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Pov. Astrid

Eu tenho um coração elástico.

Ele vai e volta, dançando em meu peito, aguentando cada puxão e cada queda sem demonstrar.

Porém sinto que dessa vez ele irá arrebentar dentro de mim.

Ver Hiccup depois de tanto tempo, depois de virar algo que eu não queria ser. Depois de tudo, vê-lo de verdade, com minha própria alma, é como ser uma estrela cadente caindo em direção a algo duro.

A queda é grande, mas bonita.

E lá estava ele, entre a poeira.

Como faremos para lutar por nosso amor sem armas?

Eu entendo que temos de matar Pitch, entendo que nem sempre é paz e corridas de dragões.

Mas gostaria que tudo fosse como era antes. Só nós dois, cabeça quente, cabeça dura, perna de peixe e Melequento. Sabe, faz falta.

Mas eles não irão me ver quebrar, eu tenho um coração elástico.

E essa não é uma boa hora para refletir sobre tudo, porque ele está aproximando-se.

E o problema está em seus olhos, que pareciam ser feitos de repugnância.

Ele estava com raiva de mim. E eu não o culpo.

Porém eu não contava com uma espada, tirada rapidamente de seu cinto e que praticamente empurra meu peito com a ponta afiada, por pouco não entrando definitivamente.

Agora sim, eu tinha grandes motivos para desmoronar.

~•~

Pov. Elsa

Eu agradeço minha irmã por manter minha cabeça acima da água, quando pensar era como engolir areia.

Eu entendo que a vida não é um conto de fadas, mas eu estou morta de qualquer jeito.

Os sonhos aqui ficam frios. Não é como em um livro bonito. Lamento, mas na vida real as pessoas mudam.

Chegamos perto da casa e um tumulto pertinente de supervisão encobre toda a nossa vista.

Hiccup, por incrível que pareça, apontava uma espada para Astrid, que o olhava com um nervosismo plausível para a situação.

Astrid?

A Astrid?

–O que está acontecendo aqui? - pergunto, chegando perto o suficiente para que minha voz não alterasse seu volume convencional.

–Não é ela de verdade. - É tudo o que diz, Hiccup não abaixa a espada.

–Como assim não é ela? - Rapunzel fica curiosa.

–Claro que não é ela, pensem comigo, quem mais poderia ter feito tudo aquilo? Pitch! Mas com uma ajudinha... - Assovia, tirando a espada e dando lugar para Banguela, que agarra-a contra o chão.

–Escuta, por favor. - ela pede, tentando afastar as patas de Banguela de seus ombros. - eu realmente estava sendo controlada, mas agora sou eu, sou só eu.

–Como saberei se está falando a verdade? E se você simplesmente estiver mentindo?

–Não tenho como provar, Soluço. - ela olha para o lado e sem querer alcança meu olhar, parecia pedir-me desculpas, algo em seu olhar quebra-me o coração. Algo que eu conheço bem. Ela sente, como eu, o peso de precisar ter uma postura diferente com cada pessoa. De nunca poder ser fraca.

Há algo que ela não sabe, e há algo que ela esconde.

Segredos que ela sabe que nunca contará. Ela se mantém viva assim.

–Soluço? - Hiccup repete, e olha-a bem, percebo que está na beirada de algo profundo. Um abismo talvez. - Banguela, solta amigo.

Banguela sai de cima dela e ela respira fundo, pondo uma mão na testa e apoiando-se em um dos cotovelos, olhando para o nada e depois direcionando o olhar para ele.

Hiccup joga-se de joelhos.

–Astrid? - seu olhar carrega pesar.

–Me desculpa. - é tudo o que ela diz.

Ele puxa-a para perto e a beija, um beijo demorado e com uma sintonia bonita. Fez-me lembrar Jack Frost.

Porque tudo me fazia lembrar Jack Frost.

Até mesmo respirar.

Eu não queria admitir, mas estava com saudade dele, estava com medo de que meu orgulho atrapalhasse outra vez.

Mas meu medo fica ainda maior quando me dou conta de que ele não está aqui.

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Pov. Rapunzel

Todos estavam com seus próprios pensamentos e estávamos naquele tipo de observatório, que era mais para ficarmos todos juntos perto de uma fogueira no meio do que qualquer outra coisa.

Astrid estava abraçada a Hiccup, que sussurrava algo em seu ouvido.

Elsa parecia distante em seus pensamentos e Jamie falava para Merida que precisavam encontrar o tal livro, e que fariam isso amanhã, quando as coisas acalmassem. Flynn paquerava a Fada, o que me deu vontade de bater nele. Cabeça alguma coisa e a gêmea dele que também esqueci o nome conversavam com um tal de Melequento e Perna-de-peixe falava algo com Eret, que não estava prestando atenção. Os guardiões que vieram estavam exaustos, o que não entendi, já que pelo que consta, eles não precisavam dormir. Foi o que Jack me disse.

Jack Frost não apareceu, o que achei estranho.

