Se não te mata, te acorrenta escrita por micoelho


Capítulo 4
Me reajustando, ou quase isso.


Notas iniciais do capítulo

Sim, sim: mais um capítulo!

Este capítulo contém mais pensamentos da Ali e o faz também conhecê-la em seu ''habitat''. Também tem outras cenas para ficarmos suspirando de ansiedade, hehe.

Leia e aproveite ♥



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Sábado, 15 de maio.

Ah, o ar fresco. Tudo o que aconteceu nas horas iniciais deste dia foi suficiente para me manter adormecida por um longo tempo. Na sala, como de costume, as vozes de meus pais ecoavam em um debate. E o que diziam? Conteúdo indefinido, já que ambos falavam agressivamente sobre qualquer coisa. Tirei minha cabeça do travesseiro e a dor de um porre surgiu. Eu não bebi a ponto de fazer isso resultar em uma ressaca, porém tive problemas que normalmente demoram 1 mês para virem e mais 1 mês para se dispersarem.

Meu quarto só não estava mais bagunçado do que meu interior. Vários momentos que passei ainda não foram processados: Dave chateado comigo; Tina havia estado em depressão e, durante todo esse tempo, eu fui o motivo que afastou-a de sua sanidade e da paixão que compartilha com meu irmão; Gus estar com a Nath, o tapa que lhe dei e sua discussão com Dave. Que grande monstro eu fui em poucas horas. Correção: que monstro eu ainda sou, após o amanhecer.

Todos os fatos que ditei compõe um peso enorme nas minhas costas. Agora, cabe a mim carrega-lo por aí ou finalizar o sofrer. Mas como farei isso? Como transformarei as aglomeradas e internas mágoas em energia para seguir em frente? Então, lembrei-me das palavras ditas por T: ''Você depende mais de mim, acredite. Acho que sou capaz de te modificar.'' É claro! Não serei egoísta e estúpida novamente com esta grande amiga que me oferece a mão. Ela é a solução e ela sabe.

Finalmente, levanto-me. O cômodo azul preenchido com pôsteres e mobílias brancas, também chamado de ''meu habitat'', tem um violão apoiado no canto da segunda janela, a única aberta. A outra encontra-se encoberta com roupas e a mochila da escola, junto do amplificador. Entre os ferros da cabeceira de minha cama, no lado oposto do quarto, estão os lembretes de todos os trabalhos que deixei de lado. As luzes entrelaçadas nela estão apagadas, mas o abajur de minha mesinha de cabeceira sim.

Olho de relance os livros intercalados com os CDs nas prateleiras acima e á volta de minha mesa. Todas aquelas distopias, romances, dramas policiais e os demais gêneros, mesmo que ficções, parecem mais verdadeiros e alcançáveis do que qualquer sucesso imaginável no futuro. Então, com um pouco de positividade, penso: isso acontece porque os finais deles são previsíveis, enquanto eu tenho tempo de escrever o destino que quiser para mim.

Abro um sorriso, e este é, mentalmente, retribuído pelos rostos nos retratos que vejo. Caminho até o meu armário entre aberto e pego algo confortável para vestir. Os passos dados em diante são mais leves, confirmando minha atitude diferente e animo.

Após me arrumar, desço. Para minha surpresa, Eddie está acordado antes do meio-dia. Sua expressão demonstra que teve a mesma sensação. Com um tom de deboche, ele diz:

– O que há com a flor do dia? Não, não responda! - interrompendo qualquer tipo de reação defensiva ou agressiva que eu poderia ter - Não me importa isso. Eu quero é saber da Tina. Ela te ligou?

– Não, Eddie, não. Por que não liga você? Garotas gostam disso, sabe?! - ele torce a cara

Ok, isso não faria parte de nenhum projeto de superação. Então, volto atrás:

– Me desculpa, sério. Eu falarei com ela. E o Dave?

– Provavelmente, ainda furioso contigo.

– Ah, imagino. - falo e, aparentemente, esvazio-me

– Hey, não fica assim, tá? Dave gosta realmente de você. Por que não fala com ele? Garotos também apreciam isso. - diz, se levantando.

Ao sair, Eddie bagunça meu cabelo. Ele sempre soube ser um bom irmão nos momentos em que mais precisei. Com isso, peguei meu celular e disquei para a Tina, esquecendo também a intenção que tive de falar com ela sobre os meus problemas e dando preferência para os de Ed.

