Mel e Camomila escrita por Danotan Bluce


Capítulo 1
Mel e Camomila.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus Danoninhos! Em plena véspera de Natal estou postando uma fanfic. Nem sei se alguém vai ler...
Criei um carinho especial por isso aqui, então espero que quem for ler (se alguém o fizer) goste.
Boas festas!
E boa leitura. ♥



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Eu pensei sobre os olhos dele enquanto pagava o café quentinho, no terminal. Não que houvesse alguma ligação entre os olhos dele e o café. Eu citei o café só para que saibam que isso foi antes de ir ao trabalho, logo de manhã.

Eu pensei sobre os olhos dele.

Mas veja bem, eu não disse que me lembrei dos olhos profundos que enfeitam tão bem aquele rosto de traços duros, retos. Eu disse que pensei nos ditos cujos. Pensei mesmo. Sobre eles.

Perguntei-me se a luz entrava por sua retina e atingia exatamente o local que deveria atingir, colocando-o dentro dos dois por cento da população com visão perfeita. Perguntei-me se haveria formas de reconhecer seus sentimentos através do olhar, porque nos livros é fácil, mas na vida real olhos simplesmente não brilham. Perguntei-me como eu soube, naquele primeiro dia, que ele queria me beijar.

Eu já estava apaixonado, se querem saber. Mas eu nunca fui o tipo de cara que deixa a chatice de lado para amar. O que queria dizer que eu não imaginaria seus olhos e, tão simples, veria que são lindos. Não. Eu pensaria sobre eles.

O caminho do terminal até meu emprego foi cheio de pernas e algumas cotoveladas. Então eu praguejei mais uma vez por ainda não ter dezoito anos. Só um ano, Miles, falta apenas um ano para comprar aquele Corsa que seu pai está louquinho para vender.

Ao descer do ônibus mirei o céu. Sorri. Quase peguei os fones e conectei ao meu celular para ouvir música e pensar no dono dos olhos talvez perfeitos. Lembrar-me das situações que já dividimos olhando aquela aquarela que era o firmamento.

Caminhei até a empresa e entrei depressa, querendo ir ver o meu chefe o mais rápido possível - e eu disse o meu chefe, não o de todos; seu cargo não era assim tão importante e ele só tinha vinte e seis anos. Eu queria ir ver o alvo de minha paixão e, por mais que fosse ridículo, sentia meu coração palpitar com essa perspectiva.

A recepcionista me sorriu dizendo “bom dia”. Também desejei que tivesse um dia bom, retribuindo o bom humor.

E, lembre-se, eu havia pensado sobre os olhos dele naquela manhã. Mas esqueci de contar que havia pensado nos lábios noite passada, antes de dormir. E depois de dormir sonhara que estava pensando sobre os cabelos. O que é estranho, porque costumeiramente se sonha que se está com a pessoa e não sozinho pensando nela.

Por isso eu bati à sua porta com tanta ansiedade. Eu queria ver se o que eu havia concluído sobre seus olhos, boca e cabelos era verdade. Os segundos sem a sua imagem à minha frente eram incômodos por demais.

E eu não disse o nome dele até agora de propósito. É que eu quero que vocês tenham noção de quem ele é antes de saberem como se chama. Pois assim o nome ficará com a cara dele e não ele com a cara do nome.

Ouvi primeiro seus passos, depois a maçaneta se movendo. Finalmente a porta se abrindo, revelando-o.

A partir daí, sob a mira dos olhos talvez perfeitos, percebi que não adiantava pensar em nada, porque quando estava diante dele eu só conseguia ver.

Sorri imediatamente vendo sua pele branca, seu maxilar reto, sua barba bem ralinha, seus cabelos bem cortados e negros. Os olhos um tanto esverdeados, mas não muito. Não vão imaginar olhos daqueles de mocinho de filme, porque eles eram apenas como um vick pyrena de mel e camomila. Não sei se sabem bem a cor... mas é um tanto esverdeado.

– Bom dia, Marcelo... – Cumprimentei, sentindo o coração acelerar de vez.

– Bom dia. Você terminou de organizar os papeis? – Disse seco. Seco demais. Isso me assustou, principalmente porque ele não me olhou nos olhos e franziu o cenho para meu sorriso e meu tom animado.

Senti-me como uma criança. Magoando-me com tão pouco.

– Sim, organizei... Está tudo bem com você? – Tive a coragem de perguntar, um tanto hesitante. Marcelo - agora vocês sabem o nome e espero que o achem bonito - resolveu exercer contato visual comigo.

Ele vestia uma camiseta branca e uma calça jeans, nem formal e nem informal. O de costume. E eu sei disso porque fiz questão de desfazer o olhar e mirar seu corpo.

– Claro. – Respondeu rápido demais.

Eu não me senti exatamente bem. Pra falar a verdade, eu tinha ímpetos de choro. A sensação era a mesma de um filho que corre até a porta depois de passar o dia pensando no pai, tenta pular ao colo dele para receber um abraço, mas o pai o barra e pergunta: o que está fazendo, não vê que acabei de chegar e estou cansado? Pois bem. Como a criança sentiria, eu também senti ímpetos de choro.

– Vejo que você quer que eu vá embora logo. Eu só vim dar um ‘oi’. Agora estou indo trabalhar. – Aderi à formalidade.

– Miles, espere. – Pediu, mostrando que não esperava que eu fosse desistir tão fácil como desisti.

Marcelo falava como um adulto, mas não parecia um. Ele era um adolescente. Tinha o corpo definido, mas não com toda aquela massa corporal que os homens feitos possuem. Ele gargalhava muito fácil, também. Tinha ar de inocência sob o ar de adulto.

