Secrets escrita por Yukii


Capítulo 8
Secret 8 - Love Bonds


Notas iniciais do capítulo

~ Esse capítulo se passa durante o episódio 68 de Yu Yu Hakusho.



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A brisa leve que soprava pela cidade soava um pouco desconfortável a Hiei. Há alguns minutos, estava tudo tão calmo e agradável que ele nem acreditou muito na própria sorte. E talvez tenha sido por causa disso que acabou dormindo em cima de um galho retorcido e desconfortável de uma árvore qualquer, no meio daquela cidade iluminada e barulhenta; mas havia algo que o incomodava muito mais do que todo o barulho e a luz do mundo. Sim, e aquele "algo", fazia alguns minutos, estava muito próximo dele.

 

Basicamente, se tratava da maldita presença de Kuwabara, Kurama, e Botan.

 

O que lhe acordara do seu sono quieto, basicamente, fora o reiki¹ terrivelmente baixo e saltitante de Botan, que parecia desagradar o koorime mais do que qualquer coisa no mundo. Não se incomodava nem um pouco com a presença de Kurama; ambos eram amigos, e ele não sabia dizer se gostava ou desgostava do youko. Quanto a Kuwabara, a existência dele fazia a mesma diferença que uma larva morta na vida de Hiei. E Botan... ele não sabia bem explicar porque, mas, ultimamente, estava odiando-a mais que o normal. Não que odiar Botan fosse considerado normal. Ela era amada por todos aqueles amigos solidários - e imbecis, na opinião de Hiei -, e ele, apenas ele, era visto como o carrancudo que odiava todo mundo, enquanto ela era vista como a simpática ferry girl que amava todo mundo. "A vida é realmente injusta", pensou Hiei. Como se o que a vida fosse ou deixasse de ser fizesse alguma diferença para ele.

 

Ouviu uma pequena gritaria e um rebuliço de vozes que ele conhecia mais do que gostaria de conhecer. E se aproximavam cada vez mais de onde ele estava. Hiei bufou, incomodado, revirando-se entre os galhos da árvore, enquanto escutava a voz de Botan gritar alguma coisa com os amigos. Por um instante, ele sentiu o coração se contrair desconfortavelmente - de nojo e raiva, ele supôs -, e sua vontade foi saltar dali depressa e desaparecer. Mas sua curiosidade acabou falando mais alto; cuidadosamente, Hiei se debruçou sobre os galhos menos espetados da árvore, a tempo de ver Kurama olhando para o interior do que parecia uma mala aberta, Kuwabara ao lado dando algum tipo de escândalo, e os inconfundíveis cabelos da baka Onna, azuis, reluzindo com o luar. Ele deu graças por ela estar de costas, e ele não ser obrigado a encarar aqueles orbes rosados e cheios de alegria, que lhe incomodavam tanto.

 

- Tem alguma ferramenta que não nos faça procurar pelo Hiei, mas que o traga aqui?

 

A voz de Kurama acabou escapando aos ouvidos de Hiei. Estavam procurando por ele ? O youko, o idiota e a Baka Onna estavam procurando por ele? O koorime sentiu um certo desinteresse naquilo tudo. Não estava interessado em se reunir com todos eles de novo. E, principalmente, não achava que iria conseguir olhar na cara da baka Onna depois do que ela havia feito. Ou será que tinha alguma vontade de ir ali e...? Que pensamentos estúpidos. Hiei se revirou novamente nos galhos, achando uma posição confortável, disposto a dormir ali mesmo.

 

O youkai do fogo teve a impressão de que, mal havia se deitado, um barulho horrível ocupara todo o espaço. Era agudo e grave ao mesmo tempo; irritante, longo e interminável. O som era tão alto e estranho que Hiei pôde sentir sua cabeça latejar horrivelmente. Então, tudo silenciou. Estava tão zonzo que não sabia mais se estava sonhando ou não. A voz inconfundível de Botan ecoou na sua mente e nos seus ouvidos:

 

- Hiei, se você ouviu isso, por favor nos responda.

 

"Baka Onna?"

 

Mas ele não teve nenhum tempo de raciocinar. Em um instante, estava recostado por entre os galhos da copoa frondosa; no outro, ele caía com tudo no chão.

 

A colisão foi bastante violenta; apesar de tudo, ele era Hiei, e não era uma queda que o abateria daquela forma. Levantou a cabeça, massageando-a, enquanto murmurava:

 

- Q-que maldito som foi esse...?

