Aoni

Aquilo que passou na minha cabeça, conforme ela quase explodia, são lembranças? Sim... Isso já aconteceu antes, várias e várias vezes. Eu já matei pessoas, qualquer um, até mesmo os que se importavam comigo, até mesmo com quem eu me importava.

Por que isso acontece? Nem eu sei direito... Talvez por causa do erro que ocorreu no ritual, daí acontece esses ciclos que não posso evitar. Cada lembrança do passado é dolorosa, aí, quando não tem mais jeito e eu lembro de tudo, essa fera se manifesta em mim. O selo pode até aprisionar aquela forma que assumi na primeira vez, mesmo assim, fico quase tão destrutivo quanto.

Será que, sempre me esqueço por que meu subconciente quer apagar? Sim, eu me arrependo. Eu não queria matar ninguém... Sempre quero esquecer... Sempre quero esquecer disso pra não sofre mais. Talvez eu seja covarde, sempre tendo medo de encarar as coisas de frente.

"Fu... Fujam..." Falei com as forças que eu tinha para aguentar a dor. "Corram!" Eu não quero machucar ninguém, não quero machucar a Sayo, mas agora esse é o momento que tudo fica branco...

"Ha ha ha! (...) Então esse é o poder de um nekomanta?!"

"(...) Espere! (...) Não! AAAAAHH"

"Ei! AQUI! VEM PRA CIMA DE MIM, IRMÃOZINHO!"

"Aoni. Sou eu..."

"Vamos pra casa..."

"Eu te amo, Aoni. Se você quer me matar, eu não me importo, mas... Eu não quero que você sofra mais! "

Essa humana está chorando... Por quê?...

Sayo...

Kuro (agora)

Depois de tudo, deram um jeito de levar o meu irmão de volta e também foi preciso cuidar dos meus ferimentos. Nem falei nada por que, admito, eu tava todo quebrado. Cada um tomou o seu rumo nas coisas. Hideki tinha que voltar á faculdade (nota: eu sei fazer um encantamento simples de cura, estão tirei a cicatriz da cara dele, apesar de que a que deixei não tinha como, rsrs), Shussan avisou aos pais que Sayo estava melhor, então voltou pra casa, isso foi mais por que ela pediu; quanto à humana, tenho certeza que ela fica a todo momento indo para o quarto de hóspedes daquele apartamento para ver como o meu irmão está, mas, pelo menos, ela está voltando às aulas também.

E eu? Acredite ou não, Hideki está me "tolerando" e deixando eu dormir na casa dele, apesar de que, quando ele sai, dou uma passada no studio da kitsune. Por lá consigo fazer umas pesquisas para saber o que pode acontecer quando o meu irmão acordar e, se mesmo assim os ciclos continuarem, tentar descobrir um jeito de resolver. Bem que essa busca é inútil, já que a faço à décadas... O que devo fazer?

Sayo

Eu já estava voltando pra casa. Fico tão precupada quando saio e deixo o Aoni sozinho. Se ele acordar e não tiver memória alguma, o que pode acontecer? Bom, tenho tentando não pensar nisso para não atrapalhar os meus estudos, mas é difícil...

– Hey, Sayo! - ouvi a voz do Hideki.

– Ah, oi, Hideki kun.

– Está indo pra casa, não é?

– Tou... E até a hora que saí Aoni não acordou.

– Entendo.

– Posso te perguntar algo?

– O quê?

– Você deixou bem claro que guarda rancor do Kuro por ele ter te feito de bobo, isso não tem como não notar, mas, naquele dia, você parecera se preocupar quando ele foi atrás do Aoni e poderia morrer, até deixou ele dormir na sua casa nos últimos dias.

– Ora, isso... O que você quer dizer com isso? Você não é fujoshi, né?

(NOTA: Fujoshi = garota fã de yaoi/BL)

– Não! - eu corei. Não acredito que ele achou que eu tava pensando algo naquele sentido! - Mas, me diga, por quê?

– Ainda tou irritado com ele, mesmo assim, eu não sou do tipo que deixa que a pessoa que se mate e dane-se. Sou bonzinho de mais... Aliás, tou só deixando ele dormir na minha casa por que não tem espaço na sua. Mesmo se ele tivesse a opção de dormir por aí na rua (sem problemas, já que ele é um gato), você insistiria pra ele ficar na sua casa caso fosse fazer isso, então preferi reduzir o incomodo pra você.

