( Sentimentos de Sam Puckett )

Oh Deus... eu só posso estar ficando louca. Entrar num beco à noite depois de ter visto caras perigosos saindo dele e falar com um mendigo que eu nunca vi nada minha vida? E pior... convidá-lo para vir à minha casa? Estou começando a dar razão ao que a minha mãe sempre diz sobre eu não ser normal. E se esse tal Freddie, for algum assassino? Ai Sam! O que você fez, heim? Ah.. mas também, coitado... ele está todo machucado e sujo, fiquei com pena. Quer dizer... ele estava cuidando da Maggie, se ele fosse um cara tão mau assim, não cuidaria de um cachorro, ele provavelmente o machucaria até à morte.

Freddie: Estamos muito longe? - O ouvi perguntar de repente, me assustando.

Sam: Não... porque? - Perguntei receosa. Será que ele vai me fazer algum mal? Argh... pára com isso, Sam. Se fosse fazer algo, já teria feito.

Freddie: É que você está tremendo e está toda encolhida. - Ele disse apontando para minhas roupas. É, meu estado é lamentável, não tanto quanto o dele, mas se não chegarmos rápido vou ficar doente.

Sam: É que estou com um pouco de frio, mas só falta um quarteirão. - Falei, enquanto pegava Maggie no colo. Ela estava com os pêlos molhados e tremia como louca.

Freddie: Se aqueles idiotas não tivessem me roubado a mochila, eu teria um casaco pra te emprestar. - Comentou com uma careta. Olha... um mendigo cavalheiro, quem diria?

Sam: Oh... está tudo bem, não se preocupe. - Sorri e ele apenas sorriu de volta, deixando o silêncio retornar. Em parte era bom, já não me sentia mais com tanto medo, ele de um jeito estranho que eu não consigo mesmo entender, me passava confiança. Talvez por ele ter sido gentil até agora, ou talvez porque se ele realmente fosse me machucar, teria o feito assim que acordou, mas principalmente porque seus olhos estavam amedrontados, tinham um brilho triste e assustado. Notei que ele andava de um modo inquieto, olhando para todos os lados e pra trás várias vezes, como se tivesse medo que alguém estivesse nos seguindo ou escondido prontos para nos atacar. Um arrepio percorreu meu corpo e apertei Maggie em meus braços.

Graças à Deus, nossa caminhada logo chegou ao fim e suspirei aliviada quando pisamos na entrada do meu prédio. Nosso porteiro estava sentado em seu lugar, lendo um jornal. A mini televisão que ele sempre carrega consigo, estava ligada em cima do balcão, mas ele parecia não prestar atenção. Passei por ele, sem me preocupar com as boas maneiras e desejar-lhe boa noite. Na verdade ele nem me viu. Ainda bem, não queria que ele me interrogasse sobre o cara maltrapilho que estava comigo. Se ele souber que eu trouxe um mendigo aqui pro prédio é capaz de me expulsar daqui. Entramos no elevador e o silêncio ainda estava entre nós, só que agora começava a me incomodar um pouco.

Na verdade, o que me incomoda mais é a Cat, quando souber que eu trouxe um estranho para o nosso apartamento. Ela vai surtar... ou não, se eu mostrar Maggie primeiro, talvez ela nem note a presença de Freddie. Um barulho agudo e um pouco alto ecoou e logo as portas do elevador se abriram, suspirei e saí de lá, com Freddie logo atrás de mim.

Freddie: Ahn... acha...acha que sua amiga vai ficar brava por eu ter vindo? - Ele perguntou baixo.

Sam: Bom.. não é todo dia que eu trago um mendigo pra casa, então ela pode ficar assustada, mas é inofensiva. - Falei, enquanto tentava equilibrar Maggie em uma mão e com a outra achar as chaves do apartamento.

Freddie: Deixa que eu ajudo. - Ele disse pegando Maggie no colo, deixando minhas mãos livres. Tive a leve impressão de tê-lo visto rir, quando peguei minhas chaves que estão penduradas num chaveiro do bob esponja. Qual o problema com o Bob Esponja? Ele é divertido. Abri a porta e como sempre as luzes da sala estavam acesas, pois Cat tem medo de ficar sozinha no escuro então deixa as luzes da casa toda acesa para espantar coisas ruins.

