Acordei bem depois com um barulho, era o Tomás levantando para atender o telefone.

– Oi pai, sim eu estou bem e não, não estou no trabalho, estou na casa de uma amiga. Pai! Eu não estou fazendo coisas impróprias! Eu só vim para cá porque ela estava passando mal. Tá, eu volto amanhã de tarde. Não ela disse que não tem problema eu continuar aqui. Ok, tchau. – Tomás estava envergonhado e com muito sono, mas não voltou para cama, saiu do quarto e pude ouvi-lo indo até a cozinha. Acho que ele estava com fome ou sede, ou os dois.

Contra a minha preguiça e minha vontade eu levantei e fui atrás dele.

– Quer comer algo? – Perguntei quando o vi procurando algo no armário em cima da pia.

– Só um copo para beber água. – Ele mexia no cabelo para tentar controlá-lo

– Estão na porta a sua esquerda, na prateleira mais debaixo. – Eu apontei para a porta ao lado dele. – Pega um para mim também, por favor.

Enquanto ele pegava os copos, eu abri a geladeira e peguei uma jarra com água gelada e uma com suco de laranja e pus em cima da pia. Tomás colocou os copos ao lado da jarra de suco e se serviu de água. Quando ele se afastou da pia me servi de suco e fui sentar no sofá. Eram dez da noite, cedo ainda, podia preparar um jantar e depois Tomás poderia ir para casa. Mas pensando bem, não havia nada que eu pudesse dar a ele para comer. Só tinha lanche e coisas para fazer sopa, que era o que minha avó gostava.

– Você come lasanha? – Perguntei, tinha me lembrado de algo.

– Sim, mas não se preocupe, não estou com fome.

– Mas eu estou então vou fazer algo e quando ficar pronto você come se quiser. – Levantei determinada a fazê-lo comer. Mesmo que minha janta não fosse grande coisa. – Com sua licença senhor, vou fazer o jantar agora.

Ele levantou a sobrancelha, me olhou torto enquanto terminava sua água e saiu da cozinha, foi para o sofá e começou a ver TV. Dei risada da cara dele e abri o freezer pegando a lasanha e tirando da caixinha e pondo no microondas.

Enquanto a lasanha cozinhava, eu peguei os pratos, um refrigerante e coloquei na mesinha de centro. Voltei e coloquei mais alguns minutos no microondas e fui ver se tinha alguma outra coisa para acompanhar a lasanha, mas não tinha nada. Como estava meio quente resolvi fazer outra surpresa para Tomás. Sai do apartamento e fui no andar debaixo onde uma senhora vendia alguns doces. Bati na porta e pedi um pote de sorvete napolitano e voltei para o apartamento. Abri a porta devagar porque não queria que Tomás visse aquilo, mas ele não estava na sala. Aproveitei e corri para a cozinha pra por minha surpresa no freezer.

Tirei a lasanha do microondas e ela esta com uma cara deliciosa, coloquei em um prato bonitinho da minha avó e coloquei na mesinha de centro e fui atrás do Tomás, o encontrei no meu quarto, sentado no rebaixado que formava uma mini cama embaixo da minha janela. Fique o observando, meio acordado olhando para janela, meio dormindo.

– O jantar está pronto – Falei parando na soleira da porta.

– Já disse que não quero nada. – Ele respondeu sem me olhar.

– Mas eu fiz uma comida tão gostosa. – Fiz biquinho e falei do jeito de criança que quer algo. Ele riu e levantou, depois me seguiu até a sala.

– Nossa que janta maravilhosa! Lasanha de microondas – Disse ele sarcasticamente.

– É o que tem para hoje, e não reclama que essa lasanha é uma delícia. – Eu dividi a lasanha em dois pedaços, o maior para mim, e o menor para ele, já que ele não fazia questão de comer.

– E ainda serve o menor pedaço para a visita, que modos são esses Ana?

– Você disse que não queria – Dei de ombros enquanto servia o refrigerante, e comecei a comer.

A lasanha não era muito grande, então ambos estávamos com fome ainda. Por isso estava na hora do minha surpresa. Corri até a cozinha peguei as colheres, passei no freezer e tirei o sorvete, voltei rapidamente ao sofá e depois de sentar mostrei meu trunfo a Tomás, que tinha achado estranho minha corrida até a cozinha tão de repente.

