Emergency escrita por Mackz


Capítulo 2
De volta




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Capitulo I

De volta

 

Bem-vindos ao séc. 20, no ano 1918. Era nesta época que eu, Isabella Swan, vivia. Estava agora mesmo num comboio de volta para Chicago, de volta para a minha família. Com a 1ª Grande Guerra, muitas jovens como eu fomos obrigadas a viajar para países europeus envolvidos na guerra, para ajudar nos hospitais.

Passei quase meio-ano em França. Passaram por mim homens sem braços, outros sem pernas e alguns sem nenhum membro mesmo. Uns sobreviveram, outros morreram nas minhas mãos. Não, eu não tinha sangue frio. Tentava ao máximo não ficar chocada ao ver o corpo humano mutilado mas ainda ficava sentida ao ver tanto sangue derramado nas minhas mãos, sangue este que nem sequer era meu.

O hospital era horrível. Era uma cabana tapada por panos e paus. Um hospital improvisado no meio do nada, no meio de uma guerra sangrenta. Tinha outras tendas para as enfermeiras descansarem. Muitas de nós acabaram por morrer, porque o frio era muito forte e ficávamos gravemente doentes.

Os nossos pacientes não eram apenas soldados. Também cidadãos normais, que fugiam dos centros para áreas com pouca população. Mulheres e crianças também faziam parte desse grupo. Entre todos os pacientes, eram as crianças que me chocavam mais. Tão novos, tão frágeis e com tantas coisas por descobrir, a vida deles acabava ali.

Eram esses pensamentos e muitos mais que invadiam a minha cabeça, enquanto estava sentada no comboio. Recebia e escrevia cartas dos meus familiares e amigos. As frases lá escritas conseguiam sempre acalmar-me e dar-me esperança para que logo pudesse estar com eles.

Mas as últimas assustaram-me. Falavam sobre uma epidemia que estava a assombrar a minha cidade natal. Mesmo com avisos para eu não voltar, decidi que não podia deixa-los morrer, mesmo que eu fosse pelo mesmo caminho, eu saberia que estava com eles, nem que fosse só um ultimo momento.

A viagem era lenta e aborrecida. Tentava mandar a minha mente para outro lado, para me distrair. Mas sempre que fazia isso, as imagens em França voltavam como fantasmas do passado prestes a amaldiçoar-me.

Olhei a minha volta no comboio. Parecia um enterro, estava tudo em silêncio, vestidos de preto e com expressões faciais exageradas de tristeza.

Virei o meu rosto para a janela, e vi que estava a amanhecer. Durante a viagem apenas consegui dormir durante uma ou duas horas. As demasiadas preocupações impediam-me de me entregar ao sono. Mas também o receio, de quando cerrasse os olhos, tivesse pesadelos.

Então decidi pegar no livro Romeu & Julieta, e entreter os meus olhos nas frases espalhadas pelo livro. E assim passei o meu tempo, dentro do comboio.

Quanto á minha pessoa, nasci em Chicago em 1901 no seio de uma família pobre. O meu pai, Charlie, quando eu tinha dois anos, decidiu apostar no comércio o que fez com que a nossa vida melhorasse.

Nunca namorei ou me apaixonei. E não sentia necessidade disso, nunca sonhei em casar também. A minha mãe, Renée, sempre dizia que eu tinha nascido demasiado avançada para o tempo em nós vivíamos.

A minha vida correu normalmente até aos 15. Quando me avisaram que teria que fazer as malas e preparar-me para viajar para a Europa para ajudar os soldados feridos. As mesmas ordens foram dadas a todas as raparigas da minha idade. Já no caso dos rapazes, eles alistavam-se no exército para lutar.

Eles faziam uma fila imensa no meio da rua, no centro da cidade para se inscreverem. As suas faces estavam cobertas por expressões de coragem e felicidade. Eu não conseguia perceber o porquê. Eu não sabia o que estava a acontecer na Europa, mas tinha a impressão que algo não estava bem.

