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Pov. Jamie

–Elsa? - ela encarava algum ponto no meio da multidão. - aconteceu alguma coisa?

–E-eu, não, nada importante. - agarrou meu braço com suas mãos mais geladas que o normal.

E o seu normal era muito gelado.

–Ai, tá frio - me olha como se fosse óbvio e é mesmo - tipo frio de verdade, muito.

Retirei meu braço e ela me encarou olhando para trás com um semblante preocupado e depois para mim que a observava com um olhar confuso.

–Certeza que não aconteceu nada? - olho por trás dela para ver o que tanto ela estava olhando.

E eu o avisto, encarando Elsa e consequentemente eu. Ela também o estava encarando.

Apenas Rapunzel, agarrada ao braço dele e apontando para a lareira, não estava.

As pessoas passavam pelo meio mas a corrente que era transmitida por nós não se partia.

–Eles não estão fazendo nada demais Elsa... São apenas amigos... - Digo pra Elsa sem tirar os olhos deles, mas mesmo falando aquilo para ela eu percebi que estava mentindo. Aquilo também me machucava, por conta de Rapunzel, mas por um motivo que não entendi, não me afetava tanto.

–Eu sou uma idiota. - fala sem me olhar e não consigo pegar sua mão e puxá-la para meu abraço pois seus pés já estão em movimento constante para longe de mim e de todos dali, deixando um rastro de neve enorme. Jack faz menção de correr até ela, mas eu corro até Jack e coloco a mão espalmada em seu peito para que ele pare, fazendo uma barreira com meu corpo.

Rapunzel me olha e eu me afundo.

Mas percebo, não sinto amor por ela, sinto mais algo como uma paixão platônica, gosto mas não quero para mim.

E não é por que ela já é feliz sem mim, não.

É porque simplesmente não é para mim.

No momento desse pensamento, vejo uma neblina subir pelo meu corpo e pelo corpo das demais pessoas ali, a neblina começa a ficar espessa demais a ponto que me afasto um passo de Jack e ambos olhamos assustados para aquilo que está praticamente nos consumindo.

As pessoas começam a correr.

E depois, a pararem.

Minha garganta parece se fechar e meus olhos começam a doer, muito.

Jack me olha, mas está com uma expressão diferente.

Está bravo.

Já soltou-se de Rapunzel, que também o encarava confusa.

Todos pareciam se encarar.

Mas nem todos estavam parados.

Na verdade, ao longe, eu avistei alguém correr, rápido, um vulto castanho em meio a todas aquelas pessoas que esperavam caladas e se encarando enquanto a neblina descia até seus pés e ficava por lá.

Ele corria em nossa direção.

E eu também estava com uma vontade estranha de correr.

Flynn vinha veloz, enquanto algumas pessoas começavam a discutir.

E a se abraçar.

E a se beijar.

–Flynn? - Jack perguntou e percebeu Rapunzel encarando-o enquanto ele corria.

E eu percebi para onde ele corria.

Para ela.

–Rapunzel! - ele gritou e ao chegar perto o suficiente dela, a olhou dentro de seus olhos e a abraçou, tão forte, de uma maneira única.

Ela retribuiu o abraço, mas seus olhos eram vagos.

Como se não houvesse mais expressão nenhuma existente no mundo.

Senti minha pernas tremerem e a vontade de correr estava ainda maior.

E então, sem pensar, eu já estava correndo.

~•~

Pov. Elsa

A neblina me consumia enquanto eu gritava.

Ali naquela área, mais ninguém era avistado.

Meu coração se apertou de um jeito súbito e minha garganta se fechou por um pequeno momento.

"Por que deixa sua voz ser temida?"

Uma voz falava em minha cabeça, minha própria voz.

"Eu não estou com medo"

Minha vontade de gritar era imensa.

"Jack"

"Jack"

"Jack"

"Que tal quebrarmos todas as regras?"

"Sim, sim, sim"

Alguém aparece correndo em minha direção, e penso ser Jack, preciso que seja ele.

E então percebo que ele vem, correndo em meio as árvores, mas não é Jack Frost.

–Jamie?! - franzo o cenho para aquele que já está na minha frente, respirando pesado e franzindo a testa assim como eu.

Ele agarra minha cintura com uma só mão e me puxa para perto de si num único movimento.

Tudo ao meu redor congela, neve espalha-se misturando-se com aquela neblina.

