Avatar: A Lenda de Zara - Livro 1: Água escrita por Evangeline


Capítulo 18
Cap 17: Partida




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Por que eu? Por que não Gumo? Perguntava-se.

Nunca havia pensado em como a dobra d’água era poderosa. Dobrar sangue, controlar o corpo de alguém, mata-lo por falta de circulação. Era arriscado, poderoso, perigoso.

– Se não quiser, eu entendo perfeitamente. – Falou antes que o menino se sentisse obrigado a ser cobaia. Airon abria e fechava a boca sem saber o que dizer.

– Acha que consegue? – Perguntou quase num grito mudo, um sussurro medroso.

– Acho que sim. Mas tenho medo. – Disse a menina. – Por isso sei que você deve ter ainda mais medo. – Explicou-se.

– Não acha melhor fazer com animais antes? – Deu a ideia. A menina sorriu lentamente, era uma boa ideia.

– É verdade... – Sussurrou concordando, e fazendo o menino suspirar aliviado.

Ela riu um pouco do rapaz que estava morrendo de medo.

– Posso contar mais um segredo? – Perguntou Zara sussurrando.

– Claro. – Disse o menino.

– Hoje é o meu aniversário. – Disse sorrindo abertamente. O menino arregalou os olhos.

– E por que só disse isso agora?! – Exclamou fazendo-a sorrir.

– Por que ninguém nunca soube a data exata de meu aniversário. – Explicou. – Até que Tuí me contou num dos sonhos. Sabe, meus pais nunca acertaram a data. – Falou rindo um pouco. – Minhas festas sempre eram em datas diferentes, sempre apenas eu, meu pai e minha mãe. – Disse com um sorriso nostálgico.

O menino olhava para Zara como se ela fosse a pessoa mais louca que já vira.

– Bem, então acho que posso dobrar fogo para você. – Falou com um meio sorriso.

Pelo resto da noite, Airon demonstrou as mais diversas técnicas.

Zara pode ver como era diferente da dobra d’água. Ao invés de manter-se em equilíbrio, movimentos contínuos, técnicas complicadas, movimentos lentos e mãos delicadas... A dobra de fogo parecia muito mais difícil. Não havia repetição de nada.

Mãos rígidas, com o polegar bem dobrado, o tronco também muito rígido, chutes altos, murros para qualquer lado, saltos, giros e tudo o mais que se pode imaginar. A cada rajada de fogo, os olhos de Zara brilhavam.

Logo o sol começava a nascer. Airon estava suado quando finalmente parou A verdade é que estava com certa saudade de dobrar o fogo, e aquele espaço era muito bom para treinar.

– Vamos dormir? – Chamou o rapaz ofegante. Zara sorriu-lhe verdadeiramente.

– Não, meu amigo. Vá descansar. – Disse-lhe. – Preciso ficar aqui. – Completou. Airon não sabia o porquê, mas se tinha algo que estava aprendendo m Zara é que tudo o que ela fazia tinha um bom motivo, mesmo que não o contasse.

Um bom exemplo fora leva-lo com ela para a jornada. Ela sabia que os dobradores de fogo estavam desaparecendo misteriosamente, então precisava se apegar e guardar sob suas asas um único dobrador que encontrara. Sei que estou sendo usado. Pensava. Mas estou usando também. Tentava se recompensar, sabendo que não estava usando ninguém.

Quando Airon se retirou do templo, Zara sentou-se no centro do salão e fechou os olhos, concentrando-se para conectar-se ao mundo espiritual. Chegando ao mesmo, seus olhos arregalaram-se maravilhados.

Foi quando pôde entender o que o monge dizia quando disse que Seth não era um Bizão, Seth era o espírito do Bizão.

O salão antes escuro e sombrio, abandonado, no mundo espiritual era repleto de plantas que subiam pelas paredes, a luza parecia irradiar das paredes, e uma dúzia de Bizões de diversos tamanhos voavam para todos os lados, e pousavam em vários lugares.

