Dear Moments escrita por Brioche


Capítulo 4
Sumiço


Notas iniciais do capítulo

Voltei - pro azar de vocês haha'
Segue aí, mais um capítulo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453240/chapter/4

O sol estava dando as caras e ele ainda nem havia pregado o olho. Não conseguiu. A culpa lhe corroía. Allyson lhe tirava do sério, ainda assim não devia ter dito todas aquelas indelicadezas à garota, porém o fez. O episódio havia sido real.

Detestava-a. O controle que a mesma exercia sobre ele, a maneira fácil com qual sempre manda a sua paciência para o espaço, a rapidez com que encontrava respostas à altura para rebater... Tudo! Allyson Brooks era definitivamente um conjunto das coisas mais detestáveis encaixados em um corpo humano, bastante exuberante. A língua afiada o fazia perder o controle, principalmente pelo fato de que todas as palavras proferidas por ela para machucar, machucavam! Essa aprendera a cutucar a onça com vara curta desde cedo.

Desnecessário. Só de pensar no que aquela língua podia ser capaz de provocar, um calor agradável surgia em seu estômago.
Ignorar lhe faria superior, mas não queria. Ela era diferente, sem dúvida alguma. Não inflava seu ego como as garotas da escola. Não dizia palavras amigáveis para tentar melhorar o seu humor como os garotos do time de futebol e muito menos fingia que o garoto era aturável. De um lado, as pessoas diziam o que desejava ouvir, mas do outro sempre estava ela, dizendo coisa que talvez ninguém tivesse coragem de dizer. Apesar de detestável, Allyson era confiável acima de tudo. É engraçado dizer isso da pessoa que é capaz de lhe tirar a razão quase sempre, todavia, as palavras dela valiam... Mais do que qualquer uma.

Com certeza não seria ninguém na vida!

Não importa no que sua mente vagasse, acabava sempre voltando para essa frase. Era assim que ela o enxergava: como um ninguém hoje, ninguém amanhã e ninguém sempre. Perto dela, ele sempre queria ser diferente, melhor... Talvez, apenas suficiente. Provar que aquela imagem que ela tinha na cabeça era falsa, poder enfiar cada palavra mesquinha e impensada dela pela goela a baixo. Sim, esses eram os seus maiores desejos quando ela estava por perto.

O dia mal havia começado.

***

A claridade do céu adentrando a janela lhe fez abrir os olhos, irritada. Amaldiçoava-se por ter se esquecido de fechar as persianas. Remexeu-se na cama, em busca do sono perdido. Dor era o que o seu pescoço sentia, sem contar o coração. Havia adormecido sem perceber e assim permanecera até agora, de mau jeito. Remexeu-se novamente em busca de uma posição confortável, sentiu sua silhueta encostar-se a algo, buscou com as mãos e encontrou seu precioso diário. Suspirou pesado, flashbacks de ontem voltaram à tona, e junto, as péssimas emoções.

“Sou da pior espécie.”

“Tudo que conseguiu hoje foi por esse uniforme de vagabunda que usa!”

“Mas nem isso foi o suficiente não é? Tanto que Larkson foi à procura de outra!”.

Tudo lhe era tão nítido e fresco ainda. A maneira grosseira com a qual o Cooper proferiu todas as ofensas, a violência que usou quando tocou no assunto: pai. Havia pedido por tudo isso, de uma maneira indireta, pelo simples fato de não conseguir manter a boca fechada. O pior de tudo fora a força com que as palavras lhe atingiram. Aquilo havia doído como nunca sentira. Nem toda humilhação que sofrera com Daniel e Hannah haviam lhe abalado tanto, só um pouquinho mais. Detalhes à parte.

Sentiu seus olhos embaçarem pelas lágrimas se formando, fechou os olhos com força para que essas duas primeiras gotas caíssem. Apertou o edredom com força, virou-se de barriga para baixo e enterrou o rosto no travesseiro, abafando o choro.