Não me virei, encarei-o. Marcelo soltou o ar e fez uma espécie de careta, pedindo para eu entrar e fechar a porta. Eu o fiz.

Sentamos-nos.

Ficamos algum tempo em silêncio, mas eu abri um pequeno sorriso quando já havia se passado tempo o suficiente para eu ver que aquele idiota não falaria nada.

– Você não tem nenhum problema de vista, Marcelo? Quero dizer, sua visão é cem por cento boa ou o problema existente é pequeno demais para te fazer usar óculos? – Resolvi perguntar para quebrar o gelo.

Ele soltou uma risada curta, claramente descrente. Pessoas normais não perguntariam aquilo em meio a uma tensão.

– Não sei, nunca fiz exame de vista. Nunca precisei. – Disse ele. Fiz que entendia. Marcelo suspirou. – Eu quero que você saiba que mesmo que tenhamos nos beijado não ficaremos juntos. Eu não quero ser gay. Tudo bem?

Quero que me visualizem naquele momento.

Eu era um adolescente de dezessete anos que gostava de parecer inteligente e era viciado em ler. Meus traços eram infantis, mas como eu usava óculos isso se amenizava um tanto. Sabendo disso, imagine-me falhando a respiração e ficando completamente inexpressivo. Olhando para os olhos de meu chefe por segundos e segundos. Os olhos denunciando-me ao umedecerem-se.

Aquilo rompeu com minhas reflexões, foi duro, ainda que muito simples. O fato de ter sido tão natural foi mais duro ainda. Marcelo me havia olhado de um jeito que me fizera saber que ele queria me beijar. Ele havia segurado minha cintura com gentileza. E, sim, pensar aquilo era gay. Fazer aquilo fora. E eu não queria ser um viado também, mas... Sabe, eu não havia pensado no termo “gay”.

– Você não sente nada por mim? – Questionei. Também sei que perguntar isso foi extremamente homossexual, você não precisa me dizer. Mas eu queria saber. A questão é que eu havia passado horas e horas pensando nele e eu havia sonhado com ele. E eu achara que poderia conversar com ele mais uma vez e vê-lo rindo comigo e então perceber que ele queria me beijar mais uma vez. Vocês entendem?

Eu queria saber.

Queria mesmo.

Mas ele não me disse.

– Eu já falei o que eu queria, então volte a trabalhar. Não temos todo o tempo do mundo pra ficar jogando fora desse jeito.

– Parecia que tínhamos todo tempo do mundo agora há pouco, quando ficou me encarando. Fale logo, Marcelo. – Insisti.

O homem soltou o ar com força.

– Não sei. Agora, por favor, saia da minha sala. Se não quiser ser demitido.

– Isso foi ridículo. – Deixei-o ciente. Eu de fato estava irritado, mas apenas soava ferido. Isso foi humilhante.

Ele me lançou um olhar incisivo e tudo o que eu pude fazer foi sair da sala.

Mas eu não fui fazer meu trabalho, eu fui fumar um pouco, fora da empresa, na calçada. Enquanto fumava meus olhos pinicavam muito. Eu estava me lembrando do dia anterior, quando eu vi os olhos e pude, pela primeira vez na vida, ver a vontade dos olhos de alguém.

“Quando eu era pequeno eu queria o cabelo como o seu, sabia? Eu sempre achei bonito menino com cabelo que vai até o pescoço. Mas minha mãe odiava.”

“Agora sua mãe não manda mais em você, Marcelo. Deixe o cabelo crescer.”

“Não, já me acostumei com ele assim. Acho que minha mãe estava certa, esse seu corte não combina comigo. Mas em você fica muito bem, deixa parecendo uma criancinha.”, ele riu quando arqueei as sobrancelhas. “Mas uma criança bonita, caramba!”

Eu também ri.

“Vou cortar pra ver se ganho mais respeito.” Brinquei.

“Não, Miles, não faz isso não... Promete pra mim que nunca vai cortar o cabelo?”

Foi esse o momento em que eu entendi os livros. Nos livros as pessoas sempre leem os olhos das outras e eu nunca consegui, mas... aqueles lindos olhos de mel e camomila quase gritavam.

Eles se encontravam intensos demais e todo seu corpo parecia querer, de alguma forma, aproximar-se do meu. O braço apoiado próximo a minha coxa, o tronco levemente inclinado na minha direção. Nesse momento, eu soube que ele queria me beijar.

Ele sorria e fitava tanto meus lábios, tanto... Aproximei-me daquele jeito que a gente vê nos filmes. Mas não vá pensando que saiu como nos filmes, porque eu sempre fui um pouco ansioso, fazendo ir mais rápido que o necessário.

Marcelo pousou os dedos em minha nuca e me beijou profundamente, puxando-me para perto de si - ainda mais perto. Movimentos lentos e quentes com nossas línguas. Eu não me importei com micróbios nem com nada.

Ele foi para sua casa depois disso e eu pensei apenas nele. Eu me senti feliz, senti-me finalmente o entendedor de olhares, o sensível que finalmente entrou na doce realidade dos livros que lia. Só para chegar ao trabalho e... ouvir que ele não queria ser gay.

No dia seguinte eu cortei meus cabelos bem curtos, pedi para a cabeleireira não ter dó e passar a tesoura com vontade. Marcelo me olhou bastante quando viu o que eu fiz. Sua expressão tentou ser irritada e ele devia estar mesmo, mas só conseguiu soar ferido. Aquilo deve ter sido humilhante.

Mas ele não falou nada nem fez nada.

Ele não queria ser gay.


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Notas finais do capítulo

E então...?
Espero que não tenham encontrado erros e outras coisas que prejudicam a leitura. Tentei revisar direitinho, mas nunca sai perfeito.
Mereço reviews?
Beijos e até a próxima história.



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