Dois anos.

Exatos dois anos que te perdi para o vício. Exatos dois anos que fui trocada por extase e cocaína. Exatos dois anos da sua morte.

Morte.

Por incrível que pareça, você permanece cada dia mais vivo em minha lembrança, cada sorriso, cada olhar cúmplice, cada safadeza. Tudo em um só. Porém, para mim, você deixou a mais triste das lembranças, aquela que eu quero fazer morrer. A lembrança de vê-lo caído na nossa cama, após eu ter voltado do trabalho. De te encontrar morto. Sem vida. Com o olhar vazio para o teto do nosso quarto. A cocaína caida ao lado do qual eu dormia, por isso eu digo, você me trocou por ela.

Você corria para as drogas quando alguns obstáculos apareciam, e eu ali pronta para te amparar, mas o problema é que você não queria ser amparado. Coisa de mulherzinha chorar no ombro de alguém, dizia você. Merda de pensamento machista.

Conseguiu acabar com você, comigo e por pouco com a nossa filha. Sorte que ela estava no colégio. É difícil tentá-la colocar para dormir, quando quem fazia isso era você. Ela não aceita que você tenha partido, te espera todos os dias ao lado da porta, esperando você voltar da faculdade que tinha retomado a fazer.

Tinha retomado porque tinha parado de usar drogas, dizia você. Costumo a achar que foram poucas as palavras verdadeiras que você proferiu para mim. Contudo, você me proporcionou os melhores momentos, as melhores lembranças, e a melhor criança que poderia ter me proporcionado.

Saiba que onde quer que você esteja (e sei que se estivesse lendo iria dizer que céu não existe), quero que tenha a certeza de que eu te adoro. Te amo. Te venero.
Está tatuado na minha mente, as suas últimas palavras daquela manhã: Tchau, flor do dia.

Agora, em qualquer momento, em qualquer hora que eu olho para uma flor, eu me lembro de você. E eu sei que você sempre será uma parte da minha vida, e eu nunca iria querer que não fizesse. Agradeço por tê-lo conhecido e por ter sido o homem e o amor da minha vida.

Com carinho,
da sua eterna noiva.