Na cozinha, no andar de baixo, Louis caminha nervoso de um lado para o outro. Não era normal sua irmã se atrasar tanto. Subiu as escadas, nervoso, precisava saber se ela estava tudo bem ou então, a aflição acabaria lhe sufocando. Bateu a porta da irmã e nada. De novo e a situação se repetiu durante umas quatro vezes. Apreensivo, abriu a porta devagar, colocando apenas a cabeça para dentro.

– Ally? – chamou-a – Estamos atrasados.

– Não quero ir, Lou. – a voz trêmula passou despercebida pelo irmão.

– Mas...

– Pode ir!

– Ally...

– Sai, Louis! – o grito foi abafado pelo travesseiro.

O irmão preocupado saiu. Sem saber como lidar e sem opções, foi à escola, sozinho.

***

Trajando um vestido de rendas preto e cabelos presos em um rabo de cavalo desarrumado, Juliana se encaminhava para a floricultura. Os olhos vermelhos, a expressão arrasada revelava o mal estar da noite passada. Hoje era um dia triste, o pior de todos. Há cinco anos sua mãe lhe deixou, permitindo que o câncer se apoderasse do corpo, deixando que a doença ganhasse.

– Todos vão partir um dia. Alguns mais cedo, já outros não. Vai da escolha de Deus e se eu tiver que ir agora, é porque Deus tem planos para mim ali em cima. – sorriu docemente.

Uma parte de si jamais se perdoaria. Haviam descoberto o caso de sua mãe tarde demais, quando a leucemia já estava em uma fase crítica. Os mal-estares constantes sempre escondidos por sua mãe. Como nunca percebera? E se tivesse procurado por ajuda antes? E se ainda estivesse aqui? E se... Eram tantos caminhos distintos que existiam e em todos eles, sua mãe estava incluída.

Mãe, uma criatura divina. Seu anjo da guarda até a eternidade. Estava só no mundo. Tudo que lhe restara eram sua avó e seus amigos. Pai? Essa parte sempre fora uma incógnita em sua vida.

– Um buquê de orquídeas, por favor. – sua voz saiu rouca.

– Aqui está. – a atendente lhe estendeu.

Cheirou-as e sorriu por um momento. Um sorriso triste e fraco. Pagou a moça e agradeceu com um quase inaudível: obrigada. Caminhou para fora da loja sob o olhar de pena da mulher.

Andou pelas ruas de Manhattan à procura de um táxi disponível. Só encontrou um há três quadras abaixo.

New York City Marble Cemitery *, por favor.

O caminho todo foi silencioso. Acariciava as pétalas das flores com cuidado. Orquídeas. As favoritas de Cordélia. Sua mãe era como as flores, tinha nome de uma e era frágil como todas. À medida que o táxi se aproximava do local, um aperto no peito crescia. O processo da floricultura se repetiu dentro do táxi. Saiu sem nenhuma pressa. Um vento gélido passou, fazendo-a sentir um frio na espinha, seus cabelos presos dançaram conforme a força. Trilhou o caminho já tão conhecido. Pôs o arranjo no túmulo de sua mãe com delicadeza e se sentou na posição de índio.

– Cinco anos... – seus olhos ficaram cheios d’água – Por que você me deixou mamãe? – limpava as lágrimas em vão – Sinto muito a sua falta. Quando você se foi, uma parte de mim foi junta. – fungou – Um buraco ficou, mas ninguém consegue o preencher... É ruim ficar com as boas memórias, pois você já não está mais do meu lado para provar que pelo menos metade delas foram reais...

O primeiro, seguido de muitos soluços saiu. De repente todas as lágrimas presas, o choro sufocado, saíram. Permaneceu aos prantos até sentir que conseguiria falar novamente.

– E se um dia as recordações forem se perdendo? O que vou fazer mamãe?

Imaginou a hipótese de um dia acordar e já não se lembrar de como era a voz, o sorriso que pertencia a Cordélia. Caiu num choro incontrolável, inconformada com a possibilidade. Não se importava se alguém passasse nesse exato momento e a pegasse nessa situação. Juliana tinha o dia inteiro para chorar e desabafar, hoje era o dia de sua mãe e se essas horas não fossem suficientes, ainda haveria as de amanhã.

