Tiny heart escrita por Bilirrubina, Hannyh


Capítulo 1
O prelúdio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/455319/chapter/1

I know there's something wrong inside your heart

I should've cut my losses

Interrompi a música e guardei meu celular bolso da mochila. Respirei fundo mais uma vez e abracei forte o caderno ao olhar para aquela escola. Era o meu primeiro dia de aula no ensino médio. Era o meu primeiro dia de aula numa cidade nova. Era o meu primeiro dia de aula em que eu estaria cercada de desconhecidos. Não que eu fosse a pessoa mais popular da minha antiga escola, até pelo contrário, mas ao menos eu tinha meu seleto grupo de amigos, composto por Rafaela e eu. Bom, eu teria que ligar pra ela assim que eu saísse da escola, porém, antes disso eu teria que entrar, já que ficar parada em frente ao portão não contaria como “aula”. O sinal tocou e eu realmente tinha que entrar. Chegaria atrasada no primeiro dia de aula, mas que coisa legal... Só que não.

Alguns minutos depois e várias idas a lugares errados, finalmente achei a minha sala. Segundo a moça da secretaria, eu estaria na sala 103. Na minha antiga escola, essa era a turma de repetentes e bagunceiros. Suspirei, séria “ótimo” fazer parte de uma turma assim... Como se já ser “eu” não fosse o suficiente. Dei duas batidas na porta e esperei que alguém abrisse. Ninguém abriu. Como eu esperava que alguém fizesse isso com o barulho que tinha lá dentro?

– Boa, Catarina... – disse para mim mesma.

Encostei-me à parede e decidi esperar o professor chegar, não queria entrar sozinha naquela sala. Só que o destino estava contra mim, porque no momento em que peguei o celular para mandar uma mensagem, a porta foi subitamente aberta, o que me assustou um pouco. Apareceu um garoto mal encarado, de cabelos vermelhos. Ele me olhou e como se não tivesse me visto, saiu andando. Ele não estava com uniforme e pelo o que vi dos outros que saíram depois, apenas eu estava com uniforme. Será que a atendente daquela loja de uniformes me enganou? Não importava agora... Eu era mesmo a única a usar uma saia azul pregueada e uma blusa da mesma cor, com gola branca e um laço vermelho como gravata.

Parecia que todos já haviam saído. Entrei na sala e escolhi uma das carteiras que não tinha material perto das janelas e sentei. Peguei o celular e voltei a ouvir minha música.

Olhei para o pátio e vi as pessoas da sala. Parecia que todos já eram amigos. Até o ruivo não estava sozinho. Abaixei a cabeça e fechei os olhos. Ainda bem que eu não tinha esperanças de que as coisas mudariam para mim. Se não fosse pela Rafaela, eu teria ficado o tempo todo sozinha. Eu nunca fui de fazer amigos, sem contar que minha própria aparência afastava um pouco as pessoas. Minha pele muito clara, meus cabelos muito escuros e os olhos vermelhos assustavam. Parecia um fantasma, era o que sempre ouvia. Já estava acostumada.

Depois de um tempo, ouvi que estavam voltando à sala. O professor parecia mais perdido do que eu. Ele era um homem de meia idade, com cabelos castanhos desalinhados e óculos ligeiramente tortos. Ele se apresentou e como eu esperava, também era o primeiro dia dele na escola. Professor Faraize, de literatura e produção textual. E para minha surpresa, ele já foi passando um trabalho. Os outros alunos reclamaram, dizendo que era a primeira semana e tal. Porém ele foi irredutível.

– Vocês formarão trios e vão fazer um vídeo. – ele disse e a sala se alvoroçou – Esperem... O vídeo vai ser sobre o que vocês esperam das suas vidas daqui pra frente.

– Como assim, professor? – perguntou um cara sentado no fundo da sala, ao lado do ruivo.

– Quais os seus sonhos, suas metas, esse tipo coisa. – ele explicou – O que vocês esperam que o futuro reserva para vocês. Os três melhores vídeos serão exibidos no festival da escola.

– Calma aí, prof... – disse uma menina ruiva do meio da classe – Você vai passar essa tarefa pra todas as turmas?

– Sim. – ele sorriu ao responder.

– Ah... Prof, porque então você não deixa a gente fazer grupos maiores? Assim com certeza os resultados vão ser melhores e a 103 vai ter seu lugar no festival!

Os outros alunos riram dela. Ela nem ligou e continuou.

– Pense comigo... Se tiver mais gente, o resultado vai ser melhor, porque quanto mais cabeças pensantes, melhor o resultado. A gente vai discutir mais, vai ter mais ideias... E pelo o que entendi, você não quer simples entrevistas, né?

– Acertou em cheio, senhorita. – ele disse com um largo sorriso – Eu quero a tarefa em forma de um curta metragem e com isso vamos dar início a aula de hoje...