– Hum... Você tá começando a me conhecer bem. Hu hu.

– É, talvez. Mas isso não tem problemas, já que somos amigo, não é?

– É...

Pegamos o nosso ônibus e desci na minha parada. Hideki acabou descendo junto comigo também, por que ele tinha algo pra fazer aqui perto. Me despedi dele e peguei o elevador para subir pro meu apartamento.

Entrei e tudo estava calmo, ao menos eu não ouvia nada. Aoni não deve ter acordado ainda... Fui pelo corredor em direção ao quarto que o deixei. Eu queria abrir aquela porta e ver o Aoni sentado na cama, meio aéreo e sorrir ao me ver, bem mas o que eu vi...

Ele não estava lá.

Cadê o Aoni?! A janela estava aberta! Não acredito, ele foi embora! Ele deve ter acordado sem memória, ficado confuso e saído com receio. Droga! Droga! A quanto tempo ele acordou? Será que está por perto? Liguei pro celular do Hideki.

– Atende. Atende. Atende...

Hideki

Eu tinha ido para uma loja aqui perto comprar umas coisas (sim, dessa vez eu pegar ônibus junto com Sayo até a parada perto do prédio dela não foi desculpa) e quando eu estava saindo meu telefone tocou. Ué? è a Sayo?

– Al--

– Hideki! Aconteceu um problema!

– Calma Sayo! O que foi?

– Aoni acordou antes de eu chegar e ele sumiu!

Era só o que faltava...

– Eu já tou indo aí!

Corri para lá, mas quando eu estava perto de chegar no prédio, meu telefone tocou de novo.

– Oi?

– Só aviso uma coisa: Não suba?

– Kuro? O que diabos... O que você quer dizer com isso?

– Ele está lá em cima. Melhor você não ir. E não precia avisar pra ela, vou ligar agora.

– O quê? Alô?

Não entendi nada...

Sayo

Eu estava desesperada esperando o Hideki. Não sei se desço e encontro ele na frete do prédio ou espero ele subir aqui... Quer saber? Eu vou descer! De repente, o meu celular tocou. Por um segundo achei que era o Hideki,mas o número não tinha registro...

– Alô?

– Aqui é o Kuro.

– Kuro?Ai mei Deus... O Aoni sumiu!

– Eu sei. Tou vendo ele daqui agora.

– Oi?

– Apenas passei por perto para dar uma verificada pela janela do quarto se ele estava bem, mas aí pude avistá-lo em cima do prédio. Não sei por que ele está lá, mas, bem, Não sei se ele lembra de algo ou não, se tiver esquecido lembrar pode fazer ele ter uma crise... Por isso tou no momento evitando que ele me aviste. Ele sempre tem crise quando me vê pela "primeira vez", já que, bom...

– Vocês são irmãos e você sempre esteve com ele em todos os "ciclos".

– Bingo! Olha, idependente de ele lembrar de você ou não, é melhor você ir lá.

– Não precisava nem pedir.

Desliguei o celular e fui logo para o terraço do prédio. Hesitei um pouco no momento de abrir a porta lá de cima. Eu não fazia a menor ideia se ele lembraria de mim ou não e qual seria sua reação. Tantas dúvidas... Mesmo assim, criei coragem e abri a porta.

Aoni estava olhando para frente e parecia aéreo. Ele nem estava com as caldas e as orelhas visíveis, Kuro disse, naquela vez que Aoni desmaiou, isso acontecia por que toda a sua força mágica se esgotava, aí ele ficava fixo ou na forma humana ou na felina, além disso, Aoni sempre fica com as caudas e as orelhas por que não consegue controlar o poder 100%; mas por que ele continua aparentando ser humano?

Ele deve ter me ouvido ou sentido o meu cheiro, pois de repente ele se virou e olhou pra mim. Eu não sei descrever o que significava sua espressão, eu só queria que ele não tenha ficado chateado comigo, só queria que ele não se assustasse... Não importava se ele lembra de mim ou não.

– Aoni, sou eu. - eu tentei sorrir, mas estava com receio do qualquer reação que ele tivesse - Você lembra de mim?

