Lembre-me! escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 16
Capítulo 15




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Eu estava presa. A água se infiltrava pelo pára-brisa quebrado, penetrando não somente no carro, mas também em minhas narinas. Não pude enxergar com nitidez por culpa da água relativamente turva, mas sabia intuitivamente que precisava sair dali. Movendo-me lentamente devido à água que me envolvia, tentei desafivelar meu cinto. Tudo em vão. Eu estava lerda, pude ver a coloração avermelhada da água e soube que estava ferida. Eu iria morrer. Afogada, ferida. Fiquei parada sentindo a vertigem da morte me atingir, o corpo se entregar ao cansaço, o frio, a morte.

Foi de repente. Olhei para o lado e vi uma figura nadando em minha direção, a claridade do Sol que se chocava na superfície deixava a água clara, deixava a tudo visível.

Um anjo.

Essa foi à primeira coisa que pensei ao vê-lo nadar até mim, a face bela ainda que retorcida numa máscara de desespero. Eu não consegui identificar aquele rosto, mas eu senti que o conheci. Por que aquele rosto era de alguém que eu amava muito.

-Edward... –Murmurei e notei que não estava mais naquele ambiente caótico, trancada em um carro no fundo de um rio qualquer. Eu estava deitada em minha cama coberta com meu edredom.

Uma manhã bela. Eu sabia disso por que parte da parede do meu quarto era de vidro e eu podia ver através dela aquela beleza sem igual de uma manhã ensolarada. Tateei a cama a procura do corpo do meu marido e me frustrei ao constatar que ele não estava ali comigo. No entanto a cama não estava completamente fazia. Encontrei uma linda rosa vermelha e, ao lado, um bilhete. Reconheci a caligrafia elegante de Edward. O bilhete dizia o seguinte:

“Bom dia meu amor. Infelizmente terei de ir à empresa, mas não dispensarei o privilegio de acompanhá-la no café da manhã. Estou aguardando você na área da piscina onde pedi a Joel para servir o café. Amo você.

Edward.”

Eufórica com a declaração singela, eu procurei ser rápida para poder ver aquele rosto adorável que eu tanto amava.

...

Ofegante, corri para a sala de jantar. A presa deixou-me desastrada. Acabei tropeçando e teria ido ao chão se Joel não tivesse impedido minha queda.

-Ah, desculpe Joel. O Edward ainda está aqui? –Perguntei enquanto Joel me firmava de pé.

-Sim, o senhor Cullen a espera para a degustação do café da manhã.

Eu estava novamente correndo. Cheguei rapidamente à área da piscina. Ele estava lá, sentado em uma das cadeiras, olhando a piscina.  Parecia perdido em pensamentos felizes, um meio sorriso em seus lábios.

-Bom dia. –Murmurei baixinho, mas foi o suficiente para Edward me ouvir. Ele levantou-se, um sorriso ofuscante na face, e veio em minha direção me abraçar. Seu abraço foi apertado, caloroso.

-Bom dia. –Sussurrou em meu ouvido. Arrepiei-me ao ouvir sua voz, sentir seu hálito em meu pescoço. Edward colocou suas mãos em meu rosto puxando-o para si e beijando-me calmamente.

Após o beijo, Edward olhou-me, sorria.

-Você está um caos. Não precisava correr até aqui.

-Mas eu não queria demorar muito e atrasá-lo. Não procurei me arrumar, devo estar um horror. –Resmunguei. Edward riu.

-Você está linda! –Beijou-me na testa. Pegou minha mão e guiou-me até a mesa ricamente arrumada. Sentei ao seu lado e rapidamente me servi. Notei que os olhos de Edward se fixaram em mim, deixando-me constrangida. Era impressionante como cercada por uma manhã magnífica, eu não conseguia ver a beleza daquela cena, não enquanto Edward estava ao meu lado, sorrindo.

-A propósito tem algo que me esqueci de lhe dizer. Hoje a noite haverá um evento beneficente e tenho que participar. Eu adoraria sua companhia. –Edward disse, brincava distraidamente com uma mecha do meu cabelo. Dei um bom gole de meu suco para depois respondê-lo.

-Eu sei. Mamãe me avisou ontem. Até comprei um vestido. Não queria, tenho muitos vestidos no closet, mas ela queria fazer compras então...  

-Nossa, sua mãe é bem precavida mesmo! Fico feliz que já esteja com seu lado adiantado amor. Isso significa que não poderá recusar meu pedido.