Enquanto ele falava, eu não pensava no que eu esperava para minha vida, porque disse eu já tinha certeza. Eu pensava em que tipo de grupo eu ficaria. Na minha antiga escola eu tinha Rafaela mas e agora? Eu não era boa em me enturmar e poderia acabar ficando um grupo ruim. Não que eu ligasse em fazer vídeos ou em minhas notas, o problema seria se as pessoas do grupo fossem do tipo “não faço nada” e o trabalho todo ficaria nas minhas costas.

A aula dele terminou e por ser a primeira semana, fomos liberados mais cedo. Eu não tinha prestado atenção em nada e se eu realmente ficasse num grupo desses... Isso seria terrível. Guardei minhas coisas e antes que eu me levantasse, um garoto loiro chegou perto de minha carteira. Se ele fosse me chamar para um grupo, pelo menos ele tinha uma cara responsável.

– Oi, eu sou Nathaniel, o repre... – ele se corrigiu – Eu era o representante ano passado e como tanto o ensino fundamental e médio da escola estão interligados...

Olhei para ele, com uma expressão “como se isso importasse muito pra mim”.

– Desculpa. – ele percebeu meus pensamentos – A diretora me pediu para te entregar e esse cadeado. É do seu armário. Se você apertar aqui, - ele me mostrou um pequeno botão perto dos números – você vai poder gravar uma nova sequência de números, assim, só você vai poder abrir seu armário.

– Obrigada. – disse ao pegar o cadeado – E qual é o meu armário?

– Venha, eu vou mostrar.

Peguei minhas coisas e fui atrás dele. Descemos alguns lances de escadas e ele parou em frente a um conjunto de armários perto da secretaria.

– Aqui está, o seu é esse de cima. – apontou para ele.

– Obrigada.

– De nada. – ele sorriu – E não se esqueça de pegar seus livros novos...

Ele deixou aquele fim de frase no ar, como se quisesse que eu completasse com alguma coisa. Olhei para ele, eu não entendi o que ele queria.

– Seu nome.

– Ah... – olhei para o chão – Catarina.

– Muito prazer e seja bem vinda ao Colégio Sweet Amoris.

– O-obrigada... – coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Quando eu levantei a cabeça ele já tinha saído. E eu esquecido de perguntar onde eu pegaria os livros. Ainda bem que estava perto da secretaria... Coloquei meu material ali dentro, ficando só com a mochila nas mãos. Agora eu era só fazer uma combinação nova para o cadeado e pegar os livros. Eu não esperava que por uma senha nova seria tão difícil!

– Pareceu fácil quando ele mostrou, não é?

Surpresa, olhei para quem falou comigo. Era a menina da minha sala, a ruiva que disse ao professor para os grupos serem maiores.

– É assim... – ela tomou o cadeado da minha mão e apertou o botãozinho, rodou os números algumas vezes e finalmente o cadeado abriu – Agora é só você colocar a sequência que você quer e fechar.

– Obrigada... – peguei o cadeado de volta.

Pus a sequência que queria e fechei meu armário. Ela continuava ali, olhando para mim com um sorrisinho no rosto. O que ela queria?

Cruzei meus braços, apoiei meu peso numa perna e disse:

– Você quer alguma coisa? – não queria soar tão agressiva, mas foi inútil.

Ela riu.

– Calma garota... Só queria saber se você já tem grupo.

– N-não... – olhei para o lado.

– Só falta uma pessoa no meu, quer fazer parte?

– S-sim. – continuei a olhar para o lado.

– Ótimo! – disse ao me dar um leve tapa no braço – Sou Íris, muito prazer.

– Catarina – respondi – M-muito prazer.

Ela olhou para o fim do corredor, com uma expressão curiosa.

– Depois te falo mais sobre o trabalho, agora tenho que ir. Até mais...

Ela saiu correndo e eu fui para a secretaria. Depois de guardar meus livros dentro do armário, fui para casa. Eu ainda não estava acostumada com as ruas daquela cidade, ainda bem que tinha um aplicativo de GPS no celular. Sem contar que a vista não era de se jogar fora... Era uma cidade praiana e como minha casa ficava numa colina, dava para ver o mar sempre que eu quisesse. Pelo menos alguma coisa boa veio com a mudança. Enquanto andava, mandei uma mensagem para Rafaela, e sem me dar conta, cheguei em casa.

Eu morava num pequeno prédio de três andares. Meu apartamento era no terceiro andar e por isso tinha que subir escadas. Meu corpo não estava acostumado com isso e quando finalmente acabei de subir, parei perto das escadas com as mãos nos joelhos. Respirei fundo e quando levantei a cabeça, vi que não estava sozinha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se tiver alguma palavra as.sim ou [i]assim[/i] é porque eu coloquei pra facilitar minha vida no AD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tiny heart" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.