A Guardian's Diary 2 - The rise of Jack Nightmare escrita por Lino Linadoon


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Sheila e a pequena garotinha pertencem a mim!
Já se passaram dois anos desde "A Guardian's Diary 1"

EDIT: 07/11/2022 - CAPÍTULO REESCRITO!



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Jack abriu seus olhos lentamente, sua visão borrada aos poucos voltando ao normal. Estava se sentindo cansado, incrivelmente cansado. Ele suspirou profundamente ao notar que flocos de neve caiam do céu, tocando seu rosto. E ele se surpreendeu ao sentir aqueles mesmo flocos que ele conhecia bem, não como ele os sentia normalmente, mas sim surpreendentemente frios.

Com um movimento rápido, ele se levantou, notando que estava sentado no meio da neve. Seu corpo tremia tanto que o jovem teve de se abraçar para tentar se aquecer, mas não conseguia entender como aquilo era possível. Ele deu uma olhada em volta, procurando seu cajado, mas este não estava em lugar algum. Examinando o que havia ao seu redor, Jack finalmente notou a grande formação à sua frente. Não era uma montanha de gelo, mas sim a oficina de Norte, a oficina do Papai Noel. Com movimentos lentos, como se suas juntas tivessem congelado, Jack se levantou, andando com passos cambaleantes até as grandes portas de madeira.

Ele atravessou as portas e usou o resto de suas energias para empurrá-las, fechando o frio lá fora. Ele suspirou, aliviado, sentindo o calor da oficina o envolver. E foi então que ele notou que havia algo de errado ali...

A oficina estava vazia, nenhum yeti, nenhum elfo, nenhuma alma viva em lugar algum, seja pintando, construindo ou arrumando brinquedos. Estava tudo incrivelmente quieto e vazio.

“Ola?” Jack chamou, e podia jurar que sua voz ecoou pelas paredes do grande casarão. “Tem alguém aí?” Nada. Por um momento ele quis voar, só para lembrar que seu cajado não estava em lugar nenhum. Ele caminhou pelos corredores, pelos salões, mas nada. Era estranho ver a oficina vazia, ele se sentia desconectado da realidade, aquele lugar não devia ser assim, ele devia ser sempre cheio de vida.

Desconfortável e nervoso, Jack correu para o salão do Globo, mas esse, assim como os demais, estava completamente vazio. E o pior, todas as luzes do Globo estavam apagadas. Não havia uma única luz, nem mesmo a de Jamie, e o Globo estava parado, como se alguém tivesse puxado o plug.

"Não... Não pode ser..." Jack sentiu sua respiração se apressar. Ele fechou os olhos e tentou se acalmar, tentando controlar sua respiração antes que acabasse hiperventilando. Nada de bom acontecia quando ele começava a hiperventilar. Mas não era como se as coisas já não estivessem ruim.

Uma vez tendo certeza de que estava sob controle de si mesmo, Jack começou a olhar em volta, procurando por todos os lados por alguém, ou algo. Ainda nada. Mas durante sua procura ele encontrou algo que ele sabia poder ajudá-lo a ir ao fundo do que estava acontecendo li. Em uma mesa perto, estava uma boa quantia de globos de neve. Jack pegou um dos globos, sussurrou seu destino e atirou o objeto no chão.

Ele atravessou o portal, se encontrando nos terraços coloridos do Palácio da Fada dos Dentes.

E, assim como quando tinha chegado na oficina de Norte, o silêncio do lugar mostrou que algo estava errado ali também.

"Denti? Fadinha?!" Jack gritou, olhando em volta. Se a oficina era agitada, o palácio era ainda mais. O som constante das milhares de asas de milhares de fadinhas se tornava um zumbido continuo entre as paredes de pedra que cercavam e protegiam o lugar. Mas agora tudo o que reinava era o silêncio. "Fada?!"

Ele correu pelas escadas, uma vez que estava incapaz de voar, mas não encontrou nada em nenhuma das torres. Ele correu até a torre mais próxima, olhando dentro dela, só para encontrá-las vazias.

"Os dentes..." Ele tremeu ao notar que nenhum cilindro dourado se encontrava por ali. "Sumiram..."

Jack conseguia sentir o nervosismo crescendo e ele se sentiu sem ar ao pensar em outro lugar e em outra pessoa.

Ele pegou outro globo do bolso e o atirou no chão.

Jack quase tropeçou na grama da Toca de Coelhão.