– Um sorvete? – Ele estava com a cara estranha, um misto de curiosidade, surpresa e felicidade.

– Sim, nossa sobremesa. – Eu disse abrindo e logo enfiando a colher dentro – É napolitano, espero que você goste.

– Eu adoro sorvete, mas ainda acho que você não precisa comprar isso tudo para nós dois.

– Se você não quer eu como. Estou mesmo precisando de uma doce.

– Você tomou um cappuccino e comeu um brigadeiro e está precisando de um doce? – Ele estava espantado

– Sim! Parece que nunca conviveu com uma mulher antes.

– Já convivi, mas nunca uma que parece tanto com a descrição das revistas adolescentes quando falam sobre depressão e comida.

– Bom agora você me conhece e sabe que garotas adoram chocolate e doces para curar a depressão e a TPM também. – Continuei falando e comendo o sorvete.

Ele deu risada e começou a comer também. E ficamos ali comendo e vendo um programa besta de comédia na TV até o sorvete acabar. (Sim, nós conseguimos tomar um pote de sorvete inteiro, claro que eu comi mais que Tomás, mas ele ajudou um pouco).

Tomás deitou a cabeça no meu colo e eu comecei a mexer em seus cabelos de maneira inconsciente. Depois de assistirmos aquela série e Como se fosse a primeira vez, o sono começou a voltar e eu olhei para Tomás que já estava adormecido. Não queria que ele levantasse, porque sabia que quando isso acontecesse ele iria querer ir embora.

Tentei levantar devagar e com cuidado, mas ele se mexeu e eu achei que ele tinha acordado, alarme falso, ele se virou para o outro lado e continuou dormindo.

Fui até meu quarto e entrei no banheiro que ficava na parte do meio do guarda roupa. Domei um bom banho deixando tudo de ruim que havia acontecido cair junto com a água quente, sai do banheiro só com roupa de baixo limpa, porque eu não costumava usar pijama. Estava distraída na busca de um no meu armário quando ouvi um assobio alto e me virei. E lá estava o Tomás, com o mais belo e malicioso sorriso.

– Nossa para quem não queria que eu ficasse tentado você está me provocando muito hoje.

– Eu não estou fazendo nada, é só que não tenho costume de dormir de pijama.

– Não se preocupe, eu já estou indo embo... – Ele não terminou a frase, eu não deixei.

– Mas já?! Pensei que você ia ficar não tem problema e além do mais já passou da meia noite é tarde para você atravessar a cidade. Não tem nem ônibus.

– Você realmente me deixou sem argumentos. – Ele atravessou o quarto rapidamente e me beijou ardentemente. – E não precisa por mais nada, prometo que vou me controlar.

– Acho que depois desse seu beijo relâmpago, não confio muito em você. – Ele riu da minha cara e alcançou uma toalha atrás de mim e entrou no banheiro.

Deitei na cama ainda meio zonza do que tinha acontecido. Fiquei ali até ouvir o barulho do chuveiro fechando, então corri e peguei uma das minhas camisetas velhas que eu usava para dormir em emergências. Sentei na janela e fiquei esperando ele sair.

Tomás saiu só com a calça jeans e a camiseta pendurada no ombro. Ele fez biquinho a me ver na janela e eu dei risada, levantando e indo sentar na cama.

– O que foi?

– Acho que você estava melhor antes – Ele se sentou ao meu lado.

– E eu acho que você está muito abusado. – Eu passei a mão em seu cabelos molhados.

– Acho que podemos dormir agora, já que não queremos perder aula amanhã. – Ele se jogou esparramado deixando só a beirada da minha cama de solteiro para mim.

– Bom, acho que se quisermos mesmo ir à escola amanhã vou ter que dormir na sala – Eu estava me preparando para levantar quando ele me puxou pela cintura e me fez cair ao seu lado.

– Você vai dormir aqui comigo – Ele sussurrou em meu ouvido

– Estou falando você está muito abusado.

– Não estou não, só estou lhe mostrando que como você exigiu que eu ficasse aqui eu tenho direitos como seu visitante. – Dei risada dele, mas concordei em ficar ali, gostava de ficar aninhada em seus braços. Antes de me virar e pegar no sono, lhe dei um beijo sereno e lhe desejei boa noite.