Sam: Cat? - Chamei-a. Não obtive resposta. - Olha, entra e me espera aqui, ok? Eu vou ver onde ela está. - Eu falei, fechando a porta. Ele assentiu, enquanto acariciava Maggie. Subi as escadas rapidamente e entrei no quarto da Cat. Ela estava enrolada na toalha, revirando uma de suas gavetas. - Cat!! - Falei, quase gritando. Ela pulou, mas logo sorriu.

Cat: Heey!! - Falou com seu jeitinho meigo. - Você demorou muito hoje, onde estava? - Perguntou preocupada. Ela pegou um pijama rosa da Minnie e o vestiu.

Sam: Ahn... eu tive uns probleminhas no caminho pra cá e precisamos conversar. - Eu disse séria. Ela arrelagou os olhos e desligou seu rádio.

Cat: O que foi, Sammy? Aconteceu alguma coisa grave? - Ela perguntou, me chamando pelo apelido que eu mais odeio.

Sam: Não... ahn... na verdade, uma delas você vai até gostar, amar eu diria. - Disse me lembrando da cachorrinha.

Cat: Awn... você me comprou uma girafa? - Ela perguntou inocente e esperançosa. Uma girafa? E a minha mãe acha que eu sou louca.

Sam: Não! Como eu ia trazer uma girafa pra cá? E porque você ia querer uma?

Cat: Porque elas são lindas e amarelas.

Sam: Bom, não é uma girafa mas você também vai adorar. - Falei sorrindo.

Cat: E onde está?

Sam: Lá embaixo... mas antes eu...- Eu ia dizendo, porém antes que eu pudesse sequer terminar de falar, Cat passou por mim correndo toda eufórica, me deixando sozinha no quarto.

Lembrei-me que Freddie está lá embaixo e ela não sabe e corri, descendo as escadas o mais rápido que eu podia, porém não foi o suficiente. Logo ouvi um grito agudo, digno de filme de terror e tentei correr ainda mais. Cheguei na sala e minha amiga ruiva estava parada perto do sofá, olhando para Freddie que permanecia no mesmo lugar onde eu o havia deixado quando subi. Ele também parecia tão assustado quanto Cat e parecia me pedir ajuda com o olhar.

Cat: POR FAVOR... LEVE O QUE QUISER, MAS NÃO NOS MACHUQUE. - Ela disse, cobrindo os olhos com as mãos. Revirei os olhos e caminhei até ela, tirando suas mãos do rosto.

Sam: Cat... não se assuste. Freddie não vai fazer nada.

Cat: Você o conhece?

Sam: Mais ou menos... você não me deixou explicar lá em cima. - Eu disse. Andei até Freddie e peguei Maggie de suas mãos. - Encontrei a Maggie. - Falei mostrando a cachorrinha pra ela. Seus olhos mais uma vez saltaram e um enorme sorriso surgiu em seu rosto.

Cat: MAGGIE!!! - Ela disse abraçando-a com força. Pobre cadelinha. - EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ BEM. - Ela falou, enquanto recebia lambidas por todo seu rosto. - A tia Sammy disse que você provavelmente estava morta. - Ela disse me olhando feio.

Sam: Foi mal.

Cat: Como a encontrou? - Ela perguntou.

Sam: Bom... é uma longa história, então vou resumir. Estava voltando pra casa aí eu vi uns caras saindo de um beco e quando eles estavam bem longe eu passei por ali, aí ouvi um latido e resolvi entrar. - Disse calmamente.

Cat: Sammy!!! É perigoso demais... - Ela disse espantada.

Sam: Ta ta... já sei disso. - Respondi. - Continuando... aí eu encontrei ele caído no chão e desacordado. - Falei, apontando para o Freddie. - E enquanto eu tentava acordá-lo, a Maggie apareceu, eu a reconheci, aí ele acordou, conversamos um pouco, eu o chamei para passar a noite aqui e fim. - Falei rapidamente. Catherine ficou em silêncio, alternando olhares para ele e pra mim.

Cat: Então... ele é um mendigo?