Enquanto estava em França, vi muitos daqueles rapazes com os sorrisos no rosto por irem lutar pela sua prátia, a agonizar de dor e a pediram-me auxílio. Eles não faziam ideia para o inferno que estavam a entrar, quando aceitaram alistar-se no exército.

Parei a minha leitura quando o comboio parou. Guardei o livro na mala e coloquei-a ao ombro.

Saí da carruagem do comboio onde eu tinha viajado, e olhei para os lados á procura de alguém conhecido que estivesse á minha espera.

- Bella – ouço uma voz suave masculina soar atrás de mim, depressa reconheci-a.

Virei-me e senti um sorriso rasgar-me os lábios.

- Carlisle – corri para o abraçar – que saudades! – acrescentei quando já estava abraçada ao seu corpo estranhamente frio e duro.

- Eu também Bella. – respondeu enquanto retribui-a o meu abraço. Soltei-o e encarei os seus olhos dourados misteriosos.

Começamos a caminhar lado a lado em direcção ao exterior da estação de comboios.

- E então… - quebrou o silêncio – como foi aquilo na França? – questionou-me enquanto andávamos.

- Eu sempre sonhei ir a França, sinto-me realizada. – respondi sarcástica o que fez com que Carlisle risse-se.

- Não deve ter sido das melhores das viagens, pois não? – perguntou com um sorriso triste.

Fiquei em silêncio durante algum tempo, e finalmente respondi.

- Foi horrível! Não acreditas como é aquilo… - a voz falhou-me – Preferia mil vezes trabalhar numa morgue. Pelo menos sei que os mortos não gritam de dor.

- Eu acho que consigo imaginar – disse-me com o olhar distante. – Mas sabes… Eu queria pedir-te um favor. – perguntou-me tornando a encarar-me.

- Se eu poder ajudar.

- Gostava que me ajudasses no hospital. Como trabalhaste sobre pressão durante este ultimo meio-ano, talvez seja para ti mais fácil agora lidar com doentes.

- Oh. Claro, mas não é contagioso estar perto deles?

- É. Mas temos o equipamento necessário para nos proteger.

Carlisle levou-me para casa, no seu carro. Quando cheguei fui recebida por abraços e sorrisos de alegria, mesmo sabendo que estava uma enorme tensão no ar, devidas as muitas mortes causadas pela epidemia desconhecida.

A minha mãe puxou-me pela mão, em direcção a sala. Estava tudo igual quando saí. Tirando o facto, de os meus pais andarem tudo de luto. O que simbolizava que a coisa estava mesmo má.

O corredor que fazia ligação às diferentes divisões da casa, tinha as paredes pintadas de bege, e estavam recheadas de quadros, uns era pinturas e outros eram fotografias a preto e branco. O chão de madeira estava tapado por um tapete todo decorado á mão.

Chegamos á sala e sentamo-nos no sofá. A minha mãe não largou a minha mão, e agora fazia carícias na palma.

Virou-se para mim, com as lágrimas a ameaçar fugirem dos olhos e com um sorriso triste.

- Estou tão feliz que tenhas voltado. – respirou fundo e limpou uma lágrima do seu rosto que tinha conseguido escapar – Eu estava tão assustada! O sítio onde tu estavas poderia ter sido atacado por os alemães e… - não conseguiu acabar a frase, porque a voz falhou-me e ela começou a soluçar.

Não respondi, aproximei-me dela, e abracei-a.

Não sei quando tempo ficamos ali abraçadas, deixando as lágrimas molhando os ombros de uma da outra. Eu só queria que aquilo acabasse. Estávamos tão bem quando algum idiota decidiu declarar guerra.

Onde nós estávamos, não éramos afectados. Isto é, as perdas materiais. A cidade corria normalmente, como nada tivesse a acontecer na Europa. Mas mesmo a guerra não sendo em território americano, soldados nascidos aqui foram para lá, e muitos nunca voltarão.

