Diário Natalino de um Semideus escrita por João Danilo


Capítulo 1
E Este foi meu Natal


Notas iniciais do capítulo

É a primeira vez que participo do desafio e Férias, não sei exatamente como me sairei, mas não estou aqui apenas para vencer, estou aqui para adquirir experiência e aos poucos melhorar minhas habilidades de escrita para melhor agradar meus leitores.

Então, se está cansado de blablabla, vamos a história.



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Aquela foi com certeza a véspera de natal mais estranha que alguém poderia ter e acredite de coisas estranhas eu entendo.

Meu nome é Igor, tenho 17 anos, e acreditando você, ou não, sou filho de Hades. Sim, Hades, o todo poderoso deus do mundo inferior. Aquele mito grego. Desculpa pai, mas mito é a maneira mais fácil para descrever você.

Aquela noite, do dia 23 de dezembro, estava estranha. O Céu apresentava uma coloração arroxeada. Se eu não morasse no nordeste brasileiro diria até está presenciando uma Aurora Boreal.

Não havia uma única estrela no céu, as nuvens se mantinham longe, até a lua parecia se esconder, sem contar aquele calafrio na espinha, o mesmo que sempre sentia quando algo ia dar muito errado. Mal sabia que seria pior do que eu poderia imaginar.

Minha dor de cabeça começou exatamente a meia noite do dia 24. Passeava pela casa, esperando alguma noticia ruim, já era costume. Passando pela sala, algo chamou minha atenção. Claro, algo chamou minha atenção, até por que é normal, numa casa onde não há lareira, uma surgindo do nada na parede da sala não chamaria a atenção.

Mas claro, uma lareira, surgindo pode significar que Héstia, a deusa das Lareiras, quer entrar em contato com você. E se Lady Héstia gostaria de conversar, eu estaria pronto para ouvir o que ela tivesse a falar.

Aproximei-me, sorrateiramente, e ajoelhei-me próximo a boca da lareira. Esse foi meu erro. Por que eu fui fazer isso? Apenas para eu ser atingido por um velho jogado, lareira a fora, a toda velocidade. Devia estar delirando, mas não pude pensar muito, tudo escureceu.

Quando acordei ainda era madrugada, por volta das 3 da manhã. Olhei ao redor, e lá estava o que eu procurava. Em pé, na frente da lareira estava ele. Alto, barrigudo, com Barba longa e cabelo comprido, ambos brancos brilhantes. Trajava vestes verdes, com detalhes de acabamento branco além de um grosso cinto preto com uma fivela dourada. As botas pareciam engraxadas naquele momento, refletiam cada elemento da minha sala.

- Não! Não Mesmo! – Eu exclamei. – Os deuses gregos eu aceito. Todos aqueles monstros e heróis e titãs. Mas o Papai Noel?

- Olá Igor! – Ele sorriu. – Faz certo tempo que não nos vemos. Acho que oito ou nove anos. Talvez não se lembre de mim. Sabe, precisei apagar sua memória, Ninguém deve saber que o Papai Noel existe.

- Você é uma pegadinha? Qual o deus que te mandou aqui? – Eu perguntei. Aquilo estava me irritando.

- Oh, claro. Filho de Hades, Certo? Meu nome é Nicolaus. Mais conhecido como Papai Noel. – Ele se sentou ao lado da lareira. Aquele cara era real? – E Não, não fui mandado aqui por nenhum deus grego, nem sou uma pegadinha. Dizem até que sou Celta. Mas já que não lembra, tenho que refrescar sua memória. – Ele sorriu novamente. Sério, estava a fim de bater no velho, ele invadiu minha casa e fica sorrindo sentado no meu chão. – Você me mandou procurá-lo, caso precisasse de ajuda em alguma coisa.

- Olha aqui, Nicolaus. Posso chamar de Klaus? – Ele fez o típico HoHoHo de Natal. Fechei a cara. – Vou entender como sim. Você está levando em conta o que um garoto de oito ou nove anos falou? Sem contar que esse garoto em questão não se lembra de você?

- Igor. – A Voz dele saiu firme. Calou-me. – Você não consegue lembrar por que deixou de acreditar em mim. Se ainda acreditasse, nosso reencontro teria trazido as memórias. Você acreditando, ou não, preciso de ajuda.

- Em que posso ajudar? – Minha pergunta foi automática. Maldita mania de Abnegação.