***

Perdera a noção de quanto tempo permaneceu sentada na cama observando o teto e as paredes. Elas eram interessantes. As pessoas deviam experimentar isso. Allyson estava entediada, quase arrependida de não ter ido para o colégio. Balançou a cabeça negativamente e riu. Jamais se arrependeria de ficar um dia sem ter que encarar pessoas insuportáveis como: Daniel, Hayley, Hannah e Nathan. Quem ela gostava, poderia ver quando quiser, como: Louis e Juliana. Então não faria diferença.

***

Dois garotos corriam apressados pelo campus de Righway, seriam mais rápidos se não houvesse tantas pessoas no caminho. Com os olhos cerrados, procuravam por uma garota.

– Dude, ela não veio hoje. – Nathan se convenceu – Tenta ligar de novo.

Louis assentiu. Discou novamente os mesmos números e aguardou impaciente.

O número discado está desligado ou fora de área, tente mais tarde.

– Nada! – bufou, jogando-se ao lado do amigo.

– Relaxa! A Juh está bem! – ou pelo menos esperava que estivesse.

– É que não é normal ela faltar... Ela é a Juh!

O outro riu.

– Sempre há a primeira vez... – deu tapinhas nas costas – A gente procura de novo por ela no fim das aulas.

Ficaram em silêncio, olhando o vento balançar tudo.

– Estranho o fato a Juh não aparecer justo no dia em que a sua irmãzinha resolveu faltar. – lançou um olhar significativo.

– Está insinuando que elas planejaram tudo isso, juntas? – Nate deu os ombros – Ally não faria isso...

– Fala sério, Brooks, Allyson não é nenhuma santa.

– Nem nenhuma vagabunda.

O Cooper se calou. O ar ficou pesado.

– Escuta, desculpa por ontem... Eu não queria dizer aquelas coisas da...

– Já te falei que comigo ‘tá tudo de boa. Quem tem que ouvir essas desculpas é a minha irmã, peça a ela.

– Eu não! Jamais! – desatou a negar de mil e uma maneiras.

– Eu não entendo vocês. O motivo de toda essa implicância. Tão babacas.

Novamente Nathan deu os ombros. Ele sabia exatamente o motivo, mas não iria dizer.

– Vamos invadir o vestiário feminino? – mudou de assunto, sorrindo de maneira cafajeste.

– Você não presta, dude! – sorriu cúmplice – Vamos? – levantou-se num piscar de olhos.

– Depois eu que não presto! – balançou a cabeça.

***

– Eu fiz amigos legais, mãe. A Ally, o Lou e o Nate , mas você só chegou a conhecer a Ally. O Nate cuida de mim como ninguém, você tinha que o conhecer. – sorriu triste – Ele e a Ally discutem o tempo todo, às vezes isso é engraçado, mas ontem passaram dos limites. – fungou – Por fim, tem o Lou... – sua mente procurou por termos que o definisse de maneira fiel – Bem, ele é especial.

Mirou o céu, espreguiçou-se devido ao longo tempo sentada na mesma posição. Sentiu o estômago dar sinal de vida.

– Vou comer, prometo que volto mãe.

***

Assistia pela milésima vez ao mesmo episódio de One Tree Hill. Patético, mas seu coração necessitava de um pouco de amor, romance. Estava sentada em frente ao sofá de cor creme e entre suas pernas: um de seus famosos saquinhos de M&M’s. Os confeitos eram azuis, consequentemente deixavam sua boca da mesma cor e Allyson nem tinha reparado.

Nathan: Quando estou com você, não quero mais ser esse cara.

Haley: O que quer ser, Nathan?

Nathan: Quero ser alguém bom o bastante para ser visto com você.

