Iprevisivel, brutal e idiota. Pra mim, ele era a minha presa.

— Delírio Insignificante, Pauline Morris (Jordan Packson).

As batidas na porta não cessavam.

— Bezzus! — Charlie gritava. — Abra essa maldita porta! — e continuava a bater.

Dentro do quarto, a garota de olhos violetas estava sentada desleixadamente numa poltrona de couro. O chão estava coberto de fotos de pessoas mortas, notas e relatórios. A televisão de 32 polegadas virara um quadro com vários papeis pregados com teorias e pontos de interrogação. Havia restos de comida e garrafas vazias ao redor, mas o cheiro não a incomodava. Bezzus estava naquela posição desde que entrou dentro do sonho e o único vestígio de que se movera era a quantidade cada vez maior de cigarros ao seu lado. O exemplar de Delírio Insignifante estava aberto na página 307 e o que marcava-se era um clips escarlate, que brilhava irritantemente.

“Já existiu, há muito tempo atrás, um jovem chamado Tobias Garcia, que jurou lealdade para a deusa da lua que o invocou para ser o general da futura 4° Guerra Mundial, aonde apenas dominadores existiriam no mundo. Não-dominadores iriram ser mortos, abusados, torturados e jogados primeiramente nas centenas de hospicíos chamados "Colônia", mas aquilo tudo deu errado e se tornou um caos profundo. Tobias foi descolado de sua própria origem e morto por não-dominadores rebeldes.

Foi aí que Hélio (deus do Sol e irmão da deusa da Lua) apareceu, mostrando á todos do Olimpo que a irmã causou aquela guerra, e os deuses deveriam pagar seu erro com os humanos, fazendo a segunda Era de Ouro acontecer. O deus do Sol deu um novo filho para os pais da vítima e sentenciou a mesma fazer de tudo para que aquele bebê sobrevivesse aos novos caos que estavam por vir. Selene era o nome da deusa da Lua, e a criança nascida pelas mãos de Hélio ganhou o mesmo nome da causadora da morte de seu antigo irmão e agora, sua gardiã.”

Desvendar os enigmas e achar Oliver e Selene não era tão facil assim como pensara. Ela tinha o dom de ver a verdade contida nos detalhes. O jeito como alguém anda, fala, sorri, gesticula, todos esses pequenos detalhes muitas vezes inconscientes diziam a Bezzus tudo que ela precisava saber sobre o desaparecimento e o criminoso. Mas aqui... ela estava num passado repentino de uma das vitimas, e se ao menos soubesse como fora parar ali, bem, ficaria muito melhor saber qual era a cartada seguinte.

— Por favor, Bezzus. Espere mais alguns minutos.

Sua testa se enrugou em indiferença, como assim Charlie Steven gritava no outro lado da porta para que ela... esperasse alguns segundos a mais? Puxou seu vestido, aparentemente, azul celeste – uma cor que a mesma odiava por inteiro – e levantou-se, mechendo em circulos seus pés cobertos por um All Star branco simples.

Ela havia recebido um pedido de Kalyn Sullan para tentar achar os dois amigos que sumiram misteriosamente a quatro dias. Uma ideia ridiculamente sem preocupação alguma para mesma, já que quatro dias não era assim tão longe do inesperado.

Conseguiu – com a dominação de Kalyn – entrar junto com Charlie dentro do passado de Selene, que vivia numa cidade em ruinas – até aonde sabe nos noticiarios nesta semana. Talvez os dois jovens sumiram para tirar o estresse da cabeça, mas após entrar no corpo da não-dominadora, algo a fez perceber que este desaparecimento era muito mais que simples, é – agora – um passado de dezenas de pessoas, seu dever é descobrir o porque.

— Não levante, só aguente mais um pouco. — o guarda pede, gritando desesperadamente.

Sabia nem ao menos o que estaria fazendo ali, não estava na sala de espera dos TJE? Agora, se localizava num local estranho, com um estranho e... uma aparencia estranha. Olhou para o espelho perto da porta, já estava em pé e simplesmemente bufava cada vez que puxava o vestido para baixo, mas o mesmo subia muito mais do que antes.

Como alguém pode usar metade de um vestido normal, e ainda não se sentir nu?

Seus lábios eram carnudos, rosados e delicados ao mesmo tempo. Os cabelos loiros deciam encaracolados e sedosos, havia mechas cinzentas por todo o lado. Bem, ela estava no corpo de Selene, e sua única caracteristica era seus olhos – violetas penetrantes.

— Por que eu não ficaria perto da porta, panaca? — sussurra silenciosamente, enquanto colocava sua mão na maçaneta. A porta não se abriu.

— Porque iria me acordar. Olha só, aqui estou eu. — uma voz doce e assustadoramente calma exclama atrás da jovem. — Como está indo sua amiga? Se chamava...? Ah sim, Scarlett.

A garota da voz segurava pelo pescoço, uma outra jovem – iguais, Selene e a garota ajoelhada por trás do espirito, duas aparentemente iguais. O espirito, tinha os vermelhos e um velho – e rasgado – vestido florido. Suspirou, fazendo sua franja loira balançar-se.

— Morta. — a mesma respondeu sua própria pergunta.

...

Charlie socava a porta, com bolhas e roxos por toda a extensão das mãos, ele estava especificamente acabado. O suor deminou seu corpo, e a fraqueza juntamente. Quando tivera a ideia de jogar o seu braço contra a porta de madeira, ela abriu espantosamente. Claro, o mesmo quase caiu aos pés do espirito tanto esperado.

— Ora ora, olhe quem está aqui, Dominick. — a loira que segurava outra pelos cabelos, murmurou para o velho farmacêutico, rindo com desdém.

— Mas você... — o Steven parou de respirar, Bezzus Swans havia ajoelhado por trás do velho, que puxava seus cabelos, causando gemidos de dor na jovem. — O que...?

— Eu estava conversando com seu tipo, Charlie. — o espirito sorri para o outro. — Talvez há uma chance de você poder se juntar a nós. O que acha?

O guarda engoliu em seco, e tentou não ficar desconfortável com o olhar das três loiras absolutamente iguais.

— Ou talvez devesse soltar a minha amiga e nos deixar ir. O que acha? — ironizou, chegando um pouco mais perto de Bezzus. — Vamos logo.

Uma névoa verdeada se formou em um circulo no ar, com a imagem de um quarto vazio. Ou nem tanto. O sorriso dos dois espiritos eram visiveis enquanto Selene aparecia realmente acabada. Tinha suas vestes rasgadas e sujas, um olhar sério, olhando para o nada.

— Como...? — Steven olhou para a outra garota ajoelhada aos pés do espirito jovem.

Exatamente iguais. Incrível.

Uma única coisa diferente era os olhos – vermelhos penetrantes, enquanto os da mortal Selene, eram castanhos intensos.

— Essa daqui é apenas uma deusa qualquer. — Christine levantou grosseiramente a cabeça da garota ajoelhada, levantando uma de suas sobrancelhas, um tipo de desafio. — Não é mesmo, Luna? — a garota ergueu seu olhar para o guarda. — Não tem mais poder algum. Deve ser muito cansativo proteger uma adolescente na puberdade, não é mesmo, querida?

A névoa ainda sobrevoava o ar, que mostrava aparentemente nada.

— Onde está Oliver? — Charlie muda o assunto por completo, olhando fixamente o portal da névoa.

Pela primeira vez, o espirito de Dominick respondeu algo, com sua voz grossa e rouca ao mesmo tempo. Um sorriso nos seus lábios secos e velhos surgiu.

— Morto. E agora, você também, rapazinho.