Mas acho que os guardiões disseram aquilo de descansar para haver uma desculpa para ficarem e tudo se solucionar devagar, como deve ser.

Porém tem algo que eu realmente quero solucionar agora, mas ninguém parece querer me ajudar.

Levanto-me da roda, onde todos estão, e retiro-me, devagar. Ninguém parece notar minha saída.

Conversavam alto sobre qualquer coisa.

Meu cabelo estava amarrado com a trança dupla, algo que me trazia um conforto maior.

Pascal estava dormindo, com certeza, na casa que Hiccup nos arranjou.

Minha vida estava, até agora, tecnicamente toda arranjada.

Sair de uma prisão para outra, muda algo?

A prisão que sinto no momento é a prisão da mente. E é a pior prisão possível.

Atravesso a já conhecida praça principal, e estou no meio do caminho para chegar em casa quando escuto:

–Rapunzel.– algo, que parece estar longe, chama-me, a voz é de um garoto pequeno. - Rapunzel!

–Quem está aí? - viro-me diversas vezes, até que avisto algo dourado, segurado por alguém grande, que usava um tipo de roupa estranha e preta, seu sorriso, mesmo que de longe, era arrepiador. Ele saia de trás das árvores da floresta e andava até mim, em passos longos.

Pitch.

–Não se aproxime! - avisei, procurando qualquer lugar para correr, mas não havia. Para onde eu corresse, ele me acharia.

–Então quer dizer que você não quer isso? - ele brinca com o cilindro. - pensei que gostaria.

–O que você quer?

–Ah, muitas coisas, obrigado por perguntar. - ele sorri, malicioso. - tenha em mente por favor, que você é uma delas.

–Não, obrigado, recusarei sua proposta.

–Temo que não haja como. - ele joga o cilindro na minha direção, e eu o seguro com as duas mãos. - vamos lá, abra. Veja o que houve em seu passado.

–Por que está fazendo isso? Está entregando assim? De graça?

–Não não não, ai que você se engana. - ele desaparece, fico atônita encarando todo canto. Ele reapareceu na minha frente com um espelho em mãos, ainda não levantado. Ele começa a levantar devagar. - Não vai ser de graça.

–Não encare o espelho! - uma outra voz grita, alto. Fecho os olhos instintivamente.

Era Astrid.

–Corra! - era Flynn, pude perceber pela voz. Era única.

Dou um chute bem dado em Pitch, que estava distraído, e o chute pega em partes que bem... Não sei se ele precisa ainda.

Corro como se o vento não fosse uma barreira e paro quando os braços de Flynn me abraçam forte.

Escondi o cilindro, olharia mais tarde, sem dúvida alguma.

–Seus malditos! - ele grita sentindo, com certeza, dor. - Você! - aponta para Astrid. - Eu vou te matar pessoalmente quando a hora chegar.

–Estarei esperando ansiosamente. - ela brinca e ele rosna, ainda com a mão nas partes, e desaparece.

–Um chute. - Astrid levanta as sobrancelhas. - Eu devia ter pensado nisso quando ele veio com aquele papo de devoção total antes. Podia ter poupado todos com um chute bem dado ali.

Ri com aquilo, mesmo sabendo que era uma verdade dolorosa.

–Você está bem? - percebo que ainda estava agarrada a camisa de Flynn. Solto-me devagar.

–Sim, obrigada. Não sei o que teria acontecido se vocês não tivessem aparecido.

–Mas eu sei. Você teria entrado naquele espelho e nunca mais sairia. - ela diz aquilo de modo tão tenebroso que assusto-me. - você iria olhar para si mesma e sentir uma culpa imensa depois por ter olhado. E ainda ficaria louca.

Algo no que ela diz, talvez na forma, desencadeia algo dentro de mim. Um cadeado que parece ter sido aberto agora. Uma lâmpada em cima da cabeça indicando uma ideia que acabei de ter. Uma ficha que caiu. Tudo.

–Espera, acho que entendi o que você quis dizer do livro, Astrid.

–Como assim? - ela olha-me curiosa.

–O espelho. A mãe de Hiccup. É isso! - estou surpresa demais comigo mesma por ter pensado nisso.

–Calma, loira, explica devagar o que você está querendo dizer. - Flynn olha-me, ansioso.

–"Ela está entre ela mesma e Hiccup, foi ela quem ficou entre eles." Lembra quando você disse isso? - olhei para Astrid e prossegui meu raciocínio. - acho que entendi o que você queria dizer mas não podia.

–Continue... - ela está começando um sorriso.

–O livro está no espelho! - exclamo.

–E não só o livro... - Flynn parece começar a entender. - Os pais de Merida!

–Ah, céus. - lamento, com as duas mãos na cabeça.

–Finalmente alguém conseguiu descobrir. - ela comemora, pondo uma mão no peito e respirando fundo. - vocês precisam contar aos outros agora.

–Mas como vamos tirá-los de lá? - Flynn indaga.

–Ai que está o problema. - ela nos olha, sem expressão. - Alguém terá de entrar.