Avatar: A Lenda de Zara - Livro 1: Água escrita por Evangeline


Capítulo 14
Cap 13: Contando a Verdade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452955/chapter/14

Ela umedeceu os lábios, nervosa. Não sabia como fazer aquilo, nunca havia contado para ninguém. Não sabia se os ameaçaria para não contarem a ninguém, ou se contaria aos poucos. Mas sabia que era a hora de contar.

Só conseguiria botar os pés no templo se ambos soubessem, estivessem cientes do perigo.

– Há quase doze anos atrás um Avatar morreu, e a Nação do Fogo atacou nossa tribo. – Começou a explicar. – Naquela época a minha mãe de sangue, Kayun, havia acabado de perder meu pai, seu marido, para a nação do fogo. Então quando eu nasci ela me mandou para a adoção, onde consegui, em pouco tempo, meus pais adotivos, que eu amo muito: Tera e Gaibo.

“Quando eu fiz seis anos descobriram que eu podia dobrar a água e me mandaram para a seção medicinal da academia. Há dois meses atrás eu comecei a sonhar com Tuí e La, dizendo que eu precisava ir ao Oásis Espiritual. Eu não fazia ideia de como chegar lá, e tinha certeza de quê meus pais não me deixariam ir, afinal, nos moramos perto dos muros.”

Contou e parou. Airon não entendia nada sobre “morar perto do muro”, ou “academia”. Gumo apenas a olhava intrigado.

– Meus pais nunca me contaram que eu era adotada. Até hoje, eles nunca me contaram. – Disse deixando os garotos ainda mais intrigados, afinal, como ela sabia que era adotada.

– Então quem...?

– Tuí me contou. – Disse interrompendo a pergunta de Gumo. – Tuí me contou que minha mãe e meu pai não eram dobradores, me contou os nomes deles e até mesmo como se conheceram. Tuí disse que minha está viva, mas que eu não a procurasse. – Explicou. Airon já achava que a menina estava louca, enquanto Gumo criava suas suspeitas, arregalando mais os olhos a cada palavra que ela dizia. – Então Tuí e La escolheram o dia em que eu deveria ir lá. Disseram que deveria ser logo, e escolheram o aniversário do dia em que Kayun me deixou na porta do orfanato.

“Foi semana passada. Eu disse aos meus pai que ia partir e lhes contei a verdade. Falei sobre tudo o que Tuí e La me contaram, e meus pais não puderam negar. Eu parti durante a tarde e quando a noite chegou, eu estava completamente perdida na cidade. Então eu dormi e encontrei Tuí e La novamente. Tuí me disse pra seguir La, então eu chegaria. Naquela noite uma luz estranha em forma de um carpa branco apareceu para mim e me mostrou o caminho mais rápido que já vi, então eu cheguei no palácio pela manhã. Quando consegui falar com Yue, eu dei o recado que La me mandou falar. Eu não sei o que significava, mas Yue não hesitou em me deixar ver os dois espíritos encarnados.”

Fez uma longa pausa olhando para os dois. Gumo havia levado as mãos à frente da boca. Ele já sabia do que se tratava. Já Airon penas franzia o cenho e apertava o maxilar, nervoso. A menina suspirou.

– Eu os vi, e nada aconteceu. Fiquei tanto tempo na frente do lago, olhando para eles nadarem um atrás do outro que adormeci. Encontrei eles no meu sonho e reclamei pela viagem perdida. Tuí me disse que eu precisava aprender dobra d’água de verdade e me disse que eu deveria aprender com Yokusen, e que ele estava vindo do Templo do Ar do Norte.

“Eu argumentei. EU disse que meninas não podiam aprender a dobra d’água para combate. Lá disse: ‘Mas não para você. Toda a esperança está em você, menina.’”

Foi quando enfim Airon começou a perceber do que se tratava. Ele desencostou-se da parede da caverna rapidamente e arregalou os olhos.

– Eu não havia entendido o que estava acontecendo, então Tuí disse: Você tem o dever de acabar com todas as brigas e trazer a paz. Eu sabia que este era o dever do... – Ia dizendo, quando empacou naquela palavra.

