Avatar: A Lenda de Zara - Livro 1: Água escrita por Evangeline


Capítulo 5
Capítulo 4: Dobra D'água - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Atualizado em 09/01/2019



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Estava ciente de que era uma habilidosa médica dobradora, mas queria ver com seus próprios olhos a sua capacidade de manipular o elemento a seu favor.

Zara permaneceu ajoelhada e com movimentos ágeis e lentos transformou o gelo na frente dos dois em água líquida, para então fazê-la cobrir suas mãos como duas luvas d’água. Era uma técnica médica que aprendera no programa para mulheres.

— Mantenha a água e fique de pé. – Disse o professor. Zara obedeceu conforme Yokusen imitava a técnica dela e ficava de pé. – Agora lembre da técnica de empurrar e puxar. – Disse o mestre apenas olhando-a. Zara, um tanto confusa, pôs-se na posição da técnica e começou a fazer movimentos de empurra e puxa.

A água do lago foi movimentada com sucesso, e a água nas mãos da menina permaneceram lá. Zara podia concentrar-se em dois pontos de chi, o que a fez orgulhosa de si mesma.

— Ótimo. Agora preste atenção. – Disse o mestre. Zara deixou que a água em suas mãos caísse no chão, e fez o que o mestre pediu.
Yokusen muito lentamente demonstrou técnicas de transformações físicas da água. De gelo para água, de água para vapor, e vice-versa. A menina prestava atenção em cada detalhe, fascinada pela beleza da dobra d’água.

Os movimentos de verdade eram muito mais complicados do que empurrar e puxar. Parecia uma dança de uma pessoa só. Movimentos com as pernas e pés, até mesmo a altura dos cotovelos era importante.

Zara sentia-se muito leve ao dobrar a água, era uma sensação de paz que não podia explicar. Conforme as horas passavam, Zara e Yokusen praticaram muitos movimentos de volume com o máximo de água que a menina conseguisse dobrar, o que no final do treino era quase o lago inteiro. Durante o treino, ela podia esquecer a saudade dos pais, podia esquecer toda a sua responsabilidade como Avatar e o choque da descoberta.

Era apenas ela e a água.

Mestre e aluna treinaram até a meia noite daquele dia, quando a fome atacou e Yara não permitiu que Zara ficasse muito tempo exposta, além de que precisava ir ao encontro de Tuí e La.

O mestre despediu-se fascinado. Zara tinha uma facilidade para as transformações físicas da água, e uma criatividade para maneiras inovadoras de usá-la. Suas técnicas de distância eram quase tão boas quanto as de proximidade, quando a água está fisicamente perto do dobrador, que parecia ser a especialidade da menina.

 

Depois de descansar, tomar banho e jantar, Zara foi ao Oásis Espiritual.

Tuí e La encarnados eram uma visão muito calmante para a menina.

Sentou-se para meditar diante do lago, e conectou-se com o mundo espiritual com notável facilidade se comparado ao dia anterior.

— Tuí? La? – Chamou a menina.

Os peixes se agitaram dentro do lago.

— Diga, menina Zara. – Disse La calmamente.

— Depois que eu aprender a dobra d’água, como aprenderei a dobra de terra? – Perguntou a menina.

— Um passo de cada vez, Avatar. – Reverberou a voz de Tuí. – Primeiro aprenda o máximo possível sobre a água, dobra d’água e a filosofia dos dobradores, menina. Sei que é muito jovem, mas você precisa aprender o máximo que puder. Capte o espirito da história e da cultura da sua tribo, depois aprenda sobre as outras. – Falou o Espírito do Mar.

— Zara, olhe para nós, o quê vê? – Perguntou La, docemente.

— Vocês são os Espíritos do Mar e da Lua. São a base de toda a Tribo da água, assim como da dobra d’água. – Disse a menina, corretamente.

— Sim, somos. – Disse La. – Mas somos algo muito maior do que isso. Algo que você, como Avatar deve promover no mundo. – Disse La.

— Pense nisto, Avatar. O quê somos nós? – Disse Tuí. – Agora vá. Descanse seu corpo para voltar aos treinos. Concentre-se na sua missão. – Completou lentamente.

Não sabia o que fazer. Zara levantou-se e pôs-se a caminhar lentamente dentro do palácio. Estava perto do amanhecer e assim que o sol desse o ar da graça, Zara teria mais um treino.

