Netflix Guy escrita por Roni Ichiro


Capítulo 7
Eu tive meu Tchan


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora ! Andei bem atolada essas últimas semanas ! Gomenasaaai ;-;



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Oh, não.

Não ! Jack não podia largar tudo àquela altura do campeonato ! Estávamos tão perto de pegar de volta o emprego dele ! Há pouco tempo ele estava determinado, confiante, e bastou um telefonema para tudo aquilo descer por água abaixo. E ele nem me contou o motivo ! Apesar de eu ter uma ideia de qual foi.

Tentei ir atrás dele, mas papai me impediu. Disse que Jack não estava em um momento bom para pensar, muito menos para discutir. Meu coração se despedaçou ao vê-lo daquele jeito.

E a culpa era minha.

Ok, eu sabia que ele tinha me perdoado, que o maior escroto daquilo tudo foi o chefe dele, e que eu não estava 100% consciente no momento em que liguei para o Netflix.. mas ainda assim fui eu quem ligou. Fui eu que falei besteira e a ideia daquele processo foi minha. Resumindo: Eu basicamente destruí a vida de Jack.

Precisava manter a calma, eu não podia deixa-lo ir embora perdendo tudo. Tinha que deixar o momento de ódio-próprio e automutilação para depois.

Voltei correndo para a sala a tempo de ver o tal chefe babaca se despedindo do advogado com um sorriso vitorioso no rosto. Por sorte, a menina que trabalhava com Jack ainda estava lá também, quieta, se levantando para sair discretamente.

– Ei, Mavis ! – fui até ela

Os olhos azuis carregados de lápis preto se viraram na minha direção.

– Oi, Merida.

– Oi... Eu... gostaria de...agradecer por ter vindo depor e falado aquelas coisas boas sobre o Jack. – disse timidamente.

– Não foi nada. – ela sorriu – Não estava mentindo. Jack é realmente uma ótima pessoa. – e o sorriso se esvaiu – É uma pena que isso esteja acontecendo.. Pela primeira vez em muito tempo não o via realmente feliz.

Minhas bochechas queimaram.

– Você está falando de...?

– Do que acha que estou falando ? – Mavis deu uma risadinha e pegou sua bolsa. Andei com ela lentamente até a porta enquanto conversávamos – Antes de sexta-feira ele andava tão tristinho, ainda mais porque a ex-namorada o largou de um jeito tão cruel.

– Eu soube. – era estranho pensar que descobri tanto sobre Jack mesmo o conhecendo há poucos dias.

– E logo no dia dos namorados ele recebeu sua ligação. E o rosto dele ganhou uma nova cor, foi como um TCHAN ! – os olhos azuis dela adquiriram um brilho

– Como o quê...? – arqueei uma sobrancelha.

– Um TCHAN! – ela repetiu, agora mais animada. – Aquele momento que você sabe que mesmo mal conhecendo uma pessoa, sente vontade de ficar com ela para sempre. – ela suspirou, sonhadora.

Tive que virar para o lado para que ela não captasse meu rosto vermelho. Entendi perfeitamente o que ela quis dizer, porque foi isso que senti na noite em que conversei com Jack pelo telefone.

– E ele ficou tão decepcionado quando o sr. Pitch deletou a gravação de vocês. – Mavis murchou novamente. Garota esquisita.. - Ele chegou a comentar que queria levar para casa para ficar ouvindo de novo, de novo, e de novo..

– E ele não podia ir na sala do Pitch recuperar a gravação ? – perguntei, abrindo a porta e avistando meu pai na saída do prédio.

– Não. Pitch deletou a gravação.

Encarei Mavis, confusa.

– Deletou, tipo.. mesmo ?

– Sim. Jack viu com os próprios olhos. Tentou de tudo para recuperar.

– Em todos os computadores ?

– Quando você deleta em um, deleta em todos.

Mas... Eu me lembra claramente de Pitch dizendo que tinha a ligação gravada. Ele mesmo disse que poderia passar para a juíza ! Como aquilo era possível se ele havia deletado a gravação ?

– Merida, está tudo bem ?

Não respondi. Por um momento até esqueci que ela estava ali. Minha mente estava ocupada tentando encaixar aqueles fatos.

– Mavis. – me virei rapidamente para ela, o que a assustou um pouco – Você sabe se por acaso existe um software que recupere as gravações perdidas ?

Ela pensou um pouco.

– Desde que eu trabalho lá, nunca ouvi falar de nada desse tipo. Nem sei se poderia ser usado, por causa de toda a questão de sigilo e...

