19/01/XX

O dia que ela o encontrou pela primeira vez.

Ela segurou a barra da saia e engoliu em seco. Na sua frente estava o parquinho do seu bairro na cidade de Floraroma, onde todas as crianças se reuniam e se juntavam aos seus amigos para se divertir nos balanços, na gangorra ou no escorregador.

Com seus amigos.

Coisa que ela não tinha. Ainda.

Ela respirou fundo e se dirigiu até a caixa de areia que tinha perto dos gira-giras, sentou na areia fofa e começou a montar sozinha o seu castelo de areia ou o que quer que viesse a mente.

Seu nome era Crystal, assim como seus olhos. Ela era a garota nova da vizinhança e ainda não tinha tido a chance de conversar com as outras crianças da sua idade. Sua mãe, por estar sempre trabalhando, a havia deixado aos cuidados da sua amiga, a dona de um orfanato.

E apesar de adorar as crianças de lá e não se importar de ajudar a cuidar delas, a amiga de sua mãe havia insistido em levá-la ao parquinho para fazer amizades.

O que não estava dando muito certo. No momento.

Crystal balançou a cabeça e cerrou os punhos. Era só dar tempo ao tempo, não era como se ela fosse ficar sozinha para sempre, certo? Daqui a pouco alguém viria chamá-la para brincar ou se fosse o caso, a própria iria perguntar se podia fazer parte da brincadeira.

Isso mesmo, nada a temer. Ela não ia ficar sozinha.

De fato.

No exato segundo seguinte a ela ter terminado de montar seu castelinho de areia, uma cabeça preta foi de encontro a ele, desmanchando a frágil construção.

—KYAAAAH! – E claro, assustando a pobre garota que deu um pulo para trás.

O individuo cuja cabeça ainda estava afundada na areia só começou a se mexer alguns segundos depois, ele se apoiou nas duas mãos e levantou a cabeça de repente, tossindo os quilos de areia que devia ter engolido na queda.

Ele olhou na direção dela e olhos dourados como ouro encontraram os cristalinos da garota. Ele sorriu com a areia caindo do cabelo negro dele.

—Ehe, foi mal.