Me aproximei um pouco mais dele e de repente ele parecia meio triste. Ele ainda está chateado com o que eu disse naquele dia?

– Aoni, me --

De repente eu não pude continuar a frase. Aoni me abraçou e abraçou bem forte.

– Desculpa! Desculpa! - ele falou quase chorando - Eu te fiz chorar, desculpa!

Eu? Chorar? Ele lembra do que aconteceu quando ele estava gigante?

– Me desculpa, Sayo!

Meu nome... Ele falou meu nome! Ele não se esqueceu de mim!

– Aoni... Você tá me sufocando...

Ele me soltou, mas o abracei de volta.

– Você lembrou! Você lembrou! Você não esqueceu de mim! Não tenho o que desculpar! Só por você se lembrar me deixa feliz!

Ele retribuiu o abraço.

Aoni

É... Dessa vez não esqueci... Eu não esqueci! Ha ha! Eu não esqueci da Sayo e ela está feliz! Achei que ela estaria triste por que a fiz chorar, mas ela não está. Eu até ia esquecer de novo,mas, naquela vez, mas quando a vi mal naquela situação, eu lembrei dela aí eu não queria esquecer mais.

De repente senti um cheiro familiar.

Kuro

Acabei indo para o terraço e vi o que aconteceu. Meu irmão se lembrou dela, nem posso acreditar nisso. Depois de todas as vezes, depois de todos os ciclos, ele se lembrou. Eu... Eu estou feliz.

De repente ele olhou pra mim:

– Nii-san!!

Não deu nem tempo para eu ter alguma reação, apareceram suas orelhas (aliás, estranhei não estarem visíveis antes) e ele foi pra cima de mim e me abraçou. Fazia um bom tempo que eu não ria por uma boa razão. Meu irmãozinho não teve uma crise ao me ver, ele se lembrou de mim de imediato.

– Me solta, caramba! Ha ha ha!

– Não! Eu te dei muito trabalho! Desculpa!

– Esquece!

– Nunca mais! Ha ha! - de repente ele ficou sério - E o Hideki?

Pude sentir o cheiro do humano, então o vi. Eu disse pra ele não vir aqui, porra.

Hideki

Sim, acabei indo mesmo assim. Sinceramente, eu até que queria que ele esquecesse pra não ficar mais com raiva de mim, mas claro que não dá pra fugir dos ciúmes dele...

– Eu não vim aqui pra causar confusão, foi mal. - falei - Além de tudo, fiz muita besteira, mesmo assim, Sayo prefere você e eu não vou fazer nada contra. Se não for problema pra você, podemos ser só amigos.

Aoni continuou sério pro uns segundos, mas depois suspirou e disse:

– Tá, tudo bem...

– Me desculpe pelo o que eu fiz.

– E eu por ter arranhado sua cara, aliás...

– Sim, fui eu, admito. - Kuro falou levantando as mãos e se referindo ao fato de ele ter curado o meu rosto.

– Ha ha ha! Tinha que ser. Ok - ele estendeu a mão pra mim - Trégua?

– Trégua.

Sim, devo arriscar dizer que dará para sermos amigos com o tempo. Eu já me conformo e deixarei Sayo com sua escolha, que é ele. O que devo fazer é simplesmente seguir em frente, como Sayo já me aconcelhou e é o que farei.

Sayo ligou pro seu irmão e falou tudo que aconteceu. Nunca a vi tão emplogada, pelo visto Aoni é sim a pessoa que ela quer, mesmo sendo um youkai...

Aoni (um tempo depois)

Nossa... Quanto tempo se passou desde o dia que acordei, porém não esqueci do passado? QUanto tempo se passou do dia que me magoei e essa mágoa me guiou para uma armadilha? Quanto tempo se passou desde que conheci ela? Aquele dia de chuva... Eu tentando me proteger abaixo de uma caçamba de lixo aí ela me encontrou...

Posso dizer que eu não tenho tido mais crises, deve ser do fato de que o ritual defeituoso foi desfeito e eu lembro de tudo. Eu consigo controlar minha mudança de forma, aí consigo parecer humano e então posso trabalhar, estudar, andar por aí, essas coisas. Shussan aparece por aqui de vez em quando, aliás, da última vez que ele passou disse que conseguiu colocar seu mangá no concurso de uma editora, tomara que ele granhe e consiga ser contratado.