"Jack"

Nossos rostos estavam a alguns centímetros de distância e nossas respirações confundiam-se, entrando em ambos os seres.

O verão e o inverno.

O quente e o frio.

A vida e a morte.

Apenas nós dois.

"Jack"

Sua respiração... Tão agitada, seu peito que cresce junto ao meu cada vez que o ar é inspirado.

Sua boca entreaberta, seus olhos caídos.

–Jamie...?

–Eu preciso fazer isso pelo menos uma vez. - fala e me puxa ainda mais, fechando todo tipo de vácuo entre nós.

Me beija.

Forte.

Segura minha cintura com firmeza posicionando suas mãos no meu quadril e meus pés mal tocam o chão.

Ele é alto.

"Jack"

Agarro seus cabelos com minhas mãos puxando-o ainda mais para mim, sentindo sua boca quente, sua alma quente.

Céus, o que estou fazendo?

Minhas pernas estão tremendo e sinto uma vontade forte de correr.

Ele é bonito.

Ele é gentil.

Ele me entende.

Ele é quente, por dentro e por fora. Ele é o sol.

E ele sabe amar.

Mas ele não é Jack Frost.

–Jamie... Eu... - me afasto do beijo, me arrependendo um pouco, mas logo tomando um pouco do juízo que me restava. O que era aquela neblina?

"E eu perdi quem eu sou, de novo"

–Não, por favor, me deixe falar. - ele diz e se afasta, literalmente, nem sequer encostando mais em mim, em sua posição de defesa e eu me senti uma ameaça, mas logo depois ele volta a uma posição mais agradável, em pé, me encarando com os braços cruzados. Mais agradável, mas nem tanto. - eu te beijei porque... Eu precisava disso, entende? Para seguir em frente.

–Como assim?

–Eu nunca tinha realmente amado até você entrar por aquela maldita porta na minha casa. Eu tenho vários desenhos de você... Mas... Todos os desenhos você está ao lado de Jack Frost. Porque é assim que eu te vejo. A rainha da neve, com o guardião da neve. Você combinam e eu sou só mais uma pedra no sapato.

–Jamie escu...

–Espere, por favor. - ele continua e seus olhos estão marejados, parece que vejo sua alma descendo por suas bochechas, e talvez lágrimas fossem isso mesmo - Sempre que eu olho para vocês, vocês estão felizes, mesmo que a situação esteja uma completa confusão. Vocês tem um ao outro. E quando vocês caem, vocês caem juntos. Eu jamais entraria no amor de vocês. Ele te ama mais do que eu te amo, isso eu tenho certeza. Eu tive olhos para outras pessoas, mas ele? Mesmo tendo várias que o querem, ele só tem olhos para você. Eu queria ter essa sorte. Mas as pessoas não se importam com corações quebrados, ninguém se importa, elas ignoram e fingem que não viram porque assim é mais fácil. Então eu não me apaixono por outras pessoas, mesmo querendo, porque eu nunca havia tido a oportunidade de dizer essas coisas para você, isso estava me sufocando e eu precisava contar antes que fosse tarde demais, antes que isso me consumisse, e agora, tudo o que quero é que isso finalmente saia da minha cabeça porque eu não quero mais te amar. - trocou de um pé para o outro, apoiando-se em seus próprios argumentos e eu senti meu coração afundar ainda mais em um tipo de água que eu jamais pensei que voltaria.

A neblina nos cerca ainda mais.