"Coelhão!" Ele gritou, correndo pela Toca, até que algo o fez parar. "O... O que...?" O córrego colorido havia perdido suas cores, nele fluía agora apenas água e nada mais; as tulipas mágicas eram tulipas normais; e os ovos sentinelas não passavam de estátuas, imóveis, inúteis. "Não, não... Coelhão!" Em desespero, Jack correu na direção do ninho de Coelhão, um ninho que ele agora dividia com o Pooka, que ficava em um canto mais escondido da Toca, em uma casa feita de pedra e ramos de plantas. "Ah... N-não..."

A casa não existia mais. Tudo o que havia ali era uma parede de pedra.

Jack sentiu suas pernas perdendo as forças, mas quase nem chegou a sentir a dor quando seus joelhos tocaram o chão, nem mesmo quando suas mãos fizeram o mesmo logo em seguida. Um grito estrangulado escapou por sua garganta apertada, como se ele tentasse falar alguma coisa que era incapaz de dizer. Seu peito doía, era como se alguém tivesse o esfaqueado. Ele podia sentir as lágrimas caindo e era incapaz de impedi-las.

Coelhão tinha sumido. Dentiana e Norte também. O que estava acontecendo? Onde eles estavam?!

Ele estava sozinho... Estava sozinho novamente...

Não! Ele não podia ficar sozinho novamente!

Com uma determinação nascida do desespero, Jack pegou outro globo, sabendo que só tinha mais um lugar em que olhar, um lugar sobre o qual ele tinha ouvido falar, mas nunca tinha visitado.

“Ilha das Areias Dormentes!” Jack não sussurrou dessa vez, sua voz esganiçada escapou de sua garganta com a mesma violência com a qual ele atirou o globo no chão.

Do outro lado do portal, o céu estava escuro e as nuvens cobriam a lua, mas as enormes dunas espiraladas de areia do sono serviam de iluminação o suficiente. O garoto correu até a duna principal aonde esperava encontrar Sandy, dormindo provavelmente, mas não havia ninguém ali, assim como em todos os outros lugares que ele havia visitado.

E Jack notou como as paredes de areia pareciam pouco estáveis, como se não houvesse areia o bastante para mantê-las de pé. Jack passou a mão por uma delas, retirando um punhado de areia e vendo como a parede demorou em se recompor.

De repente um som sibilante passou por seu ouvido, seguido por um vento frio.

“Quem está aí?” Jack chamou, se virando e olhando em volta. “Sandy?” Não ouve resposta, nem o tilintar leve que sempre se ouvia quando Sandy criava alguma imagem sobre sua cabeça. Novamente, algo passou por Jack, o fazendo virar na outra direção. "Quem está aí?" E de repente uma mão fria empurrou o garoto para trás.

Jack sentiu o chão sumir em baixo de seus pés e gritou. Ele não sabia o que estava acontecendo, não sabia de onde e para onde estava caindo, tudo o que sabia era que não podia voar para se salvar. Ele sentiu frio o envolver violentamente e ao abrir os olhos, se encontrou no único lugar que menos desejava estar.

Estava em baixo da água, afundando em água fria, exatamente como tinha afundado quinhentos anos atrás. Seu corpo se moveu sem ele sequer perceber, sua boca se abriu em um grito de ajuda, ignorando em seu pânico o fato de que fazendo aquilo ele se afogaria mais rápido. Ele bateu as pernas e os braços, sem saber se estava fazendo progresso ou piorando a situação. Ele nem conseguia saber para onde era a superfície e para onde era o fundo!

De repente, o frio sumiu, assim como a água. Jack se levantou, arfando, seus pulmões doloridos pedindo por ar.

Demorou para o rapaz notar que não estava mais nem na ilha de Sandy, nem dentro da água.

Estava em Burgress, sentado próximo às estátuas de fundação da cidade.

Jack olhou em volta e respirou fundo uma, duas vezes. A cidade parecia normal, perfeitamente normal. Jack se levantou, ignorando o cambaleio de suas penas, decidido a encontrar alguém, um rosto amigo, naquele lugar. Ele não precisou procurar muito, encontrando um jovem Jamie, agora com 15 anos, parado na frente de uma das lojas da cidade, com as mãos enfiadas nos bolsos e uma cara emburrada.

“Jamie!” O moreno olhou em volta procurando quem havia o chamado e enfim voltou os olhos para Jack que vinha em sua direção. “Ei, Jamie! Como vai?”

“Ah... Eu vou bem... Mas...” Jamie examinou Jack de cima abaixo com uma sobrancelha arqueada. “Eu conheço você?”