 

Quando levantou os olhos, estavam todos lá. Os orbes rubros de Hiei se detiveram por um momento em Kuwabara e Kurama; o primeiro olhava-o com desdém, e o outro trazia um sorriso leve. Em seguida, olhou para a baka Onna por um breve instante; seus olhos não gostavam de se demorar nela. Eram culpa daqueles olhos, ele tinha certeza.

 

- Hiei! Eu sabia que você viria! - exclamou ela, contente, a voz traçando melodias no ar. Hiei despregou os olhos do chão e ousou mirá-la, com a frieza de sempre:

 

- Do que você está falando? Eu nunca quis vir onde vocês estavam. Vocês são tão chatos. Hn.

 

Botan abriu a boca para responder, a indignação subindo ao seu rosto infantil, mas Kurama a interrompeu:

 

- Hiei, aqui. - ele disse enquanto estendia algo semelhante a uma carta para ele. Um sorriso de sarcasmo surgiu na sua face enquanto ele lia, e depois falou:

 

- Isso é o que você merece, Yusuke. - o koorime devolveu a carta a Kurama. - Ele provavelmente ficou se achando depois do Torneio das Trevas, pode ser que agora ele se arrependa. Hn.

 

- Mas isso não lhe preocupa? - quis saber Kurama. Atrás dele, Botan mirava Hiei com olhos inconformados, como se ele tivesse ofendido seu filho. - Não quer saber que tipo de criatura pode ter capturado o Yusuke?

 

Hiei reavaliou sua resposta. Sentia os olhos da Onna pregados nele, como se sua salvação dependesse das palavras que ele soltaria. Os olhos dela o fizeram lembrar do beijo que ela dera na sua bochecha. "É uma questão de vingança", pensou Hiei, que provavelmente nunca se conformaria com aquela pequena atitude da Onna. A lembrança do ocorrido fazia seu rosto esquentar de uma forma miserável.

 

- Não. - ele disse, simples e direto. - Não tem nada a haver comigo.

 

A expressão de Botan era desesperadora. Hiei não esperava menos dela.

 

- Se você não vier, o Yusuke pode morrer!

 

"Apelo sentimental?", pensou Hiei. Aliás, por que raios ela se incomodava tanto com o maldito do Yusuke? Era bom que ele morresse de uma vez mesmo. Talvez ela aprendesse um pouco mais.

 

- Aquele idiota me enche o saco! - murmurou Hiei, virando-se para ela. A expressão da ferry girl trazia um desespero inigualável. - Por que diabos eu tenho que procurar um imbecil que se deixa capturar facilmente depois de tudo que já passou, Onna?

 

Kurama continuou a usar alguns argumentos para tentar convencer o koorime, embora este ainda demonstrasse um forte desinteresse. Botan, afinal, percebeu que aquela conversa não iria surtir efeito com o youkai do fogo. Seus olhos ardiam de seriedade, enquanto ela mirava o colega e dizia:

 

- Escute, Hiei. - ela fez uma pequena pausa. Parecia estar dando tudo de si naquilo. - Você não foi oficialmente retirado da lista de procurados do Reikai, certo?

 

- E daí, Onna?

 

- Se você nos ajudar a salvar o Yusuke, o que acharia se o Reikai não tivesse mais nada a tratar com você?

 

- Ei, ei! Tem certeza disso?! - interviu Kuwabara, surpreso.

 

- Não temos escolha, certo? Não temos tempo! - respondeu Botan. Sua voz bambeava e suas mãos suadas apertavam-se nas palmas. - Tudo bem, certo?

 

As feições dela estavam sérias. Hiei achou estranho vê-la assim. Não parecia mais a baka Onna. E, nos olhos dela, ele entendeu que ela iria até o fim por Yusuke. Sentiu uma pontada de alguma coisa estranha que ele não sabia definir. Nenhum deles - nem Kuwabara, nem Kurama, nem ele mesmo - nenhum deles significaria tanto para a Onna como Yusuke significava. E o egoísmo sobreveio a Hiei, entortando suas sombras e seus pensamentos como fizera a vida inteira com o youkai do fogo. Ele não sabia dizer porque, mas estava ainda mais irritado com ela. Um ódio fundo e vazio, sem razão de ser. "Se você quer ir até o fim por ele e sentir toda essa dor, eu lhe darei isso, Onna", refletiu consigo mesmo. "E tanto melhor será para mim. Eu quero me livrar de todos vocês, e isso inclui você, Onna".

