–Jack, isso é seguro? - perguntei.

–É claro que é, venha. - ele falou puxando minha mão para dentro daquela esfera que acabou de ser formada por um globo de neve.

É realmente muito estranho passar por um portal, você vê tudo confuso, como se estivesse olhando por um caleidoscópio, as palavras não se formam e você não sabe onde fica o chão, demora menos de 1 minuto para que você saia de um canto para ir em outro, não importa o quão longe você possa estar.

E tudo se vai com um clarão.

De repente estou no telhado de algo, algo grande e definitivamente estranho, não é como as casas de Arendelle, nem mesmo como o castelo, é mais como um monte de casas em cima de outras. Muitas luzes, não fogueiras ou tochas, luzes diferentes, coloridas, ou somente amarelas, ou brancas. Muitas.

Eu deveria estar com cara de boba, porque Jack ria de mim, e pareceu ver que eu não entendia nada do que estava acontecendo.

Eu ri com o riso dele e ele começou a tentar explicar as coisas daquele lugar estranho.

–Bem vinda a Londres! - ele exclamou.

–O que? - perguntei saindo do transe.

–Londres... Você está na Europa, ou pra ser mais exato, Inglaterra. - ele falou e abriu os braços indicando a tal "Londres".

–Bonita - falei saboreando a palavra enquanto meus olhos azuis se dirigiam por tudo que dava pra ser visto - todas essas luzes - indiquei com o dedo - o que são?

–Pessoas, é noite e mesmo assim ainda tem gente acordada, essas luzes são que nem tochas mas ficam dentro de uma coisinha de vidro e podem ser ligadas por uma caixinha na parede, e não sou bom com explicações. - ele abriu um sorriso e eu também.

–E isto aqui? É o que? - falei indicando a "casa por cima da outra"

–Ah - ele riu - são prédios. Praticamente casas que ficam uma em cima da outra.

É, por um momento pensei que ele podia ler mentes, mas não, era só porque ele também pensava assim.

Ficamos meio que pulando de prédio em prédio (ele voava e eu fazia pontes de neve) ele foi me mostrando Londres e as luzes.

–Você acha que vamos conseguir encontrar seu amigo nessa imensidão?

–Ele sempre aparece por aqui, foi ele quem mais me ajudou quando ninguém me via e quando...- ele falou e começou a ficar triste, percebi que seus olhos marejavam.

Algo dentro de mim doeu, meu coração congelado talvez?

–O que aconteceu? Quero dizer, na sua vida? - eu perguntei e ele sentou na beirada de um lugar parecido com um prédio mas era iluminado e tinha um relógio bem grande. Me sentei ao lado dele. Estávamos meio que sentados no relógio.

É pelo visto eu também não sou boa com explicações.

Ele tentou começar e uma lágrima caiu, sei que não é uma coisa importante mas percebi seriamente como eu sentia falta de seu sorriso.

Sorriso brincalhão que foi trocado por gotas salgadas que lhe rolavam o rosto de vez em quando, eu não deveria estar pensando nisso, tenho um coração congelado, não sinto nada, eu odeio essas vozes, mas elas não me deixam escolhas.

Algo dourado passou por mim.

Olhei para cima e o que vi eram fios de areia dourada que dançavam no ar com tamanha maestria que era bonito de se ver e irresistível de ser tocado.

–Sempre na hora certa Sandman - Sorriu enxugando uma última lágrima e olhou para o céu - Já volto - e voou até uma nuvem dourada de onde saiam as luzes.

Enquanto ele voava até a nuvem, toquei em um dos fios e automaticamente imagens se formaram perto deles.

Criaturas feitas de areia dourada, unicórnios, peixes, golfinhos, todos em movimento, como se estivessem vivos.

Um deles era eu brincando com um unicórnio.

Ri com a cena, Jack já voltava e nos dirigimos para o telhado de um prédio, junto com a nuvem dourada.

~•~

–Elsa esse é o Sandman, Guardião dos sonhos e das crianças.

Sandman saiu de cima da nuvem.

Okay, Sandman era o cara mais fofo que eu já conheci, ele era feito de areia dourada, era baixinho, redondinho, e possuía uma carinha de bebê.

Ele foi falar mas ao invés de sair palavras de sua boca, formou-se desenhos feitos de areia flutuantes em sua cabeça.

–Ele não fala, ele fala com esses desenhos. - Jack me explicou.

–Oi Sandman - falei e acenei com a mão.

"interrogação" - foi o desenho que apareceu flutuando acima da cabeça dele.

–Elsa é de Arendelle e... - Jack começou a falar, mas um desenho se formou de novo.

"um vestidinho bem parecido com o meu" e "um floco de neve"- Sandman.

Me lembrei que estava de camisola e que em Londres é frio também, era para eu estar congelando.

–Ela... - Jack começou.

Fiz neve sair da minha mão e dançar no ar.

Os desenhos do Sandman ficaram doidos, como se ele estivesse tentando falar um monte de coisas ao mesmo tempo.

–Acalme-se Sand - disse Jack Frost - É, ela também faz nevar.

"lua" "floco de neve" - Sandman.

–Não Sand, parece que não é obra do homem da lua, ela...nasceu assim.

Sandman começou a ficar mais calmo mas continuou apreensivo.

–Eu a trouxe para te ver porque ela vem tendo pesadelos estranhos, e você cuida dos sonhos, talvez pudesse ver o que está acontecendo.

Sandman acenou com a cabeça como se dissesse "deixa comigo" e chegou perto de mim pedindo com a mão para que eu me abaixa-se.

Olhei para ele, para seus olhos dourados e por um instante era como se eu precisasse confiar nele, falei algo que saiu de forma natural da minha cabeça.

–Eu queria poder entender, queria poder fazer isso desaparecer, não posso achar a saída sozinha, eu estou perdida em um profundo sono de inverno, – minha voz falhava - eu tenho que achar um lugar a qual eu pertença, você poderia me acordar? – eu já sentia meus olhos molhados, eu não sei porquê havia dito aquilo, era como se eu já tivesse falado, ou que alguém já tivesse me dito, eu acreditava em Sandman, confiava nele, mesmo assim senti uma vergonha enorme, nunca havia pedido ajuda assim.

Ele assumiu uma cara triste, tocou minha testa e fechou os olhos.

Segundos de silêncio se passaram, me pareceram horas, então Sandman se afastou rapidamente de mim e me olhou assustado e ao mesmo tempo piedoso.

Não entendi o porquê, e me pareceu que Jack também não.

Então Sandman se afastou mais um pouco para que nós dois pudéssemos vê-lo e então um desenho flutuante se formou acima de sua cabeça.

Um cilindro dourado.

Pela cara de Jack, me pareceu que ele sabia exatamente o que era aquilo.

~•~

"Can you wake me?"

~•~