Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 35
O celular tocou, mas e depois?




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Dessa vez provavelmente os jornais não poderiam culpar Xupa Cabrinha de ter matado Mormada Sparrow.

Na realidade ninguém sabia das causas da morte, mas pela janela quebrada era meio que um fato que alguém havia invadido lá. O local também estava bastante bagunçado, como se a vítima tivesse tentado resistir e o assassino deslocara os móveis para atingir o alvo. Meu deus, Mormada e o presidente, num mesmo mês.

O que estava acontecendo de fato ninguém sabia, mas precisavam encontrar alguém para culpar – não importava quem era. A polícia examinava o local de forma bastante peculiar. Dois peritos estavam dando voltas e voltas na cena do crime e não encontraram nenhuma arma. Também não havia marcas digitais nos móveis, além dos dígitos da vítima. Quem que tivesse feito esse trabalho era de fato um profissional. Não havia sido qualquer um que tinha entrado ali e matado Mormada. E, como qualquer caso de assassinato de aluguel, ninguém poderia ser acusado.

Um dos policiais analisava a grande rachadura na janela. Na realidade o prédio era um daqueles que as paredes eram feitas de alguma espécie de vidro para que os moradores pudessem observar a vista, felizes pensando que estivessem em algum hotel de luxo, mas era mesmo um hotel de luxo. Mormada era um homem importante, pai de um presidente e um dos maiores economistas dos últimos 50 anos. A vista era o trânsito infernal de Fantasy, para quem olhava por ali realmente parecia um belo cenário. O perito procurava saber como que alguém tinha entrado ali, não estava no primeiro ou no segundo andar. Estavam no décimo-quarto andar e qualquer suposição de que o assassino tinha escalado o prédio era além dos limites humanos. Mas o perito já havia lidado com muitas coisas do tipo e nunca de fato havia conseguido uma resposta para a maioria dos casos parecidos com esse.

— Parece que foi mais um caso coringa.

— Mas precisamos de uma resolução para isso. Não podemos sair daqui abanando as mãos para o mundo. Essa morte vai mudar muita coisa.

— Isso é óbvio, mas não podemos sair acusando as pessoas.

— Se Xupa Cabrinha foi acusado, por que não novamente qualquer um?

O perito que observava a janela virou para olhar seriamente para o rosto do outro. Tinha trabalhado no caso do assassinato do presidente também e não gostava dessas pessoas que diziam que “não, Xupa Cabrinha não matou o presidente, isso é invenção”. Olhou nos olhos do seu companheiro de trabalho e percebeu que ele era apenas um babaca. Por que o colocavam para trabalhar com esse tipo de babaca? A organização de Pesquisa de Assassinatos nunca foi muito legal com as pessoas que ele tinha que trabalhar.

— Havia provas de que Xupa Cabrinha matou o presidente – insistiu.

— Eu não sei de provas algumas. Eu revi o caso, você pode me dizer o que aconteceu. Estamos sozinhos, afinal.
— Eu não sei que documentos você acessou, mas provavelmente eles não estavam completamente concretos. Documentos de casos como o assassinato de um presidente não estão abertos para aqueles que não estavam relacionados com o caso. É informação confidencial, amigo, nada pode ser revelado assim. Jogar informação pelos ares como as que são escritas nesses documentos é como suicídio.

— As pessoas precisam saber disso.

É, era só mais um moralista de merda. Provavelmente ele pensava que a democracia era a ferramenta que o povo tinha para poder mudar o mundo e que isso funcionava desde a Grécia Antiga. A vovó devia dizer-lhe que eram apenas histórias de faz de conta, talvez – pensou.

— Muitas coisas – ele suspirou voltando a olhar para a rachadura – as pessoas não sabem.