Suspirou. Ela queria um homem assim também, queria poder ouvir alguém lhe dizendo isso. Escutou chaves moverem a fechadura do lado de fora. “Louis chegou”, pensou. Ainda assim, não desgrudou os olhos da televisão.

– Dae maninha! – cumprimentou-a assim que pôs os pés em casa, sendo seguido por Nathan.

– Shhhh! – entretida demais com a série, Allyson repreendeu-o, colando o dedo indicador na boca, em sinal de silêncio.

Um ato totalmente inocente, que não passou despercebido pelos orbes azuis do Cooper. Julgou ser extremamente sexy e provocativa a atitude. Então a vontade de nunca mais ver a cara da garota sumiu. Permaneceu no mesmo canto desde que entrara, aguardando Allyson se dar conta de que ele estava ali.

Assim como Nate , Ally certamente não gostaria de o ver, nem pintado de ouro e nem se o garoto mantivesse o maior estoque de M&M’s do mundo.

– Ficou a manhã inteira assistindo esse troço? – Louis se aproximou, jogando-se no sofá, de modo desleixado.
Allyson se virou para o irmão, ofendida.

– Como você ousa chamar One Tree Hill de troço? – a indignação tomou seu rosto.

– Tenho todo o direito quando quem está discutindo comigo é uma quase Smurf! – reprimia um riso.
Allyson franziu o cenho.

– Sua boca está azul... – explicou divertido – Como sempre.

Ally deu os ombros. Era constante sua boca estar com uma coloração diferente, principalmente em casa, já que os confeitos eram o seu vicio. Os olhos da mesma passearam pelo cômodo, como se fosse apenas uma observada periférica e automaticamente encontrou-se com os de quem não esperava e não desejava encarar tão cedo.

– O que ele faz aqui, Lou? – Ally fechou a cara, pondo-se a mirar a tela da televisão, ainda com as expressões duras, frias.

– Ah, sim! – Louis quase se bateu por ter esquecido o motivo – Você viu a Juh hoje?

– Se eu não fui pra escola, como é que eu poderia ter visto ela, seu paspalho?
Curta e grossa. Seu humor oscilou e agora, nem OTH seria capaz de mudar isso.

– Você me respeita, Ally! Sou seu irmão gêmeo mais velho! – disse em um tom brincalhão, tentando afastar o clima ruim.

– Por um segundo e quarenta e dois milésimos. – revirou os olhos – Mas voltando a Juh, como é que vou saber onde está ela, se quem ficou o dia inteiro com ela foram vocês?

– Não vimos a Flint em nenhum lugar. Ela faltou. – Nate falou em um tom sério – Achávamos que vocês estavam juntas.

– É! Já que você não foi pra escola, ela também não... – Louis gesticulava desnecessariamente.

– Mas eu não a vi. – jogou alguns M&M’s na boca, mastigando-os, nervosa – Onde você se meteu Juliana? – sussurrou mais para si.

– Ligamos várias vezes, mas ela não atendeu nenhuma. – Nathan informou, andando em direção aos irmãos e sentando-se no braço do sofá.

– Vocês ligaram para o apartamento dela?

– Não temos o número.

– Mas eu tenho, acho que está anotado em um Post-It no meu mural, vou pegar. – colocou o saquinho de confeitos do lado e ameaçou a levantar, sendo impedida por Louis.

– Não! – exclamou alto demais – Quer dizer... Deixa que eu pego, aproveito e ligo lá em cima – Fiquem aqui... Juntos! – desatou a correr pelas escadas, antes que alguém fosse contra.

Nathan a encarava descaradamente. Allyson, desconcertada, brincou com os dedos por alguns segundos e pôs-se a degustar do saco de puro açúcar, novamente. O silêncio era quebrado apenas pelas falas dos personagens. Ambos queriam falar, mas a quietude do local parecia ser o suficiente para que o recado fosse dado: ainda havia rancor guardado.