– Avatar. – Ouviu falar uma voz feminina. Era aquela voz.

– Estou aqui. – Falou, um pouco temerosa por atender por “Avatar”.

– Sei que sim, mas não deveria. – Disse a voz. Foi só então que percebeu que não havia uma mulher falando, a voz sequer era tão feminina, era apenas uma voz, sem sexo definido. A voz vinha do espirito do bizão, e não havia uma imagem, havia um eco. – Não está em tempo de ar, Avatar. – Dizia de modo estranho. – É tempo de terra para você, o ar virá em seu tempo. Não devia estar aqui, Zara. – Tinha a fala mansa, e muito lenta, arrastada. Era agradável aos ouvidos.

– Eu não posso mudar a ordem com a qual aprendo as dobras? – Perguntou a menina.

– Não. – Disse simplesmente. – É passado o tempo de água, e chega agora o tempo de terra. Esqueça o ar e o fogo, Avatar. – Disse a voz. Zara, claramente desapontada, abaixou a cabeça. Não havia sequer se levantado desde que chegara.

Um longo silencio passou, os Bizóes se aproximavam um pouco da menina e saiam de perto da mesma.

– Não se preocupe, Avatar. As coisas nunca são o que parecem. – Falou como se fosse uma simples frase de efeito. – Pessoas mentem para si mesmas, achando que estão mentindo para os outros. As pessoas mudam o tempo todo, como a água. Mas sempre são as mesmas...

– Como a água. – Concluiu a menina.

– Está certa. – Confirmou Seth. – Lembre-se sempre: Algumas coisas somem por que simplesmente não existem mais. – Falou deixando a menina pensativa.

– O que quer dizer com isso? – Perguntou antes que o momento passasse.

– Exatamente o que eu disse, Avatar. Agora vá. Ache o necessário, aprenda o máximo e não procure o que não existe. – Lembrou o espirito, enfatizando o ultimo conselho.

A menina voltou ao mundo físico mais confusa do que havia chegado.

Algumas coisas somem porque simplesmente não existem mais. Não procure o que não existe.

Não fazia sentido. Mas tudo o que Seth havia dito, a menina se esforçaria ao máximo para nunca se esquecer. Quando abriu os olhos o salão estava muito mais claro. O sol já estava lá, brilhando, e a menina sequer dormira.

Levantou-se apressada. Precisava sair dali. Precisava ir À terra, precisava aprender a dobra de terra e entender a filosofia do elemento. Correu até o quarto onde combinara com seus amigos que ficariam, e encontrou ambos dormindo em cima de alguns panos no chão.

– Gumo! Airon! – Chamou com gritos baixos até acordá-los.

– O quê? O que houve? – Perguntou Gumo assustado e aturdido, levantando-se com dificuldade. Ambos os meninos estavam sem camisa e sem sapatos. Gumo levantou-se tão apressado que calçou os sapatos com os pés trocados, o que causou muita graça para os outros dois amigos.

Gumo levantou-se e logo se vestiu, o extremo contrário de Airon que sentou-se calmamente e ficou encarando Zara até ela explicar porquê ela os acordou tão cedo.

– Precisamos sair logo daqui. – Explicou. – Explico no caminho, vamos antes que todos acordem.

Os meninos se entreolharam e assentiram. Em poucos minutos estavam saindo do Templo com suas trouxas nas costas e ainda rindo um pouco do modo desesperado como Gumo se levantou. Quando chegaram à base da montanha já era quase tarde, e todos estavam com fome.

Decidiram esperar Airon pegar algum tipo de animal e assá-lo. Mas Zara não aceitou. Permaneceu com fome, mas não negou que os garotos comessem. O monge lhe disse que os nômades do ar eram vegetarianos, pois desde o nascimento são ensinados a conviver em paz com todas as criaturas. E comê-los não é uma boa maneira de permanecer em paz.

