Rodo, rodo e rodo. De tanto que rodo já deveria estar morto. Mas desde quando algo sem vida pode perdê-la? Nem mesmo sou capaz de morrer. Não tenho essa sorte. Os homens buscam tanto saber seu futuro, mas eu jamais gostaria de ter descoberto o meu. Girar, girar e girar. Até que por fim venha um modelo novo e me substitua, mas até lá meu único dever é girar.

As pessoas não me veem, elas apenas me sentem. Mas não dão importância, nunca deram, nunca darão. Apenas as criancinhas sorriem apontam para o teto e gritam para suas mães o quão incrível sou, mas elas ignoram da mesma forma que ignoram a vida. Vida, como gostaria de ter uma.

Alguns olham para mim como se eu fosse algum monstro. Como se eu fosse cair sobre suas cabeças e decepa-las. Talvez eu devesse fazer isso. Mas não vou. Tudo o que eu tenho que fazer é girar, girar, girar. Fazer com que vente, pois os homens são cegos demais para saber que o vento lá de fora é melhor. Sou uma cópia imperfeita assim como o homem é a de Deus. Copio a função do vento. Dai surge meu nome, Ventilador. Eu giro. Enquanto espero que um dia eu possa morrer. Mas não posso, nem mesmo existo. Apenas giro.