Os novos herois do Olimpo escrita por valberto


Capítulo 43
Capítulo 43




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A última luz

Nathália mal teve tempo de se colocar de pé quando sentiu o golpe. Alguma coisa a havia atingido. Alguma coisa não. A coisa. Ela nunca tinha sentido um golpe assim tão poderoso. Ela parecia estar flutuando no ar, sem nenhuma orientação espacial de cima e baixo, sentindo apenas a pressão dolorida sobre o peito, onde provavelmente tinha sido atingida. Ela não soube precisar quanto tempo ficou assim, flutuando, mas imaginou que pudesse ser a mesma medida de tempo de quando você pula de um trampolim alto para uma piscina, mas de olhos fechados. Então ela sentiu algo chocar-se violentamente com suas costas. Seria a parede externa da sala de estar? Ela não parecia assim tão dura quando a vira pela primeira vez.

Era difícil respirar. Tudo estava doendo. Só então ela se deu conta. Não tinha recebido apenas um golpe poderoso que a ergueu no ar como uma boneca de pano e sim pelo menos uma centena de golpes. Uma centena de golpes numa fração de segundo. Só agora o sistema nervoso mostrava onde cada um deles pegou, apontando a dor lancinante deles. Ela abriu os olhos para ver todos os amigos em situação semelhante. Todos jogados em volta – exceto Lucas que tinha sido nocauteado enquanto ainda estava enterrado e Jade, que apesar da surra que levara não demonstrava ter sofrido nenhum arranhão.

– Hum... o que temos aqui? Um dom diferente. Sinto o cheiro de outros deuses. Você não é grega e nem romana, não é menina? Interessante... o menino da técnica não disse nada disso.. – prosseguiu a figura emo-gótica que parecia estar parada no mesmo lugar. A sua voz era fina, diáfana e esganiçada, extremamente afetada. Chegava a doer um pouco no fundo do ouvido o jeito que ele pronunciava as palavras.

Jade não sabia o que responder. Tinha sentido a pressão dos golpes. Muitos deles. Mas nenhum causou qualquer ferimento. Ela estava atordoada pela distância que tinha sido arremessada e pela rapidez que o inimigo demonstrava. Nem Eric, nos seus sonhos mais megalomaníacos podia se mover com aquela rapidez. Não parecia natural, mesmo para o mundo sobrenatural dos semideuses.

Ela se pôs de pé novamente, assumindo posição de luta. E foi derrubada de novo, dessa vez indo parar do outro lado do jardim. Ela se levantou coberta de terra úmida e grama apenas para ser golpeada novamente. Logo depois ouviu um grito de frustração entre as pancadas que pareciam trovões à sua volta.

– Não é possível! Eu dei golpes que levariam uma montanha vir abaixo e você ainda se levanta? Do que você é feita mortal? – o invasor sacou uma adaga de prata decorada e começou a cortar Jade com ela. As roupas da menina ficaram cheias de cortes vergados, mas a pele continuava intocada de qualquer ferida ou chaga. Por fim a adaga quebrou, partindo-se em duas peças. O jovem estava possesso. Olhou em volta e divisou a linha de água da piscina e jogou Jade dentro dela. Apesar de estar possesso, seus movimentos eram ágeis e de certa forma graciosos. Eram de alguém que estava acostumado a lutar com pessoas mais fracas e não tinham experiência com qualquer tipo de resistência.

Jade sentiu a água fria lhe envolver o corpo. O frio ajudou a desanuviar a cabeça. Tinha de reagir, parar de ficar apenas recebendo as pancadas e começar a devolvê-las. Ela tentou se equilibrar e se levantar quando sentiu o aperto férreo no pescoço. O invasor estava forçando-a para baixo, para que se afogasse. Jade desesperou-se, debateu-se e finalmente deixou escapar todo o ar de seus pulmões, mas estranhamente não se afogou. Não estava se sentindo perfeitamente bem, mas não era um desconforto maior do que estra no mesmo carro com Eric depois que ele soltava um peido. Ela não sabia quanto tempo poderia ficar na água, mas resolveu tentar alguma coisa diferente. Deixou o corpo mole parou de se debater. Depois sentiu o aperto no pescoço afrouxar e continuou imóvel, fazendo-se de morta.

O único olho que Oliver podia abrir estava vertendo lágrimas incontrolavelmente. Alguns dos golpes que ele levou foram endereçados no seu rosto. Um dos olhos recebeu uma pancada violenta e estava tão inchado que ele não conseguia abrir. Sua boca tinha o gosto de sangue e a mandíbula doía a cada respiração. Não só a mandíbula, o corpo inteiro. Ele tinha sido lançado uns dez metros de onde estava em pé com os amigos e só agora conseguia consciência o bastante para se mover. Ele tinha testemunhado os últimos dois minutos onde Jade tinha sido surrada de todas as formas até que finalmente foi afogada na piscina. O coração do jovem estava doendo. Mas não era uma dor física. Era emocional. Ele tinha sido incapaz de salvar a amiga, como muitas vezes ele mesmo foi salvo. Mas por que doía tanto? Ele não sabia dizer e nem questionava isso. Ele só queria vingança. A dor dentro dele estava se transformando rapidamente em ódio.

O menino emo-gótico caminhou despreocupadamente, passando pelos semideuses desacordados ou recobrando consciência. Ele parou perto de Isabel, desmaiada perto do mapa e do pêndulo e pareceu admirar a menina por um segundo.

