Pretty dress escrita por pennyweather


Capítulo 4
Capítulo lll


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, postei o cap na velocidade da luz. Me matei pra conseguir postar, pois meu computador não quis ajudar e eu tive de roubar o do meu pai. --'
Mas vocês não querem ler sobre isso, então serei breve. hehe
Boa leitura!



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Um ponto cego é, na linguagem da medicina, uma parte da retina que não contém receptores de luz. É comparado a uma mancha negra natural no campo de visão que não é conscientemente percebida. Durante o processamento de imagens o cérebro preenche o ponto cego com imagens e informações registradas pelo outro olho, de forma que a figura formada não tenha falhas ou penumbras originadas pelo ponto cego. Ele é, então, oculto.

No exército rebelde de Panem o ponto cego tornou-se uma expressão conhecida para designar uma localidade oculta, dificilmente percebida aos olhos distraídos. Um lugar desconhecido. Um ponto cego pode ser qualquer coisa: um prédio esquecido, um esconderijo, uma curva na estrada que ninguém nunca percebeu.

Ou seja: um ponto cego é um ótimo lugar para esconder algo... ou alguém.

Madge folheou um dos enormes livros que Aaron trouxera, as pálpebras pesando pelo cansaço. Estava com tanto sono que nem ao menos prestava mais atenção no que lia. Há quanto tempo já não estavam ali? Duas, três horas? Além disso, ela não tinha motivação alguma para continuar com a tarefa. Ah, qual é! Ela nem ao menos sabia a razão pela qual o exército precisava encontrar um ponto cego. Madge era inteligente o suficiente para saber que estavam à procura de algo, mas o que seria? Aaron se recusava a dizer, alegando ter “ordens superiores” para não deixar vazar informações.

Ah, TÁ.

Apostava que só não a diziam porque ela havia largado seu posto. Fazia sentido, por um lado. Mas como eles podiam ter a cara de pau de pedir para que Madge os ajudasse em algo que ela não sabia o que era? Gostava de saber em que estava se metendo; era uma garota sensata. Pensando nisso, ela fechou o livro e largou-o sobre a mesa, logo depois desviando o olhar para o soldado sentado a sua frente.

Aaron circulava com uma caneta vermelha uma região do Distrito 7, sem entusiasmo algum. A outra mão sustentava o peso da cabeça. Os olhos dele pareciam tão vagos que Madge suspeitou que ele não estivesse nem um pouco concentrado no que fazia. Ela esticou-se sobre a mesa e encostou o dedo em seu braço, o que o fez erguer os olhos cansados.

– Que foi? – Ele perguntou com a voz arrastada. Estava decididamente aborrecido: haviam obtido tanto progresso quanto teriam se não tivessem iniciado a tarefa. Exausto, ele largou a caneta e recostou-se cadeira.

– Eu não aguento mais isso – Madge disse, passando uma mão pelos próprios fios loiros. A luz da sala estava incomodando-a profundamente. Ergueu o olhar para o lustre e franziu a testa, como se o repreendesse pela luz que emitia.

– Eu estou me divertindo pra porra! – Aaron ergueu os braços para o ar, o que arrancou um riso baixo da Undersee. Ele esboçou um pequeno sorriso ao escutar o som. – Encontrar pontos cegos em mapas: o programa favorito de melhores amigos.

– Você é um palhaço – Madge afirmou, cruzando os braços e mantendo o sorriso de canto. – Como espera que eu contribua com você se nem ao menos me diz a razão de precisar encontrar um ponto cego? – Perguntou e, depois de um suspiro, continuou. - Quem estamos procurando?

Aaron colocou uma mão na testa, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos com força.

– Você é fogo, Donner.

– Isso significa que vai me contar? – Ela ergueu as sobrancelhas, cruzando os braços sobre a mesa. A expressão vitoriosa já estava estampada em seu rosto mesmo antes de ouvir a resposta.

Aaron voltou a olhar para frente e então assentiu com a cabeça.

– Estamos com problemas, Sarah.

~*~

– Coloquem-no ali – uma voz rouca mandou.

Gale abriu lentamente os olhos, a respiração ofegante. Estava suando. O que mais o deixava confuso era o fato de não conseguir enxergar nada: tudo o que “via” era a escuridão. Tentou mover as mãos, mas alguém parecia segurá-las. Teria facilmente se livrado do agressor se não estivesse tão exausto. Sua cabeça doía e parecia girar, o que que fez Gale chegar à conclusão de que havia sido acertado com algo na região de trás da cabeça.