Quando chegaram ao barco, Airon estancou sem querer entrar no mesmo.

– Está realmente pensando em dar a volta no continente? – Perguntou irritado.

– Do que está falando? – Rebateu Gumo, já um pouco irritado também.

– Estou falando que se seguirmos a pé vamos chegar muito mais rápido a qualquer cidade do Reino da Terra. – Disse Airon.

– Como assim? – Perguntou Zara, inocentemente.

– Zara, nós estamos num continente enorme. – Disse e apontou para o lado contrário ao mar. – Lá fica tudo o que quiser do Reino da Terra. Você faz alguma ideia de para onde vamos? – Perguntou sem querer ter sido tão rude com a amiga, que negou com um gesto de cabeça.

– É mais vantajoso seguir pela água. – Bufou Gumo.

– Mas é claro. Vamos passando fome dentro de um barco ao invés de ir andando e parando nas cidades de estrada para dormir numa cama e comer comida de verdade. – Falou irônico o dobrador de fogo.

– E o que sugere? Entrar no continente sem mapas nem guias? – Disse Gumo estressado.

– Se seguirmos pelo leste, vamos parar em Ba Sing Se. Se formos para o centro, para o Sul, vamos demorar mas vamos chegar em Omashu. E se formos para oeste vamos acabar em Tachi Dai. – Sugeriu. – Escolha seu cardápio, jovem Avatar! – Concluiu já irritado demais e pisando forte para o lado contrário ao mar.

Zara seguiu o dobrador de fogo com um olhar meio triste para Gumo. Logo os três estavam seguindo para leste, em direção a Ba Sing Se, seguindo Airon. Depois que o silencio tenso se passou, a menina explicou o que houve com Seth.

– O problema é que eu não faço ideia de como é a cultura do povo da terra. Estou acostumada com o meu povo, e o monge falou um pouco sobre eles. É tão diferente! – Dizia a menina um tanto ansiosa.

– Não é um problema muito grande. O Reino da Terra é fácil. Prove que é mais forte, ou pague. Logo eles cedem. – Explicou. – Eu preciso das minhas espadas... – Disse pensativo. – Ou de dinheiro. – Concluiu.

Zara apenas ouvia.

– Não entendo. – Sussurrou falando mais consigo mesma do que com qualquer outro.

– O quê? – Perguntou Airon. Ele sempre gostava de ouvir as lógicas estranhas da jovem Avatar.

– Quando eu estava aprendendo dobra d’água, eu observava a água. – Disse a menina. – Como vou observar algo que está sempre parado? Maciço. – Explicou. Airon pensou por algum tempo.

– Temo que essa técnica só funcione com a água. – Falou chamando a atenção da menina.

– Por quê? – Perguntou Gumo, interessado.

– Porque quando vocês dominam a água, vocês gestuam como ela. Como se as acariciassem. – Tentava explicar com alguns gestos, imitando a dobra d’água. – Mas no fogo, por exemplo, nós não podemos nos mover como ele, ou acaricia-lo. O fogo é um elemento dominante e selvagem. Para dobrar o fogo é necessário ser mais dominante e mais selvagem. Não tem para quê observar o fogo. Você precisa dominá-lo, treiná-lo, adestrá-lo...

– Dobrá-lo. – Concluiu a menina, e Airon assentiu.

– Acho que entendi... Cada elemento será diferente. – Comentou a menina.

A viagem estava sendo longa demais para Zara, que não comia desde o dia anterior. Os seus amigos viam que a menina estava com muita fome, mas nada podiam fazer, apenas esperar que alguma cidade aparecesse, já que a própria menina não comeria mais carne, e ainda estavam por uma região árida, sem árvores ou plantas comestíveis.

Para Zara, todas essas viagem têm sido muito estranhas. Acostumada com sua casa, seu gelo, seu universo azul e branco, nunca sequer tinha visto terra antes de sair da Tribo.

Sentia falta de seus pais, sentia fome, medo, receio.


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