Sam: Bom... sim! - Respondi, dando de ombros. Freddie nos observava, parecendo curioso. Ela suspirou, abaixando os ombros.

Cat: Ah, Sam... eu sei que você gosta de mendigos, mas precisa mesmo trazê-los pra casa? - Choramingou.

Sam: Cat! Você fala como se eu trouxesse muitos mendigos pra casa!

Cat: Desculpe! - Falou. - Eu vou dar um banho na Maggie. - Ela disse com um sorriso, logo depois virou as costas e subiu novamente com a cachorrinha em seus braços. Franzi a testa, confusa. Essa garota é doida, a mudança de humor dela me assusta mais do que a idéia de ter um mendigo sob o mesmo teto que eu. Me virei e vi que Freddie parecia tão confuso quanto eu.

Sam: Desculpa a minha amiga... ela é muito avoada. - Falei rindo. Ele sorriu.

Freddie: Tem certeza que eu posso ficar?

Sam: Claro... vem. Eu vou te mostrar onde fica o banheiro, pra você tomar um banho, fazer a barba ou sei la. - Eu disse, meio nervosa. Por sorte temos dois banheiros, um no andar de cima e outro no andar debaixo e como Cat resolveu dar banho na Maggie lá em cima. Peguei uma toalha limpa dentro do armário do banheiro e entreguei ao Freddie e logo saí de lá para deixá-lo a vontade. Subi para o quarto e procurei por uma roupa confortável e fui para o banheiro. Cat estava lá, dando banho na cachorrinha. Ela havia comprado até mesmo uma banheira de bebê para a cachorra.

Cat: Você deixou o mendigo sozinho, lá embaixo? - Perguntou.

Sam: Ele está tomando banho... fica calma.

Cat: Como posso ficar calma com um mendigo no nosso apartamento? E se ele for perigoso?

Sam: Se ele fosse perigoso, já teria nos amarrado, roubado tudo que temos de valor e ido embora. - Falei, me despindo.

Cat: Você pode estar certa... - Ela disse ensaboando a cadelinha.

Abri o chuveiro e deixei a água quente percorrer meu corpo, me deixando completamente relaxada. Catherine não parava de falar um só minuto sobre seu dia, mas eu não conseguia prestar atenção em nada, só o que eu queria era aproveitar meu banho quente e depois comer alguma coisa, porque estou faminta.

–---- 15 minutos depois -----

Ah, ótimo! Estou devidamente limpa e vestida para dormir, só falta comer alguma coisa. E claro, oferecer alguma coisa ao Freddie também, ele deve estar com fome. Saí do quarto deixando Cat lá, secando Maggie com um secador extremamente barulhento.

Desci as escadas e fui direto para a cozinha, mais especificamente para a geladeira, abrindo-a e tirando presunto, bacon, queijo, manteiga e suco. Coloquei tudo em cima da mesa e depois abri o armário e peguei um saco com torradas.

Freddie: Samantha? - Ouvi sua voz rouca e rapidamente me virei, derrubando o copo de suco no chão. Woooow! É ele mesmo?

Sam: Ahn.. Fre...Freddie! - Gaguejei, sem tirar os olhos deles.

Freddie: Tá tudo bem? - Ele perguntou, preocupado.

Sam: Tá...tá sim, claro. - Eu disse, saindo do meu transe e pegando o copo do chão. - É só que... você está diferente sem aquelas roupas sujas e de barba feita. - Eu disse meio atrapalhada. Diferente? Ele está é gostoso mesmo. Os cabelos castanhos molhados e bagunçados, o rosto livre daquela barba grosseira, deixando seu rosto lisinho e com ar de garoto. Ele usava a toalha que lhe dei, enrolada na cintura, deixando seu belo corpo à mostra. Meu Deus... não pode ser o mesmo cara que eu encontrei no beco. Na verdade, se não fosse o machucado que ele tem nos lábios e na sobrancelha, eu acharia que era outra pessoa.

Freddie: Ah sim... desculpe estar desse jeito na sua frente, mas eu não tenho roupas. As que eu tinha estavam na mochila que me roubaram. - Falou parecendo envergonhado.