-Edward, eu não recusaria mesmo que você me avisasse apenas com meia hora de antecedência! –Disse, divertida, ignorando meu café da manhã e virando-me para vê-lo melhor. Edward lançou todo o poder de seus olhos cor ocre que pareciam brilhar encantados com minhas palavras. Comemos silenciosos.

Infelizmente, após o café da manhã, Edward precisou ir para a empresa. Eu tinha de aceitar, era o seu trabalho, mas não conseguia desfazer o aborrecimento por ter de ficar longe dele, nem ele. Despedi-me de Edward com um beijo. Edward adentrou seu veiculo e partiu.

Meia hora depois minha mãe chega a minha casa e com ela uma equipe com a finalidade de me deixar deslumbrante para o evento que logo mais ocorreria.

...

-Ah, você está tão linda! –Disse Renée para mim. Estávamos em meu quarto, local este em que passei o dia inteiro. Pensei que conseguiria ficar pronta com tempo de folga, mas as técnicas de embelezamento empregadas pelos sete funcionários que vieram com Renée eram tão complexas que logo mais precisaria partir.

Os funcionários já haviam ido, eu estava pronta e minha mãe... Bom... Ela decidiu permanecer e cuidar para que eu estivesse perfeita até a hora de partir para a festa.

-Mãe, eu não deveria ter me vestido agora. Estou com fome, não comi quase nada no almoço.

-Ah não Bella! Não vá se sujar! Deixe para comer após o evento. Você não vai morrer de fome se atrasar sua refeição, vai? –Disse Renée injuriada. Suspirei.

-Não, não vou morrer de fome. –Murmurei saindo de frente do grande espelho localizado no interior de meu closet e indo me sentar ao lado de minha mãe na cama.

-E então, como está? Não tivemos a oportunidade de conversar. Como está o Edward e você? –Mamãe perguntou. Involuntariamente sorri.

-Estamos bem, muito bem. –Renée deve ter captado meu espírito feliz e, com um olhar malicioso, perguntou:

-O que? Vocês finalmente se entenderam? Ah filha conte-me! –Renée saltitava em minha cama como uma criança ansiosa pelas novidades. Corei enquanto pensava em tudo o que houve entre mim e Edward num curto espaço de tempo. Mesmo Renée sendo minha mãe, eu não tinha intimidade com ela. A única pessoa com que tinha intimidade era Edward. Ainda sim me esforcei para dizer, eu queria estreitar mais e mais os laços entre nós.

-Nós estamos vivendo como marido e mulher. Demorou um pouco, mas eu percebi a pessoa fantástica que estava ao meu lado. Não quis mais perder tempo. –Murmurei vermelha como um pimentão olhando para um canto qualquer do quarto.

-Ah, isso me deixa tão feliz! Edward andava sofrendo muito com o afastamento que existia entre vocês. Fico feliz que estejam bem.

-Nós estamos bem. Apesar de alguns contratempos que surgem nós...

-Contratempos? Que tipo de contratempos Bella? –Mamãe perguntou e antes que eu pudesse responder alguém bate a porta.

-Senhora Cullen? Há um rapaz que deseja vê-la. –Joel comunicou. Num átimo eu estava de pé.

-Quem é Joel? Identificou-se? –Perguntei nervosa que pudesse ser James, embora achasse improvável que ele viesse até minha casa.

-Ele diz ser seu amigo, já veio para cá algumas vezes. Trata-se do senhor Jacob Black.

Assim que ouvi o nome sai sem hesitar do quarto.

-Eu vou recebê-lo. –Disse a Joel enquanto passava por ele.

Procurei caminhar lentamente, tentando me equilibrar no salto agulha que usava, segurando algumas camadas do vestido para caminhar com mais liberdade.

Jacob estava de pé em frente à escadaria principal. Virou-se ao ouvir o barulho que meu salto produzia no chão encarpetado. Vi seus olhos negros se arregalaram ao encontrar-me.

-Oi Jake. Tudo bem? –Perguntei descendo totalmente as escadas e ficando diante dele. Jacob fitava-me com adoração, ou pelo menos assim pareceu para mim. Após se recuperar do choque, Jacob respondeu.

-Oi Bella, como está?

-Estou bem. –Sorri.

-Você está linda! Aonde vai tão bonita assim?

-Vou a um evento com o Edward, um evento empresarial.

-Entendo. Acho que vim em uma má hora.

