One and Only escrita por Jessie Austen


Capítulo 4
Terceiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

DEMOREI MAS VOLTEI! ~Dedico esse capítulo à Sheir! *_*~



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Alguns anos antes...

Sherlock lia atentamente um livro sobre parasitas na biblioteca da faculdade, único local onde se sentia à vontade ultimamente já que o laboratório agora estava abarrotado de calouros barulhentos e estúpidos.

Ele já havia passado mais da metade de seu curso, mas ainda faltava mais dois anos e só de pensar no assunto lhe dava um certo desconforto.

A verdade é que as pessoas não o suportavam da mesma maneira que ele não suportava a elas e com o tempo sua reclusão acabou sendo uma natural consequência.

Sherlock teve a companhia indesejável de seu irmão no primeiro ano, mas após este se formar ele teve que lidar com tal situação da única maneira que conhecia, ignorando a todos e mergulhando completamente nos estudos.

Virava mais uma página de maneira ansiosa e não percebeu quando um jovem de cabelo escuro e pele morena se aproximar e dizer um “Oi” tão baixo que não o fez despertar.

– Sherlock? – este disse de maneira hesitante fazendo o futuro detetive saltar da poltrona.

– Sim, sou eu. – respondeu muito sério enquanto os dois se olhavam agora. Em apenas um rápido lance pode perceber quem era o motivo de sua interrupção na leitura.

Aluno recém-chegado. Não só em sua sala, mas no país.

Pelas unhas e pelas vestimentas, de família rica e muito tradicional, provavelmente com origens russas.

Filho mais novo.

Baixa auto estima e ótima capacidade de relacionar com pessoas de caráter duvidoso.

– Oi. Sherlock. Meu nome é Victor. Victor Trevor. Eu sou...

– Recém chegado. Sim, eu sei. Eu estava na aula hoje. O que quer? – o interrompeu de maneira seca.

– Bem, ah....a professora nos colocou juntos. Formamos uma dupla agora para os próximos trabalhos...temos ainda quatro meses pela frente e bem, eu achei...

– Eu não faço trabalhos em grupo, dupla...trio. Apenas sozinho. Sinto informa-lo. – respondeu sem realmente sentir, voltando sua atenção novamente ao livro.

– Bom, se você me deixasse concluir o que quero dizer, poderíamos terminar essa tortura de uma vez. – Trevor respondeu em um tom mais alto que fez não só Sherlock como todos que ali estavam olhar para os dois.

–Ok. Conclua então. – Holmes o encarou.

– Eu sei bem qual a sua fama. E...bem, ela meio que se confirmou agora que trocamos poucas palavras. Mas eu preciso que desta vez dê certo. Eu sei que você não me conhece...e sei também que não tem o mínimo interesse de me conhecer, o que é ótimo. Não quero que faça favores ou muito menos se sensibilize por mim, o que eu acho que não fará mesmo...mas eu só queria que soubesse que eu preciso que desta vez dê certo. Eu estou cansado para tentar de novo.

Victor disse de uma vez tudo aquilo o que fez Sherlock piscar rapidamente ao invés de responder qualquer coisa. Vendo que o moreno não iria responder nada, este então continuou:

– Não precisamos nos falar. Ou nos tornarmos amigos. A única coisa que eu quero é paz desta vez.

Holmes então viu que este parecia terrivelmente nervoso agora. Encarando mais uma vez e desta vez mais detalhadamente, ele pode ir além.

Mãe repressora.

Pai distante.

Irmãos extremamente competitivos.

Trauma de infância, provavelmente morte de um ente muito querido.

Saúde frágil na adolescência.

Possivelmente homossexual. Informação indefinida.

Problemas em todas as três faculdades que havia passado até então pelo motivo anterior.

Casos amorosos complicados.

– E não é que você faz isso mesmo...- o novato disse enquanto ria e isso despertou Sherlock de sua análise.

– Faço isso o quê?

– Lê...lê as pessoas. Você fica parecendo um robô, inclusive. Me avisaram que você faz isso mesmo. Eu confesso que achei estranho...mas foi um estranho bom. Possivelmente agora você sabe quanto eu calço, ou qual é a cor da minha roupa debaixo ou até mesmo que eu sou...