Jack piscou uma ou duas vezes, demorando em processar aquelas palavras.

“Jamie, sou eu, Jack Frost!” Ele disse com um sorriso, embora esse fosse difícil de manter com o nervosismo começando a tomar conta.

“Desculpa, mas eu nunca te vi na vida.” Jamie deu de ombros com um sorriso pequeno, como se esperando que aquilo fosse o bastante.

“N-não...” Jack sentiu aquele mesmo desespero de antes subir-lhe a garganta. “Mas... Jamie, você não se lembra de mim? Não se lembra de quando fiz nevar no seu quarto?”

“Nevar?” O moreno falou aquela palavra como se nunca tivesse a pronunciado antes. “O que é neve?”

Jack sentiu como se o mundo tivesse caído de cabeça pra baixo.

“C-como assim ‘o que é neve’?! São... Aqueles flocos brancos e gelados que caem do céu.” Ele explicou notando que estava incapaz de criar bolas de neve para mostrar sobre o que ele falava. Seu cajado havia sumido, seus poderes haviam sumido, o que tinha acontecido com ele? Ele mal conseguia compreender o fato de que Jamie não o conhecia e que nem sabia o que era neve... Talvez nem conhecesse... “Mas... Você conhece o coelho da Páscoa, não? E o Papai Noel, a Fada dos dentes, Sandman...”

“Do que diabos você está falando?” Jack notou como o garoto pareceu se afastar um pouco e sentiu seu coração se partir com aquilo. Mas antes que qualquer um dos dois pudesse fazer ou falar alguma coisa mais, outra pessoa abrindo a porta da loja, os interrompeu. “Ah, Sophie! Até que enfim! Porque demorou tanto?!”

“Eu só estava pegando o caderno, relaxa.” Sophie revirou os olhos e se voltou para Jack, o estudando com os olhos assim como seu irmão havia feito. “Amigo seu?”

“Eh... Não...” Jamie agarrou a mão da irmã mais nova. “Vamos, Sophie." E, puxando Sophie, ele se afastou, como que com medo de Jack.

Aquilo não estava certo, nem um pouco certo. Como Jamie não podia conhecer nenhum dos guardiões? Como ele podia não conhecer sequer o que era neve?! Jack pensou, embora aquele sentimento de desespero atrapalhasse seus pensamentos. E se não fosse só Jamie que não conhecia os guardiões, mas todo o mundo? Os outros teriam sumido por causa disso? Mas então porque ele não tinha sumido também?

Não... Isso é um pesadelo, só pode!, E logo pensou naquilo, Jack notou o quanto poderia estar certo.

“Jamie! Ei, espere!” Jack correu até Jamie, quase caindo ao lembrar que não podia mais flutuar.

“Olha, nem devíamos estar falando com você.” Jamie retrucou, sem parar de andar até que o garoto de cabelos brancos se colocou à sua frente.

“Só uma última pergunta...” Jack suspirou quando o outro pareceu aceitar aquilo. “Você conhece o Bicho-Papão?”

No mesmo instante o sangue pareceu sumir do rosto de Jamie, assim como o de Sophie.

“Vamos, Sophie!” Jamie apertou a mão de sua irmã e a puxou rapidamente, empurrando Jack para fora do caminho com uma cotovelada. Jack observou enquanto os irmãos apressavam o passo.

Jack não pensou duas vezes. Ele pegou o último globo de neve que tinha no bolso e o atirou com força no chão. Em instantes, ele estava naquele mesmo lugar frio e obscuro que tinha visitado sete anos atrás, o covil de Breu. Ele caminhou com passos decididos e pesados por entre as sombras, mas não precisou ir longe para encontrar o dono daquela escuridão.

“Breu!” O Rei dos Pesadelos se voltou para Jack e o rapaz se calou antes de continuar.

Breu não estava sozinho. Ao lado dele, quase escondida da visão de Jack, estava uma mulher; ela era baixa comparada ao outro, usava vestes igualmente negras, mas sua pele tinha um tom claro cor de pêssego que contrastava com seus cabelos longos e escuros. Mas quem realmente fez a cabeça de Jack girar foi a pequena criança nos braços de Breu; parecia ter menos de um ano de idade, sua pele era cinza e os olhos eram dourados-prateados, assim como os de quem a segurava, e seus cabelos eram marrons como os da mulher.

“Quem...?” Breu examinou Jack da cabeça aos pés com uma expressão confusa. “Como esse garoto conseguiu entrar aqui?”

Ouvir a voz do Rei dos Pesadelos foi o bastante para tirar Jack de seu estupor surpreso.