Por mais que tentasse Oliver não conseguia se mover. Ele piscou e depois tossiu sangue escuro. Ferimentos internos. Provavelmente ele morreria disso. Piscou novamente os olhos e não estava mais diante do jardim. Estava numa terra árida, uma espécie de caverna. O ar era denso, quente, abafado. Na frente dele uma senhora de meia idade, magra, de cabelos escuros e olhos brilhantes, vestida numa elegante túnica verde o observava inquisidoramente, sentada num trono simples de pedra polida. A dor do menino parecia ter cessado e ele se levantou, apoiando-se no piso. Ele tentou falar, mas sua voz não saiu. Ele estava mudo.

– Interessante – disse a senhora de túnica verde – você não deveria estar aqui. Por uma série de razões que não valeria a pena enumerar. Eu nunca vi uma alma como a sua. Vai ser uma aquisição e tanto. – a figura de verde pareceu saborear as últimas palavras com antecipação, como um expert em culinária diante de uma iguaria fina.

Então ela parou como se ouvisse alguma coisa ou alguém falando com ela. Ela virou-se em outra direção e escutou atentamente, concordando de tempos em tempos. Foi que Oliver percebeu: seja lá onde estivesse ele não estava lá completamente. Apenas parte dele estava lá. Oliver sentiu pela primeira vez o que era estar em dois lugares ao mesmo tempo. Aguçando os ouvidos Oliver ouviu o canto de pássaros e sem querer percebeu o cheiro de bolo de mel. Nada que você encontraria numa caverna quente e abafada. Então ele paralisou de medo ao ouvir as palavras “Campos Elísios.” Mas o seu medo teve que esperar, pois a figura a sua frente voltou a falar com ele.

– Tenho uma proposta interessante para você rapaz. Você não pertence a este lugar. Helgardh é um lugar para os mortos e você ainda vive. Por pouco tempo, pelo que posso ver, mas ainda vive. Você está divido entre aqui e os Campos Elísios e se morrer desse jeito a sua alma, uma verdadeira jóia, vai se perder para sempre. Ela seria a peça de destaque da coroa mais linda do meu salão. – Oliver respondeu que estava ouvindo, mas nenhuma voz saiu de sua boca. A figura pareceu assentir e continuou falando – Como eu disse, tenho uma proposta para você...

O jovem emo-gótico abaixou-se perto do mapa e o admirou por um momento. O pêndulo já estava na sua mão, mas por algum motivo ele parecia temer pegar os dois ao mesmo tempo. Ele parecia absorto em seus próprios pensamentos quando ouviu um assobio atrás dele. Inadvertidamente ele se virou apenas para receber uma flechada atingindo o seu peito, morrendo nas peças de couro e tachas metálicas que vestia. Uma segunda flecha passou voando por sua cabeça, arranhando de leve a sua bochecha. O sangue verteu imediatamente pelo corte aberto, num filete rubro que contrastava com a pele do jovem. O jovem olhou enfurecido para a origem das flechas: Jade. A menina que ele acabara de afogar estava de volta.

Antes que jade pudesse dar mais um disparo o guerreiro invasor sacou do bolso o que parecia um par de boleadeiras, dessas que os tradicionais gaúchos de fronteira usam para caçar, e as arremessou na direção de Jade. A menina mal teve tempo de piscar. Logo estava enrolada nas resistentes tiras de couro, incapaz de oferecer qualquer resistência.

– Tenho que admitir que você é osso duro de roer mocinha. Eu adoraria matar você outra vez mas tenho assuntos mais importantes a tratar. Isso deve manter você ocupada até que eu recupere o que eu vim buscar.

O jovem voltou-se para o mapa, mas ele não estava mais lá. Ele olhou em volta, incrédulo. Quem poderia tê-lo tomado? Todos os inimigos jaziam no chão, alguns às portas da morte, incapazes de fazer mais do que gemer perante seus golpes.

– Olá Luciano – a voz parecia vir do outro lado do jardim, perto das estátuas que Jade batizou mais cedo como templo de Atenas.

– Ninguém me chama assim há tanto tempo. É você Eduardo?

A figura emergiu das sombras. Era magro, quase careca, com uma barba rala de três dias. Usava uma calça jeans desbotada e um par de sapatos de couro finos. Usava uma camisa de mangas compridas, azul com listras brancas e trazia nas mãos o que parecia o mapa.

– Esses meninos estão sob minha proteção Luciano. É melhor deixa-los em paz e sair daqui, enquanto você ainda pode. Aproveite e deixe o pêndulo exatamente onde você está. Eu sei que cedo ou tarde a pequena Isabel vai aprender a usá-lo. E não vai ser você que vai impedir isso.

O rapaz emo-core levantou o pingente e o deixou cair displicentemente na grama. Depois passou a mão pelo rosto, onde o sangue da ferida já começava a coagular. Ele levou os dedos sujos de sangue à boca e os sugou, como se sentisse prazer nisso. Depois disso olhou inquisitivamente para Eduardo e disparou:

– Aquele dali é seu sobrinho né? Pois bem, eu acertei ele pra valer. Ele vai morrer se você não fizer nada para ajudar. Sei que você carrega daquela ambrosia concentrada com você. Se injetar nele agora pode ser que você o salve. Se resolver brigar comigo, “primo”, saiba que pode até me derrotar, mas ele vai morrer. Deixe o mapa aí e me dê alguns segundos de vantagem. Os segundos que você precisa para salvar o seu sobrinho. O que me diz?

De longe um trovão repicou nos céus. O clima começava a fechar.


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