-Não Jake! Claro que não! Edward ainda nem chegou do trabalho, eu que me arrumei cedo. A que devo a sua visita? Quer se sentar? Podemos ir para o espaço onde recebemos os convidados, há poltronas lá.

-Ah não precisa se incomodar Bells. Vim rapidamente para entregar isso a você. –Jacob retirou um envelope branco do bolso interno de sua jaqueta cor caramelo. Eu o peguei.

-O que é isso?

-O convite do meu casamento. Será daqui a duas semanas. Você vai?

-Claro Jacob! Ficarei muito feliz de estar lá. E... Será que Edward poderia ir comigo? –Perguntei sabendo da estranha antipática que Jacob tinha por Edward. Não seria a mesma coisa sem ele. Jacob fechou a cara, sabia que reagiria assim.

-Ele pode ir se quiser. –Falou com desdém. –Mas duvido que vá querer. De qualquer forma, mesmo que ele não queira ir, conto com você. Afinal você vai ser minha madrinha. –Jacob disse e sorria tristonho. Não saberia dizer por que ele parecia tão desanimado com o próprio casamento.

-Ah, sério? Eu adoraria ser sua madrinha! Estarei lá no dia do seu casamento. Pode ter certeza.

-Bom então é isso. Só vim para deixar o convite. Venho outro dia para conversarmos melhor, e você deve estar querendo andar na sua moto.

-Certamente. Venha sim Jake. Será bom pra mim ter sua companhia.

Hesitante, Jacob ergueu a mão e afagou minha bochecha. Lembrei-me do sonho que tive e isso complicou ainda mais a situação. De repente, eu percebi que aquele toque das mãos de Jacob tinha algo mais, algo mais do que amizade. Agora mesmo seus olhos fitavam-me com um brilho intenso. Será que agora eu conseguia ver algo mais profundo na superfície ou tudo era o reflexo do sonho que tivera com Jacob? Enquanto estava perdida em pensamentos, uma voz soou potente pelo amplo espaço.

-Ah, olá Jacob? O que faz há essa hora aqui? –A voz feminina soou no topo da escada. Viramos-nos e vimos minha mãe. Seu tom de voz era ácido, ela parecia não gostar de Jacob. A expressão de Jacob indicava, assim como minha mãe, a inimizade que existia entre eles.

-Olá senhora Swan. Eu preciso ir. –Jacob anunciou afastando-se rapidamente. Eu fiquei tão atônica pelo clima hostil que se formou com aquele encontro que nem pude me despedir adequadamente de Jacob. Renée desceu as escadas apressada, pegou o envelope de minhas mãos.

-o que é isso que Jacob entregou a você? –Perguntou ríspida já fazendo menção de violar o envelope. Num átimo peguei de suas mãos.

-Mãe! Não faça isso! Vai destruir o convite!

-Convite? Convite de que?

-Jacob vai se casar mãe. Ele me convidou, veio trazer o convite. O que há de errado com a senhora? –Perguntei aborrecida enquanto subia as escadas.

-Não é nada. Eu só acho imprópria a conduta de Jacob para com uma mulher casada. –Ela falou num tom petulante. Bufei.

-Ele é meu amigo. Não há nada de errado com a sua conduta. Se há alguém agindo de forma errada esse alguém é a senhora. –Disse com aspereza. Renée parou de subir as escadas.

-Quer saber? Acho que já está na minha hora. Se ficar aqui acabarei discutindo com você. Eu não quero isso. –Desceu alguns degraus que havia subido, caminhou até a porta, Joel a manteve aberta. –Aproveite o evento. –Disse antes de partir.

Eu não gostava de brigar com ninguém, especialmente com minha mãe, mas não poderia ficar calada diante da injustiça que ela exercia com Jacob. Fui para meu quarto, iria esperar por Edward lá.

Era tão injusto! Devia haver um motivo para Jacob ser tratado tão mal por Edward e por minha mãe, mas o que poderia ser? Será que Edward me responderia com sinceridade? Eu duvidava. Visto que estávamos indo muito bem e teríamos um evento para ir, deixaria as perguntas para depois.

Enquanto minha mente vagava, acabei por lembrar o meu sonho com Jacob. Aquele sonho me atormentava! Teria ele ligação com meu passado? Aquela seria a prova de que eu tive algo com Jacob? Eu não sabia e, sinceramente, não queria saber.

...

-Bella? –Uma voz soou fora do meu quarto. Levantei da cama num átimo.

-Edward? –Perguntei caminhando para a porta. Edward a abriu, já estava pronto para o evento.

