Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 6
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Notas iniciais do capítulo

--> Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.



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Num primeiro momento, Erica achou que não havia entendido direito. Sorriu, sarcástica, encarando o príncipe. Arqueou as sobrancelhas e abriu a boca, mas não tinha palavras para dizer.

Seu sorriso se transformou numa gargalhada alta e forte. O rapaz apenas encarava a moça com olhar pedinte.

Erica virou as costas, ainda rindo. Naquele momento, se sentiu mais nobre do que Zeke.

– Idiota... - Ela resmungou. Já não tinha medo de falar aquilo para alguém da realeza. Já haviam descoberto seu maior segredo; agora, nada precisava temer.

Saiu andando com passos firmes em direção à grande porta que dava para o imenso jardim do castelo, deixando Zeke para trás.
Durante pouco tempo, é claro. O príncipe logo se apressou em segui-la.

– Espere! - Ele gritou, mas foi ignorado. Perplexo diante da audácia de Erica, Zeke parou, apontou o dedo indicador para o chão e disse, num tom autoritário: - Eu ordeno que volte aqui imediatamente.

Erica parou, resmungou algumas pragas e xingamentos (dos quais alguns Zeke nunca ousaria repetir), olhou para o teto abobadado do salão como se perguntasse aos céus porque aquilo estava acontecendo com ela, e depois de alguns suspiros virou-se, cruzou os braços e encarou o rapaz, aborrecida.

Zeke estreitou os olhos, mal-humorado. Reforçou o ato de apontar o indicador ao chão.

– Eu disse para voltar até aqui.

A garota não se moveu. Zeke praguejou, bateu os pés, pulou de raiva, deu algumas voltinhas, resmungando.

Como uma garotinha mimada, Erica pensou. Uma criança à quem negaram um doce...

Ezekiel pôs as mãos nos quadris, em desistência, e caminhou até ela, ainda praguejando.

– Eu ainda não terminei - ele rosnou. - Você precisa me ouvir.

– Já ouvi o bastante.

– E então?

– Eu não vou competir para ser sua esposa.

Zeke resmungou:

– E eu não quero me casar com você.

Erica arqueou as sobrancelhas e estreitou o olhar. Seus olhos azuis e gélidos pareciam confusos.

– Então o que foi aquela proposta? - Ela perguntou, duvidosa.

Zeke suspirou; por um momento pareceu incrivelmente abalado, e Erica o julgou dez anos mais velho.
No segundo seguinte voltou a se aprumar, empinando o queixo, se erguendo sobre a garota como um rei que pisa sobre a cabeça de seu povo, mas Erica ainda podia ver uma tempestade de preocupação em seus olhos verdes.

– Minha mãe espera que eu encontre uma moça e me case - ele disse. - A Rainha diz que já tenho mais tempo de vida do que um homem precisa para estar casado e ter família; acha que até meu irmão Martin está ficando velho demais, e diz que não podemos nos demorar em encontrar alguém.

Ele fez uma pausa para perceber as reações de Erica, que, por sua vez, apenas o olhava com expressão vaga e nada dizia. Voltou à relatar seu drama:

– Daqui à algum tempo, provavelmente uma quinzena, várias princesas de vários reinos, de vários lugares remotos, virão até Liongrowl para um baile, todas esperando serem escolhidas por mim ou Martin, e, sinceramente, eu não quero escolher ninguém. Não quero me casar.

Erica, então, se surpreendeu. Era comum um príncipe escolher logo sua mulher, casar-se e honrar sua família com descendentes, mas nunca antes havia visto um príncipe renunciando ao dever que é um casamento.

Já ouvira falar de homens formados que se casaram com princesas ainda crianças, de um príncipe que tinha tido até 15 esposas antes de morrer, e dezenas de herdeiros e outras dezenas de conhecidos e assim por diante, mas não se lembrava de nenhum senhor de algum castelo que alguma vez tivesse desistido de seu próprio casamento.

– Porque me propôs isso, então? - Ela perguntou, confusa.

– Você não quer se casar, quer? - Ele perguntou, e Erica respondeu negativamente balançando a cabeça. - Eu também não. E, sinto lhe informar, a Rainha não gosta de você.

A garota revirou os olhos:

– Sei disso. Onde quer chegar?

– Você virá ao baile cerimonial. Dançará, tomará um ou dois cálices de vinho e se comportará como uma princesa, durante uma noite. - Ezekiel explicou o plano. - E eu escolherei me casar com você, mas a decisão deve ser aprovada por meus pais, e Orla, a Rainha, nunca permitirá que eu me case com uma plebeia.