Oh meu Deus. Mavis tinha acabado de me trazer a solução que eu precisava.

– Merida, tem certeza de que está tudo bem ?

– Está. – disse, com um projeto de sorriso – Quer dizer, vai estar.

– Do que está falando ? – ela ergueu uma sobrancelha.

– Você vai voltar pro trabalho agora ?

– Sim. Por quê ?

Peguei rapidamente meu celular e disquei o número do papai.

– Pai ? Sou eu. Quero te pedir um favor. Pode tentar fazer um acordo meio absurdo com o advogado do Pitch só pra mantê-lo aí por mais tempo ?

– Como é que é ?! – papai perguntou, confuso com a minha pergunta.

– Eu acho que descobri uma maneira de salvar esse caso. Mas o Pitch não pode saber disso.

– Filha.. – senti um tom de preocupação em sua voz – O que você vai aprontar?

– Não se preocupe, pai. Só vou até onde Jack trabalha conferir uma coisa.

Mavis me encarou como se eu fosse um alienígena. Ouvi um suspiro do outro lado da linha.

– Não quero você arranjando ainda mais confusão, Merida. Me prometa que não vai demorar lá.

Mordi os lábios.

– Eu prometo, pai.

– Como você vai até lá e voltar ?

– Hã... – olhei para Mavis – Mavis vai me dar uma carona.

E a dita cuja cruzou os braços, impaciente.

– Está bem. Me ligue quando chegar e quando estiver saindo.

– Pode deixar ! Te amo, pai. Obrigada. – e desliguei o telefone.

– Merida... – Mavis me encarou com raiva e com um olhar de desaprovação – É bom que você vença esse caso, porque eu realmente não quero me despencar até sua casa para ver Jack se ferrando de novo.

Dei um sorriso amarelo e assenti com a cabeça. Antes de entrar no carro dela, dei uma última olhada para o prédio com o coração apertado.

Vou te tirar dessa, Jack. Eu prometo.

(...)

Acordei às sete e meia para sair com papai para o tribunal. Depois que contei para ele tudo o que descobrimos no dia anterior em relação ao Pitch, ele ficou radiante. Foi difícil invadir a sala do Pitch e ainda mais entrar em seu computador, mas conseguimos o que queríamos graças a um dos gênios-hackers que trabalhavam lá.

E uau, dava para entender porque Jack odiava aquele emprego. Quer dizer, mais ou menos, tirando as pessoas que eram bem legais, e todos já estavam sabendo da história do tribunal e aparentemente de mim também, porque quando entrei lá eles foram para cima de mim me fazendo perguntas do tipo “Você e Jack ficaram juntos, afinal ?!”. Céus, que vergonha.

Antes de sair liguei para Jack. Já estava nervosa e me sentindo culpada, e ele não ter atendido triplicou esses sentimentos. Me lembrei do que ele falara sobre o pai, e sua expressão de derrota invadiu minha mente como um soco no estômago. Eu tinha que consertar as coisas.

Como ele não atendeu minhas vinte mil ligações, deu para sacar que ele não queria falar comigo. Mas como eu queria que ele soubesse que havia esperança, mandei uma mensagem de texto :

Jack, eu sei que as coisas estão difíceis pra você, e sei que nem mil desculpas fariam você me perdoar.. mas queria te avisar que ontem eu descobri um jeito de ganhar esse caso, então queria que você aparecesse por lá. Eu sei que não mereço esse voto de confiança, mas preciso que confie em mim uma última vez. Lembre que eu ainda sou a sociopata sozinha do dia dos namorados, e que eu gosto muito de você, mesmo.

Suspirei, e depois de reler várias vezes, apertei o botão enviar. Pronto, agora precisava colocar os sentimentos de lado e partir para o ataque.

Não via a hora de acabar com aquele velho filho da puta.

Ops, estava começando a falar que nem o Jack. Não pude evitar de deixar escapar um sorrisinho.

(...)

Dessa vez só estávamos eu, papai, Pitch, seu advogado e a juíza. Depois de muita lenga-lenga dele e de um pouco de enrolação do papai, chegamos à parte que interessava.

– Eu gostaria de chamar atenção aos fatos que ocorreram na sexta-feira, dia 14. Não há provas de que Jack e Merida conversaram naquela noite, então tecnicamente como o sr. poderia usar isso como exemplo de mau comportamento da parte de Jack ?

Pitch deu um sorriso superior.