-Nossa, nem ouvi você chegar! –Comentei saindo do quarto em direção ao corredor, postando-me ao seu lado. Edward olhava-me atentamente, havia fascinação naquele olhar e gostei disso.

-Você está divina. Esta cor fica adorável em você. –Confidenciou olhando para meu vestido tomara-que-caia azul. Eu corei.

-Obrigada. Você também está muito bonito. –Disse olhando-o atentamente. Usava um smoke clássico. Edward aproximou-se, sua mão encontrou a minha, segurando-o, e beijou-me na testa. Fechei os olhos ante o contato, apreciando seu perfume, seus lábios em minha pele.

-Não sabe como desejo levá-la ao quarto e mante-la minha prisioneira. Está tão bela que temo deixá-la exposta. –Disse entre risos, seu hálito doce chocando contra meu rosto.

-Não se preocupe. Eu não vou fugir. –Disse divertida. O envolvi com meus braços e aproximei nossos rostos para que pudéssemos nos beijar. Meus braços em seu pescoço. Seus braços em minha cintura e um beijo tão casto que me senti derreter e desejar que Edward mudasse de idéia e ficássemos em casa, nos amando. Edward afastou-se, retirou algo de seu bolso.

-Comprei para você. Combina com o vestido. –Disse e retirou um belo par de brincos da caixinha aveludada.

-Nossa! Parecem ser caros. –Falei com preocupação. Edward riu enquanto retirava os brincos da caixa.

-Não ligue para isso. É de prata, combina com o vestido e possui safiras e diamantes. Ficam perfeitos em você. Acho que adivinhei que escolheria azul para seu vestido. –Edward dizia enquanto ajudava-me com os brincos. Meus cabelos estavam presos, num penteado bem elaborado, expondo assim a jóia que Edward me presenteou. Beijou minha mão e puxou-me para segui-lo até a garagem. Dessa vez fomos no seu Aston Martin.

-Então esse evento é para que fim? –Perguntei.

-Para ajudar um hospital infantil da região. Nossa empresa ajudou a organizar o evento.

-Então a empresa é envolvida em coisas desse tipo? Que bom.

-É importante para o status empresarial participar de eventos beneficentes.

-E você faz isso em prol do status da empresa Edward? –Virei-me para olhá-lo. Edward sorria.

-Não, faço por que gosto.

-Ah!

-Joel disse que sua mãe foi até a nossa casa ajudá-la a e arrumar, ela e uma equipe de profissionais da beleza.

-Sim. Não tive um minuto de sossego desde que ela foi até mim. Passei o dia sendo embelezada por sua equipe.

-Mas valeu a pena, eles conseguiram a proeza de deixá-la ainda mais bela. –Edward disse, seus olhos em mim, erguendo a mão e afagando minha bochecha. Acabou por segurar minha mão no banco enquanto a outra manobrava o carro.

-Quer bom que gostou. –Murmurei. Notei então algo no rosto de Edward, algo que ele parecia sufocar. Se Joel tinha contado de minha mãe certamente contou de Jacob. Edward poderia interpretar mal caso eu nada dissesse sobre a visita de Jacob. Com um suspiro eu comecei.

-Jacob foi me visitar agora a pouco. Entregou-me o convite do seu casamento. –Disse enquanto olhava para fora da janela. Edward suspirou.

-Sim, eu sei. Joel me contou.

-Ele me convidou para ser a madrinha. O casamento será daqui a duas semanas. Você vai comigo? –Virei-me para olhá-lo e não gostei da expressão que vi no rosto de Edward. Ele parecia aborrecido.

-Sabe que faço qualquer coisa por você meu amor, menos isso. Seria muito... Desconfortável, para mim e para Jacob, se eu fosse.

Eu queria que Edward fosse comigo, mas entendi naquela expressão que cobrar sua presença seria um martírio para ele. Eu não queria isso.

-Tudo bem. Importa-se se eu for?

-Não. Você é a madrinha, precisa ir. –Edward virou-se e sorriu, mas eu podia sentir que aquele sorriso estava sendo mantido com muito custo em seu rosto. Eu não entendia aquela situação.

-Então vai haver alguém que eu conheça nesse evento? –Perguntei distraída querendo quebrar o silencio que se instaurou após nossa conversa sobre Jacob.