Hideki, depois de um tempo (admito, comigo de olhos e com ""leve"" ciúme) ele começou a namorar uma garota que, se não me engano, faz jornalismo na facudade. Não é apenas por que ele estar gostando dela faça com que ele não ame mais a Sayo, e sim apenas como amiga (mentira, é por isso também) , mas realmente quero que eles deem certo. Já a conheci uma vez e ela parece gentiu. Ah! Não posso falar nisso, Sayo não gosta, ha ha! (e eu sou ciumento?)

Kuro... Ele anda com uma mania de estar "sumido no mundo", apesar de ele passsar muito por aqui. Acho que parte disso é orgulho, mas não o culpo por isso. Ele sempre foi assim, além disso, ele não gosta de ficar "segurando vela". Aliás... O que eu falo pode sorar esquisito, mas será que ele gosta daquela kitsune?

– Hey! Irmãozinho.

Meu foco voltou para o agora. Todo mundo se reuniu no arpartamento da Sayo hoje, apenas para fazer algo descontraído, assistir uns filmes e essas coisas. Eu estava no terraço olhando o movimento da rua e pensando em tudo que aconteceu nos últimos dias até Kuro aparecer e tirar-me do meu "transe".

– Ah! Oi, Kuro.

– Daqui a pouco vão e percebem sua sumida.

– Tou aqui pra pelo menos refletir um pouco. Sayo sabe que estou aqui.

– Hum... É meio estranho de repente ter um momento tranquilo assim, sem você sofrendo com as crises e eu ficando louco com isso e etc.

– É, huhu.

–Nem te perguntei isso antes, mas, o "quanto" você lembra?

– Desde que éramos dois filhotes que perdeu a mãe devorada por um lobo.

– Hu. E você como você fica podendo lembrar de tudo? Tudo que você fez?

– Eu sei que fiz muita coisa ruim, matei várias pessoas que eu não queria matar, mas... O importante é o eu de agora, não é? Focar no presente?

– De certo modo...

– Eu me esquecia por que eu queria esquecer pois estava com medo de sofrer, mas, depois de conhecer a Sayo, devo dizer que estando com ela, nada que aconteceu importa. Não se pode apagar o passado, eu sei, mas dá para viver o presente superando-o.

– É.

– Aliás, vou ser direto, você tá gostando da raposa?

– QUÊ?! Não, nada a ver... Tá achando isso só por que você tá com uma humana? Não viaja.

– Você não confirma ne nega, huhu.

– Vê se não espelha. E não tá rolano NADA! Só tou dizendo isso pra voc~e não fazer ninguém pensar besteira!

– OK, vou deixar quieto, haha!

– Ei. Você quer superar o passado e viver o presente, mas quanto ao futuro? Você pensa nele?

– Acho que pensar nele rola um certo nó na cabeça... Estou trabalhando para ajudar a Sayo, mas sei que cedo ou tarde os pais dela vão ter que saber de mim. Pode ser que eu consiga disfarçar, já que consigo agora controlar bem os meus poderes, aí consigo me manter humano tranquilamente; mas seu que pode ser complicado ou não... Tento não me preocupar tanto com o futuro, na verdade. Ás vezes isso faz a pessoa se questionar e acabar desistindo dos objetivos, huhu.

– Ok, respeito sua escolha. Só estou "levemente" preocupado por que ela vai envelhecer rápido comparado a você, a "nós".

– Pra mim isso não importa. Idependente do que aconteça, eu vou estar sempre junto dela e ela junto comigo, pois sou o gato dela, não é?

– É... É sim.

– Além disso, o natural é o gato envelhecer mais rápido que o humano, mesmo assim, o humano que ama não abandona o gato.

Sei que Kuro está levemente preocupado com isso tudo, mas não quero pensar nisso. Não que eu esteja fugindo da futuro, eu só quero aproveitar o agora, pois amo a Sayo e ela me ama. E só isso importa.

Esse arco da história pode ter chegado ao fim, mas, o que pode vir depois? o que o futuro espera? Deixo com você, caro leitor, os pensamentos sobre isso, pois, uma história pode acabar nas palavras, mas na mente do leitor ela continua.

B.B.N.