Stella

Os arbustos nos camuflam perante a escuridão noturna, e os nossos passos são praticamente inaudíveis com o tamanho cuidado que tomamos ao seguir Logan (ou Wolverine), um veterano de batalhas como essa. Paramos com uma visão perfeita do que ocorre na clareira, e afasto alguns galhos enquanto me agacho contra o chão de terra úmida.

— Eu sabia — Logan fala com uma espécie de rosnado. Sua roupa o camufla perfeitamente bem entre as folhas dos arbustos altos.

Nos dividimos em pequenos grupos com o objetivo de atacar assim que o sol desaparecesse no horizonte: Dylan vai pelo ponto norte, onde pode adentrar rapidamente a entrada principal da nave dos vilões. James, Clarissa, Logan e eu entraremos pelo oeste, onde acabaremos com o grupo de guardas que protege uma das entradas onde se encontram parte de nossos amigos.

Ashley, Simon, Sophia e Zack seguem pelo leste onde podem acabar com outra parte da nossa peça chave: Aurora.

Ela vai invadir pelo portão ao sul, onde existe uma menor força de defesa por parte dos guardas. Ali consiste uma série de armadilhas bem articuladas para acabar com qualquer invasor. Observei cuidadosamente durante as horas que antecederam o ataque e com sucesso pude rastrear cada uma delas. Mas agora era questão de sorte para Aurora.

— O quê? — pergunto em um sussurro ansioso.

— Eles tem urânio e adamantium — explica Clarissa antes que Logan possa fazê-lo. — Estão desenvolvendo além de armamento nuclear algum tipo de arma mais poderosa.

— Algo imortal talvez — diz James semicerrando os olhos.

Repentinamente um vibrar e BangBang da Jessie J começa a soar pelo nosso esconderijo. Faço um sinal de desculpas e sinto meu rosto corar logo que tenho meu celular em mãos. Atendo a ligação diante dos olhares repreensivos do grupo.

“Alô?”

“Como está a missão de vocês?”, a voz de Stark chega aos meus ouvidos, seguida de uma série de explosões e gritos ao fundo.

“Estamos invadindo a nave agora”, sussurro, apreensiva. Na clareira, homens armados caminham de um lado a outro seguidos por guindates que ajustam algum detalhe da estrutura de metal.

“Ah que ótimo! Precisamos de vocês amanhã!”, mais uma explosão.

“O que está acontecendo?”.

“Ah nada demais. Apenas ataques múltiplos em praticamente todo o país”.

Clarissa faz um sinal impaciente para mim. Pisco um tanto atordoada.

“Ataque?”, questiono com a voz trêmula.

“Sim Smurf-Richard”, Stark exclama sobrepondo os gritos e as explosões. “Avise os outros o quanto antes, e seja breve ou vamos todos...”

A ligação cai com um chiado seguido dos toques contínuos e que agora soam tão deprimentes.

— O que foi? — questiona Clarissa abruptamente.

James me encara com certa profundidade e particularmente detesto quando ele faz isso com as pessoas sem nem ao menos avisar antes. Suspiro logo que prevejo o que vai ser dito por ele.

— Alguns estados estão sofrendo ataques — James é direto, voltando sua atenção para a clareira. — Temos que tirar o pessoal daqui e retornar para Nova York amanhã.

— Será que pode existir uma bomba por aqui? — pergunto com ansiedade. 

Logan resmunga.

— Eu não duvidaria. Está havendo ataques, então aqui pode ser apenas uma questão de tempo.

James leva a mão à têmpora e se concentra. Está mandando o sinal diretamente para o restante do grupo. Seguro com força uma medalhinha que comprei em Vegas no dia anterior antes de tudo isso, onde consiste o símbolo do infinito em dourado. Clichê eu sei, mas de alguma maneira me tocou.

Nesse momento consigo manter preso em minha mão direita como se fosse alguma espécie de membro que me permite continuar viva. Então devolvo ao meu pescoço.

— Hora de irmos — James fala fazendo um sinal positivo com a cabeça para nós.

Concordamos com meneares de cabeça, e silenciosamente, porém rapidamente descemos o pequeno morro que nos protegia do campo onde a nave se encontra. Respiro fundo antes de torcer a primeira arma contra um dos guardas mais próximos, forçando-a a invadir o tórax dele. Seus gritos são silenciados pela morte súbita diante do sangramento e dor intensa.

James desacorda outros guardas, e Clarissa executa golpes silenciosos e perfeitos com suas longas pernas e mãos bem argilosas. Wolverine não se importa nem um pouco com mortes discretas, e colocando à vista suas garras de adamantium decepa cabeças como se fossem tampas de garrafa.

Em menos de dois minutos o pequeno grupo de dez guardas está no chão. Pego um dos cartões de identificação em um dos corpos e o passo pela fechadura na imensa porta diante de nós.

A porta sobe lentamente dando visão para um corredor metálico e extenso, com diversas grades protegendo entradas para mais corredores fortificados. Em pensar que o meu metal e a energia de Zack construíram tudo isso...

— E agora? Por aonde vamos? — Wolverine foi grosseiro com James, que se concentrou por um curto período de tempo.

— Por aqui — Ele avança até uma das grades de ferro à direita e passa o cartão de identificação de um corpo qualquer.

Assim como a porta principal esta sobe e nos permite invadir o corredor com luzes vermelhas e portas por todos os lados. São celas. Um arrepio sobe por minha coluna ao pensar em todos os heróis aprisionados aqui adormecidos.

Até mesmo... Charlie, Bruce Wayne e Selina Kyle. Meus olhos encontram Clary, que caracterizada de Lady Assassina parece forte o bastante para tudo, mas imagino que haja um resquício de hesitação por trás de tanta determinação.

— É com você Stella — James fala e suspiro antes de cerrar os punhos exercendo meu poder contra as portas de metal, que estremecem antes de saírem bruscamente das dobradiças.

O alarme soa alto e certamente chamando a atenção de toda a nave.

— Rápido — grito, pronta para distrair o máximo de guardas possível.

Wolverine adentra uma das salas e James invade outra. São cerca de dez celas neste bloco, e dezenas de guardas a camino.

Clary claramente hesita.

— Você também, Clary — digo suavemente.

Vejo-a cerrar um dos punhos, enquanto sua outra mão envolve firmemente a sua pistola clássica.

— Não sei se consigo.

É a primeira vez que Clarissa demonstra tal fraqueza emocional. Talvez um momento histórico, ou triste o bastante para me fazer estremecer.

Coloco a mão em seu ombro, e Clary me fita por cima do ombro.

— Você tem amigos. Eu, James, Aurora, Simon, Sophia, Zack... O Dylan — completo com um sorriso. Clarissa respira fundo. — Estamos aqui com você. Vamos salvar todos e acabar com esses merdas.

— Uau. Você claramente concordando em se divertir com mortes alheias? — Clarissa debocha, voltando ao seu humor sarcástico de sempre.

Sorrio.

— Aprendi com a melhor.

Clarissa dá um último sorriso antes de adentrar outra cela. A sensação de vulnerabilidade é implacável e por algum motivo vejo-me com o símbolo do infinito preso à minha mão mais uma vez.