Erica estreitou os olhos, em parte zangada, em parte surpresa:

– E daí?

– E daí você vai embora, e eu ficarei livre de um elo matrimonial. Eventos como esses só acontecem uma vez ao ano. A Rainha não poderá me obrigar a escolher outra moça.

Ficaram em silêncio por um longo tempo. Erica ainda tinha os olhos reprimidos, pensativa. As informações giravam como engrenagens em sua mente.
Tudo o que conseguiu dizer foi:

– Tenho que ir para casa.

Caminhou em direção a porta, o príncipe seguindo-a de perto. Ele não insistiu por uma resposta, e se o fizesse ouviria um não.

Erica ardia de ódio por aquele príncipe. Fora ele quem a colocara naquela situação.
E agora ele estava lhe pedindo favores... Ela absolutamente desejava poder acertá-lo no meio do rosto, deixar uma linda cicatriz em cada uma de suas bochechas reais.

Enquanto andavam pelo jardim, os jardineiros levantavam suas cabeças e acompanhavam com o olhar, mas não observavam Zeke, e sim a garota. Ela detestava ser observada, e sua vontade era de mandá-los voltar ao trabalho e parar de encará-la.
Se sentiu mais tranquila após passarem pelos enormes portões, se afastando do castelo.

As pessoas nas ruas observavam, assim como os jardineiros, porém as atenções estavam desviadas para Zeke, o que deixou Erica ainda mais tranquila, já que ninguém repararia nela.

Durante todo o trajeto, homens e mulheres cumprimentavam Ezekiel, crianças corriam em volta de suas pernas, brincando, cocheiros ofereciam carona, mercadores lhe ofereciam frutas e carne. Ninguém lhe poupava de carinho e atenção.

A tarde já havia caído quando pararam diante da área pobre do reino. As ruas eram escuras e lodo crescia por entre as pedras devido à umidade do local. O cheiro era de esgoto e carniça; tudo era sujo e velho, desgastado e cinzento. Pobre.
Zeke suspirou, o ar condensando em uma gélida fumaça, saindo de sua boca.

– É melhor não entrar aqui - a garota o advertiu.

Ele sorriu, irônico:

– Sinto muito, mas o Rei pediu-me que a levasse até sua casa. Estou apenas cumprindo ordens.

Erica ignorou a ironia vinda de Zeke. Seu rosto estava levemente pálido, apesar de a garota já ser muito branca. Seus olhos estavam úmidos, mas não era tristeza nem vontade de chorar. Zeke percebeu que estava insegura.

Ela apontou para frente, em direção à pobreza, dizendo:

– Aquele povo odeia a corte. Foram abandonados à muito tempo por Daragh, e pelo Rei antes dele, e o antecedente, e alguns até pelo outro. É a parte mais fria e cruel que você jamais verá em todo esse reino. Faz alguma ideia do que fariam se vissem o príncipe entrando aqui?

Um calafrio percorreu a coluna de Zeke, fazendo todos os seus pelos se eriçarem; nervoso, ele pousou a mão sobre o punho da espada que estava presa na bainha, perto de seu quadril, mas disfarçou o mal pressentimento:

– Não pode ser tão ruim assim...

A expressão no rosto de Erica não se alterou, mas o príncipe percebeu que, além de insegurança, havia terror em seus olhos agora.

A garota calmamente tirou seu agasalho e o entregou ao príncipe, pedindo que o vestisse. Ele, relutante, obedeceu. Colocou o capuz e puxou-o o máximo que pode, até sentir que suas feições estavam mascaradas o suficiente.
Erica, com um movimento brusco e rápido, puxou a capa de Zeke, que saía por debaixo do agasalho:

– Não vai precisar disso. Nem dessa armadura. Muito menos da espada.

Ezekiel arregalou os olhos:

– Não vou andar ali sem minha espada!

– Me dê ela aqui.

Não!

Erica fez menção de pegar a espada, mas se inclinou (de propósito) para o lado oposto ao da bainha. Zeke, num reflexo rápido, segurou um dos braços da garota, e quando percebeu que ela havia ido na direção errada, era tarde demais: Erica já tinha a espada nas mãos.

– Não é difícil enganar você - ela resmungou. Escondeu a lâmina dourada atrás de uns velhos pedaços de madeira apodrecida, nos quais ninguém mexia havia anos.

Zeke já havia tirado sua armadura, e agora usava apenas uma grossa blusa de algodão com detalhes em couro e o agasalho de Erica.

– Podemos ir agora? - Ele perguntou, impaciente.

Erica acenou positivamente e eles penetraram nas ruas escuras.


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Notas finais do capítulo

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