Para a surpresa de Ally, Nate deslizou pelo móvel, parando em mesma posição ao seu lado. Suas mãos queriam tremer, seu coração iniciava um ritmo acelerado de batimentos, não fazia sentido nenhum estar assim com uma mera aproximação do garoto. Temerosa, afastou-se, sentando um pouco mais ao lado. Porém ele insistia em quebrar a pouca distância. O joguinho de perseguição estava irritando a Brooks.

– Mas o que é que você quer? – suas palavras não escondiam a leve irritação, seus olhos semicerrados buscavam respostas nas íris profundas do outro.

– Eu... – correspondeu ao contato visual e desviou em seguida – Não sei...
A fala saiu baixa, consequentemente rouca, deixando-a surpresa pelas palavras inesperadas, o estômago revirou e novamente a sensação de tremor apareceu. Novamente o silêncio se instalou.

No andar de cima, Louis tentava inutilmente ligar para o apartamento da Flint. Sua insistência tinha dois motivos:

1. Preocupação.

2. Tempo.

O segundo motivo não tinha nada haver com Juliana, mas sim com Ally e Nate . Ou era agora que eles se acertavam, ou se matavam. Rezava para que optassem pela primeira opção, de verdade.

***

– Vovô está bancando o apartamento que você me deixou. Pretendo arranjar um emprego, logo. Passo a maior parte do tempo na casa dos Brooks’s, eles são legais. Já perdi a conta de quantas vezes Ally disse que queria estar na minha pele, não ter pais cobrando dela a todo o momento, porém é tudo de boca pra fora é claro. As pessoas só vão saber como é isso quando passarem por isso. Daria tudo para ter a senhora ou o papai brigando comigo toda vez que tiro uma nota vermelha... – balançou a cabeça, achando graça no que dissera – Eu não tiro notas vermelhas! – riu – Mas adoraria que vocês implicassem comigo toda sexta-feira que eu voltasse tarde de uma festa da Righway.

***

– Vai me pedir desculpa ou não? – Allyson explodiu impaciente.

Nathan riu. Um riso sarcástico.

– Por que eu tenho que pedir? Você também errou.

Também. – frisou – Peça você primeiro. – cruzou os braços e fez bico.

Era o orgulho mais uma vez. Ceder era dar o braço a torcer e dar o braço a torcer era se diminuir diante do outro e nenhum deles queria isso, nem em sonhos.

– Tão infantil.

– Tão chato.

– Orgulhosa.

– Egocêntrico.

– Assim você me ofende, raio de sol. – sorriu de lado, como só ele sabia fazer.

Ally engasgou ao perceber que quase se derretera. Um sorriso de Nathan Cooper era perigoso. É uma injustiça divina ter todos os dentes alinhados e num branco tão puro. Olhos azuis e oblíquos, cabelos loiros propositalmente bagunçados para dar o toque final. Esse era um conjunto que lhe permitia ter todas as garotas aos seus pés, ou quase todas.

Assustado com o repentino ataque de tosse da Brooks, Cooper aproximou-se e com uma das mãos, segurou o braço dela e com a outra deu leves tapinhas nas costas.

– Você está bem? – perguntou, visivelmente preocupado.

– Não. Me. Toca. – dizia pausadamente, levantando-se desajeitada, sendo acompanhada dele, em seguida.

– Eu só estou tentando ajudar!

– Não te pedi ajuda nenhuma.

Allyson saiu andando, sem nenhum aviso prévio.

– Onde você está indo?

– Não lhe devo satisfações, Cooper!

Uma vez petulante, sempre. Mesmo sem a resposta desejada, sorriu de maneira discreta, mesmo estando sozinho.

Nenhum pedido de desculpas oficial fora pedido, mas eles estavam bem. Sabiam disso. Era estranho o modo como os fatos entre os dois desenrolavam, vezes saíam mais fáceis do que o esperado, já em outras, complicavam o não complicado.

***

Estava quieta. Já não havia mais o que dizer. Observava o movimento de vai e vem que a brisa causava nas pétalas das orquídeas. O branco e cinza brigavam para ver quem dominava o céu.