Antes que pudesse chegar ao seu local de destino, os jardins de gelo, Zara ouviu passos atrás de si. Os corredores do palácio eram amplos e escuros, o som dos passos que ouviu parecia ecoar. Como não ouvira antes?

Mesmo ecoando tão facilmente, era difícil de se ouvir.

A menina continuou andando para que seu estranho seguidor não percebesse que ela havia ouvido. Percebeu que o som dos passos pareceram sumir, mas na verdade só haviam se misturado ao seu próprio passo. Logo veio-lhe uma ideia

Começou a dar passos mais lentos. Pelo mínimo que tivesse sido, os passos atrás de si saíram do compasso do seu próprio caminhar, para mais uma vez se camuflar. A menina sorriu brevemente e continuou andando até os jardins. Fosse quem fosse, quanto mais distante do palácio e próxima da água liquida estivesse, melhor seria.

Não demorou muito para estar ao ar livre. Alguma hora o “espião” apareceria.

— Quem está aí? – Finalmente perguntou Zara, não muito alto. Já estava ajoelhada diante do lago, preparada para empurrar e puxar até inundar tudo.

— Ah, Zara, sou eu. Desculpe. – Disse Gumo aparecendo de trás de uma pilastra. – Sou só eu, Gumo. – Disse o menino um tanto triste. Ele tinha cabelos castanhos e muito curtos, e estava usando roupas da tribo da água agora.

— Por que estava me seguindo? – Perguntou a menina.

— Ah, foi sem querer. Eu te vi saindo por um corredor e passou direto do seu quarto, fiquei curioso. Desculpe. – Disse o menino fazendo uma reverência. Era um menino dedicado, pensou ela.

— Tudo bem. Mas por que está acordado? Você só tem aula de tarde. – Quis saber a menina.

— Bem, eu só fui beber água, não dormi muito bem. – Disse o menino ajoelhando-se ao lado dela e olhando o lago.

— Gumo... – Começou depois de um tempo em silencio. – Quem são vocês? Por que estavam com roupas de outras nações? São dobradores de água, deveriam viver em alguma das Tribos da Água. – Perguntava a menina. Aquilo martelava em sua mente.

— Ah, bem... – o menino começou, um pouco tímido. – Acho que você nunca saiu daqui, não é? – Perguntou. Zara negou, meio desconcertada ao lembrar que ainda viajaria muito na vida. – Bem... por onde começar... – Pensava Gumo. – Eu gosto muito de história, para mim é fácil entender. O quê você sabe sobre a história das nações? – Perguntou.

— Bem, só sei sobre a Tribo da Água do Norte. – E sobre os Avatares anteriores, completou em pensamento. Gumo suspirou.

— Tudo bem. Vamos lá então. – Começou. – Aqui na Tribo da água a sociedade é dividida em classes sociais, realeza e dobradores, certo? – Perguntou e a menina assentiu. – Mas não é assim em todos os lugares. No Reino da Terra, quando se é militar ou se trabalha para o palácio, se é rico sem dúvidas. E se a família não tem nenhuma ligação com militares, é pobre com certeza. Além de que no Reino da Terra não há nenhum Deus ou Espírito guia, como aqui se tem a Tuí e La.

“Na Nação do Fogo os Militares, Realeza e Dobradores vivem como verdadeiros Deuses, a Família real ainda mais. E se você não for nenhum desses, você será como um escravo para os que são. Mas não ache absurdo, a vida deles é assim lá, eles consideram justo. EU não sei muito da nação do fogo, mas sei que os Espíritos que eles acreditam são separados por lugares. Existe um espírito protetor para cada coisa. Mas dizem que a Família Real pouco se importa com o mundo espiritual.”

“Já entre os nômades do ar, que foi onde eu me refugiei, a conexão com o mundo espiritual é bem maior. Os mestres, chamados monges, meditam quase o dia inteiro para alcançar o equilíbrio espiritual. Eles não tem espíritos específicos, apenas aprendem sobre todos os que conseguirem.”

“Há muito tempo, tipo uns cem anos, a nação do fogo criou um interesse pela princesa de Omashu, a Princesa Litta. Até hoje ninguém sabe a razão daquele interesse, ou pelo menos não foi divulgado. Tudo o que se sabe é que tentaram invadir a cidade para pegar a princesa, mas ela já havia fugido para algum outro lugar. Acontece que o governo do Reino da Terra escondeu tudo o que se tinha para descobrir sobre o assunto. Quando eles querem esconder algo, eles escondem de verdade. Ainda hoje não se sabe aonde a princesa Litta foi parar."

