28/07/XX

O dia que ela se declarou.

...Ou quase.

Ok, ela não podia continuar com aquilo.

Primeiro, porque não era a coisa certa a fazer e segundo, porque estava ficando ridículo.

Quer dizer, ela se escondeu no meio das bolas de basquete quando ele passou pelo ginásio e depois conseguiu despitá-lo se escondendo no meio dos arbustos do jardim da escola.

Sorte que a cor do cabelo dela era parecido com o das flores.

...Argh, o que ela estava fazendo...

A jovem suspirou pesadamente enquanto estava na biblioteca da escola e olhou para a capa de um dos livros que pegara, sem prestar atenção, para ler.

Era um romance.

Ah, o destino só podia estar de brincadeira com a cara dela!

Ela devolveu o livro com força de volta para a prateleira e bufou. Deu meia volta e saiu tempestuosa biblioteca a fora, como já era de tarde e os alunos já haviam ido para casa, a escola estava deserta.

O que era ótimo.

Por que se ela fosse para casa, com certeza encontraria o moreno em questão. E por mais que quisesse resolver as coisas, ela não tinha ideia do que fazer. Por isso, achou melhor evitá-lo até que a sua mente formulasse algo.

Pena que Gold não pensava da mesma forma.

Já que ela o encontrou esperando pela mesma no meio do corredor.

–A-Ah. Isso é ruim, muito, muito ruim. Eu ainda não estou pronta para falar com ele. – Ela pensou, desesperada. – Já sei. Ele ainda não deve ter me visto, então vou dar meia volta e...

–Yo, Crys.

–...Droga!

–O- oi, Gold. – Ela cumprimentou de volta, se virando para encarar o jovem e esperando que ele tivesse aquele mesmo sorriso de sempre.

Mas ele não tinha. Gold estava sério. Muito sério.

Ok, tinha alguma coisa errada.

–Quanto tempo. – O moreno comentou ao ficar de frente para ela.

–Pois é... – Concordou, tendo seu nervosismo substituído pela confusão da troca de personalidade repentina do seu amigo.

Porém, ele logo voltou quando ela percebeu que olhos dourados a encaravam firmemente.

–B- Bom, já tá tarde e eu tenho que ir.

–Ah, eu vou com você.

Epa! Péssima ideia!

–Pensando bem! – Ela exclamou. – Eu lembrei que eu tenho algo para fazer na er... Na... Na biblioteca!

–... Você acabou de sair da biblioteca, Crys.

–Eu não terminei de fazer o que estava fazendo, ué. – A jovem de cabelos azuis escuros começou a suar frio.

Silêncio. O jovem estreitou os olhos.

–Ei. Por acaso, você tá me evitando?

Bingo!!

– Q- Quê? Eu? Não... – E virou o rosto, em uma tentativa de disfarçar. O que, obviamente, não deu certo porque a Crystal era horrível nisso.

Gold deu um passo mais para perto dela.

–Ah, é mesmo? Eu tenho tempo, posso ir à biblioteca com você?

–N- Não...

–Por que não?

Ela bufou.

–Aaah, porque não. – E saiu andando no sentido contrário, mas foi interceptada pela perna do Gold...

Isso mesmo, perna.

Já que o garoto estava com ambas as mãos no bolso e afastado, apoiou o pé na parede bem na hora que ela ia passar.

–... E onde é que você vai?

Uma veia saltou na testa da morena.

–... B- Biblioteca.

–Ela fica do outro lado.

... Ah, fala sério.

Antes que ela pudesse pensar em alguma desculpa ou que pudesse fugir, já que ele tirara o pé da parede, o moreno rapidamente a impediu, aproximando-se e colocando o braço na frente dela, prendendo Crystal entre a parede e ele.

A garota sentiu seu pulso acelerar e a cor do seu rosto não devia estar diferente da cor de um pimentão.

Ainda mais com os olhos dourados dele fixos nos cristalinos dela.

–Sabe, Crys... Eu não gosto disso. – Ele começou.

A garota apenas o olhou, esperando que continuasse.

–Não gosto de você se distanciando de mim. – E apoiou a cabeça no ombro dela. – Também não gosto quando você não me dá atenção.

Está certo, ele parecia uma criança mimada. Mas dê um desconto, vai?

Eles se conheciam desde bem pequenos e continuaram juntos até agora. Não importasse o quanto brigassem, o quanto ele a irritasse e ela dissesse que não queria vê-lo nunca mais, ou o quanto mais e mais pessoas eles conhecessem. Ainda eram eles dois, sempre juntos.

Gold gostava da presença dela, sempre gostara. E queria que ela ficasse com ele para que a sensação boa que ele tinha quando Crystal estava do lado dele não sumisse.

Mas, nos dias passados, ela começou a se distanciar dele. Está certo que ele mesmo já se distanciou certas vezes, mas ele sempre voltava.

Só que ela não parecia estar voltando ou tendo intenção de voltar. E isso o chateava.

A garota era um cristal que ele encontrara aos seis anos de idade e, definitivamente, não queria perdê-lo de maneira alguma.

–... Você é muito mimado. – Falou em tom baixo, tentando se acalmar por causa da proximidade.

–Talvez eu seja. – E suspirou sem sair do lugar. – Mas é verdade.

O coração da garota se apertou. O Gold podia tirá-la do sério ás vezes, mas ele ainda era um amigo querido para ela. Ela havia sido bem egoísta nesses últimos dias.

Já que o jovem ainda mantinha a cabeça no ombro dela, Crystal tomou a liberdade de afagar seus cabelos negros.

–Desculpa. – Ela falou. – É que...

–Hm?