-Provavelmente não, mas não se preocupe. Vou ficar o tempo todo ao seu lado. –Edward disse pegando minha mão, que estava no banco sendo segurada pela sua mão, aproximou de seus lábios e a beijou. Eu sorri. Felizmente era fácil, agora pelo menos, afastar o Edward sombrio que aparecia quando coisas do meu passado se aproximavam de mim.

...

-Ah Edward! Que bom que veio! –Um senhor de meia idade disse cumprimentando ruidosamente Edward. Em momento algum desde que saímos do carro Edward deixou de segurar minha mão. –E vejo que trouxe sua adorável esposa desta vez. –O senhor continuou oferecendo-se para um cumprimento. Após pegar minha mão a beijou.

-Eu sou Edgar Stokes. É um prazer conhecê-la pessoalmente, senhora Cullen. –Disse incrivelmente cortês.

-É um prazer conhecê-lo também.

-Venha Edward. Há muitas pessoas querendo cumprimentá-lo. –Edgar disse caminhando a nossa frente. Edward puxou-me para o seu lado, colocando sua mão em minha cintura, e caminhamos atrás de Edgar.

Edward fora recebido calorosamente por todos, cumprimentado diversas vezes. Era sem duvida a pessoa mais importante daquele evento. Por ser sua esposa eu também recebia a mesma atenção, mas não tanto quanto ele. Talvez fosse bobagem pensar nisso agora, mas enquanto me via cercada por homens e mulheres importantes, que exerciam alguma profissão prestigiada, eu me senti um nada. Apenas a esposa de Edward Cullen, um adereço dele. Não era culpa de Edward, a culpa era minha. Pelo que pude perceber tive uma vida acomodada cercada de luxo conquistado não por mim, mas pelo meu pai. Eu nunca me esforcei para nada. O momento em que deveria fazer algo, momento em que meu pai faleceu, eu decidi apenas dar o golpe do baú.

Eu queria, precisava, fazer algo da minha vida. Eu iria fazer. Não tinha experiência com nada, mas nunca é tarde para aprender. Poderia arranjar um emprego, poderia ser qualquer emprego, só para poder ganhar meu próprio dinheiro e não ser uma desocupada. Fiquei perdida em pensamentos pensando no que faria, qual emprego poderia servir para mim e como Edward reagiria a essa decisão. Então notei que havia um rapaz, um pouco mais afastado de mim e de Edward, que me observava. Eu fui a única a notar, Edward conversava sobre a empresa com dois homens a nossa frente totalmente absorvo.

O rapaz me olhava com malicia e isso me incomodou. Procurei não dar atenção a ele, mas era difícil. Deixava-me tensa aquela sensação de estar sendo observada. Conclui que precisava sair do campo de visão daquele rapaz.  

-Edward, eu irei ao toalete. –Sussurrei em seu ouvido. Edward retirou sua mão de minha cintura.

-Tudo bem. Esperarei aqui, ou quer que eu a acompanhe?

-Não precisa.

-Mas você não sabe onde fica o toalete Bella.

-Eu me viro. –O beijei na bochecha e sai.

Não foi difícil localizar o toalete, apenas acompanhei algumas mulheres. O local estava cheio, mulheres retocando a maquiagem, conversando sobre futilidades ou até bebendo um pouco mais do que devia. Entrei em um dos Box e sentei na privada. Respirei. Eu estava me sentindo um peixe fora da água naquele lugar. As pessoas eram muito diferentes de mim, eu sabia que não pertencia aquele ambiente. Perguntei-me se a antiga Bella sabia lhe dar com lugares assim. Provavelmente. Enquanto as vozes no toalete feminino diminuíam, eu fiquei sentada procurando descansar. Enquanto me entregava temporariamente ao cansaço senti meu estomago protestar. Estava faminta.

O silencio pairou no toalete. Sai e constatei estar só no local, o que agradeci. Olhei meu reflexo no espelho, realmente a equipe fez um ótimo trabalho comigo, eu estava deslumbrante. Foi naquele momento enquanto me olhava que notei que não estava só. Alguém adentrava o banheiro e definitivamente não era uma mulher.

-Olá. –O rapaz disse. Era o mesmo que lançou olhares desconcertantes para mim.

-O toalete masculino é ao lado. –Comuniquei enquanto me preparava para sair.

-Eu sei, mas é nesse toalete que precisava entrar. –O rapaz fechou a porta atrás de si e ficou de pé entre mim e a porta. Comecei a tremer.