- Temos um problema. Você estudou em uma escola, no seu ensino fundamental, comandada por uma força que quer acabar com o Natal. Essas escolas estão se espalhando pelo mundo, diminuindo a quantidade de crianças que crêem no natal.

- Você quer que eu destrua escolas? – Eu ri.

- A Cada ano menos pessoas crêem no Espírito do Natal. A Cada ano eu fico mais fraco. Você sabe o que ocorre com os Espíritos Guardiões quando perdem a crença? Desaparecem e morrem. – Ele deixou a voz morrer no final.

- É Destino de Todos. Eu como filho de Hades não posso deixar prosseguir com esse destino imortal. – Eu falei, ganhando confiança.

- Não é minha intenção viver para sempre. Buscarei um substituto para a função. – Ele falou.

- Eu? – A idéia me apavorou.

- Não. Você tem o coração puro, mas não é você. – Os olhos dele faiscaram. – Você é aquele quem pode me ajudar a recuperar o controle. Você já acreditou facilmente no seu pai. Acreditar no Natal deve ser moleza.

- Recuperar o Controle? O Que exatamente aconteceu? – A História mal explicada.

- Os duendes me doparam, ontem. Tomaram a oficina, e desapareceram com todos os brinquedos. O Natal é em algumas horas. Se eles não retomarem o trabalho e devolverem os brinquedos será o fim. – Ele parecia desesperado.

- E Você quer que eu ajude a retomar o controle dos seus escravos, duendes, para que você não morra esse ano? – Parecia engraçado demais, observar essa situação.

- Eles não são meus escravos. – Ele mostrou horror à idéia. – Eles foram enfeitiçados, Igor, alguém ou algo conseguiu se infiltrar no pólo norte e ocasionou isso.

A TV da sala ligou sozinha. No jornal emergencial algo chamou nossa atenção, pareciam duendes junto com os repórteres. E um trenó com Renas. Klaus arregalou os olhos. Ele era Público agora.

“O Verdadeiro Papai Noel está desaparecido desde a noite desse dia 23. No local onde provavelmente ocorreu o crime o trenó e as renas estão intactas, mas o bom velhinho e seus presentes desapareceram misteriosamente.”

Entreolhamos-nos. Pude ver o desespero nos olhos dele. Aquilo não poderia ter ocorrido, o Pólo Norte exposto. Os Duendes na TV. Ele na TV. E para completar a confusão, minha janela explodiu, atrás de mim. Senti uma pancada na nuca e caí. Minha vista embaçada entendia pouca coisa.

- Fiquei me perguntando onde o encontraria, Nicolaus. – Era uma voz fria, parecia vir puramente da escuridão lá fora. – Imaginei se aquilo realmente seria necessário ocorrer, para te encontrar. Mas pelo visto bastei entrar na casa mais óbvia. – Um homem surgiu entrando pelo buraco deixado pela explosão.

- Érebo! – Klaus sussurrou. – Igor. Deixarei com você. Se decidir ajudar, sabe aonde ir. Creio que isso seria o bastante. Acredite!

Acredite. A única coisa que ele falou. O Vi puxar uma espécie de cajado e um vento frio tomou a sala. Um raio azul foi disparado contra Érebo que desviou o raio, transformando-o em uma nuvem negra que englobou Klaus fazendo-o desaparecer.

Érebo se aproximou. Acariciou a minha cabeça.

- Você não precisa se intrometer onde não é chamado. – Falando isso se esvaiu no ar.

Tenho um péssimo histórico em lembrar-se de sonhos. Por isso quando acordo e lembro perfeitamente o que ocorreu, tenho total certeza que não foi um sonho. Talvez um pesadelo muito exótico, mas não gosto de apostar na sorte. Primeiro, por que acordei na sala, logo eu realmente desmaiei. Segundo, tem uma lareira na minha sala. E por ultimo tem uma janela a menos na minha casa.

Mas você tem que concordar que parece loucura demais até para pensar. Érebo, a Escuridão Plena, aparece na minha casa, tem uma luta rápida contra o Velhinho Klaus, que é o Papai Noel, e o seqüestra. E eu tenho que ir para algum lugar fazer algo que não sei o que é. Apenas para tentar salvar algo que não sei se é real. Devo ser louco. Um semideus louco.