“Hoje, a nação do fogo deixou muito claro que tem interesse no próximo avatar. O problema são as aparições da princesa Litta por todo o mundo! Algumas são farsas, mas outras ninguém consegue entender. Além de que os dobradores de fogo estão quase extintos e ninguém sabe porquê. Além da família real, apenas alguns militares são dobradores.”

Quando o menino ia terminando a história, o sol já começava a surgir no horizonte. Zara ouvia com muita atenção.

— Como são essas aparições da Princesa Litta? – Perguntou a menina.

— Bem, dizem que ela era loira e tinha olhos caramelo. É uma aparência bem difícil de forjar. Ela era muito bondosa, mas ninguém nunca ouviu sua voz. Eu não entendo bem sobre as aparições. – Explicou o menino.

— Deve ter algum padrão. – Comentou baixinho, pensando sobre o assunto.

— Eu não sei, mas é um bom assunto para se pesquisar. – Comentou o menino, descontraído.

— Mas porque você, que é de origem da Tribo da água, estava num Templo do Ar? – Perguntou.

— Ah sim, desculpe. Bem, o que aconteceu foi que um grupo de dobradores estava sendo levado ao polo sul. Eu, Koi, Rin e Vesto para batalha e Dara para medicina. Tinha muito mais gente no grupo, em torno de vinte jovens dobradores... Mas Fomos atacados diversas vezes e... – O menino dizia tristemente. – Tivemos que nos esconder e nos camuflar por onde passávamos. Por sorte Yokusen vinha da Tribo da Água do Sul e nos trouxe de volta.

Zara pensou um pouco. Estava tudo muito confuso e estranho. Para quê enviar jovens dobradores para o sul? E o que tinha a Princesa Litta? O que estava acontecendo com os dobradores de fogo? Algo na mente da menina martelava-lhe, apontando para Omashu. O Reino da Terra, de acordo com Gumo, era excepcionalmente bom para esconder coisas que seriam desagradáveis para ele.

— Então... Para quê levar ao sul jovens dominadores que ainda não sabia dobrar a água? – Foi então que Zara fez a pergunta chave. O menino tremeu um pouco.

— E-eu não sei. – Gaguejou. Zara decidiu deixar passar. O menino era muito inteligente.
Depois de alguns minutos em silencio, o sol já estava um pouco alto, devia ser em torno de cinco horas da matina.

— Obrigada, Gumo. – Agradeceu pelas informações, depois de pensar por um tempo. O menino corou de leve e sorriu, satisfeito por seu conhecimento se fazer útil. A menina fechou os olhos em concentração, sendo observada pelo colega.

Zara tinha a aparência muito bela e exótica, de fato, não tinha como Gumo não notar.

O menino não percebia, mas Zara testava naquele momento uma teoria. Talvez pudesse funcionar...
Poucos minutos de concentração passaram, até que Yokusen apareceu com uma xícara com algo quente oferecendo a Zara e seu companheiro, mas ambos negaram.

— Gumo, que faz acordado? – Perguntou o mestre seriamente. O menino ainda estava um pouco aéreo quando a própria Zara respondeu.

— Ele estava com o sono irregular e acordou cedo o suficiente para me ver vindo para cá, Mestre. – Disse a menina. Yokusen confirmou com a cabeça, sempre muito sério, e lançou um olhar repreendedor para o menino, que logo entendeu que deveria sair dali.

Levantou-se com uma despedida para Zara e voltou para seus aposentos, dizendo que tentaria dormir um pouco antes de seu treino.

Zara virou-se para seu Mestre, um tanto suspeito, e fez-lhe uma reverencia.

— Pronta? – Perguntou o Professor.

— Sim. – Confirmou a menina. Sequer tinha dormido, mas não se sentia cansada.

Passaram toda a manhã treinando técnicas de bloqueio e defesa com contra-ataque. Zara aprendia muito rápido, tinha movimentos leves e muito bem fluídos. Sempre que possível, escolhia dominar a água no estado gasoso, mas o professor não havia percebido tal padrão. A menina achava que quando fosse viajar, seria mais fácil se pudesse ter sempre água disponível. Nas nuvens.

A cabeça da menina ainda martelava com duas perguntas.

"Qual é a característica física mais poderosa da água?"

"O quê são Tuí e La?"


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