E o papo morreu por aí. O perito continuou a examinar a rachadura e pensou em olhar um pouco mais a fundo. Estavam no décimo-quarto andar e óbvio que tinha medo de olhar para baixo, mas o fez e nada demais aconteceu. Olhou para os lados e não havia prédios maiores que esse pela região. Não havia a possibilidade de algum assassino ninja ter pulado de outro prédio pelas redondezas.

A mídia ia dar uma importância vagabunda para o caso e iria criar muitas hipóteses, nada que fosse contra o maior amigo da mídia – o governo -, mas seriam hipóteses bem loucas e o perito já podia imaginá-las. Anotou uma série de sentenças no seu bloquinho de notas e guardou-o no bolso de sua jaqueta de couro.

— Eu quero analisar o andar debaixo e o de cima.

— Um outro grupo já analisou e não há nada que possa dizer que o assassino tenha vindo de lá pela tangência do prédio. E as câmeras não mostravam nenhuma informação de alguém entrando ou saindo desse apartamento há dias.

— Então o velho podia estar morto aqui há muito tempo.

— É uma hipótese, mas eu não acho que isso venha a calhar. Teríamos que interrogar os parentes próximos e o serviço de quarto. E não podemos ter certeza que são os mesmos funcionários... E isso daria muita dor de cabeça.

— Não me importo, eu quero fazer isso. Preciso desse resultado, você não sabe o número de casos que eu já encontrei na minha vida profissional parecidos com esse. E eram pessoas normais, agora um caso desses com uma pessoa importante?

— Parecido com o caso do presidente Sparrow, não é?

O perito virou novamente e encarou o seu colega de trabalho. – Olha, - disse friamente – por que você não vai lá fora fumar um cigarro enquanto eu raciocino de verdade aqui? Eu deixo.

— Tudo bem.

Muita coisa estava entrando em questão naquele caso e Hand McCartin tinha que encontrar uma solução. Agora que não tinha na visão aquele companheiro esquerdista boboca, decidiu voltar a olhar o cenário. Nenhuma novidade. Havia dado umas voltas no apartamento antes e tinha encontrado as mesmas coisas. Talvez Hand tivesse que olhar alguns documentos desse velho. O testamento, talvez, as pessoas matam por dinheiro, não matam? Se não matassem não existiriam assassinos de alugueis.

Meu deus o homem que fez esse trabalho deve ter ganhado uma grana muito legal. Era um trabalho de mestre, quase sobre-humano. Não havia um registro sequer de movimentação pelo local além dos móveis fora de lugar. Talvez Mormada gostasse dos móveis nessa posição, ou ele mesmo tinha os empurrado para defender-se do assassino ou algo assim. Hand não conseguia imaginar o que tinha acontecido.

Primeiro imaginou o assassino como uma espécie de anjo da morte, ou algo assim, com uma espada longa e afiada.

O anjo da morte tinha sido enviado pelo diabo para matar Mormada porque ele tinha gastado dinheiro com vadias. E ricos não podem fazer essas coisas cheias de luxúria porque era contra a religião do cara. Então como tinha pecado e a religião de Mormada era meio que um ritual realmente muito ortodoxo e conservador, a morte tinha vindo fazer uma visita e levá-lo ao outro mundo porque o diabo queria novos empregados na área de contabilidade e pelas desgraças que o velho tinha feito no mundo.

O anjo desceu do céu, porque não havia outra maneira de chegar ao local fazendo todo o estrago na janela-parede sem ter descido do céu né, com um efeito incrível. O velho assistia o jogo de basebol dos Yetz enquanto comia algumas coxas de frango frito e bebia um vinho tinto vagabundo vendido em supermercados comuns, porque Mormada tinha aquela cara de caipira viciado em basebol e Hand queria trazer isso como realidade em sua hipótese mesmo que não fosse uma verdade na vida real. Mormada foi surpreendido ao ver a figura diabólica no reflexo da televisão e jogou o sofá para traz, escondendo-se por trás dele – idiotamente, porque qualquer um sabia que ele ainda estava lá.

