é sua vez.” Mas nem era preciso falar aquilo, o garoto do inverno rapidamente tomou o lugar de Tooth, erguendo a camisa para dar mais espaço para Sandman. “Alias, e vocês? O que acham que seu queridinho é, hein?” Ela riu, afagando levemente a barriga de Jack, sentindo um suave chute.

“Eu acho que é um garoto.” Jack disse, dando seu típico sorriso torto, voltando-o para Coelhão. “Mas Coelhão insiste em achar que é uma garota.”

“Eu sei que é uma garota, moleque.” Coelhão se colocou ao lado de seu parceiro. “Garotas na maior parte do tempo é que fazem isso.” E apontou para as coxas grandes do garoto, recebendo um leve tapa por causa disso.

“O pior é que ele tem razão, Jack.” Toothiana riu ao ver Jack simplesmente revirar os olhos. “Bem, vamos lá.”

Sandman assentiu e colocou o instrumento sobre a pele pálida do Guardião da diversão (que, por sorte, não podia sentir o frio do gel). Jack estava tão afobado que quase não conseguia ficar parado, mesmo sabendo que devia, mas com Coelhão apertando-lhe levemente a mão, ele relaxou um pouco.

De fato, Jack queria que fosse um garoto, mas caso fosse uma garota ele iria ficar igualmente contente, afinal, ela ainda era sua filha com Coelhão, aquele que ele amava.

“Hum... Eu não vejo nada...” Murmurou Norte mexendo na barba, e aquele comentário já podia servir para afirmar uma coisa.

“Pelo jeito Jack, você estava errado.” Toothiana não conteve um riso. “Mas mesmo assim, parabéns, é uma garota!”