[...]

Onde quer que eu vá

Vejo outra memória

E todos os lugares que conhecíamos

Eles estão sempre lá para me assombrar

Eu ando em volta e me sinto tão perdido e sozinho

Você é tudo que eu quero

Mas você não me quer

Eu não posso virar esse jogo

Eu continuo correndo em paredes que não posso quebrar

Eu disse que apenas vago por aí

Com meus olhos fechados por causa de você

Eu sou um sonâmbulo

[...]

Me deixe sair deste sonho

(Adam Lambert, Sleepwalker)

Seus planos eram terminar o ensino médio, passar no vestibular e estudar medicina numa universidade - quem sabe longe de casa, melhor ainda de fosse. Isso antes dele.

Castiel sempre esteve em sua vida, não quisesse ele ou não. Quisesse sim ou sim.

Seus planos eram terminar o ensino médio - junto com ele -, passar no vestibular e estudar medicina numa universidade longe de casa - a mesma que a dele. Nada mudou, certo?

Inconscientemente Castiel já estava incluso no seu futuro.

Quando foi que se tornou tão dependente? Não sabia dizer. A única coisa que sabia era que percebeu sua necessidade inconsciente tarde demais pra dar um jeito nela.

Um garoto (quem diria?) foi seu primeiro amor. Um ignorante, pervertido, pavio curto, irônico e sarcástico, fumante e irresponsável garoto (tão diferente, quem diria?). E Nathaniel sinceramente pensava que seria também o último, dadas as circunstâncias.

Faziam dois meses. Dois terríveis e torturantes meses. Ele deliberadamente foi embora.

“Eu não faço bem pra você”.

Os últimos três anos foram os melhores de sua vida, e Castiel vinha dizer que “não faz bem”?

Ha, agora sim não estava bem.

Aliás, nada estava bem.

Seus planos eram terminar o ensino médio, passar no vestibular e estudar medicina numa universidade. Com ele. Mas agora não havia mais ele, não havia aquele nós.

E agora?

E agora é só esquecer, ora bolas. Haha, não tão fácil.

Nathaniel morava numa cidade pequena, e teve um amante vagabundo. Não tinha um lugar sequer que não tivesse uma lembrança; uma briga besta na sorveteria, um beijo no parque, uma transa na viela. Castiel estava por toda parte.

Infelizmente pra você, querido Nath.

Eram para ser lembranças boas. Os momentos foram bons, todos, mas não era feliz que Nathaniel se sentia o lembrar.

Se sentia vazio. “Não posso acompanhá-lo”. Se sentia inútil. “Ele não me quer mais”. Injustiçado. “Era só ter dito desde o começo”.

Se sentia só. De novo. Como se sentia antes dele.

Mesmo que já tivesse se passado um tempo, aquela cena sempre era reproduzida vividamente diante de seus olhos.

Castiel no meio da noite levantando-se, mantendo-se sempre de costas. Dizendo que ia embora, que muito provavelmente não se veriam nunca mais. Que desejava-lhe uma boa esposa e filhos tão geniais quanto ele. Se menosprezando e dizendo adeus.

“Desculpa. Eu não faço bem pra você. Por favor, seja feliz.”

O som do táxi que pegou, ele e a guitarra sozinhos, partindo. Assim ele se foi. Deixando-o.

Nathaniel pensou que fosse morrer nos primeiros dias. Mas depois foi bem pior.

Há dois meses não havia luz nos olhos dourados.

Nem seu futuro brilhante. Nem sua vida.

Nem nada.

O mundo ainda girava, e ele fazia de conta que vivia. Dormia. Vivia um amargo pesadelo.

Virou um sonâmbulo, e tudo o que queria era acordar e perceber que era só sua mente lhe pregando a pior das peças, e ver os cabelos vermelhos do outro lado da cama.

Me deixe sair deste sonho

Fim.