Então o anjo procurou a alma de Mormada, só que o velho, percebendo que seu anterior movimento não fora o mais inteligente, levantou-se e empurrou a televisão no chão para criar alguma espécie de distração ou algo assim. Ou outra especulação para a televisão no chão era que o anjo havia errado o seu Canhão Destruidor Diabólico, ou Mormada tinha mesmo desviado com sua técnica e reflexo aprendido na escola de artes marciais do interior. Mas anjos diabólicos, e principalmente aquele, não são tão idiotas para errar o Canhão Destruidor Diabólico dessa forma. Então Mormada fez a televisão cair por algum motivo e ela quebrou deixando os vidros caindo no chão.

Mormada nesse movimento fez a televisão cair em cima do vinho tinto vagabundo que estava em cima de uma mesinha que estava entre o sofá e o armário que antes a televisão estava. Então o velho tropeçou no vinho e caiu no chão – porque tinha vinho tinto vagabundo no chão da sua sala, e do lado o corpo – e então ficou à mercê do ataque final do anjo diabólico.

— Eu acho que acabou.

— Sim, Mormada, você foi um homem mau – e deu o último ataque.

Essa era a hipótese mais plausível para tudo que havia acontecido. Se não fosse o detalhe de que o assassino havia entrado, pelo jeito com bastante estilo, pela parede, o caso seria muito mais fácil. Não teria nada de sobrenatural como religiões pagãs e rituais satânicos com Mormada envolvido e poderiam ser apenas pessoas “comuns” como o seu companheiro de trabalho entrando vestido de preto e enforcando Mormada, porque o corpo não tinha sequelas. Toda essa trapalhada teria acontecido, é claro, mas o ricaço não teria morrido por nenhuma criatura sobrenatural e sim por um ser humano comum.

— Eu não sei quem matou esse cara, mas deixou um grande buraco todo nessa história.

Não que o perito acreditasse nessas coisas de anjo diabólico, mas sabia de um perito em algumas palhaçadas bem sobrenaturais também. Acreditava um pouco nisso porque sabia que havia mudado o curso da Guerra do Fim do Mundo e já tinha visto esse colega em ação, então talvez com a ajuda desse colega, conseguiria saber o que realmente tinha acontecido. Então Hand ligou para Dom Picone.

Dom Picone nesse momento estava cochilado em seu prédio, mas o barulho do toque de seu Iphone era tão forte e sofisticado que fez com que ele acordasse. Dom Picone acordou feliz, porque o toque era uma música que tinha um toque clássico e ao mesmo tempo jazz, sendo perfeito. Não era nenhuma música muito moderna, o que Picone adorava – não gostava nem um pouco da música da atualidade. Então pegou o Iphone depois de deixar o aparelho tocar um pouco para apreciar a música e encontrou-se com Hand no outro lado da linha.

O perito deu a noticia de primeira mão para o membro da ABC Works e Dom Picone ficou surpreso. Ai Meu deus, o que está acontecendo? Pessoas estão morrendo demais, foi a reação de Dom Picone, sem perder o seu toque masculino de sempre. Não podia acreditar que o pai do presidente também tinha sido morto, então montou toda uma conspiração na sua cabeça como qualquer pessoa faria com uma sequência de assassinatos de pessoas importantes e de mesma família.

— Então Ikovan será o próximo? – Dom Picone se desesperou.

— Eu não sei quem é Ikovan.

— É o irmão de Sparrow.

— Eu não sei se esses assassinatos são para acabar com os membros de uma família ou alguma coisa assim, mas se puder vir aqui... Talvez possamos acabar com isso de uma vez e descobrir o que está acontecendo.

— Foi Xupa Cabrinha? – perguntou Dom.

— Não sei. Se puder ajudar, agradeço.

— Eu já estou indo. Só vou lugar para Ikovan.

O toque do celular de Ikovan, um daqueles bem antigos, era bem sem graça.

Beep Beep Beep.


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