Em Todos os Momentos escrita por Van Vet


Capítulo 4
Seja Complacente




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Um quarto de hotel limpo e pequeno, nas proximidades do hospital foi o que o dinheiro de Rony conseguiu alugar para eles aquela noite. Para Hermione tudo estava ótimo, o ruivo se superava a cada minuto da viagem, pois todos os espaços do aposento eram aconchegantes. Tinham de economizar, portanto pediram um único quarto com duas camas de solteiro.

Colocando a mente para descansar somente por uma noite, a morena escolheu no cardápio simplório, mas saboroso que a hospedagem oferecia, uma comida trouxa que iria agradar aos dois, Talharim ao Pesto. Então, pegou sua mochila, se trancando no banheiro para uma relaxante chuveirada.

Rony ligou a televisão, ultimamente sentia-se mais habituado aos objetos dos trouxas, e como Hermione lhe ensinara começou a mudar os canais até encontrar algo que o interessasse. Era uma ideia um pouco desconexa, uma vez que o mundo dos não mágicos era tão diferente do seu. Mas pessoas riam, se beijavam, choravam, conversavam, informavam, como em todo lugar.

Seu estômago não o queria deixar raciocinar, assim como a necessidade de um banho não o fazia relaxar. Havia sido um dia daqueles. Com direito a caminhada extenuante, apenas uma refeição leve para manter-se em pé, e um calor do qual seu corpo não estava acostumado a enfrentar. Na Inglaterra tudo era sempre cinzento e frio, mas na Austrália o Sol parecia ter sido feito para se encaixar entre as montanhas.

Ouviu Hermione desligar o chuveiro e começou a preparar-se para ser o próximo do banho. Depois o jantar chegaria, eles comeriam e finalmente ele poderia vê-la descansando algumas horas.

Pegou uma camisa e um short listrado, e foi tirando a camisa que vestiu o dia inteiro, para ir com menos peças de roupa para o banheiro. A morena abriu a porta e uma fumaça de vapor saiu com ela. Vestia uma camisa larga e um short até a altura dos joelhos, e possuía os cabelos molhados formando caracóis acastanhados a cobrir sua nuca.

Houve meio minuto de silêncio em que ambos se analisaram mutuamente. Rony viu os olhos da morena pousarem em seu tórax desnudo por incalculáveis milésimos. Isso foi suficiente para que ele se sentisse envergonhado de estar tão à vontade perto dela, como fazia em sua intimidade.

— A água está muito boa. — disse ela, quebrando o silêncio.

Rony agarrou as roupas que levaria para o banheiro, e as abraçou contra o tórax.

— Que bom! Estou precisando de um bom banho também.

Quando o ruivo fechou a porta atrás de si, Hermione pôs-se a fitar a madeira, confusa. Era um sentimento curioso, de extrema cumplicidade e falta de jeito ao mesmo tempo, que andava acontecendo entre ela e ele. Como se não fossem as pessoas de antes... Mas também fossem.

Após terminar de secar os cabelos com uma toalha, e observar de relance pela janela lá fora, tentando imaginar onde seus pais estariam dormindo naquela hora, uma batida suave na porta principal anunciou a chegada do jantar.

Caprichosamente, ela ajeitou os pratos e os talheres em cima da mesinha que ficava no mesmo cômodo e esperou que Rony saísse do banheiro. E ele saiu, quase que imediatamente como se tivesse sido atraído pelo aroma da refeição, o que não seria nenhuma novidade tratando-se de quem era.

— Uau! Isso está com uma cara deliciosa. – observou, se juntando na mesa com ela.

Também lavara os cabelos, e Hermione não se esqueceu de que o achava incrivelmente sexy, com aquelas mechas arruivadas jogadas para trás.

— Como é o nome do prato mesmo? – ele perguntou, servindo de generosas conchadas.

— Talharim ao pesto. Uma massa muito gostosa, por sinal. – não achou necessário dizer que sua mãe preparava um prato daquele como ninguém, para não ver o clima de melancolia se abater sobre eles.

— Aqui faz um calor, não?

— É, a Austrália é um país quente, ainda mais agora que estamos prestes a entrar no verão. — Rony enrolou o macarrão no talher e deu sua primeira garfada, quase revirando os olhos de satisfação. Era muito fácil conquistar Rony pelo paladar, ela só não sabia por que pensara naquilo. Resolveu introduzir outro assunto, que também andava preocupando-a - E sua mãe, Ron? Estou tão preocupada com ela.

