Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 67
De pai para filho e de filho para pai




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Não houve muito tempo para comemorações. Os festejos, tão comuns a grandes vitórias, tiveram de esperar. O perigo imediato havia passado, mas ainda havia a questão do meteoro, pairando sobre o santuário como a gigantesca espada de Dâmocles. Se o meteoro caísse tudo na área do Santuário e sues limites seria eliminado da face da terra. A situação era de gravidade máxima e exigia urgência. Urgência que o conselho parecia desconhecer.

Depois da vitória sobre o exército invasor o conselho se reuniu quase em sequencia. Mas depois de duas horas de informes, discussões e trocas de informação a situação era basicamente a mesma. Não tinham avançado sequer um milímetro em qualquer direção que fosse. O imobilismo e a retranca pareciam a marca registrada da administração Dezan.

– Não acredito que você não lançou nenhuma ofensiva contra aquela rocha lá em cima! – explodiu finalmente Nathalia, depois de perder, definitivamente, a paciência.

– Eu não sei se você prestou atenção no relato das últimas semanas, ex-líder do chalé de Ares, mas eu tinha uma invasão em mãos. Além do mais eu perdi importantes recursos caçando “traidores” – respondeu Dezan, completamente na defensiva. Era como se ele mesmo não aceitasse a vitória.

– Que depois se revelaram como heróis – disse Oliver, levantando o tom de voz – que ironia, né? Se dependesse de Apolo vocês ainda estariam até aqui com esses monstros caçando e matando vocês.

– Apolo deve ter suas razões – rebateu Lya, a nova chefe do chalé de Apolo. Ela era a segunda em comando ainda dos tempos em que Jade era a líder, mas estava mais para o segundo goleiro reserva do São Paulo na época do Rogério Ceni do que para jogadora titular. Era imatura e ingênua e pelo que se corria à boca pequena nem mesmo seus irmãos e irmãs nutriam por ela o respeito e a confiança necessários ao cargo. Do alto de seus 14 anos, 1,70m, 70kg, cabelos lisos pretos com mechas douradas e olhos escuros ela parecia mais uma piada de mal gosto da menina que não quer acreditar que o Papai Noel não existe. – quem sabe se invocássemos novamente o oráculo e tentássemos conversar com ele, tenho certeza que...

– Eu já tenho certeza. – interrompeu Jade – Apolo é um babaca. De marca maior, egoísta, egocêntrico, um verdadeiro pé no saco. Ele se acha o centro do universo.

– Com que direito você fala assim do meu pai? – levantou Lya, adaga em punho.

– Com conhecimento de causa que você não tem. Eu conheço a verdadeira face de Apolo. A face que vocês não conseguem enxergar. Ele me deserdou e tentou matar todos os meus amigos apenas para que não fôssemos capazes de libertar Zeus. Ele pôs um preço por nossas cabeças. E quanto a essa sua faquinha... – disse Jade olhando ameaçadoramente para a menina – não me faça ir aí e enfiá-la pelo seu traseiro, como se espeta burro sem rabo numa festa de crianças.

– Gente, calma... – pediu Eric, tentando usar todo o seu charme sem muito sucesso – Precisamos manter o foco. Temos de fazer alguma coisa. Que tal nos concentrar nas soluções e não nos problemas? Falei com o pessoal do chalé de Hefesto e eles disseram que tentaram andar um ataque aéreo contra a rocha...

– Contrariando minhas ordens – interrompeu Dezan, subitamente mais irritado, como se a lembrança de um ato de rebeldia de seus comandados fosse o bastante para irritá-lo.

– Mas o ataque não fez efeito. – disse Eric ignorando o ataque de Dezan – ao que parece há um campo de força em volta da rocha e é esse campo que a mantém no ar. Oliver, irmão, alguma ideia de como o seu pai está fazendo aquilo?

Oliver tinha ido buscar ar fresco na sacada da janela. O menino estava visivelmente inquieto, irritado, defensivo. Ele virou para Eric e sua face entristeceu.