-Eu quero sair. Pode me dar passagem? –Pedi tentando aparentar despreocupação, mas certamente não o enganei. Um sorriso malicioso, perigoso até, nos lábios cheios. Eu nunca havia visto aquele rapaz até agora.

-O que? Vai me tratar assim depois do que aconteceu entre nós Bella? –Ele disse enquanto seus olhos me avaliavam. Recuei alguns passos.

-Não sei do que está falando. Nem sei quem é você. –Retorqui azeda.

-Ah Bella, assim você me magoa! Ficamos três vezes juntos e você me prometeu que na próxima vez que nos encontrássemos em um evento rolaria algo mais. Não tem idéia do quanto esperei pelo quarto encontro. –O rapaz desencostou-se da porta caminhando até mim. Recuei mais alguns passos.

-Não sei quem é você. Deixe-me ir agora. –Pedi completamente apavorada.

-Não se lembra de mim? Mesmo? Eu sou Alec, o cara com quem você chifrou o seu marido três vezes em eventos como este. E me prometeu mais... –Alec aproximou-se e antes que pudesse fazer algo e puxou-me para beijá-lo. O choque de seus lábios nos meus provocou um ferimento, pude sentir o gosto do sangue. Alec era forte, prendeu-me em seus braços enquanto eu tentava lutar, me libertar. Alec prensou-me na parede enquanto tentava quebrar a resistência de meus lábios para aprofundar meu beijo, no processo machuquei minhas costas. Consegui libertar um de meus braços e peguei um vaso de flores de porcelana que estava em cima da bancada da pia. Não pensei. Quebrei o vaso na cabeça de Alec. Este se afastou num átimo, atordoado.

-Sua... Vadia... –Murmurou enquanto ajoelhava-se no chão em meio ao caos de pedaços do vaso. A mão no ferimento da cabeça. Após me recuperar da paralisia momentânea que sofri eu sai às pressas do banheiro deixando Alec caído, ferido. Eu não sabia que expressão estava no meu rosto, mas não devia ser uma expressão facial boa. Todos me olhavam abismados enquanto eu cruzava o salão rapidamente. O nervosismo foi me abatendo de tal forma que me vi andar cambaleante. Minha respiração estava pesada, batimentos cardíacos acelerados e um enjôo forte.

-Licença. –pedi a multidão enquanto caminhava e os empurrava. Eu precisava chegar até Edward e precisava sair dali. Eu estava bem próxima de desmoronar.

Algo estava acontecendo. Eu vi Edward em cima de um palanque discursando. Olhei para trás, não demoraria até Alec sair dali ou alguém notar um rapaz ferido no toalete. Caminhei até a lateral do palco, Edward não havia me percebido ainda. Eu me escorei na parede sentindo as pernas bambas, a visão ficando mais e mais turva e o enjôo me atingindo de forma avassaladora.

-... Obrigado. –Edward disse encerrando seu discurso. Seus olhos vagaram pelo salão aparentando preocupação.

-Edward... –Murmurei tentando me manter de pé. Minha voz estava fraca demais para chamar a atenção de Edward. O gosto de sangue na boca pelo ferimento provocado por Alec. Enfim Edward me percebeu e desceu do palco pelo lado em que eu estava. A princípio sorriu, parecia aliviado por me ver. E então sua expressão mudou.

-Bella, amor?

-Edward... –Trêmula, eu me apoiei pesadamente nele.

-Bella! O que houve? –Sua voz era contida para não chamar a atenção de todos que nos cercavam, mas eu poderia sentir a tensão dele.

-Edward... Eu preciso ir. Preciso sair daqui. –Pedi tentando conter as lágrimas.

-Meu Deus Bella você está gelada! Vamos, eu vou levá-la a um hospital. O que está sentindo? –Enquanto conversava comigo Edward procurava sustentar boa parte do meu peso. Mexi pesadamente meus pés para frente.

-Edward, você não pode sair assim. –Disse.

-Não se preocupe com regras de etiqueta agora Bella. O mais importante é você. Vamos a um hospital. –Enquanto cambaleava pela saída, pude ver, através de todo aquele caos, que Alec saia do toalete, a mão na cabeça e olhava-me furioso.

Edward, enquanto seguíamos para seu carro, perguntou diversas vezes o que eu estava sentindo, se havia melhorado um pouco que fosse. Eu estava tão desnorteada que fiquei calada. Isso somente o deixou mais alarmado. Colocou-me sentada no banco do carona e afivelou meu cinto. Os tremores vieram e o enjôo me atingiu como um soco.