Vamos, Gale. Lembre-se. O que você estava fazendo antes de chegar aqui?

A imagem de mechas loiras apareceu em sua mente e, por algum motivo, isso o acalmou. Resolveu parar de fazer perguntas a si mesmo.

De um segundo para outro já estava sentado em uma cadeira. Seus braços foram amarrados no encosto e, então, a venda foi arrancada de seus olhos. Gale precisou piscar algumas vezes antes de se acostumar com a claridade. E, quando o fez, sentiu o sangue lhe subir a cabeça.

Estava rodeado por homens vestidos de farda. Rostos sérios e posições duras. Soldados.

Gale ofegou, os cabelos grudando na testa por causa do suor. Os olhos cinza não conseguiam acreditar no que viam, e a respiração descompassada impedia-o de dizer qualquer coisa. Estava no centro de um círculo incomum. Suas mãos começaram a tremer quando ele reconheceu alguns rostos, e tudo desandou de uma vez quando duas pessoas se manifestaram e caminharam até sua frente. Gale piscou os olhos com força.

– Seu filho da puta – ele grunhiu, tentando soltar-se da cadeira e saltar para cima daquele desgraçado. O homem tinha um aspecto cansado e até mesmo desinteressado, e ele não usava farda alguma. A barba rala e e descuidada tomava conta de suas bochechas, e o olhar vago era extremamente familiar.

– Você não me deixou escolha, Hawthorne.

– Seu bêbado estúpido – Gale disse, a voz rouca ecoando pela sala. Os soldados começaram a olhar entre si, um tanto desconfortáveis. Gale, então, se deu conta de que o único assustador ali era ele próprio. Era ele quem estava metendo medo.

Haymitch Abernathy respirou fundo e olhou para Gale com uma expressão indiferente.

– Você recusa as minhas ligações há dias. Fechou a porta na cara de um de meus enviados e não compareceu em nenhuma convocação para uma reunião. Você fez isso a si mesmo. Não tive escolha a não ser mandar te arrastarem para cá.

– Qual é o seu problema? Uma arma e uma cacetada na cabeça, Haymitch? Sério? – Gale balançou a cabeça e fez a coisa mais estranha do mundo: riu. Uma risada alta, rouca e sem humor. - Em momento algum a fascinante ideia de me procurar sozinho não lhe ocorreu?

Haymitch estava prestes a revidar quando a mulher ao seu lado pousou a mão em seu peito e e afastou-o delicadamente, o olhar implorando para que ele ficasse quieto. E então ela entrelaçou os próprios dedos e encarou Gale.

Paylor, a mais nova presidente de Panem.

O que raios estava acontecendo, afinal?

– Posso ordenar que te soltem, se der sua palavra que ficará até o fim.

Gale mordeu a língua, considerando a condição. Por fim, assentiu. Suas mãos já estavam vermelhas por conta da circulação presa, então foi um alívio quando soltaram as cordas de seus pulsos. Depois de alguns poucos segundos ele já estava completamente solto, mas decidiu não sair da cadeira.

– Vamos direto ao ponto. Alguns de nossos computadores foram invadidos. Nosso sistema de controle de Distritos está estranho; não estamos conseguindo acessar alguns de nossos arquivos mais importantes. Sem contar que perdemos alguns dados do registro de identidades. – Ela fez uma pausa e todos focaram o olhar em Gale, a expectativa por sua resposta borbulhando entre o grupo.

– Não sei se vocês se lembram – Gale disse, recostando-se na cadeira enquanto cruzava os braços -, mas eu sou do Distrito 12, e não do Distrito 3.

Isso arrancou algumas risadinhas de alguns soldados, que se calaram segundos depois de Haymitch dirigir o olhar furioso a eles. Paylor respirou fundo, não abandonando a postura séria e controlada que uma presidente comprometida deveria ter.

– Acreditamos que não é um problema nas máquinas, Gale. Alguém está invadindo o nosso sistema.

Agora a coisa estava ficando interessante. Gale passou uma mão pela própria bochecha, estupefato.

– Está me dizendo que...