Vamos, fale da gravação... pensei, cruzando os dedos.

– Na verdade, sr. DunBroch... – disse o advogado – Meu cliente tem sim, provas da conversa dos dois.

Diga que está aí, diga que está aí...

– Que provas seriam essas ? – papai perguntou

– Temos a ligação gravada aqui. – E o advogado tirou da mala um CD, andou e entregou à juíza – Vossa Excelência.

Ele havia mordido a isca. YES !

A juíza plugou o pen drive no laptop que um segurança entregara a ela no início da sessão, e alguns segundos depois ouvi aquela voz doce que tinha escutado no dia dos namorados.

– Ele não é. E francamente, não quero que ele seja. Minha irmã não merece sofrer.

– E o que te faz pensar que você merece ?

Meu coração se aqueceu ao ouvir aquilo. Me senti nostálgica, mesmo não tendo acontecido há tanto tempo assim. E novamente uma vontade incontrolável de estar com Jack, abraça-lo e nunca mais o soltar me atingiu.

E nesse momento, como se nossas mentes estivessem ligadas, a porta da sala se abriu, e lá estava ele. Não estava arrumado como no dia anterior. Usava seu moletom azul, uma calça marrom e tênis. Bastou ele dar um passo para dentro da sala que virei a cabeça e nossos olhares se encontraram. Sua expressão era neutra. Sorri de leve, tentando passar confiança para ele. Jack se sentou na última cadeira e pegou o celular, apontando de leve para o aparelho, como se estivesse me dizendo para ver o meu.

Discretamente, abri minha bolsa e liguei meu celular, clicando no ícone de mensagens que avisava que eu recebera uma nova.

Eu confio. E também gosto muito de você, moça.

Minhas bochechas se enrubesceram, e abri um sorriso de mostrar os dentes ao ver aquilo. Ia me virar para que ele visse, mas de repente ouvi a voz estrondosa da juíza:

– SRTA DUNBROCH ! DESLIGUE O CELULAR AGORA !

Dei um pulo na cadeira e rapidamente joguei o celular para dentro da bolsa, voltando a prestar atenção na conversa.

Eu estou adorando conversar com você... mas... não vamos continuar conversando para sempre... Hã... eu queria saber se... você gostaria de... sei lá... ir tomar um sorvete um dia desses ? Jack ?

E a gravação terminou aí. Bem no momento que aquele idiota resolveu aparecer.

– Aí está sua prova, sr. DunBroch. – a juíza falou, e o advogado de Pitch assentiu com a cabeça, com um sorriso satisfeito.

– Interessante... – papai disse, não se deixando afetar por aquilo como no dia anterior. – Mas Jack disse que o sr. deletou a gravação, sr. Pitch. Se não tivesse deletado, ele não teria tido um trabalho imenso para encontrar a minha filha, certo ? – ele riu.

– Não foi deletada. Está aí, não está ? – Pitch respondeu, esnobe.

Sorri de leve. Ele estava cavando a própria cova. Olhei para trás e vi que Jack o encarava, confuso.

– Tem certeza ? Porque pela história que eu soube...

A juíza bateu seu martelo com força.

– SR. DUNBROCH. Se não tiver um argumento eu vou declarar essa sessão encerrada.

– Claro, Vossa Excelência. Merida ? – ele se virou para mim – A pasta, querida?

Abri a bolsa e entreguei a papai a pasta que ele pediu.

– Vossa Excelência. – papai caminhou até a juíza e lhe entregou a pasta – Aqui está a impressão do código de programação do computador do sr. Pitch. Poderia virar na décima quinta página, e ler o que está marcado, por favor ?

– Mas o quê ?! – Pitch gritou – Que é isso ?! Invadiram meu computador ?! Quando ?! Objeção !!

A juíza colocou os óculos e disse :

– Quieto, sr. Pitch. Vejamos.. – ela ergueu uma sobrancelha – NightWire ?

– Exatamente. – papai cruzou os braços – NightWire, o software número um para a recuperação ilegal de programas deletados. Se Vossa Excelência olhar as páginas seguintes, encontrará... ora, exatamente a conversa que acabamos de ouvir, recuperada.

Ela foleou as páginas e assentiu com a cabeça. A cara de Pitch de desespero estava impagável.

– E como Vossa Excelência sabe, o NightWire foi proibido em vários estados americanos justamente por ser usado para invadir sistemas de dados de contas bancárias de muitas pessoas. Um desses estados é...onde estamos agora.