Deve se perguntar o que eu fiz a seguir. Eu fiz exatamente o que qualquer um, no meu lugar, faria. Mergulhei em uma sombra e rumei ao Pólo Norte.

Deve se perguntar como é uma viagem nas sombras. Não é agradável. Imagine todo o ar fugindo dos seus pulmões. A sensação de vazio, se solidão, de esquecimento. O frio que adentra seus ossos e a força drenada pelo esforço.

Hades sabe como essa viagem deu certo. Nunca tinha tentado ir tão longe, e menos ainda descrente da existência do lugar de destino. O que importa é que quando abri os olhos estava na oficina de Klaus. A Oficina de Natal do Papai Noel.

Não vou dizer que foi agradável. Aquilo que Klaus quis dizer com “Creio que isso seja o bastante” foi quase como, Creio que ver a minha oficina baste para fazer com que você volte a acreditar em mim e todas as suas lembranças voltem para você.

O Lado bom? Ele estava certo. Minhas lembranças dos meus natais crentes voltaram. Todo Natal, sentado com Klaus e um duende, conversando sobre coisas diversas. O Lado Ruim? Isso doeu muito. Senti meu cérebro virando gelatina.

- Ora, ora, ora. Quem resolve por os pés no Pólo Norte. – A Voz familiar me chamou atenção. Encontrei o duende. – Olá, Igor.

- Dennis. – Consegui sorrir para ele.

- O Garoto mimado que me mandam tomar conta. E que para de acreditar em mim de um dia para o outro. Você sabe como doeu? Você sabe como foi humilhante ser lançado de volta ao Pólo Norte com a missão incompleta? – Ele cuspiu. – Mas agora não importa. Tomamos o Pólo. Agora não haverá mais Natal. Não haverá mais felicidade.

- Então vocês se revoltaram. – Toquei o ombro dele. – Por quê?

- Agora você perguntou... – Ele pareceu sair de um transe. – O Natal! – Ele me abraçou. Correu e começou a trabalhar.

Foi estranho. Quase como se meu toque tivesse removido o feitiço. Uma leve melodia natalina começou a tocar, e a neve começou a cair, lá fora. Acho que isso pode ser sinal de que a magia do natal voltou. Não sei. Melhor não arriscar.

- Então, Dennis. Onde está Klaus?

- Noel ainda está na mão de Érebo. – Dennis me encarou. – Esteja preparado. Érebo não deixará isso fácil.

- Onde eles estão? – Perguntei.

- Pense no lugar. Aonde Érebo conseguiria manter Noel? Qual o lugar em que ele se encontra mais fraco? – Dennis sorriu quando viu o entendimento passando pela minha face.

- A Escola. A Escola de Érebo. – Suspirei. – Acho que vou precisar viajar pelas Sombras novamente.

Era estranho voltar ali. Estavam com exatos oito anos que não pisava naquela escola. Fora ali que me convenceram de que o Natal era uma farsa, que o Papai Noel não existia. Fora ali que os Guardiões começaram a perder os poderes.

O Letreiro era chamativo. Educandário Olímpico, onde seu filho terá Ética, Responsabilidade, Educação, Beneficência e Otimismo. ÉREBO. Como nunca havia reparado nisso? Deixa pra lá, tinha apenas oito anos quando deixei esse lugar.

Uma batalha ocorrera ali fora, e não fora leve. A grama estava chamuscada em alguns pontos, parecia que um incêndio fora extinto. Pedaços da parede da frente estavam caídos, como se algo tivesse se chocado contra os tijolos e quebrado tudo.

Corri o mais rápido que pude. Klaus poderia estar em perigo. Quando adentrei, vi que a situação era pior do que eu imaginava. Não havia muitas paredes de pé, as poucas que ainda se mantinham estavam totalmente esburacadas.

Colunas e mais colunas estavam tombadas, o prédio estava à beira da demolição. Fui atraído mais ao fundo, pelo som de algo se chocando. Luzes e mais luzes surgiam, eles estavam em uma espécie de praça de recreação, da escola, os brinquedos, ou o que restou deles, estavam jogados, destruídos, nos cantos. Serpentes negras e Cisnes Brancos voavam por todos os lados, se chocando, deixando certo cheiro de ozônio. Era uma batalha de titãs, super poderosos. Se Klaus não conseguisse contra Érebo, não via como eu conseguiria.

- Não deixe que eles vejam que está aqui. – A Voz vinha de um garoto de cabelo branco, ao meu lado. Era reconfortante.

