A Eterna Segunda Vida de Alex Tanner escrita por Laís Bohrer


Capítulo 21
Light in the Darkness


Notas iniciais do capítulo

Lay*: Alguém aqui shippa Charlex? Quem shippa esse é O Capítulo que eu reescrevi duas vezes, mundo!
Aliás, tem gente ainda confusa com o que aconteceu com a Alex, admito que foi realmente confuso, mas aqui tá mais explicadinho - eu acho.
Ouçam a música do shipper: "Oblivion" da banda Bastille.
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"Porque há o direito ao grito, então eu grito."
Clarice Lispector



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Luz na Escuridão

Poderíamos dizer que eu estava em um estado que os humanos considerariam nada saudável. Eu ficava trancada por horas em um dos quartos no final do corredor da casa – suposto esconderijo dos Anti-Volturi -, olhando pela janela, enquanto podia sentir o olhar afiado do fantasma de Bree Tanner perfurando-me por trás.

Era mais um dia nublado em Forks, três dias após a morte de Shane e a definitiva de Liam, nesses três dias, ficamos ali, sem atravessar a porta de entrada, esperando pelos outros que nunca chegavam. Eu e Naru não trocávamos uma palavra desde a nossa briga na floresta. Ele era o único que entrava e saia de casa. Charlie tentava me animar às vezes, como de costume, no entanto, não era a coisa mais fácil do mundo nem para ele. É como se toda vez que ele fosse tentar fazer uma piada, o fantasma de Liam que o perseguia, surgia ali, inalcançável para nós dois.

À noite, quando o quarto ficava mais tocado pela escuridão, eu ouvia as vozes daqueles homens que me capturaram quando eu tinha cinco anos.

Pode doer um pouquinho...

– Tente não gritar dessa vez...

– Olá, garotinha...

– Cometemos um erro...

– Não a deixe escapar!

Eu não era um gênio no assunto, mas em boa parte do meu cérebro eles mexeram. Porque aquelas vozes, dessa vez, não eram culpa de Edgar. Quando eu estava dentro daquela caixa de vidro, com todos aqueles fios, aquela mascara de respiração... E todos os líquidos ilegais que eles injetavam em mim... Mas foi depois de eu conseguir escapar que eu comecei a ouvir aquelas vozes.

Se fosse Edgar brincando com a minha mente, provavelmente seria muito pior.

Crianças corriam e brincavam nas ruas, havia umas menininhas que me fizeram lembrar a garotinha que eu guiei em direção à morte. Dei as costas à janela quando uma das garotinhas – uma ruiva de boné verde – apontou em direção à janela do meu quarto.

Andei até o centro do quarto, a lâmpada fluorescente acima da minha cabeça piscava, dando-me sombras fantasmagóricas. Havia uma cama de solteiro no canto da parede, coberta por edredons escuros de seda, as paredes eram verdes e brancas, rabiscada por canetas pretas em uma letra garrancho que eu não conseguia entender. Tinha um armário vazio com cheiro de mofo, com um livro escuro sem título, uma cópia de O pequeno Príncipe, uma caneta, um rádio pifadoe um pano cinzento que já devia ter sido a parte branca de uma camisa. Havia uma estante cheia de CDs, álbuns de Elvis Presley, The Beatles, Bob Marley e outro de uma banda gótica que eu não sei pronunciar o nome. Tinha um abajur e uma mesa de estudo vazia, com apenas um copo vermelho com alguns lápis e borrachas dentro. As paredes rabiscadas eram cenários para desenhos mal feitos de alguém que provavelmente não tinha nada pra fazer.

Tudo isso ao meu redor me fazia perguntar quem dormira ali.

Sentei-me no chão de pernas cruzadas, não precisei fazer muito esforço mental para fazer tudo aquilo ali ganhar vida. As portas do armário abriram e fechavam, as cortinas brancas da janela sacudiam como se fossem abatidas pelos ventos de fora, as janelas fechavam e abriam, lápis, borrachas, CDS velhos e livros moviam-se por mim. A cadeira giratória diante da mesa de estudo girava enlouquecida. Folhas de papel ganham vida. Como uma prenunciação sobrenatural.

Eu me permito sorrir, me sentindo bem ali, estranhamente... Feliz por ter algo para concentrar minha atenção sem serem as tragédias que ocorriam ao meu redor. Então, eu ouço uma batida na porta.