– Não sei. Estou aprendendo a controlar a gravidade agora. Pode ser que o me pai já tivesse esse poder. Eu não conseguiria erguer aquela rocha, muito mais mantê-la sobrevoando o santuário há tantos dias. O meu controle é fino. Eu posso usar flutuações de gravidade para girar uma chave numa fechadura, fazer a chave ficar tão pesada quanto um carro e fazer um carro leve como um molho de chaves... mas aquela rocha...

– Então o que vamos fazer? – perguntou Karina, braço engessado e olho coberto por bandagens.

– Bem eu acho que devemos manter o status quo...

– Você só pode estar brincando Dezan! Não é hora de ficar sentado, esperando placidamente aquela pedra cair na nossa cabeça. É hora de ação. Digo que devemos evacuar o santuário. As caçadoras de Artêmis já levaram os pequenos para um lugar seguro. Temos que evacuar esse lugar. Tem essa operação meteoro da ascensão. Pelo que as caçadoras em contaram o grosso das forças inimigas está fora dos limites do santuário, para nos manter aqui. Ficar é fazer o plano deles funcionar.

– E como você quer que eu aja? Quer que eu leve dezenas de semideuses para a morte? – Esbravejou Dezan.

– Podemos fugir pelo rio norte. As ninfas vão nos dar cobertura. Explique a eles Lucas... – disse Nathalia só depois de ter percebendo que seu colega não estava ali. – Mas cadê aquele cabeça de samambaia?

– Da última vez estava andando na direção do chalé de Dionísio, de mãos dadas com o João Eugênio. – exclamou num suspiro Amanda, a chefe do chalé de Demeter. – É tão romântico... tão yaoi... quer dizer, com o mundo desabando na nossas cabeças eles só querem a companhia um do outro... ah isso daria uma fanfic e tanto. “Um dia desejo que ele me pegue em seus braços, num mar de azul profundo. Juntos enfim, juntos até o fim do mundo” – ela recitou abraçando a si mesma de olhos fechados até perceber os olhares reprovadores em sua direção. Ela se arrumou na cadeira e tentou tirar o foco de si mesma. – e por que esse meteoro não caiu ainda?

– Eu não sei. – respondeu Jade. – Alguma ideia Oliver? Oliver?

Mas o menino não respondeu. Ele olhava fixamente para os céus, onde as nuvens estavam se dobrando, e se contorcendo. Espantados os outros olharam pelas janelas mais próximas as letras se formando no céu: E-S-T-O-U E-S-P-E-R-A-N-D-O P-I-R-R-A-L-H-O. V-E-M S-E T-I-V-E-R C-O-R-A-G-E-M

O menino tremeu de raiva. Em volta dele o ar deformou-se, formando uma espécie de esfera. O piso embaixo de seus pés rachou e os vidros da janela se espatifaram. Ele olhou para cima, o rosto transtornado.

– Oliver... Ollie... não faça nada idiota! – gritou Jade correndo em direção ao seu amado.

– Eu nunca faço... – disse o menino sorrindo docemente para ela. Ele olhou na direção do meteoro e se arremeteu para cima como um míssil silencioso.

– Eric! – berrou Isabel. – Aquela barreira vai destruir Oliver. Impeça-o! – O filho de Hermes abriu suas asas e decolou, deixando para trás uma explosão de ar. Mas ele não chegou nem perto de alcançar o amigo. Ele sentiu o corpo pesar, reduzindo sua velocidade até que ele mal conseguia planar.

– Boa sorte irmão – disse Eric, lágrimas rolando por seu rosto. – Tenha cuidado. Dessa vez não vou estar aí para livrar o seu traseiro.

Oliver atravessou a barreira como se ela não existisse. Do lado de cima da rocha era tudo diferente. Tinha casas e pequenos prédios. Era como se uma área circular de 700 metros de diâmetro tivesse sido de um bairro residencial em ruínas. De pé, em frente aos restos retorcidos de um semáforo, estava seu pai. Ele vestia roupas tradicionais da aristocracia grega clássica, só que feitas de cetim preto e roxo, com detalhes em dourado. Na sua cabeça repousava um elmo negro.

– Você veio rápido. Achei que por conta da sua dislexia você demoraria mais a entender o que estava escrito.

Oliver manteve o silêncio, olhando fixamente para o pai, até que deixou escapar de seus lábios, entre os dentes cerrados:

– Tomás... você não merece nem que eu te chame de pai.