– Homossexual? Sim. – Sherlock respondeu fazendo-o rir.

– Eu não sou tão óbvio assim.

– Para mim é. – respondeu de maneira séria, mas havia um sorriso de vitória que se escondia no canto de seus lábios.

– Algum problema com isso? – Victor questionou enquanto o encarava.

– Não. Pessoas são babacas. Isso é algo inerente ao gênero que elas possuem interesse para manter relações sexuais.

Victor então abriu um enorme sorriso e respondeu:

– Uau. É incrível mas eu estou me perguntando como alguém pode não gostar de você.

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Hoje

Victor e Sherlock sentaram-se em uma mesa próxima da janela no restaurante Alfredo’s.

Olhando tudo ao seu redor o primeiro sorriu e perguntou:

– Diferente. Algum motivo para me trazer aqui, Sherlock?

– Nenhum. Apenas que eu conheço o dono e consigo comer de graça. – este respondeu fazendo um sinal para a garçonete que sorriu e entrou para a cozinha já sabendo o que este sempre pedia.

– Ah. Você. Sempre romântico...- Trevor brincou enquanto olhava o cardápio.

– Isso porque eu ainda não lhe disse que eles sempre me dão uma porção extra de batatas fritas.

– Ok, você me conquistou. Nem vamos pedir nada. Me leve logo para seu apartamento, sr. Holmes. Mas tomei muito whiskeys naquele bar antes de virmos para cá, por isso não abuse de mim! – este riu, chamando a atenção dos outros clientes.

– Eu nunca sei como responder a essas suas brincadeiras de gosto duvidoso e que são consequência de seu entusiasmo inexplicável. – Sherlock respondeu reparando no casal ao lado.

– Eu só quero fazer você sorrir, meu amigo. Eu conseguia fazer isso antes! Mas é sério...adorei esse lugar...

– Ironia, Victor? Agora?

– Não!

– Não estamos na França...

– Não. Definitivamente. Eu estou aqui...na velha Londres com o meu amigo Sherlock. E isso é melhor que a França. – Trevor sorriu.

– Você disse que estava com fome...sempre trago John aqui quando ele diz que está com fome. Ou pelo menos trazia até ele se mudar para a casa da Mary...- Sherlock respondeu pensativo.

– Quem é Mary?

– Sua noiva.

– Ah. Ela é legal?

– Tolerável, eu suponho. E nos padrões estabelecidos. – deu pouco caso.

– E que traduzindo para a linguagem humana fica igual a...

– Ela é considerada bonita e inteligente pela maioria. Tem profissão e estabilidade. E idade suficiente para querer se casar e constituir família...o que é o que John sempre procurou. – Holmes respondeu rapidamente.

– John é romântico então...coitado de você. Sofria comigo...deve sofrer com ele. Oh, obrigado! – Victor brincou enquanto a garçonete os servia com vinho e uma lasanha bem caprichada.

– Sim, de fato.

– Como vocês se conheceram? Você e o John?

– Ele alugou o apartamento comigo...nos conhecemos através de um conhecido em comum. Mike Stanford.

– Ah, o apartamento na Rua Baker...essa parte da história eu conheço! – Victor respondeu já saboreando o prato.

– Exato. Fará cinco anos no próximo mês.

– Hm. Legal. E há quanto tempo ele e Mary estão juntos?

– Menos de um ano. – Sherlock respondeu sem emoção.

– Uau...rápidos eles não? Espero que estejam fazendo a coisa certa.

– É o que todos acham não é? E ainda assim a maioria dos casamentos termina em divórcio.

– Uau...quanta amargura, Sherlock! – Trevor sorriu, mas isso só deixou o detetive ainda mais sério.

– Apenas fatos.

– É, eu sei. Uau...isso tá realmente uma delícia! Você não vai comer não?

– Não estou com fome.

– Tá, então toma o vinho pelo menos. É muito bom. Vamos Sherlock! Sorria...até parece que esta vindo de um enterro, credo! Se anime, homem...por mim! Eu voltei!

– Victor, eu...

– Vamos..só uma taça, vai. Cale essa boca linda e seja irracional pelo menos uma vez. Fique bêbado. —Victor riu enquanto enchia a taça de Holmes.