– Sim. Suspeitamos de que há um grupo radical entre nós. Simpatizantes do antigo governo, Gale. Isso é muito sério.

– Uma espécie de novos rebeldes? Isso é loucura, Paylor. Que tipo de idiota estaria disposto a encarar todo um exército depois de uma revolução recente? – Gale fechou os olhos por um momento, organizando a torrente de pensamentos. – Além disso, só há simpatizantes do antigo governo na própria Capital. E aqueles caras não são lá muito inteligentes para conseguir causar um grande problema.

– Acha que a elite de lá era burra? Por favor, Hawthorne – Haymitch cuspiu as palavras. – São fiéis de Snow. Conseguiram manter treze distritos na linha por muito tempo. Eles podem ser estúpidos, mas idiotas certamente não são.

– Não deve ser um grupo muito grande, o que elimina a nossa maior preocupação – Paylor continuou. - Mas precisamos encontrá-los antes que comecem a causar muitos estragos.

– E qual seria o meu papel nisso tudo? – Gale questionou, já com a certeza de que passaria várias noites em branco. Não que não estivesse acostumado, é claro.

– Estamos reunindo um grupo com os estrategistas do exército. O que inclui você. Boa parte deles abandonou suas funções após a revolução, mas estamos nos esforçando para trazê-los de volta. Precisamos que vocês estudem o mapa de Panem e encontrem lugares onde eles possivelmente possam estar escondidos.

– Um ponto cego, você quer dizer.

– Exatamente.

Gale apoiou os cotovelos sobre os joelhos e escondeu o rosto entre as duas mãos, visivelmente irritado com a situação. Resolveu ficar em silêncio, já que não tinha o que dizer, mas mudou de ideia assim que uma ideia lhe ocorreu.

– Ninguém pensou em pedir para algum especialista do Distrito 3 rastrear os computadores?

– Já ouviu falar na teoria de que duas forças de mesma intensidade impostas em mesma direção e em sentidos contrários se anulam?

– Já. – Gale rolou os olhos. – O que isso tem a ver?

– Não foi possível rastrear os computadores porque alguém conseguiu alterar os endereços. Há especialistas do Distrito 3 no grupo, conclusão a que chegamos depois que o nosso próprio recrutado reconheceu ser impossível rastrear as máquinas.

Aquilo seria mais difícil do que ele imaginava. Gale ficou em silêncio, pensando no que havia se metido, quando Paylor tirou um papel do bolso do casaco e caminhou a passos lentos até ele, o som dos saltos batendo contra o solo ecoando pelo salão. O Hawthorne segurou a folha e ergueu as sobrancelhas.

– Uma lista?

Baixou o olhar novamente e concentrou-se nos nomes registrados ali.

Aaron Jackson – Nativo D2, Residente D2

Alexis Stanford – Nativa D2, Residente D2

Elizabeth Steven - Nativa D4, Residente D4

Gale Hawthorne – Nativo D12, Residente D2

Hunter Caldwell – Nativo D7, Residente D4

Nicholas Kenneth – Nativo D3, Residente D3

Sarah Donner – Nativa D6, Residente D2

Thomas Kenneth- Nativo D3, Residente D3

– O que é isso? Por que meu nome está destacado? – Ele questionou, franzindo as sobrancelhas e comprimindo os lábios, formando sua típica expressão desconfiada. Sua voz soava rouca e baixa; era muita coisa para processar. Em um único dia ele reencontrara uma pessoa de seu passado que ele imaginava estar morta, fora acertado com o cano de uma arma na cabeça e descobrira que teria de voltar a trabalhar no exército.

– É o grupo encarregado de descobrir a localização dos radicais. Você está no comando, por isso seu nome está em destaque.

– Não acha que é um grupo muito pequeno para monitorar todo o país? – Gale retrucou, cruzando os braços. Não que ele tivesse medo da responsabilidade; desde muito jovem ele carregava grandes responsabilidades sobre os ombros. Estava apenas intrigado.

– Encarregamos vários soldados espalhados por Panem para procurar por possíveis pontos cegos, mas vocês são o cérebro da equipe. Precisamos que pensem em como acabar com esse problema o mais rápido possível.

Gale expirou o ar pela boca, já sentindo a pressão sobre as próprias costas. Assentiu, guardando a lista no bolso.

