Paranóia Urbana escrita por Goldfield


Capítulo 1
Capítulo Único




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Paranóia Urbana

Goldfield

João Alves estava impaciente. Aquela fila enorme na frente do cinema o deixava extremamente nervoso. Havia trabalhado o dia inteiro naquele maldito escritório na Paulista e agora queria relaxar um pouco, assistindo um filme de ação bem ao seu estilo: “A Revanche dos Matadores de Aluguel”. Ele não ligava para os peitos crivados de balas e os vilões mortos sem piedade, pois já se acostumara com a violência da sociedade. Ela já fazia parte de sua vida e não se importava com isso – a menos, claro, que ele fosse a vítima.

A fila começou a andar rápido e ele nem percebeu, logo estava na frente da bilheteria. Fitou o frio funcionário do cinema do shopping atrás do vidro embaçado, parecia o porteiro do inferno em sua mente receosa. Tirou uma nota do bolso e a estendeu para o sujeito, recebendo em troca um ingresso amarelo com o nome do filme em vermelho. Vermelho lembrava sangue.

Agradeceu e avançou. Enquanto caminhava para dentro do cinema, João notou que em sua frente havia uma bonita jovem de cabelos loiros, vestindo jaqueta de uma banda de rock. Ela também parecia perdida em seus pensamentos, quando, ao ver um rapaz de cabelo verde cruzar a entrada do recinto logo em sua frente, exclamou, com aparente temor:

- Oh, não! Ele de novo!

Nesse instante João prestou leve atenção no indivíduo e, enquanto ele desaparecia atrás de uma parede, viu que parecia esconder algo embaixo do casaco.

A cabeça do pobre João mergulhou num angustiante mundo de suspeitas e temores quando seus olhos viram aquilo. Poderia ser uma arma, e muito provavelmente era! O que ele estaria planejando? Um cara já havia atirado na platéia de um cinema uma vez, e a reação da moça perante o estranho de cabelo verde era bem preocupante. Que fazer?

João pensou em voltar para trás, mas já havia pagado o ingresso e há tempos queria assistir àquele filme. Além do mais, ele bem que podia estar equivocado... Mas aquilo era muito suspeito.

Com esses pensamentos funestos, Alves caminhou como um zumbi até um assento e sentou-se um tanto desconfortável sobre o estofamento. A moça loira sentou-se bem na sua frente e bocejou. João desesperou-se quando o rapaz de cabelo verde acomodou-se ao lado dela.

As luzes se apagaram e os últimos lançamentos cinematográficos começaram a iluminar a tela, enquanto o suspeito rapaz começa a conversar com a moça. João ouvia nitidamente a conversa:

- O que é que você quer agora? – perguntou a garota, aparentando leve desespero em sua voz. – Saia de perto de mim! Você me dá medo, sabia?

- Você está me deixando nervoso, Fátima...

Agora a pobre vítima do provável maníaco tinha nome. João não piscava.

- Olhe o que eu trouxe – disse o rapaz, apontando para debaixo do casaco.

- Eu não quero nem saber!

O rapaz fez uma careta e levantou-se, caminhando para fora. Um inesperado alívio tomou conta de João. Provavelmente o psicopata ou assaltante havia desistido de sua vítima e caminhava para fora dali. O paranóico homem esparramou-se no assento.

A moça loira parecia preocupada, não parava de olhar para a saída. O filme já ia começar. Alves tentou se concentrar em vão na tela iluminada pelo projetor, coração aos pulos.

Súbito, o clímax do pânico. O sujeito volta e senta no mesmo lugar, ao lado da jovem. A mente de João é dominada por pensamentos demoníacos.

- Eu tive que ir até o banheiro para tomar coragem... – disse o provável maníaco de Alves.

- Tomar coragem do quê? – zombou a moça.

Coitada! João viu que, com essas palavras, ela decretara sua morte!

O indivíduo enfiou a mão no casaco. Ele ia tirar a arma. O terrível revólver! Alves, quase sem ar, pensou em fechar os olhos, mas foi impedido pelo colossal temor. Pobre jovem!

Mas algo inesperado ocorreu. O rapaz tirou uma bela rosa do casaco, segurando-a na frente do rosto da jovem, e disse:

- Por favor, Fátima. Eu te amo. Seja minha namorada, trago esta flor para você.

- Você não faz o meu tipo, Fábio! Quantas vezes vou ter que dizer?

João novamente esparramou-se no assento. Arrependido, olhou aliviado e com vergonha para a tela do cinema. De juiz, passava a vítima de sua própria consciência...


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