O Garoto era aproximadamente da minha altura, 1.75, e trajava uma calça jeans esbranquiçada, seu cabelo era branco como a neve, e seu sorriso brilhante. Seus olhos cinzentos. E usava um moletom azul. Apoiava-se no que parecia um cajado de madeira bruta.

- Tenho que ajudar Klaus. – Eu falei.

- E como fará isso, Filho de Hades? – Ele me perguntou. – Klaus, como o chama, é um guardião, se ele não conseguir derrotar Érebo, quem seria você para isso?

- Eu... – Essa era a pergunta. Quem eu era no meio daquilo? “Acredite”, era minha única certeza. – Eu sou aquele que Acredita.

Houve um momento de paz. E depois uma explosão. Érebo foi lançado longe. Klaus surgiu do meu lado, suas roupas agora variando em tons de verde e vermelho. Sua aparência mais jovem. E ele emanava poder.

- Olá, Jack. – Klaus falou para o garoto. – Já conhece o Jovem Igor? Estou orgulhoso de você garoto. Agora vamos salvar o Natal.

- É isso? Minha missão era voltar a acreditar? – Eu perguntei irritado.

- Não. Nós Guardiões temos origem no povo Celta. Você tem Origem no Grego. Érebo é grego. Cabe a você derrotá-lo. E a nós, garantir o Resultado do seu esforço. – Jack falou.

- Cuidado. Você tem origem nas duas linhagens. Você é um ponto médio entre os dois povos. Por isso você pôde salvar o Pólo Norte, e por isso você pode nos ver. Cuide de Érebo. Nós confiamos em Você. – Klaus sorriu. – Nos vemos por aí, Filho de Hades.

Aquilo foi estranho. Num minuto eles estavam lá, no outro não estavam mais. Num minuto eu estava em uma escola totalmente destruída, no outro estava do lado de fora. Passara da meia-noite. O Natal estava perdido. Os presentes não haviam sido entregues. Com exceção de um. Havia um embrulho nos meus pés.

Era uma pequena faca, com entalhes gregos no punho. Não mataria, tinha certeza, mas iria impossibilitar ele.

Érebo estava parado no mesmo lugar. Deitado, como se esperando minha ação.

- Olá, Igor. – Ele falou.

- Qual sua idéia? – Perguntei.

- Minha idéia? – Ele riu. – Eu sou assim por natureza. Eu sou a Escuridão que rege o mundo. O Natal traz luz, eu quero a escuridão. Nada mais.

- Foi o que pensei. – Desci a adaga no coração dele.

- Não achou que seria fácil assim, não é? – Ele riu, atrás de mim.

- Não, não achei. – Eu sorri. Minha mão passando pela sombra do meu corpo e esfaqueando ele por traz. – Sinto muito Érebo.

- Nos veremos novamente, garoto. – Ele riu. - Essa adaga só pode ser usada por um tipo de pessoa. Vemos-nos em alguns Natais. – Ele desapareceu, junto com a adaga.

Eu pisquei. E quando abri os olhos estava em casa. Minha sala estava intacta. Nada de lareira, nada de janela explodida. Uma alucinação. Tudo uma alucinação. Meu relógio marcava exatamente meia-noite. O Dia de Natal começara. E ao pé da minha cama, um embrulho me aguardava.

Atentei-me a carta, acima. Ela fora escrita em pergaminho original, com uma escrita Elegante e delicada. Estava endereçada a mim.

“Ao Filho de Hades,

Ficarei feliz no dia em que o procurar novamente. Creio que depois de hoje sua resposta seja sim. Mas viva sem essa responsabilidade. Você ainda tem muitos anos para pensar na sua resposta. Fico feliz que esteja bem, nunca deixei de duvidar.

Você deve estar confuso sobre o porquê de ser você. Você tem sangue celta, está na sua família. Mas ainda não é você. Ainda é necessário algo ocorrer para que seja você. Enquanto não ocorre, desejo-te um Feliz Natal.

Atenciosamente, do seu Amigo

Klaus.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, demorei um tempo para conseguir pensar na ideia deste texto até que um grande amigo me deu a ideia inicial.

Ele é 100% dedicado ao Igor Almeida, o meu amigo e irmão, que me inspirou a narrar este texto.

E Por favor, espero a opinião sincera de cada um que leu. Grato.