– Alex? – Charlie adentra o quarto e recua imediatamente com o que vê.

– Normalmente as pessoas batem na porta, perguntam se podem entrar e dependendo da resposta, elas entram. – eu disse sorrindo.

– QUE DROGA É ESSA? – ele disse olhando os objetos se movendo pelo ar.

– Charlie, ouviu o que eu disse? – ergui a sobrancelha, mas ele continuou a me ignorar. Uma folha de papel se fechou, como se alguém a amassasse e se atirou em Charlie que agarrou no ar com facilidade.

– Você poderia fazer isso em mim? Tipo, me fazer flutuar no ar? – ele perguntou com ansiedade.

Revirei os olhos.

– Não, só posso fazer isso com objetos inanimados – eu disse.

Mas ele não parecia me ouvir, eu dei uma risada curta e todos os objetos voltaram a seu devido lugar. Senti uma pontada na cabeça, como uma reação atrasada, as imagens de todos os lugares a que pertenciam àqueles objetos – paredes, mesas, armário e estante – passaram pela minha cabeça, simplesmente pensando neles, os objetos obedeceram ao meu comando.

– Incrível – disse Charlie.

Eu dei de ombros, com a mesma pontada na minha cabeça, como se meu cérebro estivesse formigando – eu nem sabia que o cérebro podia ficar dormente! – Me levantei do chão e encarei Charlie.

– Nostálgico. – eu disse. – Você continua a invadir os meus quartos.

– É. – ele concordou fechando a porta atrás de si e examinando os melhores de Elvis Presley. Subitamente, com o CD na mão, ele virou o rosto para mim. – O que significa “Nostálgico” mesmo?

Eu sorri.

– Vou te dar um livro – eu disse. – É, parece uma boa ideia. Que tal um dicionário.

Charlie fez uma careta.

– Eu prefiro um Xbox. – ele falou.

– Não julgue um livro pela capa, Charles. – eu o reprendi.

– Julgo sim – ele disse se aproximando. – Eu sempre julgo um livro pela capa. Eu não gosto de ler.

– Você é um caso perdido. – eu digo perdendo o meu olhar na janela. As menininhas continuavam ali, me aproximei da janela, a ruivinha olhou diretamente para mim e as outras garotinhas acenaram. – Ei, Charlie, acredita que eu esqueci completamente o que é estar viva faz algum tempo?

Charlie surgiu atrás de mim como o fantasma de Bree. Ele acenou para as menininhas do outro lado da rua.

– Acredito – ele falou. – Quando você esqueceu?

Hesitei no momento em que três garotos se juntaram as garotinhas. Juntos, eram três no total. Todos eles na faixa dos 10 anos.

Antes de responder a Charlie, eu parei para pensar. Quando mesmo eu tinha esquecido o que era estar viva? Então subitamente veio-me a lembrança do meu pai bêbado, minha mãe doente e isolada, meu irmão mais velho coruja indo embora, Bree desaparecendo e da áurea depressiva que cercava a residência dos Tanner.

Eu encarava o céu cinzento acima enquanto Charlie me encarava, ansiando por uma resposta.

No entanto, eu não queria entrar em mais detalhes.

– Esqueci o que era estar viva quando eu ainda estava viva. – eu contei.

Charlie desviou o olhar para a janela, acenando para as crianças e logo em seguida abaixando o braço.

– Acho que eu esqueci o que é estar vivo quando... – ele se interrompeu, no entanto, não precisava dizer mais nada.

... Quando eles os mataram.

Ficamos um longo tempo em silêncio, as vozes da escuridão do quarto, pareciam chegar mais perto, sussurrando e ecoando para mim. Sempre dava vontade de mandá-las irem se ferrarem, mas isso nunca funcionava.

– Você não acha estranho Alex? – perguntou Charlie. – Eu sei quase tudo sobre você, mas você não sabe nada sobre mim.

– Todos têm segredos – lembrei-o. – E eu posso ter mais do que você imagina.

Ele me encarou e segurou minha mão.

– Então, estarei bem aqui, para o caso de você precisar desabafar qualquer dia.

– Idem – falei.