 

- Oficialmente absolvido, certo? Tudo bem. - as palavras saltaram secas e inexpressivas da boca de Hiei.

 

- Então está certo. Vamos nos apressar! - ela exclamou, correndo em direção ao tal lugar indicado na carta.

 

Kuwabara e Kurama foram na frente, numa corrida rápida. Atrás deles, Botan se esforçava para correr, acompanhada por Hiei, que andava a um passo lento e morto ao lado dela.

 

- Hiei! - ela chamou, a voz ofegante e incostante por causa do esforço. Hiei se virou parcialmente para ela. - Eu... eu queria lhe agradecer. O Yusuke... tenho certeza que vamos conseguir salvá-lo com sua ajuda... - ela sorriu fracamente.

 

- Hn. Eu não fiz isso por aquele idiota. Muito menos por você, Onna. Eu fiz isso para poder me livrar do Reikai e de vocês.

 

Botan fez uma pequena careta, mas não disse mais nada. Continuaram em ritmo rápido. Até que Hiei quebrou o silêncio:

 

- Por que você vai tão longe por aquele idiota?

 

Botan se surpreendeu tanto com a pergunta (e com o fato de Hiei lhe fazer uma pergunta tão espontaneamente) que chegou a tropeçar nos próprios pés. Hiei fez um "Hn" de descaso, e a ferry girl levantou-se rapidamente, o rosto um pouco sujo enquanto ela alisava as dobras da saia.

 

- Você faria o mesmo pela Yukina-chan, certo? Aliás, você fez. - ela sublinhou a última palavra com a voz.

 

O koorime olhou para frente com um ar quase psicótico, como se esperasse que Kurama e Kuwabara gritassem que Yukina era sua irmã. Depois de retomar sua habitual indiferença, ele respondeu:

 

- Mas você não tem nenhum laço sangüíneo com ele, Onna.

 

- Eu faço as coisas por laços afetivos, e não por laços sangüíneos! - redargüiu a guia espiritual. - E aposto que você fez o que fez pela Yukina-chan pelos mesmos motivos!

 

- Yukina-chan?! - Kuwabara parou de correr de forma súbita, quase esmagando Hiei. - O que tem ela?! Estão falando dela?!

 

- Idiota - murmurou Hiei. Botan não entendeu se aquele adjetivo se referia a ela ou a Kuwabara, mas resolveu consertar a situação:

 

- Não era nada, Kuwa-chan! Apenas continuem indo, o Yusuke pode estar em sério perigo!

 

Kuwabara tentou se rebelar contra aquelas indicações, mas acabou cedendo e obedecendo, apesar de tudo. Quando retomaram o ritmo, o koorime murmurou para a ferry girl, com certa irritação:

 

- Eu já lhe disse para parar de falar de todas essas coisas em voz alta, Onna.

 

- Do que você está reclamando? - quis saber Botan, a voz se elevando. - Eu já consertei tudo! O Kuwa-chan não vai desconfiar de nada!

 

- Você não fez nada, Onna. Se algum dia eu souber que você contou isso, eu mato você.

 

- Eu nunca contaria, Hiei, você sabe disso! - murmurou ela, a voz tremendo. O koorime percebeu que sua ameaça repentina infligira certo medo na garota em um momento não muito adequado, e chegou a sentir um certo remorso. - Todos vocês! Eu gosto de todos vocês do mesmo jeito que eu gosto do Yusuke! Eu guardo todos os segredos que você me pedir, Hiei, por mais sem fundamento que isso seja!

 

Ela parecia estar à beira das lágrimas. Botan estava passando por um momento um pouco conflitante, onde tinha que se manter, por Yusuke, e por todos os outros. Hiei ficou um pouco atordoado com as palavras dela. Piscou, incrédulo, e foi a sua vez de tropeçar nos próprios pés, mas não chegou a cair de todo. Botan ultrapassou sua velocidade, ainda tremendo, mas não chorava. Hiei estancou por um momento, e sentiu a face arder onde antes Botan havia beijado.

 

"Baka Onna", murmurou consigo. "Você está tentando brincar comigo, não é?".

 

Estava horrivelmente incomodado por ela. Mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

¹Reiki: energia espiritual.

N.A.: Capítulo tosco e curto. Não foi bom como eu prometi, mas o próximo sairá logo, daqui a uns 2 dias! xD Me desculpem pelas coisas estarem andando tão devagar, mas a fanfic será longa, e as coisas vão melhorar um pouco daqui a uns capítulos, aguardem! Obrigada a todos que leem e dão review *-*