Perdera a noção do tempo. Não hoje, não ontem, porém há cinco anos. Quando alguém que amamos parte, o tempo torna-se desprezível, sem valor. De que adiantaria uma vida inteira, se aqueles que importam não podem estar aqui para aproveitar? Perdas fazem parte de qualquer ciclo de vida, mas a superação apenas alguns aceitam. Um processo doloroso e lento.

Superar. Alguns interpretam o termo incorretamente. Envolvem e mesclam outros inúmeros sentimentos desnecessários e se perdem numa linha de confusão. Juliana era um deles. Superar não é esquecer, alguém devia avisar isso para o coração.

***

No sofá, onde minutos antes apenas Ally ocupava, estavam Louis e Nathan. Frustração. Preocupação. Derrota. Sentiam tudo isso e um pouco mais. A pior coisa é nos tornarmos impotentes em situações onde certamente precisam de nós. As mentes não conseguiam encontrar uma nova solução.

Allyson descia as escadas com cuidado, ao mesmo tempo em que seus olhos se ocupavam com a tela brilhosa do pequeno aparelho em suas mãos. Trajava um sobretudo preto em cima de seu pijama, as calças largas e rosas de algodão denunciavam isso. Completando o conjunto: botas pretas de cano baixo e sem salto, que guardavam as sobras da calça.

– Aonde vai? – o irmão se levantou, assim que a viu.

– Procurar a Juliana. – seus olhos não desviaram da tela.

– Que incrível o seu look, raio de sol! – debochou Nate .

A expressão da garota se fechou automaticamente. Lentamente, girou seus olhos em direção ao garoto. Desviou e se olhou. Realmente não era uma das suas melhores produções. Estava brega e um tanto que... Bizarra.
Cooper não se importava de provocar um pouco. Estar de bem não era nenhuma trégua. Vai ao automático no instante em que a Brooks entra em seu campo de visão.

– Escuta aqui, Cooper. Acha mesmo que vou perder tempo me produzindo lá em cima, enquanto a minha melhor amiga está sumida? Você é ridículo! – a voz não escondia a irritação.

Fora pego de surpreso com a resposta. No entanto, iria retrucar, mesmo que não fizesse sentido nenhum. Como o dito: nada que viesse dela faria sentido. Não tinha nada a perder. Entretanto, a voz que julgava irritante, voltou a falar antes que conseguisse soltar qualquer coisa.

– E outra: sou eu quem está vestindo as roupas, não você. Então, shiu! – colou o indicador a boca, que formava um biquinho.

De novo, pego de surpreso. Ela tinha que parar com isso.

– Vamos ajudar a procurar a Juh, afinal ela também é nossa amiga. – Lou finalmente conseguiu dizer.

A mais nova deu os ombros.

– Então andem logo!

– Pra onde vamos?

– Você devia ir para o inferno, benzinho. – o sussurro não passou despercebido, atraindo os olhares dos dois a si – Vou para o apartamento dela. Vocês procuram ela pelos outros lugares que frequentamos.

– Quem disse que você é a líder? – Nathan cruzou os braços, feito uma criança birrenta.

Allyson cerrou os olhos, enquanto Louis encarava-o incrédulo.

– Dude... – as palavras sumiram – Vocês são muito idiotas.

– Não começa Cooper! – alertou ela.

O mesmo permaneceu na posição de carrancudo.

– Foda-se então. Não vou ficar aqui assistindo um imbecil se fazer de mimado. Eu preciso achar a Juh. – concluiu – Se vocês vão me ajudar ou não, não interessa. Eu posso me virar sozinha!

Atravessou a sala apressada, jogando o celular no bolso do sobretudo, em direção à porta. Abriu-a com fúria e deixou-a bater, causando um estrondo.

– Vamos! – Louis tomou partido.

Nate sentiu seu casaco da escola ser puxado. Seguiu o Brooks a contragosto. Não que não quisesse ajudar Juliana. Só não desejava obedecer à Brooks. Era o orgulho.

– Ok. Não sei pra onde ir, por onde começamos?