Sam: Ah.. eu acho que tenho uma roupa de um amigo nosso para emprestar. Eu já volto. - Falei saindo da cozinha quase correndo e subindo até o meu quarto.

Abri o guarda-roupas e procurei em uma das gavetas uma roupa extra que o James deixou aqui, para emergencias. Assim que encontrei, desci indo para a cozinha novamente e encontrei Freddie limpando a bagunça que eu havia feito no chão com o suco.

Freddie: Você voltou. - Ele sorriu.

Sam: Sim... Obrigada, não precisava ter se incomodado em limpar. -Falei pegando o pano de suas mãos. - Aqui estão as roupas, acho que ficarão um pouquinho grandes, porque meu amigo é mais alto.

Freddie: Não tem problema... Obrigado! - Ele disse e em seguida virou as costas e saiu. Sentei e servi-me de suco e grandes tiras de bacon, depois passei manteiga nas torradas e as devorei rapidamente. Minutos depois, Freddie aparece na cozinha devidamente vestido e como eu imaginei, as roupas ficaram levemente maiores do que ele, mas nada exagerado. O convidei para comer e diferente do que eu imaginava, ele não parecia como os outros mendigos que certamente enfiariam tudo na boca sem nem ao menos sentir o gosto da comida, mas ele comia com educação, não falava de boca cheia e por incrivel que pareça, eu comi bem mais do que ele. Talvez ele esteja com vergonha e queira ser educado, por eu ser mulher ou sei la.

Ouvi alguns passos e logo Catherine apareceu na cozinha saltitante e sorridente, mas assim que viu Freddie, ela parou ficando séria.

Cat: Quem é ele?

Sam: O Freddie, quem mais seria?

Cat: Nossa... cade aquela barba estranha e aquelas roupas?

Sam: Ele tirou a barba e eu emprestei as roupas do James pra ele. - Expliquei. Ela o olhou novamente, parecendo impressionada. É... como não ficar diante dessa mudança com apenas um banho e uma barba feita?

Cat: Ahn... eu já volto. - Ela disse com um olhar estranho.

Sam: Aonde vai?

Cat: Ver se eu encontro um mendigo tão gato quanto esse pra mim. - Ela disse com um sorriso malicioso. Arregalei os olhos, surpresa com o que ela disse e olhei para Freddie que estava calado e extremamente vermelho. Seus olhos estavam abaixados, provavelmente morrendo de vergonha.

Sam: Cat!! Ficou doida? - Esbravejei, fazendo-a rir. - Freddie... não liga pra ela não. Falta um parafuso na cabeça dela. - Falei, tentando deixa-lo mais a vontade.

Freddie: Tudo bem... agradeço o elogio. - Ele falou olhando pra ela.

Cat: De nada... - Disse dando de ombros. - Bom, eu só vim pegar leite pra Maggie e vou dormir.

Sam: Ok... boa noite! - Falei, enquanto comia uma tira de bacon.

Cat: Boa noite pra vocês. - Falou, levando um pote cheio de leite. Freddie: Boa noite. - Murmurou, ainda parecendo bem constrangido. Continuamos comendo calmamente e conversamos por mais ou menos meia hora e depois ele me ajudou a guardar e limpar tudo. Eu subi até o meu quarto e peguei alguns cobertores e um travesseiro e os levei até a sala, para que Freddie pudesse dormir.

Sam: Olha... essa noite você terá que dormir no sofá. - Falei, arrumando um dos cobertores nele.

Freddie: Eu dormiria até mesmo no chão.

Sam: Bom, sinta-se sortudo. - Disse e sorri. - Boa noite, Freddie.

Freddie: Sam... - Ele me chamou e eu tive a leve impressão que ele ia pegar meu braço, mas vacilou.

Sam: O que?

Freddie: Você fez muito por mim essa noite. Obrigado! - Ele disse com um sorriso de lado que fez meu coração bater mais forte.

Sam: De nada... você pareceu ser uma boa pessoa. - Eu disse sem jeito.

Freddie: Boa noite, Samantha. - Desejou-me, aproximando-se devagar e me dando um beijo no rosto. Sorri e em seguida subi para o meu quarto, para enfim dormir. Tudo que eu preciso agora é de uma boa noite de sono.