– Você parece estar por nós dois. Você sabe que muito bem que eu não tenho a prática de consumir bebidas alcóolicas.

– Aham, beba já que não quer jantar! – Trevor sorriu brindando sua taça com Sherlock.

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Sherlock subia as escadas para seu apartamento na Rua Baker mesmo sem quase sentir suas pernas, por conta das três taças de vinho que havia tomado com Victor.

Percebeu que sua porta estava aberta, apenas encostada e isso o fez sorrir. Era John, sabia.

O loiro sempre levava comida chinesa para ele, e ele ficou feliz em saber que o médico estava lá, esperando-o ao invés de estar com sua noiva.

Ao abrir a porta, porém seu sorriso morreu ao ver que John estava em sua poltrona e Mary, perfeitamente encaixada, o beijava enquanto os dois sorriam e trocavam sussurros.

– Oh, ops...o dono chegou! – a enfermeira pulou do colo de Watson e foi para a cozinha ainda olhando para Sherlock, que os encarava agora, após bater a porta.

– Ei, tudo bem? Parece um pouco...bêbado? – este sorriu se levantando.

Sherlock respirou fundo e se aproximou deste dizendo:

– O que fazem aqui?

– Nós viemos trazer comida chinesa, Sherlock! – Mary respondeu da cozinha enquanto o olhar de John e Sherlock se encontrava – Estou colocando para você!

– O que ela faz aqui? – Holmes perguntou.

– Ei, Sherlock...ela estava comigo e resolveu me ajudar...eu...- Watson começou a dizer.

– Você sabe muito bem as regras, John. Sem namoradas aqui. Isso não mudou. Muito menos agora que você nem mora mais aqui. – o outro interrompeu com sua voz como uma navalha.

– OK...nós tínhamos acabado de chegar...eu...- Mary voltou da cozinha com seu prato.

– Eu nem ao menos estou com fome! – Sherlock respondeu virando-se de maneira ameaçadora para ela que recuou.

– Ei, calma aí! Não fizemos por mal, ok...Sherlock...nós queríamos saber como foi com seu amigo...Mary ficou contente em saber que o Victor...

– Quando terminarem de fazer o que tiverem que fazer, feche a porta! Tudo o que eu preciso agora é de um banho e da minha cama. – Sherlock respondeu deixando-os sozinhos e batendo a porta do seu quarto.

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Três dias se passaram e nada aconteceu. John sabia que não tinha feito nada demais, e que Sherlock tinha exagerado e mesmo assim sabia que seria ele que deveria quebrar o gelo entre os dois, como sempre acontecia.

Em uma tarde, aproveitou seu horário de almoço para visitar o moreno. Assim que chegou, o encontrou completamente concentrado e absorto em seu microscópio.

– Ei...Sherlock...será que podemos conversar? – este disse batendo na porta e deixando um pacote de biscoitos perto do detetive.

– John...

– Sinto muito por aquele dia. Quero dizer, eu nem sei você se lembra o que aconteceu já que a Mary e eu estamos convencidos de que você estava embriagado, mas...me desculpe. Não sabia que você iria se ofender tanto. – o médico tentou sorrir.

– Oh, quando você e a Mary estavam usando o meu apartamento como motel? Lembro-me muito bem.

– Uau. Você se supera às vezes sabia...não precisa ser tão idiota! E nós não estávamos fazendo nada que nenhum casal não faça...

– Oh. Ok, John. E o por que você acha que realmente eu preciso dessa informação? Saber o que vocês fazem ou deixam de fazer quando estão juntos?

Os dois então se encararam e o médico teve que respirar fundo antes de responder:

– Certo. Ok. Regras são regras. Me perdoa. Aqui. Sua chave do apartamento. Não vou precisar mais dela, tá legal? Só queríamos te ajudar te trazendo comida e...bem, não vai mais acontecer. – o médico explicou colocando a chave perto do pacote de biscoitos que havia trazido.

Sherlock olhou para aquele objeto e sentiu pela primeira vez que de alguma forma tudo havia mudado de maneira definitiva. Aquilo era um sinal.

– OK. – foi o que conseguiu responder.

– OK. Você parece bem ocupado e eu não vim te atrapalhar, mas eu queria te falar uma coisa. Serei rápido. – John completou fazendo seus olhares se encontrarem novamente.