– Pergunta pra sua irmãzinha sabe-tudo. – cruzou os braços.
Louis revirou os olhos.

– Dude, você é um imbecil. – prendeu o riso. Apalpou os bolsos em busca do celular e não o encontrou – Passa o celular, aí.
Sem pensar duas vezes, Nathan passou o aparelho. O Brooks digitou o tão familiar número e esperou. Chamou uma, duas vezes e na terceira a irmã atendeu.

– Estou sem tempo para idiotices, Cooper. Então seja breve ou vou desligar na sua cara. Espero que seja algo de útil. – a outra voz desatou de falar.

Quanto amor!”, pensou Louis.

– Sou eu Ally!

– Ah! Diga Lou.

– Não sabemos pra onde ir agora.

– Deixa no viva voz! – pediu Nate , sussurrando.

Assentiu.

– Onde vocês est... – um som de buzinas soou do outro lado da linha – Desculpa!

– O quê? – o irmão não entendeu.

– Não é com você... Ai meu Deus, corre! – sua voz saía esganiçada.

– Onde você está, Ally?

– Entre os carros da 5th Avenue? – soou incerto.

– Ally! – repreendeu-a.

– Você bateu a cabeça ou andou cheirando merda, raio de sol?

– Onde vocês estão, Lou? – ignorou Nathan.

– Na frente de casa.

Allyson riu.

– Que vergonha! Dois garotões como vocês plantados, sem saber o que fazer. – debochou – Vão para o J.G Melon*, depois sigam para o M&M’s World*.

– Por que a Juh estaria no M&M’s World mesmo?

– Ela não está lá.

Os garotos franziram o cenho.

– Vocês vão comprar mais m&m's pra mim. Meu estoque em casa está acabando. Encontro vocês ali em meia hora.

– Ah! – afirmaram em uníssono.

– Estou chegando ao apartamento da Juh. O porteiro me deu a chave e disse que ela saiu de manhã e não voltou mais. – subia as escadas do prédio – Da onde já se viu um prédio em Manhattan que não tem elevadores? – tagarelava só.

Vibrou ao enxergar a porta com um: 606, preso.

– Aleluia!

Depois disso, Allyson não disse mais nada, o que deixou Louis e Nathan apreensivos, este sentado no banco de passageiro da frente, tentando parecer um indivíduo sob controle, enquanto aquele apertava tanto o volante, a ponto de deixar seus dedos brancos.

O trânsito lento também não contribuía nada ao humor dos garotos.

– Ally, fala com a gente!

Não obteve resposta. Nathan franziu o cenho, talvez estivesse só um pouquinho preocupado, bem pouco.

Apenas o barulho da respiração se chocando com o aparelho era escutado e aparentava ficar cada vez mais entrecortada.

– Ai meu Deus! – um murmuro quase inaudível saiu da garota.

– Ally, o que foi? – Louis ia se sobressaltando.

E novamente sua irmã não respondeu.

Estrondos indecifráveis surgiram e nada do timbre de Allyson.
Nathan que permanecia estático suou frio. Agora sim estava preocupado; Mas só um pouco.

– Raio de sol, para de brincadeira e fal...

– Ah! – um berro ensurdecedor foi dado, seguido de um pedido de socorro.

– Allyson! – o Brooks gritou e a ligação caiu.

– Louis! – foi vez de Nate gritar, agarrado no banco.
Com os nervos a flor da pele, Louis perdeu o controle do carro, apenas por um instante.

New York City Marble Cemitery* - "Um dos únicos cemitérios ativos em Manhattan. Sua tradução em português fica mais ou menos: Cemitério de Mármore da cidade de Nova Iorque."
J.G Melon* - Restaurante temático com aparência de pub, quatro estrelas, de Manhattan. Localizado na 3rd Avenue.
M&M’s World* - Localizado na Broadway, perto do teatro da Times Square. Possui várias filiais espalhadas pelo mundo todo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continuarei a postar quando finalmente houverem comentários...
Nada mais a declarar;
Até.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dear Moments" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.