Pov. Merida.

O ar frio lambendo meus cabelos me fazia lembrar um pouco o dia em que escalei aquela cachoeira.

Ninguém acreditou que eu pudesse fazer isso.

Mas eu não vivo para impressionar ninguém.

E nesse momento eu não quero voltar para casa.

–Ei ruivinha. - esqueci que esse malandro estava aqui.

–O que? - viro um pouco meu pescoço em sua direção.

–Aquilo deveria ser um pássaro? - ele me pergunta enquanto olhamos uma grande massa preta sobrevoar-nos rapidamente, indo e voltando por cima de nós.

Fico sem palavras.

–Não... Aquilo parece ser um...

Não tenho tempo de terminar a frase, Angus está muito agitado e acaba por nos derrubar no chão.

Ainda bem que o tal de Flynn serve pelo menos para alguma coisa, tipo amortecedor.

–Ai! - reclama alto.

Um erro cometido.

–Shhhh!

Levanto-me de cima dele e ajeito a barra do meu vestido, mas mal olho para cima de novo e algo me empurra com uma força sem tamanho me prensando contra uma árvore, deixando minha cabeça um pouco elevada em busca de ar.

As dúvidas foram tiradas assim que olhei para aquela coisa preta.

O dragão tinha toda sua fileira de dentes em minha direção e rosnava alto, seus olhos negros me encaravam de uma maneira que quase me fazia ter vontade de abraçá-lo e chorar contando meus problemas, era um olhar que atravessava almas, suas garras afiadas e pretas assim como ele todo estavam cravadas no resto de pano que sobrava da manga do vestido na altura dos meus ombros.

Agradeci por não ter comido muito no café da manhã.

Uma luz azul emanava de suas costas e narinas, uma luz semelhante a das luzes mágicas, e arrisco dizer até que teriam a mesma persuasão.

Uma coisa de metal podia ser visto pendendo de suas costas, mas não consegui ver nada por inteiro.

–P-Por favor... M-Me solta. - rosnei enquanto tentava me soltar.

Sem sucesso.

Encarei Flynn ao longe, já desacordado.

Aquilo me causou arrepios.

–Quem é você? - uma voz me assusta e tento olhar melhor de onde estou. Claro que não consegui. - para quem você trabalha?

–O que? Trabalhar? - tento me soltar mais uma vez - Para ninguém! Você está maluco?

–O que faz aqui e quem é você?

–Ninguém que você precise saber. - o encaro.

–Esse orgulho ainda pode te matar. - a voz era masculina, parecia quase brincalhona, se não fosse a situação.

–Que orgulho? - me faço de desentendida, mas as garras daquele animal me apertam ainda mais.

–Esse aí. - diz e presumo que ele está sorrindo.

–Olha, dá pra me soltar? Ta difícil de respirar aqui. - não sinto meus pés tocando no chão, o que significa que posso cair a qualquer momento.

Ele parece pensar por uns segundos, para mim parecia uma eternidade.

–Banguela? Solta ela com cuidado. - ele diz devagar como se aquilo já tivesse acontecido.

Ele me solta tão rápido que vejo apenas um borrão rápido e sinto meus tornozelos sofrerem o impacto e o joelho direito bater no chão com força.

A mão amorteceu um pouco a queda, mas meu joelho com certeza ficaria ralado.

–Ai! - reclamo apertando meu joelho.

–Banguela! - A voz fala com um tom de repreensão. - me desculpa, ele pode ser bem... Malvado quando quer.

–Bom, peça para ele maneirar da próxima vez. - falo e assim que levanto minha cabeça meu olhar encontra-se com o dono da voz a poucos centímetros acima de mim.

Era praticamente da minha idade. Certeza.

No lugar de sua perna direita havia uma coisa de metal, substituindo um possível pé perdido.

Seus olhos verdes eram quase tão profundos quanto o do "banguela" (que de banguela não tinha nada) e suas sardas combinavam com as minhas.

Mas claro que as minhas ganhavam em questão de quantidade.

Seu cabelo castanho desgrenhado pelo vento sincronizavam com o balançar das folhas nas árvores.

Ele era magro, mas forte, e alto, bem, pouquíssimos centímetros mais alto que eu.

Me senti pequena mesmo assim.

–Meu nome é Hiccup. - fala estendendo uma mão para me cumprimentar.

O cumprimentei.

–Tipo soluço? - faço uma cara engraçada mas ele leva as mãos para o ar sem acreditar.

–Soluço não, Soluço só quando eu era menor!

–E você é o que agora?

–Grande!

–Hmmmm, não acho. - provoco.

Ele bufa.

–Eu não teria te soltado se soubesse que você seria ainda mais irritante. - ele lança um olhar brincalhão mas sério.

Reprimo um riso.

–Ainda bem que você não sabia.

–É... Ainda bem. - diz irônico. - vamos, você deve estar cansada e eu tenho muitas perguntas.

–Certo... - concordo mas um relincho me faz voltar para a realidade. - Angus!

–O que?

–Tenho que levar Angus comigo. - olho ao meu redor e lá está ele, do lado de um corpo caído. - Ah não... - corro até o corpo.

–O que houve? - escuto soluço (sim, soluço) perguntar chegando mais perto.

–Flynn, sei lá, eu conheci ele na estrada, não me importa muito, mas é uma pessoa... O que houve com ele?

Soluço encara banguela e parece entender tudo.

–Banguela, isso não estava incluído.

–O que? - pergunto.

–Ele bateu com o rabo nele durante o percurso até você, deve ter sido forte o suficiente para desacorda-lo, mas ele ficará bem.

–E como levaremos ele?

–Pode deixar, banguela é forte e temo que ele esteja devendo um favor, né amigão? - banguela não parece nada satisfeito. - você vai no cavalo me seguindo e eu levo seu namorado no dragão.

–Ele não é meu namorado! Eu só encontrei ele na estrad...

–Ta bom, desculpa, Ruiva.

–Meu nome é Merida!

–Depois meu nome que é estranho.

–Por que todos falam isso? - bufo o ar que me resta e subo no cavalo enquanto soluço sobe no dragão que pega com as garras e levanta Flynn pela blusa e calça, admito que eu se eu fosse ele, não queria ter de acordar nem tão cedo, principalmente acordar e ver um dragão te segurando enquanto você voa.

Poucas horas para muita informação.

E muita informação para pouca lógica.

Mas a culpa é minha de querer aventuras.

Agora faço tanta parte disso tudo, que sair seria ainda mais loucura.

Eu realmente não quero voltar para casa agora.

~•~