-Bella, amor, nós vamos a um hospital! –Disse com a voz tremula. Edward estava tão nervoso que nem ao menos conseguia colocar a chave do veiculo na ignição. Após algumas tentativas conseguiu e já estava acelerando o carro antes de sairmos da garagem.

Tentei sem sucesso controlar os tremores, mas não consegui. Edward falava comigo, mas eu não conseguia me concentrar em suas palavras. Eu apenas sentia sua mão segurando fortemente a minha.

-Edward, me leve pra casa. –Consegui dizer sem ter certeza de que ele havia ouvido meu pedido.

-Amor, você precisa de um médico. Vamos ao hospital, está bem?

-Não precisa. Eu quero ir pra casa. –Disse com a voz um pouco mais composta.

-Bella, amor, vamos primeiro a um hospital e se tudo estiver bem...

-EU QUERO IR PRA CASA! –Gritei surpresa com meu ato. Por que eu estava gritando com Edward afinal? Meu grito despertou algo em mim, o enjôo que tentei reprimir. Agoniada com o mal estar, desafivelei rapidamente o meu cinto de segurança. Edward continuava a dirigir e pelo canto de olho percebi que me olhava alarmado.

-Edward, pare o carro! Preciso vomitar! –Implorei com a voz entrecortada. Coloquei as mãos sobre a boca e fechei os olhos. Edward estacionou o carro no meu fio e eu desci em disparada. A rodovia em que seguíamos não estava movimentada, o que agradeci. Não queria espectadores para assistir eu chegando rapidamente ao fundo do poço. Vomitei violentamente, não que houvesse algo para eu vomitar. Edward saiu do carro e postou-se atrás de mim. Passou gentilmente as mãos em minhas costas. Ele estava sendo extremamente gentil, coisa que eu não merecia. Após vomitar sabe-se lá o que, visto que meu estomago estava vazio, voltei para o interior do carro com a ajuda de Edward.  

Eu não voltei a perguntar para onde ele estava me levando, deduzi, olhando pela janela, que Edward decidira me levar para casa. Os tremores diminuíram consideravelmente, assim como o enjôo. Ainda sim eu me sentia esgotada, como se todos os sentimentos ruins de quando eu acordei me abatessem naquele momento. Eu era um lixo, um lixo que não merecia nem o chão que Edward pisava. Mesmo sabendo que Edward queria que eu estivesse ao eu lado, mesmo sabendo que ele ficava feliz com as coisas como estavam, eu não conseguia pensar da mesma forma. Logo estávamos em casa, durante todo o trajeto Edward não voltou a falar. Quando estacionou seu carro na garagem de nossa casa, Edward me chamou.

-Bella, amor, como está se sentindo? –Perguntou numa voz afável, segurou minhas mãos entre as suas. Virei-me para ele, não consegui disfarçar o que se operava em mim.

-Estou melhor. –Disse. Edward ergueu uma das mãos e afagou minha bochecha. Seu rosto expressava sua preocupação com meu estado e certamente mágoa pelo modo rude com que o tratei.

-Você está tão pálida, tão fria! Você não está bem Bella. Deveríamos ir a um hospital. Seu mal estar pode estar relacionado com o seu acidente e o médico nos alertou para quando você passar mal a...

-Eu vou ficar bem, não foi nada. –Disse colocando uma de minhas mãos, a mão que não estava sendo segurada pela dele, em seu rosto. –Eu nem almocei. Bebi um pouco. Passei mal por isso. Vou ficar bem quando comer algo, tomar um bom banho. E... Desculpe-me por minha grosseria. Foi imperdoável e modo como falei com você agora a pouco.

Edward colocou sua mão sobre a minha que ainda estava em seu rosto.

-Não se desculpe. Não foi nada. –Ficamos calados, nos olhando. Os olhos de Edward tinham algo, como se ele soubesse o que havia acontecido comigo. Talvez soubesse que havia algo mais do que um estomago fraco, mas não seria eu a contar. Eu não poderia. Se Edward soubesse do evento que ocorreu, por mais que tentasse disfarçar ele iria sofrer. Eu não queria mais proporcionar nenhum sofrimento a ele.

-Vamos entrar. –Disse. Saiu do carro e veio abrir minha porta.

-Consegue andar ou quer que eu a carregue?

-Eu posso andar. Meu equilíbrio voltou. –Disse e caminhei. Edward segurou minha mão.