– Claro. – deu pouco caso, após perceber que o loiro esperava por seu consentimento.

– Você...Sherlock. Você deve saber que, bem...eu nunca fui bom as palavras...

– Sim...

– Não, não é isso. Quero dizer. Bom, você é meu melhor amigo sem sombra de dúvidas.

– Eu...eu sou? – Holmes respondeu após alguns segundos de silêncio completo entre os dois.

– Naturalmente. Não sei o por quê do espanto. – John sorriu – Então, é natural que eu queira que você seja o meu padrinho. Você quer? Você quer ser meu padrinho, Sherlock? Seria uma honra muito grande e...

– Eu...não sei o que dizer, John. – Sherlock respondeu piscando rapidamente.

– Diga o que eu realmente quiser dizer, simplesmente o faça. Eu precisava te convidar, mesmo sabendo que você não gosta desse tipo de coisa...

Holmes então olhou para Watson e percebeu seu nervosismo, sua insegurança. Não, de fato dele não gostava desse tipo de coisa. Mas por John e pelo John tudo mudava, sempre havia sido assim.

– ...será uma honra. – respondeu firmemente fazendo o loiro abrir um enorme sorriso.

– Sério?! Ok. Será o dia mais importante da minha vida. A Mary não vai nem acreditar...

– É, eu aposto que não.

– Obrigado. Bom, eu tenho que ir agora...mas hoje faremos algo à noite...digo, eu...a Mary, o Mike, o Greg e a Molly...vamos comemorar.

– Comemorar o quê? – Sherlock respondeu voltando para seu microscópio.

– Falta só um mês para o casamento! – este respondeu sorrindo.

– Oh. Não. Já tenho planos para hoje à noite. – Holmes respondeu em tom apático.

– Ah..é mesmo? O quê?

– Com Victor. Ele me levará para ver uma orquestra alemã que está se apresentando em curta temporada aqui em Londres. Ele ganhou os convites, não vejo objeção nenhuma para não ir. – deu de ombros.

– Victor, né? Orquestra...ele te conhece mesmo. OK. Bom, se desistir e mudar de ideia, vamos jogar boliche, que eu sei que você gosta também. Sairemos da casa da Mary às 21hs. Se tiver afim, me avisa. E leva esse tal de Victor também...só assim para eu conhecê-lo...

– Por que diz isso, John?

– Ah, por nada. É que até agora você não me contou como foi quando vocês se encontraram naquele hotel...

– Foi normal. É como você disse. Nos encontramos. Só isso.

– Oh. OK. Você voltou bêbado! E quanto tempo ele ficou afastado mesmo? Há quanto tempo não se viam?

– Doze anos. E não, não estava bêbado.

– Hm. E do nada ele voltou? Quero dizer, você nunca tinha comentado nada dele...

– Ele sempre foi muito ocupado. Por que estamos falando disso agora? – Sherlock respondeu enquanto seus olhares se encontravam novamente.

– Por nada. Ele é casado? Tem quantos filhos? – Watson perguntou enquanto arrumava a sua gola.

– Nem uma coisa nem outra. Solteiro e sem filhos. Bom, tendo em vista que ele é homossexual, estatisticamente falando, ambas as características são mais difíceis de acontecer mesmo. Ele teve um relacionamento sério e duradouro recentemente que acabou...ele até me contou o motivo quando nos encontramos, mas eu receio ter me distanciado nesta parte da conversa. Precisa de mais algum dado? – Holmes respondeu.

Foi a vez de John piscar rapidamente e pigarrear antes de dizer:

– Gay...

– Sim.

– OK.

– Sim, ok. Por que não deveria estar ok? – este questionou com seus olhos muito claros fitando o médico.

– Sherlock, preciso ir! Não vejo a hora de conhecer esse seu amigo aí...e bem, mais uma vez: obrigado. Por aceitar ser meu padrinho. – John sorriu novamente antes de sair pela porta.

– De nada, John. – o detetive respondeu, mas o médico não ouviu, ele já estava dentro do táxi, falando sobre as novas com a Mary pelo celular.


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Notas finais do capítulo

Curtiram?! Beijos e até o próximo!



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