–Digamos que... Esses últimos dias tem sido difíceis para mim.

Ele levantou a cabeça.

–O que aconteceu?

Ela respirou fundo.

–Certas... Coisas...

–Tipo?

Ela olhou para ele, ponderou se devia dizer logo de uma vez ou deixar para lá e nunca mais tocar no assunto.

–Er... Gold.

–Quê?

–Alguma garota já se declarou para você?

–Já. – Respondeu sem cerimônia. – Várias vezes.

...

–Várias vezes?

–Sim, bastante até.

A morena sentiu outra veia saltar em sua testa e resistiu a tentação de dar um soco na cara do amigo.

–Ah... Sei. – Falou. – Eu já devia ter imaginado...

–Mas eu nunca aceitei nenhuma.

Eh?

–Sério? – Ela arqueou uma sobrancelha.

–Sério... Por que essa cara?

–Porque você é um mulherengo.

–Eeei! – Ele exclamou, mas sabia que era verdade por isso não tentou negar. – Para sua informação, eu já gosto de uma garota em particular.

A frase fez com que a expressão de Crystal quebrasse e uma sensação muito desagradável tomasse conta do seu peito, devorando o calor confortável que sentia.

–... Sei. – Que ótimo! Apaixonara-se por um garoto que já gostava de alguém! O Destino gostava de brincar com ela.

–Mas eu nunca falei nada para ela por que eu sei que ela não gosta de mim desse jeito. – Continuou.

–... Você já tentou perguntar para ela? – Perguntou a jovem, mesmo que a ideia a deixasse triste. Se Gold já gostava de alguém, ela não podia fazer nada. Porque se ela o amasse de verdade, gostaria de vê-lo feliz e isso deveria bastar.

Mas como doía.

–Bem, se eu falasse, ela provavelmente me daria um chute.

–Um chute? – Ela piscou.

–É. – Ele assentiu. – E diria que eu estou mentindo.

A dona dos olhos cristalinos apoiou um dedo no queixo, curiosa de verdade.

–Mas que garota faria isso com você além de mim? – Ela pensou em voz alta. – Mas esse não deve ser o caso já que eu gosto de você, mas você não deve sentir o mesmo.

E continuou a monologar seu raciocínio, sem perceber que falara em voz alta.

Gold no entanto, a ouvira muito bem.

E piscou incrédulo para ela que nem percebeu.

Logo depois um sorriso tomou conta de seus lábios e ele começou a rir. A morena parou de falar ao ouvir a risada dele e o encarou.

–Falei algo engraçado?

O jovem parou de rir por um momento e olhou para ela com os brilhantes olhos dourados que reluziam com um brilho diferente, ela notou e tombou a cabeça para o lado, confusa.

Só que antes que ela pudesse perguntar o que raios havia de errado com ele, Gold correu até ela e a abraçou pela cintura, levantando-a do chão e escondendo seu rosto no espaço abaixo do pescoço dela. A garota sentiu suas bochechas queimarem e seu coração parar por um segundo.

–G- Gold!

O moreno apenas ria enquanto ainda a abraçava e a girava no ar. Quando parou, ela ainda podia o ouvir rindo o que a fez ter vontade de rir também, mas não o fez por estar confusa.

Quando os risos diminuíram e ele olhou para ela, ainda a segurando do mesmo jeito.

–Vou te contar, hein. Essa foi uma declaração muito esquisita. – Ele riu mais um pouco. – Mas acho que combina com você, Crys.

Mas hein? Declaração? Quando?

Espera...

–Ai meu Arceus! – Ela exclamou quando a ficha finalmente caiu. Tentou encontrar um lugar para esconder a cara, mas sem sucesso.

O jovem riu mais. Ela estranhou um pouco aquela felicidade, até a outra ficha cair na cabeça dela.

–... Sou eu, não sou?

–Sim, Garota Séria. – Ele assentiu. – É você.

E ela suspirou.

–Ah, tá bom. Isso foi cansativo.

–Então hein. – Ele arqueou as sobrancelhas e sorriu de canto. – Você ficou me evitando todos esses dias só porque não sabia como se declarar? Heh, até que é bonitinho.

–Continua brincando que eu te dou chute. – Ameaçou.

–Ei, ei. Calma. – Ele riu.

–Foi... Bem, complicado, tá bom?

–Eu sou complicado.

E levou um tapa na testa.

–Cala a boca, seu idiota. – Murmurou, corada.

–Certo, certo. – Então fez uma expressão como se lembrasse de algo. – Ah! Falta uma coisa!

–Hein? O qu...

Antes que Crystal tivesse a chance de terminar de falar, Gold afrouxou o abraço para que ela escorregasse e ficasse na altura dele. E ainda a abraçando, impediu que ela falasse qualquer coisa mesmo, já que juntou os seus lábios aos dela.

Eram macios e quentes, como ele costumava imaginar desde o que dia finalmente se dera conta do que sentia por ela. Nos primeiros segundos, a garota ficou parada e sem saber o que fazer, mas não demorou muito para derreter sob o toque dele, envolvendo o pescoço do mesmo com seus braços.

Toda vez que ela se afastava para respirar, o moreno só esperava alguns segundos antes de voltar a desfrutar do doce toque dos lábios dela. E assim continuou mais duas, três, talvez quatro vezes... Não estavam contando.

Eles não precisavam. Tinham todos os outros dias de suas vidas pela frente ainda para compartilhar de mais momentos como esse, para mais brigas, para mais situações difíceis, para mais lembranças tanto divertidas quanto estranhas e o que mais os aguardasse.

Como o destino havia escrito desde o dia que se conheceram, naquela tarde de janeiro.