-Você precisa comer algo. Deve haver alguma sobremesa na cozinha preparada pelos empregados. Pegarei para você. Antes disso eu a levarei para o quarto. –Edward disse enquanto seguíamos pelas escadas. Tentei caminhar sem sua ajuda, mas não consegui por muito tempo. Logo Edward sustentava meu peso. Ao chegarmos ao meu quarto, sentei na cama. Edward sentou ao meu lado e manteve uma de minhas mãos entre as suas.

-Vou pegar algo para você comer.

-Tudo bem. E... Obrigada por tudo o que fez por mim. Mais uma vez perdão por ter sido grosseira. Não era minha intenção eu só... Eu estava um pouco nervosa. Só isso. –Olhei para o chão. Edward levantou-se. De costas para mim ele disse:

-Não precisa ser tão formal comigo Bella. Por um acaso se esqueceu que sou seu marido? –Disse numa voz séria o que me fez olhar para ele. Edward não se virou. Saiu e fechou a porta atrás de si.

Pronto, eu o havia entristecido. Eu era uma miserável mesmo! Lentamente retirei meus sapatos, a jóia que Edward me dera, desfiz o penteado, fiquei nua em pêlo para poder tomar um banho. Peguei um roupão e fui ao banheiro.

A água quente chocando-se conta minha pele ajudou um pouco. Eu me senti melhor enquanto o laquê e a maquiagem saiam com o banho. Procurei tomar um banho demorado, me concentrar apenas na tarefa deixando os acontecimentos perturbadores de lado.

Impossível.

 Eu não era forte para suportar essa carga emocional, sempre soube disso. Ainda sim consegui suportar razoavelmente bem tudo o que havia acontecido comigo. Agora toda a força que eu possuía que já era pouca, se esvaiu. Então quando me toquei eu já estava sentada no piso do banheiro, encolhida, com o chuveiro ainda ligado sobre mim. Reprimi os soluços para não alertar Edward, eu não queria que ele me visse daquele jeito naquele estado deplorável. Nunca eu havia me sentido tão humilhada! Enquanto Alec me tocava, forçava um contato intimo comigo, eu pensei no que eu fui no passado, no que eu permiti que outros homens fizessem. O quão suja eu era? Fechei os olhos e abafei um grito no braço. Eu queria morrer, o mundo seria um lugar melhor sem mim. Edward seria uma pessoa melhor sem mim.

Perdida em devaneios não notei que o chuveiro havia sido desligado. Estaquei quando senti que alguém me cobria com o roupão. Droga, como pude ser tão imprudente? Por que não tranquei a porta antes de ter um ataque? Estava tão envergonhada que não abri os olhos. Edward não disse nada. Após vestir o roupão em mim, pegou-me no colo e me levou para a minha cama. Deitou-me lá. Experimentei abrir os olhos e o vi sentado na cama, os olhos em mim enquanto acariciava meu cabelo molhado. Virei-me ficando de lado na cama e fechei os olhos, suspirei pesadamente.

-Eu sinto muito. –Murmurei com a voz sôfrega. E eu sentia mesmo por tudo o que havia feito com Edward, tudo que estava fazendo com ele. Haveria um dia em que eu iria parar de machucá-lo? Quando esse dia chegaria? Quando deixaríamos de sofrer? Talvez hoje, amanhã, semana que vem... Ou nunca.

Edward não disse nada enquanto deitava-se ao meu lado, havia trocado de roupa, agora vestia um pijama de seda verde escuro. Ficamos deitados de lado, de frente para o outro sem dizer uma única palavra. Edward segurou minhas mãos entre as suas. Às vezes acariciava meu cabelo, meu rosto, meus lábios um pouco inchados pelo ferimento que o tal Alec provocou.

Todo o desespero, o nervosismo, a tensão foi se dissipando enquanto eu olhava aquele rosto adorado da pessoa que mais me queria bem na face da Terra. Perto da inconsciência, após longos minutos fitando Edward, pude senti-lo puxando-me para seus braços e assim nós dormirmos. Infelizmente sem a paz de outrora, mas com a certeza de que amanhã poderia ser um dia diferente, poderíamos ficar bem novamente.

Talvez tenha sido um sonho, não sei. Mas em um determinado momento acredito que murmurei para Edward um “eu te amo” e ele me respondeu da forma que sabia que responderia:

-Eu também amo você, mais do que tudo. Durma meu amor.

Talvez com o som e sua voz e essas palavras eu pudesse ter um sonho bom.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora. Deixem reviews. o/