–Jamie, me escuta agora, sim? - pedi com calma e ele fez que sim, ambos estavam com olhos marejados. - eu quase sempre consegui ver por trás de suas paredes, por incrível que pareça, nós somos iguais. Mas através do seu show eu escutava um garoto pedindo "por favor, não me machuca", porém a vida tem dessas coisas, a vida tem disso de magoar, a vida tem disso de matar por dentro antes de chegar à superfície. Me desculpa por qualquer coisa, me desculpa por não te amar tanto quanto você me ama, me desculpa por amar demais Jack Frost a ponto de te deixar para trás morrendo sem que eu possa fazer nada. Me desculpa porque eu realmente queria que você fosse feliz, e tudo que fiz foi magoar. Eu sempre fui assim, eu sempre empurrei para longe as pessoas. Mas com Jack foi diferente, e eu não posso deixá-lo, nós fomos feitos um para o outro, nossos sentimentos se entrelaçam de um jeito que jamais tornaria-se um nó. - caço seus olhos - E eu perdôo todos os erros dele e ele perdoa todos os meus, porque nós somos feitos de defeitos, e a questão não é destruí-los, a questão é amá-los. - toco sua bochecha e ele olha para o chão. - alguém Jamie, alguém tão sozinho como você se sente, irá entrar em sua vida, e vai te preencher de um jeito que vai te transbordar, vai te matar, sim, mas de felicidade. Jamie... Um dia você vai achar o amor verdadeiro, porque ele realmente existe, e esse alguém pode ser qualquer um. Mas primeiro, você tem que se amar, foi difícil pra mim no começo, mas agora meus medos são compartilhados e isso faz de mim alguém mais forte. Assim como vai fazer com você algum dia. Não procure o amor por aí Jamie, ele chega e bate na tua porta quando você menos esperar. Ele pode aparecer devagar ou rápido demais, é imprevisível. Ele não é perfeito Jamie, o amor verdadeiro nunca será perfeito. Mas tudo bem, porque ninguém no mundo realmente é.

–Você acha mesmo? Que algum dia eu amarei e serei amado? - ele pergunta e minha garganta arranha, porque ver aquilo me despedaça.

–É claro, Jamie, é claro.

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Pov. Merida

"Você diz a todos os garotos "não", faz você se sentir melhor?"

Seguro minha cabeça com as duas mãos e grito, de joelhos. Todos ao meu redor parecem correr, parecem ficar, e depois parecem simplesmente que não existem.

"Você construiu suas paredes tão alto que ninguém consegue escalá-las"

–Merida, você não cansa não? Sempre escondendo-se indo para "lugar nenhum" acha isso engraçado? Você será sozinha para sempre! - Hiccup me encarava de pé e falava com firmeza enquanto eu estava sentada no chão e com os ouvidos tampados. Depois agachou-se perto de mim, e eu deixei, tirou minhas mãos do meu rosto e me olhou fundo nos olhos. - Eu mal te conheço, mas vejo que você não se deixa vencer, é durona, sempre lutando, mas e o coração, hein? O que você faz com ele nas suas horas vagas? Você chorou por seus pais, prometemos que nada aconteceria com eles. Mas e com você?

–Me deixa em paz, Hiccup, você não me conhece.

–Eu sei que não, você não deixa ser conhecida. Eu vejo todos com alguém na mente, com alguém no coração, mas... Você não... - estou brava, claro que estou, mas o que ele diz pode ser verdade. - Por que?

–Eu não vou perder minha liberdade, conquistei-a e não vou perder com outra pessoa.

–E quem disse que isso é "perder liberdade"? Isso é ganhar. Escuta, você é linda, e não sei porque estou aqui falando com você e falando essas coisas mas... Estou, então, só por favor, mude seu conceito de liberdade, eu, por exemplo, estou indo encontrar Astrid, Flynn está bem ali com a Rapunzel - aquilo doeu, doeu sim, sem motivo aparente. A neblina branca misturava-se ao vento. - Jack deve ter ido encontrar Elsa. Faça algo com franqueza! O que você quer tanto dizer para alguém? Não existe ninguém aqui que você queira dizer algo? Ninguém que te entenda pelo menos um pouco a ponto de você fazer alguma loucura, sei lá, ninguém?!

O encarei, enxugando os olhos.

Existia sim, e era loucura, eu não sentia nada por essa pessoa, mas era uma loucura que eu estava afim de cometer. Só por cometer mesmo. Já que ele não merecia o que estava acontecendo nesse momento, ou ele acha que eu não sei?

Me inclino para frente e puxo Hiccup pela camisa, tocando meus lábios nos dele enquanto a neblina subia em nós.

Senti pela primeira vez o que era beijar.

Senti.

Era bom, céus, era bom.

Hiccup puxou-me com ele, ficando sentado, e eu, em seu colo.

A neblina subia pelo meu vestido.

E a mão dele brincava em minhas costas, puxando-me as vezes, assim como eu fazia com seu cabelo.

–Okay - eu disse me separando de seu beijo - essa loucura tá boa pra você?

–Tá... - diz e me dá outro beijo, dessa vez pequeno. - Não acredito... - ele olhou por trás de mim e eu segui seus olhos.

Astrid estava lá, atrás de nós, não tão perto e não tão longe, beijando alguém também.

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