– Alô, T?

– Oi, Ali! Eu esperava por Ed, mas sabia que você me ligaria antes. - caçoa-me

– Poxa, eu sirvo? - nós rimos

– Para com isso! Tenho que falar com ambos...

– Na verdade, ia te dizer para você vir aqui, sabe. Me dei conta do quanto temos que pôr em dia, mas principalmente de todo o tempo que te fiz perder com o Ed.

– Ah, Ali,... - ela fica sem graça

– Não, não, falo sério! Você virá?

– Ok, ok. Chego aí em meia-hora.

– Ótimo!

Desligamos o celular. Subo correndo para o quarto de Eddie e lhe entrego a mensagem: T está vindo! Isso parece reanima-lo, como se fosse possível faze-lo irradiar mais simpatia. Com impulso, ele coloca seus braços em volta de mim, levantando-me. O momento é interrompido quando a campainha tocou. Nós dois saímos correndo em direção á porta.

Ao abrir o portão, com um charme improvisado, meu irmão se depara com Dave. Sua feição muda para uma certa tensão.

– Alice, acredito que seja para você! - grita, Eddie.

A voz de Ed parecia distante de mim e eu me encontrava apenas á alguns passos atrás dele. Se eu já havia percebido quem estava na porta? Claro que sim, e foi exatamente isso que me paralisou por segundos que pareciam milênios. Dave me fitava do outro lado do portão, desviando o olhar para o chão e para o céu quando viu que eu o encarava.

– Olha, gente, eu adoro esse lance de novos meios de interação e compreensão, mas não tenho todo o tempo do mundo. Tina está vindo, vocês sabem.

Dave levantou um pouco sem olhar dos sapatos, fazendo-me entender que eu era um pouco mais digna de sua atenção. Não havia mais silêncio para ser ouvido, apesar de ninguém estar falando. Os batimentos dentro do meu peito e a respiração tensa formavam a trilha sonora da constrangedora situação.

– Tá, tá. Eu vou dar licença para vocês. Que saco, viu! Dave, entra logo, cara.

– Desculpa o incomodo, mesmo. - disse adentrando, enquanto Ed fechava o portão e saia.

– Não, imagina, não é tem nada de mais, sério. Eu...Eu que fiquei um pouco...Quer dizer, você nos pegou desprevenidos. - gaguejei - Na verdade, só o Eddie tinha programas.

– Ah, fui culpa minha. Eu devia ter avisado, certo?

– Que isso, Dave!... Olha, por que a gente não entra e eu paro de tagarelar, hein?

Assim, seguimos até a cozinha. Meus pais estavam lá e ambos gostavam muito do Dave. Ele foi sempre um grande amigo nosso, desde a época em que morávamos perto, em Sarah's Ville, o que me fez pensar em algo: ele andara isso tudo apenas para me ver. Ou então, para acabar de uma vez comigo. Não estava considerando a hipótese da visita ser direcionada para Ed e, mesmo que Dave gostasse muito deles, não viria apenas por causa do Sr. E Sra. Hamilton.

Fiz um sinal com a cabeça para mamãe, que logo puxou meu pai para sala, inventando uma história de que o aparador estava estranho com os porta-retratos escolhidos por ele. Isso me deixou mais á vontade. Comecei a servi-lo com um café-da-manhã, colocando-o para mim também.

– Sabe, eu me senti horrível ontem á noite. - as palavras saíram tremidas de sua boca.

– Dave, quero que você saiba que eu não estou com ele e...

– Alice, você pretendia estar? Só me importa isso: você pretendia? Você gosta dele?

– O que importa, Dave, é que eu não estou. É que eu não ligo para ele e ficaria melhor se você não ligasse!

– Mas eu ligo! Eu ligo porque ele é um babaca! Ele não te merece, Alice, e você gosta dele. Já disse tudo.

– Eu...

– A, o que realmente aconteceu? O que te afastou dele?

– Ele e Nathaly Keys se agarrando, depois me dando carona, e então eu me meti entre os dois e dei um tapa na cara de Gus. Foi o que aconteceu.

– Será que algum dia você vai confiar em mim? Por que não me diz o que se passa contigo? Por que dá bola para quem te trata dessa forma? Olha, um conselho de amigo:... ''Amigo''. Esquece, Alice. Obrigado por tudo.