O queixo de Pitch caiu no chão. O advogado tentava não mostrar tensão, mas estava na cara que ele também não sabia o que fazer. Jack estava com os olhos cravados no papel que a juíza segurava.

– Tenho conhecimento dessa lei, sr. DunBroch. – ela disse, séria, depois se virou para os dois à nossa direita – Aparentemente, alguns nesta sala não têm.

– Isso é um absurdo, Vossa Excelência. – o advogado disse, afrouxando o colarinho – Isso pode ser facilmente adulterado e...

– Como foi adulterado se não tínhamos conhecimento dessa gravação ? – papai rebateu

– Você... – Pitch disse, a voz carregada de ódio, apontando o dedo para mim – Sua pirralha miserável, você e seu namorado... !

– QUIETO, SR. PITCH ! – a voz da juíza reverberou na sala. – Prepararei um mandato para o sr. Enquanto isso, ficará mantido sob custódia.

– O QUÊ ?! – Pitch gritou, e nesse momento, dois seguranças gigantes entraram na sala e seguraram-no pelos braços.

– Sr. Frost. – ela disse, olhando para o fundo da sala. – O sr. ficará com seu emprego. Declaro essa sessão encerrada. – e ela bateu o martelo.

Me senti em um filme. Naquele exato momento em que tudo dá certo, e uma música alegre começa a tocar, e você sente que cumpriu seu dever. Estava sentindo isso multiplicado por mil. Nem acreditava que tinha conseguido ! Anotei mentalmente de ligar para Mavis para avisar a ela e ao pessoal que tinha dado certo.

Abracei papai, animada, e no momento que ele me soltou, um outro par de braços me ergueu para fora do chão e me rodopiou.

Assim que Jack me colocou no chão, pude ver sua expressão transbordando alegria, exatamente o oposto do dia anterior.

– Você conseguiu. – ele disse, emocionado.

Abri um grande sorriso, não tirando os olhos dele.

– Obrigada por confiar em mim. – falei

– Obrigado por não desistir de mim.

– É claro que não. Você não desistiu de mim naquela noite, fez de tudo para me encontrar e... encontrou.

Ele tirou uma de suas mãos da minha cintura e acariciou minha bochecha, fazendo meu coração acelerar.

– E teria feito mais mil vezes, se fosse preciso pra te encontrar, moça.

Dito isso, Jack me beijou. Foi tão mágico, tão perfeito que eu realmente me senti em um filme. Levei minhas mãos até sua nuca e o puxei ainda mais perto. Seus lábios eram quentes – há, que ironia. Jack Frost tendo lábios quentes – e deliciosos, fazendo meus joelhos ficarem bambos. Não estava nem aí que meu pai e a juíza estavam vendo, ou que Pitch estava sendo escoltado junto a dois seguranças. Eu só queria ficar naquele momento o máximo que pudesse, porque tinha acabado de descobrir o que era de fato, um beijo apaixonado. E olha, era bom demais ! Lembrei da conversa que tivera com Mavis, e definitivamente tive meu TCHAN com Jack. Finalmente havia entendido porque Astrid e Soluço não desgrudavam as bocas um do outro, praticamente.

Aliás, Soluço... Minha quedinha por ele havia oficialmente se evaporado. No momento só desejava toda a felicidade do mundo para ele e para minha irmã... e claro, para mim e para Jack também.

E quem diria que tinha conhecido o cara da minha vida porque o filme “Rei Leão” não funcionou na noite do dia dos namorados. No fim, a sociopata conseguiu ficar com o cara do Netflix. Quer dizer, depois de tudo aquilo, ainda poderia me considerar uma sociopata ? Ah, aquilo não importava.

Jack saiu daquela sala tão leve, tão feliz ! Aquilo aqueceu meu coração ainda mais. Seu sorriso era tão lindo. Fomos andando abraçados ao lado de papai, comentando alguma coisa sobre como devíamos comemorar. Estávamos quase chegando no carro quando de repente Jack congelou.

Olhei para ele estranhando aquele súbito comportamento, mas ele não olhava mais para mim. Segui seu olhar e me deparei com um homem que também estava parado. Era um homem grande, – só não tão brutamontes quanto meu pai - seu cabelo e barba eram longos e completamente brancos, contrastando com as sobrancelhas grossas e pretas. Seu rosto estava enrijecido, e ele olhava fixamente para Jack.

– Jack... ? – ele disse, a voz grossa.

Encarei Jack novamente e vi que seu rosto agora também estava tenso.

– Pai... ?


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