Eu sabia que onde eu estava era muito perigoso. A qualquer momento, um dos países contra França, podia invadir e matar-nos a todos que estávamos no hospital. Eu entendia a agonia da minha mãe e também entendi que não era insano da parte dela ficar feliz ao ver-me bem.

Qualquer mãe ficaria assim, mesmo conhecendo o inferno que nós estávamos a passar. Sim, um verdadeiro inferno. Já não bastava a guerra, e agora também tínhamos uma epidemia. E sinceramente, isso assustava-me mais que a guerra em si. Porque a guerra é criada e exercida pelas mãos humanas. E uma epidemia? Quem é que pode parar uma epidemia, mesmo quando ela não se pode ver, ou tocar… Apenas tendo o conhecimento, que no momento que a apanharmos iremos morrer gradualmente. Talvez fosse a única saída. A morte. Deixar de sofrer e chorar. Mas não, não podia fazer isso.

Eu ajudei tantas pensavas, não podia desistir agora. Não era nenhuma santa, ou muito menos uma heroína. Aliás, sempre que atendia mãe e filho juntos, implorava internamente para quem quisesse ouvir para voltar para os braços dos meus pais.

Ouvia as vozes de Carlisle e do meu pai, a conversarem seriamente na porta. Até que senti passos dirigidos ao sítio onde eu me encontrava com Renée. Soltamo-nos do nosso abraço asfixiante e olhamos uma para outra. O olhar foi quebrado quando ouvi a voz do meu pai.

- Bella, querida. Estive a falar com o e ele disse-me que quanto mais cedo poderes ir para o hospital melhor.

- Nós esperamos. – acrescentou Carlisle que se encontrava atrás de Charlie.

- Amanhã, eu vou. – garanti-lhes.

- Bella, se quiseres… - retorquiu Carlisle e eu interrompi.

- Tudo bem, eu vou. Eu estou bem. Eu posso ir. – tranquilizei-os e acrescentei com um sorriso – Eu também quero ajudar.

Todos sorriram quando acabei de pronunciar as ultimas palavras. Eu parecia… nobre.

Depois de todas as tentativas da parte dos meus pais para fazer com que Carlisle jantasse connosco, coisa que não resultou. Despedimo-nos dele e fomos jantar.

A ceia decorreu em silêncio, apenas com o som da rádio a entoar pela sala rectangular. Na rádio, felizmente, apenas comentavam sobre desporto. O que eu sinceramente preferi, em vez das noticiais sobre as doenças e as desgraçadas que tem acontecido.

Pedi licença e subi para me recolher. Estava cansada da viagem. As dores das coxas iam até aos tornozelos. As costas também doíam por ter passado demasiado sentada. Sentei-me na cama e deixei olhar em qualquer lado, ficando este sem foco.

E fiquei tipo em transe. Era estranho. Eu sentia receio quanto ao hospital. Devido ao que eu ia encontrar. Não que já não tivesse visto pior. Mas como eu já tinha comentado, era algo natural. Algo que não se pode parar com gestos ou palavras.

Podia haver cura, mas se havia, porquê é que ela ainda não tinha sido dada? Tanta gente podia ter sido poupada de um destino debaixo da terra. Sentia-me quase impotente. Como quisesse ajudar, e só pudesse olhar e desesperar. Chicago era a minha cidade natal, onde eu nasci, cresci, tornei-me mulher e - espero eu - morrer.

Levantei lentamente da minha cama e vesti o comprido vestido para dormir. Deitei-me na cama, e deixei-me levar pelo cansaço. Tinha a sensação, que logo que passasse pelas portas do hospital, algo ia mudar. Não sei o quê ou certo, nem sei se era bom ou mau. Mas eu só tinha essa certeza.


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Notas finais do capítulo

Aqui está.
Obrigada pelos reviews.