Dave se levantou e eu o segui. Demorei um instante a mais para compreender cada coisa que estava se passando. Meus pais pareciam estar assustados, também. Dave nem olhava para trás, indo em direção ao portão. Quando coloquei minha mão em seu ombro, ele o tirou, como se estivesse limpando-o.

– Dave, por favor,...

– Não, Hamilton, não tem porque fingir mais, certo? - e saiu, fechando a casa e destruindo-me.

Acabou. Parabéns, Alice, tudo acabou. Só se passava isso por mim. Sentei-me no jardim e desandei a chorar ali mesmo, com o sol na cabeça e o olhar dos anões de jardim sobre mim. Depois de um tempo, meu pai se juntou á mim e me abraçou. Não precisei de mais nada, então. O fato dele estar ali e gostar de mim era tudo naquele momento, já que eu era o vazio.

– Filha, eu não foi mentir para você e dizer que te entendo, porque acho que seria injusto. Mas, como sempre, sabe o que deve ser feito, certo? Siga o caminho que seu coração escolher.

– Mesmo isso sendo uma espécie de autoajuda clichê, obrigada.

Dei um abraço ainda maior em meu pai. Ele nunca fez muito o tipo de aconselhador, porém tinha boas intenções. Ali, em seu colo, fiquei observando as nuvens soprarem, desejando que elas levassem também tudo aquilo que me incomodava. Quando papai foi chamado pela minha mãe e levantou-se, saí do meu estado de torpor.

Sai daquele conforto para o meu quarto, onde estive pelo resto do dia. Corrigindo-me, onde estive até a Tina chegar. Totalmente animada, entrou com Eddie, os dois falando muito sobre o passeio que fariam: iriam até St. Lui, lugar dos mais belos teatros e demais centros artísticos. Por experiência própria, posso afirmar que nem parece ser dentro da mesma cidade que meu bairro, West Park, que é o típico berço de ouro para famílias extremamente caretas.

Quando ele foi pegar as chaves do carro, ela sentou-se na beirada da minha cama e falou:

– Alice, eu sei o tipo de apoio que você está querendo dá para nós. Não poderia ser mais incrível, certo? - tentei responde-la, mas fui interrompida. - Errado! Uma das lições que aprendi na instituição que me ajudou dizia para você nunca se colocar em segundo plano ou fazer isso com os outros. Logo, quando eu voltar, teremos uma conversa bem longa!

– T, obrigada, mas não precisa, mesmo. Eu estou bem e já atrapalhei demais vocês.

– Sim, você foi horrível conosco, não vou mentir. - sua honestidade doeu profundamente, o que me fez pensar que devo me acostumar com seu modo de ser. - Porém, como eu combinei com o Eddie, falarei contigo na volta . Ele vai visitar o Dave, também.

– O Dave?! - gritei.

– Sim, o Dave. Algo contra?

– Não, mas é que... - interrompida, de novo.

– Bom, estamos entendidas - falou T, com o tom de voz maternal e carinhoso que tinha mantido guardado da última vez que nos vimos e ela tentara mostrar-se diferente.

Só consegui acenar com a cabeça, concordando. Tina me deu um tchau bem rápido, porque Eddie a esperava lá embaixo. Tudo o que tentei fazer nas horas que se seguiram apenas me trazia de volta para a triste realidade. Em certo momento, decidi não recusa-la mais e permitir que as ideias invadissem-me de uma vez.

As palavras de Dave podem até ter soado rudes ao ouvido de alguns. Porém eu sabia que, no fundo, expressavam uma amargura. O jeito como tinha falado não escondia nada, estava óbvio. O problema era que eu não conseguia captar a mensagem.

''Ele não te merece, Alice, e você gosta dele. Já disse tudo.'', ele falou. Isso se repetia em minha cabeça. Me lembrei também de meu irmão falando que Dave realmente gostava de mim. Naquele segundo, parei. Minha respiração ficou pesada, os batimentos acelerados e com uma só coisa sendo processada por meu cérebro: ele gostava de mim, ele realmente gostava.


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Notas finais do capítulo

E aí, já leu?

Sei que não está muito grande, mas isso está sendo feito propositalmente para causar um *tchan*. Mais coisinhas estão por vir, hein!

Deixem suas opiniões aqui em baixo, divulguem e todo aquele blá blá blá. Preciso saber o que estão achando para dar continuidade á fic. De qualquer forma, obrigada!

♡ xoxo ♡



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