– ... Avatar. – Completou Gumo estupefato.

– La confirmou tudo. Disse que era o MEU dever. Eles passaram dois dias seguidos me ensinando dobra d’água na teoria, e outras coisas... – Falou sem jeito.

Os dois garotos já não sabiam o que dizer. Gumo abria e fechava a boca de olhos arregalados.

Tudo fazia sentido. Por isso era tão boa e entendia tanto. Por isso Yokusen dava aulas só para ela de noite e ao amanhecer. Por isso Yue estava sempre responsável por ela. Por isso ela tina que ir ao templo do ar.

– Além de Yue, mais ninguém sabe. Quero que continue assim. – Disse friamente, causando arrepios nos dois.

– Então... – Começou Airon depois do choque. – Para quê vir ao templo do ar? Você não deveria aprender a dobra de terra agora? – Perguntou tentando quebrar a tensão da responsabilidade que pesava nas costas dos meninos.

Gumo se recuperou parcialmente do choque e olhou pra Zara, ansioso pela resposta.

– Eu não sei de onde Yue tirou essa ideia de me trazer para cá... – Disse. Não era sobre isso que queria falar. – Eu... Quero saber se estão dispostos a continuar comigo. – Falou por fim. Os rapazes a encararam sem entender. – Eu sei que é perigoso, sei que estão arriscando suas vidas. Sei que até eu mesma posso mata-los por um deslize, um acidente. – Disse estremecendo com a hipótese de entrar em Estado Avatar.

Os dois garotos permaneceram quietos.

Um silêncio se apoderou da caverninha, só se ouvia os estalos da fogueira.

– Você acha mesmo que... – Começou Airon. - ...eu te largaria sozinha com tanta gente ruim por aí? – Perguntou fazendo graça. A menina sorriu um tanto desanimada. – Além de quê eu posso te ensinar a dobra de fogo! – Falou animado.

– Eu estava esse tempo todo dando aula de história pro avatar? – Falou Gumo começando a fazer graça também.

– Você chamou “O Avatar” de louca! – Exclamou Airon quando lembrou da discursão para poder acompanha-los na viagem. Gumo olhou para Zara fingindo estar com medo.

– Parem com isso. – Disse a menina um tanto sem jeito.

– Com o quê? – Perguntou Gumo.

– De ficar falando “O Avatar” o tempo todo. – Respondeu. – Eu sou Zara. – Falou por fim. Os dois meninos sorriram satisfeitos. Depois de mais algumas brincadeiras sobre a identidade de Zara, o assunto importante finalmente veio à tona.

– Por que, afinal de contas, você não quis entrar no Templo? – Perguntou Airon.

– Antes eu apenas sentia que lá havia algo muito importante. – Explicou. – Que quando eu entrasse, não teria mais volta. Algo muito bom e algo muito ruim ao mesmo tempo...

– Como assim? – Tentava entender Gumo. Zara suspirou preparando-se para explicar.

– Eu fui até o templo no mundo espiritual. – Disse a menina. – Estava tudo arruinado e destruído. Eu ouvi uma voz de uma mulher me chamando. Vinha de algum lugar bem dentro do templo, eu preciso encontrar. Estava ecoando para todos os lados. – A menina parecia um tanto traumatizada.

Os meninos se entreolharam confusos.

– Você não disse que tinha um monge lá? – Perguntou Gumi a Airon.

– Sim, tem. – Confirmou ainda pensativo. – Monge Kiriku, ele é um ancião e veio com mais dois monges um pouco mais jovens para tentar preservar o que restou do Templo. – Falou. – Mas os refugiados do Reino da Terra não vão permitir que quatro monges os impeçam de modificar as coisas lá dentro. – Explicou.

– Modificar as coisas lá dentro... – Repetiu num sussurro a jovem Avatar.

– Zara? – Chamou Gumo ao ver a menina aérea em seus pensamentos.

– Eu tenho uma ideia. – Disse com um sorriso vitorioso e ansioso.

O dia seguinte seria bem comprido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!