“Nada de brincadeiras, Breu!” Jack sibilou, por entre os dentes cerrados. Ele se aproximou do outro com passos decididos, momentaneamente se esquecendo de que não tinha poderes para se defender. . “Seja lá o que você tenha ou esteja fazendo, ponha um fim! Faça com que as crianças voltem a acreditar nos Guardiões!”

“Guardiões?” Breu soltou uma risada baixa e quase nervosa. “Nem sei de quem está falando. Mas, antes de tudo...” Ele entregou a pequena criança para a mulher ao seu lado. “Poderia me dizer quem você pensa que é para falar comigo, assim?”

“Jack Frost!” O medo havia sido substituído por raiva. “E não tenho nem um pouco de medo de você, sabe disso!”

Mas antes que Breu pudesse responder, ele parou ao sentir uma mão em seu braço.

“Breu, você tem tanto a fazer.” A mulher disse com um tom de voz calmo e doce. “Deixe que eu cuido de nosso... Convidado.”

Breu olhou da mulher para Jack e então concordou.

“Muito bem, Sheila.” Disse pegando a garotinha no colo novamente. “Foi um prazer, Jack Frost. Seja lá quem você for...” E deu as costas para o garoto de cabelos brancos, sumindo no meio das sombras. Jack podia jurar que ouvira a garotinha falando algo como “papa”.

Sheila se aproximou de Jack, seu olhar sereno enquanto examinava o garoto. Um silêncio estranho tomou o ar entre os dois.

“Não adianta mencionar seu nome, Jack.” A mulher disse enfim. “Breu não sabe quem você é. Ninguém mais sabe.”

“Você não me conhece pelo jeito?” Jack perguntou com uma sobrancelha erguida.

“Eu sou um caso a parte.” Sheila deu de ombros.

“Você sabe muito bem o que está acontecendo aqui, não é?!” Jack não queria enrolar.

“Sim.” Disse ela sem parecer se importar com o tom do rapaz. “Você não passa de um garoto perdido que de algum modo conseguiu entrar no covil do Bicho-Papão.”

“O que diabos o Breu fez?!” Jack enfim explodiu. “O que ele fez com os outros guardiões?!”

“Jack...” Sheila balançou a cabeça calmamente, como uma mãe tentando ensinar algo para o filho. “Os guardiões não existem. Nunca existiram.” Jack congelou ao ouvir aquelas palavras. A expressão nos olhos da mulher ficou ainda mais gentil, quase como se ela tivesse dó do rapaz. “Assim como Jack Frost nunca existiu.”

“O-o que...?” Jack sentiu seu estômago cair ao ouvir aquilo.

“Você nunca caiu naquele rio nem ganhou seus poderes. Você nunca foi um guardião...” Sheila se aproximou do menor com um olhar que parecia tristonho. “Aquilo não passou de uma ilusão... Estava tudo em sua cabeça.”

“N-não...” Jack não queria acreditar naquilo. “Não pode ser...” Ele segurou lágrimas enquanto pensava em seus amigos, em sua nova família. Pensou em Coelhão... Não podia, ele não queria acreditar naquilo. “Não... Você está mentindo...!" Ele gritou para a mulher que não pareceu nada abalada, seu olhar simplesmente mostrava ainda mais dor. Aquela visão fez o rapaz cambalear, suas forças sumindo aos poucos. "Eu não posso ficar sozinho agora...”

Ao ouvir aquilo Sheila passou os braços em volta de Jack, o surpreendendo, mas seu abraço era caloroso e doce, como o de uma boa mãe.

“Ora, querido, você não precisa ficar sozinho.” Disse. “Agora que você não está mais preso àquela ilusão, pode recomeçar sua vida! Mas...” Ela passou os dedos pelos cabelos brancos do garoto em seus braços. “Se não tiver um lugar para ficar... Pode ficar aqui conosco.”

Sheila se afastou para ver melhor o garoto e sorriu. Os cabelos brancos cor de neve de Jack começaram a escurecer, da raiz às pontas, tomando uma coloração negra, e seus olhos, já não mais tristonhos, cintilavam vermelhos cor de sangue.

“Por mim tudo bem...” O rapaz disse simplesmente, como se tivesse perdido todas as energias.

“Bem vindo à família, Jack Nightmare.”


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Notas finais do capítulo

Eu meio que me senti obrigado a postar logo... ^^'
Um Headcanon meu... Jack tem medo de entrar na água, principalmente fria ou muito funda, por causa do que aconteceu com ele...