– Seu tolo. A terra e o Olimpo pertencem a nós, os novos deuses. – disse Tomás de Albuquerque, o cenho torcido. – E nem você, nem ninguém, vai nos atrapalhar.

Os dois trocaram olhares furiosos enquanto se posicionavam para a batalha decisiva. Se estudavam, mesmo distantes um do outro, quando Tomás deu o primeiro passo: ele estendeu o braço na direção do filho e da ponta de seus dedos um relâmpago arroxeado surgiu, voando perigosamente na direção de Oliver. O primeiro raio explodiu no chão, logo onde estava o menino uma fração de segundo antes, arrancando pedaços de asfalto do calçamento. Novos disparos surgiram e todos erravam o alvo, formando uma trilha de pequenas crateras e buracos nas paredes. Por fim, ao esquivar de um dos últimos disparos, Oliver saltou para frente, impulsionado por seu controle de gravidade, deixando a marca de pagada da sua chuteira na faixa roxa que cruzava o peito de seu pai. Tomás olhou espantado para a marca e assumiu posição defensiva. Estava claro para ele que tinha subestimado o filho. O menino chutou novamente, mas dessa vez Tomás estava preparado. Ele aparou o chute de Oliver e jogou o rapaz ao chão. Depois pulou sobre o jovem tentando golpear sua cabeça com um soco. Mas Oliver bloqueou o ataque do pai, imobilizando o seu braço usando um ataque com as pernas. Ele aproveitou também o impulso dado no corpo o seu pai para se afastar e se por de pé. Os dois se estudaram novamente e correram um na direção do outro, golpeando com força, apenas para acharem o vazio.

Tomás correu de novo na direção do filho, sendo engolfado por uma luz negra e roxa. Oliver percebeu a manobra do pai e também tratou de sacar a sua espada. O nome queimou em sua garganta quando ele o gritou: astéron thráfsma! Os dois se chocaram no centro da rua, espadas cruzadas. A de Oliver era uma espada média, sem guarda, dois gumes, elegante e rápida; a de seu pai era uma espada longa, de lâmina larga e também sem guarda.

Tomás tomou a iniciativa e dando um golpe para cima abriu a guarda de Oliver. O golpe da sua espada arranhou a parte do peitoral do menino, fazendo sua armadura de diamantes jupiterianos chiar e faiscar. Oliver conseguiu apoiar a sua posição de guarda evitando um segundo golpe, desta vez mirado no seu pescoço.

Os dois começaram a trocar golpes, em franca troncação com as espadas. Cada ataque recebia uma defesa e um contra ataque ainda mais furioso. Apesar de ter lado o primeiro golpe era Oliver que empurrava a ofensiva, forçando seu pai a recuar. Uma hora ele forçou a lâmina do seu pai para baixo e ela rasgou o asfalto como se ele fosse feito de isopor. Tomás levantou a espada e golpeou novamente, numa manobra parecida com a que tinha usado antes, mas dessa vez Oliver estava preparado: ele saltou sobre o ataque horizontal da lâmina e quando o pai virou-se para ataca-lo ele aproveitou a guarda aberta para acerta um golpe no peito. A armadura negra de seu pai chiou quando o talho abriu-se sobre ela.

– Ahhh! – gritou Tomás de Albuquerque, nitidamente espantado. Não esperava ser ferido pelo filho e nem que seu ataque com a espada pudesse romper sua armadura negra.

Os dois cruzaram espadas mais algumas vezes quando Oliver percebeu uma movimentação à sua volta. Nove agentes dos homens de preto, liderados por uma mulher de cabelos prateados curtos se posicionaram em volta do garoto, dando cobertura a Tomás. Todos portavam algum tipo de espada e estavam em posição de luta. Ameaçadores.

– Parem! – o grito de Tomás paralisou a todos. – Não se metam! Essa é uma luta entre o meu filho e eu.

– Mas senhor... – tentou rebater a agente de cabelos prateados.

– Eu já disse! Afastem-se. Essa é uma luta entre o meu filho e eu.