— Ela tá bem! — exclamou ele, tentando parecer indiferente, e deu mais três garfadas furiosas no talharim.

—Não foi correto, não mesmo. Sairmos como fugitivos na madrugada da sua própria casa.

— Tinha alguma ideia melhor? — ele quis saber, a voz levemente alterada.

Baixou a cabeça e devorou mais comida para aliviar o aborrecimento que era aquele assunto do qual Hermione estava querendo introduzir.

— Não estou reclamando, Ron! Apenas não achei correto. Deveríamos ter tentando mais para convencer sua mãe disso.

—Ah, não está reclamando? — o ruivo abandonou o garfo de vez — Pois não é o que parece. Eu fiz o melhor que podia, Hermione. Só isso!

—E eu sou grata, mas ela é sua mãe!

—Você acha que eu não sei disso? Acha que não sei o valor de uma mãe? É por isso que estou com você aqui também, Mione... Sei muito bem da importância que a família tem para todos nós. Não venha me dizer que não me importo!

E, absolutamente, perdendo a fome, Rony levantou-se da cadeira e deixou metade do prato a terminar, e ela, sozinhos na mesa. Foi a passos duros até a beirada de sua cama e sentou, com a expressão irritadíssima. Ainda que sem vontade, pegou o controle remoto e rendeu-se aquela típica mania trouxa de trocar de canais sem realmente prestar atenção em alguma coisa.

Sim, Hermione havia conseguido provocar, enfim, uma briga entre os dois, mas, pela primeira vez, não se sentia com a posse da razão. Dura, indiferente e pessimista, era no que ela percebia que estava se transformando naquela viagem. Rony merecia uma parceira de busca melhor do que havia se mostrado no dia todo.

*Deixando seu lugar a mesa, a morena caminhou até o amigo, namorado, não sabia direito como defini-lo, e sentou-se ao seu lado. O ruivo continuava a mudar os canais, num péssimo esforço para tornar-se indiferente.

Palavras não bastavam, e ela nem queria desculpar-se apenas com algumas delas, carregadas de monotonia. Olhando-o com um sorriso tímido, passou o braço ao redor de seu tronco e apoio o queixo em seu ombro. Não estava acostumada a viver tal intimidade com Rony, embora a desejasse desesperadamente, ainda mais quando se sentia vazia como naquele instante.

O corpo do ruivo retesou quase não acreditando que ela tivera a iniciativa de abraça-lo. Compotas e compotas daquelas sensações que ele guardava somente para quando estava muito próximo de Hermione, começaram a ser abertas e desaguarem dentro dele. A raiva já havia passado. Nunca existiu, no fim das contas.

— Você tá muito cheirosa. —foi a frase incoerente que ele conseguiu pronunciar para dizer que aceitava as desculpas dela.

— Você também. —ouvia-a responder.

Então, sutilmente, deslizou a mão para o alto da cabeça dela, ainda apoiada em seu ombro e acariciou seus cabelos molhados, ternamente. Não demorou para seus olhos tão distintos se emparelharem também.

— Extrapolo às vezes. — ela disse.

— Não seria você, se não o fizesse.

Hermione pôs-se de pé lentamente, e, para deixa-lo atordoado, sentou-se de lado em seu colo, abraçando-o com força e enterrando a cabeça na curva de seu pescoço. Tudo o que o ruivo pode fazer foi retribuir o carinho, tomando cuidado para não se sufocar no cheiro tão adocicado que parecia sempre vir da pele dela.

Eles eram apenas dois jovens angustiados, tentando mais uma vez resolver problemas complexos demais para suas idades. E, com Rony junto dela, a morena sabia que teria forças para as adversidades. Só precisava de um abraço, sentir sua quentura para os sentimentos negativos passarem.

Talvez aquela noite precisasse de mais...

Assim, deixou seus lábios lentamente escorregarem do pescoço, para bochecha, indo parar nos lábios do ruivo, onde aplicou suaves beijinhos na boca entre aberta e febril dele. Estava mais uma vez surpreendendo Rony com suas atitudes, pois demorou alguns segundos para ele retribuir os beijos dela.

Um abraço forte, um esfregar de palmas contra um cabelo ruivo e mais beijos ternos foram às formas que os dois encontraram para terminar o resto de noite, calmamente. Embora dentro do peito de cada um, seus corações batem-se desesperado pelo terceiro e mais longo beijo dos dois.


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