Ele se inclinou sobre o parapeito da janela, as crianças acenavam para nós ainda, clamando pela nossa atenção. Eu já tive a idade delas, mas nunca vou entendê-las.

Depois de um longo período silencioso e perturbador, em que as vozes sussurrantes e familiares me torturavam mentalmente, Charlie se pronunciou:

– Eu... – ele murmurou, o cômodo pareceu ficar mais escuro agora. – Eu matei os meus pais.

Eu não olhei para ele.

A verdade era que eu nunca fui boa em dar conselhos, eu nunca sabia o que dizer quando alguém confessava algo para mim. Nesse caso, eu fechei os olhos e os abri novamente, sem olhar para Charlie, apenas para as crianças.

– Eu já fui usada como cobaia humana por cientistas ilegais. – eu disse.

Charlie olhou para mim.

– Ah, Alex...

– Continue – eu enfatizei.

Ele desviou o olhar para fora.

– Coloquei fogo em casa de propósito para matar meus pais, porque eu achava que eles eram assassinos. – ele disse. – Eu era meio esquizofrênico, ouvia vozes que me diziam que eles eram, outras diziam que eles não eram... Se eles eram ou não, nunca vou saber.

– Eu tinha cinco anos – eu disse. – Faziam experiências comigo... Doía muito. Muitas vezes eu ficava machucada, outras eu desmaiava, outras eu quase morria... Então eu comecei a ouvir vozes também. Eles brincavam com a minha mente, do jeito que Edgar faz.

– Eu machucava as crianças na escola – ele disse. – Fazia-as sangrar porque elas me davam apelidos ridículos e me ridicularizavam. Uma vez, aos quatorze anos, eu matei um garoto por causa disso.

– Eu escapei sozinha – contei ainda sem olhar para ele. – Os médicos que me pesquisavam depois disso me forçavam a lembrar das coisas horríveis e sensações que senti naquele laboratório ilegal. Depois eu comecei a fazer coisas estranhas, eu podia fazer as coisas ao meu redor se moverem...

– Fui mandado para um manicômio – ele disse. – Foi Xavier quem me tirou de lá...

– Eu fui pra casa depois de um mês – falei. – Todos em casa fingiam que nada tinha acontecido, mas a noite... Eu ouvia as vozes. E quando Edgar vasculha a minha mente, é pior ainda.

– Achei que entre os Foster, eu poderia finalmente ter uma família. – ele disse. – Ser aceito.

– Achei que se eu chamasse a atenção de todos, fazendo-os rirem... Eu poderia... – hesitei. – Ser aceita.

– Era um pesadelo, Alex.

– Era um pesadelo, Charlie.

Agora, estávamos de frente um para o outro. As crianças nos chamavam ainda.

– Alex Tanner – ele disse. – Você é uma garotinha muito problemática.

Eu dei um mínimo sorriso.

– Você não é diferente. – falei o encarando. – Não é o monstro que pensa que é.

– Não sou mesmo? – perguntou com expectativa.

Neguei com a cabeça.

– E eu sou? – perguntei em um murmuro.

Seus lábios se alargaram em um sorriso.

Esperei minha resposta, mas em vez disso subitamente ele pegou o meu rosto entre suas mãos e me beijou. Não fora como na primeira vez, quando ele me beijou apenas para me fazer calar a boca. Na verdade, eu não sabia por que ele tinha feito aquilo. Lembrei-me das vezes em que aquilo quase aconteceu, mas alguma coisa acontecia para interromper, como o destino dizendo-nos: “Ainda não”.

As crianças lá fora gritavam, as meninas comemoravam e os meninos gritavam “Eca!” ou “Não!”. Ambos sorrimos entre o beijo e a escuridão no quarto se dissolveu como fumaça e as vozes que me atormentavam naquele recinto pareciam cada vez mais distantes do que nunca estiveram de verdade.


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Notas finais do capítulo

Aleluia... Aleluia...
Aleluia... Aleluuuuuia ♫
—parei.
Mas estava demorando já né, quer dizer, um beijo de verdade né!
To sabendo que sorriso entre beijo é outro nivel, não tenho muita experiências, eu só vi isso no facebook u.u
Mas espero que tenham gostado!
Beijos Azuis Vampirescos e com Sorrisos Colgate Azuis e aroma de morango! (O.O)



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