– Vocês... Vocês já avisaram Katniss sobre tudo que está acontecendo? – Gale finalmente teve a coragem de perguntar. Sentia como se um tufo de algodão estivesse preso em sua garganta.

Katniss.

Gale respirou fundo, a simples menção ao nome já fazendo seu estômago revirar. Bombas começaram a explodir em sua mente e ele teve de se controlar para não ter um acesso de pânico ali mesmo. Ergueu o olhar e encarou a luz que emanava do teto. O excesso de claridade fez com que alguns pontinhos pretos surgissem em seu campo de visão, e seus olhos lacrimejaram enquanto os feixes de luz invadiam seus olhos.

– Entraremos em contato com ela amanhã – Paylor respondeu, a voz pausada e seca como a de um robô. Gale assentiu com a cabeça e levantou-se, limpando as mãos na calça. – Você quer alerta-la a respeito?

– Não. Vocês podem se encarregar disso - Gale balbuciou, mais para si mesmo do que para Paylor. - Encerramos a conversa – ele respondeu. A verdade é que queria sair dali o mais rápido possível, antes que desabasse e começasse a chorar no meio de um monte de gente. Gale não deixaria que o vissem como alguém fraco, porque ele não era.

Alguns soldados afastaram-se da porta quando ele se aproximou e, assim que pousou a mão fria na maçaneta, Gale virou-se e lançou um olhar indecifrável a todos ali presentes.

– Espero que não cometam novamente a burrice de tentar me intimidar com uma arma. Não vai funcionar.

E então bateu a porta atrás de si.

~*~

Madge encarou a lista com o queixo tremendo. Olhou para Aaron, depois encarou a lista novamente. E então precisou se sentar para não desabar ali mesmo.

Ela fora convocada. Convocada para um grupo estrategista que teria de descobrir a localização de um grupo radical com um prazo máximo de três semanas. Teria de voltar ao exército e, para piorar tudo, seria parceira de Gale Hawthorne.

Como se tudo já não estivesse ruim o suficiente.

Aaron engoliu em seco e colocou as mãos nos bolsos, os olhos castanhos fitando-a com uma ponta de pena. Ele respirou fundo, o peito musculoso enchendo-se com o ar abafado da sala.

– Eu sinto muito, Sarah. Sei que você não queria voltar.

– Fiéis de Snow – Madge soltou uma risada baixa, sem humor, ignorando o comentário do amigo. Balançou levemente a cabeça, escondendo-a entre as duas mãos logo depois.

Aaron coçou os cabelos loiros, ato que fez com que sua bandana vermelha caísse em frente a seus olhos. Irritado, ele tirou-a da cabeça e amarrou-a com certa dificuldade no pulso esquerdo, usando a mão livre e a boca para conseguir dar um nó decente.

Um fato que estranhamente intrigava Madge: Aaron nunca tirava a bandana. Não importava se estivesse amarrada em sua calça, em sua testa, em seu pulso: estava sempre lá, com ele. Como se fosse um membro de seu corpo. Muitas vezes ela considerara lhe perguntar a ligação entre ele e aquele pedaço desgastado de pano, mas por algum motivo aquela pergunta parecia pessoal demais. Suspeitava que houvesse motivos mais profundos para ele ser tão apegado a algo banal como uma bandana.

– Parece que, mesmo depois de morto, aquele velho gordo ainda consegue plantar a semente da discórdia – Aaron riu pelo nariz. Na verdade não via graça alguma na situação, mas sentia que era seu dever confortar a amiga.

– É, parece... Parece que sim – Madge murmurou em resposta, e então Aaron aproximou-se e tomou-lhe as duas mãos. Quando ela se levantou, ele puxou-a para um abraço e esperou que isso fosse a melhor forma de demonstrar que, de fato, ele sentia muito.


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Notas finais do capítulo

THE TRETA HAS BEEN PLANTED.
heuehauehuaheuae
Gente, não poderei responder os reviews nessa semana pois estarei viajando e não poderei entrar na internet. Mas peço que não deixem de comentar, por favor. Responderei quando puder.
Acho que nunca fiquei tão feliz com reviews como fiquei no cap passado. Vocês me deixaram feliz, de uma forma tão especial que nem sei descrever. Muito obrigada pelas palavras de carinho.
Espero ver vocês logo!
Beijos,
Penn.



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