Resignados os agentes se retiraram. Dava para ver nos olhos da agente de cabelos prateados que ela se preocupava legitimamente com Tomás. Que ambos eram mais que chefe e subordinado. Oliver agradeceu silenciosamente com um aceno de cabeça, mantendo a espada em guarda alta.

Os dois voltaram a combater, alternando altos e baixos, golpes e acertos. Estavam equilibrados, mas era certo que Tomás ainda subestimava o filho. Sempre que ele achava que estava em vantagem o menino reagia, tirando algum contragolpe da cartola. Numa hora ele golpeou e o menino rebateu seu golpe com a espada, fazendo com que ele abrisse toda a sua guarda. Era como se ele tivesse golpeado uma coluna de aço e não uma espada. Daí Tomás tomou ciência de que Oliver estava fortalecendo os golpes de sua espada com o poder da gravidade.

– O meu sonho... o sonho de ascender como um deus. Que este dia marque o início da era dos novos deuses!

– O seu sonho acaba aqui.

Os dois bateram-se novamente e desta vez as duas espadas encontraram brechas nas defesas de ambos os combatentes. A espada de Tomás rasgou a lateral de Oliver, vencendo a fortaleza de sua armadura, fazendo um corte feio na altura das costelas. Por sua vez a espada de Oliver atingiu o ombro direito do pai, rasgando a carne e ferindo a clavícula.

Os dois se afastaram com força. Oliver levou a mão instintivamente ao local onde sua armadura tinha cedido. Ele sentiu o calor do sangue molhando sua camiseta. Ele gritou e correu na direção do pai. Tomás correu também, mas sem o mesmo equilíbrio de antes. O corte não era tão profundo. Ele poderia ignorar a dor e o desconforto por alguns minutos. Era o ombro que o preocupava: se estivesse trincado ou pior, quebrado, teria muito problemas. Oliver deu um golpe lateral tencionando cortar o pai ao meio, mas Tomás foi mais ágil, saltando sobre a lâmina da espada e dando uma poderosa estocada como contragolpe. Oliver mal teve tempo de bloquear e mesmo assim foi empurrado por uma dezena de metros pelo seu pai que tentava anda vencer sua defesa. Por fim Tomás parou bruscamente e Oliver rolou com a inércia pelo chão empoeirado.

Ali, a média distância, Tomás disparou uma rajada da sua espada. Tinha a mesma cor dos relâmpagos e era ainda mais destruidora, a julgar pelo buraco na parede de tijolos. Oliver bloqueou uma segunda rajada partindo-a em três raios menores que explodiram em sua volta, enchendo a rua de poeira. Oliver dobrou a gravidade e a nuvem de poeira voou sobre o seu pai. Com um gesto Tomás fez a nuvem de poeira cair pesadamente ao chão. Novas rajadas de ambos os lados: já a quase curta distância as duas espadas disparavam poderosas rajadas de energia. Por fim os dois saltaram, se encontrando em pleno ar: Oliver foi cortado na perna e Tomás foi atingido no peito.

Os dois caíram de costas um para o outro. Mas Tomás levantou-se primeiro. Seu elmo estava partido. Ele saltou disparando uma dúzia de rajadas do ar, forçando Oliver a rolar pelo chão para se esquivar, deixando sua guarda aberta. Quando percebeu a brecha, Tomás mergulhou do ar sobre o menino, a espada apontada para seu coração.

O golpe foi seco e devastador. Mas atingiu apenas o chão. Oliver conseguira desviar no último segundo, deixando a sua espada alta. Ele atingiu o peito de Tomás até trespassá-lo. O homem gritou, cuspindo sangue grosso na cara do filho. Oliver usou seus poderes para jogar o pai longe.

Tomás se levantou, pernas tremendo. Ele usou a espada para se apoiar pesadamente no chão. Ele não esperava ser derrotado assim por seu filho... tinha tanto realizar, tantas ambições que agora se esvaíam pelo seu sangue no chão. Mas ele tinha uma última cartada. Se ia morrer, levaria o filho junto. Ele ergueu os braços e liberou toda a energia que acumulara desde que absorvera a alma que habitava a espada de Oliver. A explosão varreu o campo de batalha, devastando tudo em seu caminho.


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