Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 7
Mas que dia! - parte 2/2


Notas iniciais do capítulo

Ninguém merece começar o dia dando de cara com a Ambre. Tomara que pelo menos o resto do dia seja melhor...

(ok S)

REVISADA E EDITADA - 21/07/2017



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#14/01#

 

Com o prontuário nas mãos, Emília foi falar com a diretora, que infelizmente já estava em reunião.

Com fome, ela perguntou para uma das meninas da secretaria se tinha cantina e se esta estava aberta, sendo informada que não tinha, mas que havia máquinas Vending Machine[1] de bebidas e lanches naturais no refeitório e uma de doces e salgadinhos em cada piso e que ficavam perto das escadas da escada bloco. Ela foi até a máquina e gastou alguns trocados, pegando algumas balas de goma e chicletes. Não teve como não lembrar da cantina da Saint Ida e principalmente, do amigo Ken, que todos os dias lhe comprava um bombom. Saudosa ela colocou mais uma nota na máquina e comprou uma barra de chocolate. Não era o bombom do seu amigo, mas preencheria o vazio do seu estômago, porque saudade dele e de suas amigas Ana e Mila ela teria sempre.

Voltando à frente da secretaria ela perguntou à única funcionária que estava no local se a reunião havia terminado e ao saber que não e que provavelmente não terminaria antes das 12h30, entediou-se, largando-se sobre o assento central da longarina de 3 lugares. Só lhe restava esperar enquanto comia seu chocolate.

Enquanto observava as paredes a sua volta, Sol lembrou que do outro lado da porta que separava o corredor da secretaria da parte interna da escola, perto da escada que dava acesso ao 2º piso, tinha um painel móvel repleto de fotos da escola. Quando o vira, mais cedo, quis parar para olhar, mas como tinha pressa em pegar seu prontuário com o Nathaniel, ignorou e seguiu para o grêmio. Ela levantou e avisou a funcionária que iria dar uma olhada no painel de fotos, pedindo que a chamasse caso a reunião terminasse antes dela voltar.

— Não se preocupe, pode olhar com calma.

Havia registros de todos os eventos do semestre anterior, de agosto a janeiro, organizadas em blocos, sendo que em cada um havia uma nota informativa, todas assinadas pela equipe da Folha S.A., o jornal da escola. Ao que parecia, aquela escola cheia de regras era bem agitada. Eram tantas fotos que Emília nem soube por onde começar a olhar, sendo fotos do brunch[2] de boas vindas, feira de Ciências, sabatina de Artes, seminários, baile de outono, Halloween, visita a museus e teatros, entre outras coisas, de eventos a atividades especiais em sala de aula.

Se alguém perguntasse a Emília o porquê ela estava procurando o presidente do grêmio naquelas fotos, de certo não saberia responder. Foi apenas um impulso, provavelmente por tê-lo conhecido.

— Será que é a namorada dele? — perguntou-se, num murmuro quase silencioso de tão baixo, não por estar interessada, mas por curiosidade, pois em boa parte das fotos em que o rapaz aparecia, estava ao lado de uma garota de cabelos castanhos, sendo que em algumas ela estava bem próxima, praticamente coladinha, embora não estivessem abraçados ou de mãos dadas.

O sinal indicando que era hora do almoço soou e dispersou o pensamento curioso de Emília, que então percebeu a pequena caixa de acrílico transparente presa ao painel, cheia de exemplares da última edição da Folha S.A. Desconfortável com alguns olhares curiosos na sua direção, sem saber se era para ela ou para o painel, preferiu voltar para frente da secretaria. Ela teria ido ao refeitório, pois seus docinhos não haviam enchido seu estômago, mas não quis correr o risco da reunião terminar e não estar esperando pela diretora.

Assim que as pessoas pararam de descer a escada e aquele pedacinho da escola ficou calmo novamente por todos estarem no refeitório, pátio ou biblioteca, querendo matar o tempo e saber mais sobre aquele lugar, Emília voltou ao painel e pegou um exemplar da Folha S.A. impresso em papel jornal, como os jornais de banca, no tamanho ofício. Embora tivesse apenas 4 folhas, era bem surtido de matérias.

— Notre![3] Ele venceu o campeonato de xadrez deste ano, tendo conseguido o 2º lugar nos dois anos anteriores. — surpreendeu-se ao ver a matéria sobre o campeonato interno de xadrez que a Sweet Amoris realizava todos os anos antes das férias de inverno, sendo que o leu apenas por ter visto a foto do Nathaniel com uma medalha no pescoço, no meio dos outros dois jogadores. — Aposto que ele se daria bem com o Ken e com a Ana. Aqueles dois adoram xadrez. — ia demorar para ela se habituar a não ter os amigos ao lado. — O que será que eles estão fazendo agora? AIII!

Ambre, acompanhada de suas amigas, passou por Emília, esbarrando-lhe propositalmente, de forma a bater nas mãos dela para que derrubasse o que estava segurando. Tanto o jornal quando as folhas do prontuário daquela jovem ingressante se espalharam pelo chão, sendo pisoteadas pela loira. Por sorte ela havia prendido o fichário na alça e a transpassado no corpo.

— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, AMBRE? — bradou Nathaniel, que estava indo ao almoxarifado.

— Nada que te interesse, Nath! — respondeu ela com arrogância. — Isso é entre esta novata e eu!

— Quando você estraga um prontuário de propósito tem a ver comigo, sim. — bradou, postando-se entre ela e Emília. — De certo serei eu a ter que refazê-lo. E se você não sair daqui agora, vai ter que explicar para a Sra. Shermansky o que aconteceu com os documentos da Emília.

— Mas foi essazinha que começou! — tentou convencer o irmão que a culpa era da Emília, mas Nathaniel ainda estava irritado com ela pelo que fizera ao Lysandre.

— Não me venha com suas armações, Ambre. Eu vi quando você a empurrou e bateu nas mãos dela, que estava de costas, sendo assim nem poderia ter te visto.

 Apesar das desavenças com o irmão, Ambre morria de ciúme dele, que ao defender Emília, só a fez gostar menos da garota

— A escola é enorme, então vá se perder em algum lugar com suas amigas, longe daqui, antes que eu conte a Sra. Shermansky o seu feito, da semana passada e de hoje! — ameaçou-a, e ela, que não era boba, foi embora, pois apesar de ter algumas cartas nas manga contra o irmão, não podia ameaçá-lo o tempo todo, correndo o risco dele se irritar e pagar para ver, obrigando-a a usar a carta. Seus trunfos eram para livrá-la de encrencas e não para perder com novatas insignificantes. Mas aquela garota não perdia por esperar, ela havia conquistado uma inimiga, melhor, três.

Nathaniel ajudou Emília a recolher os documentos, verificando o estrago. Ele teria que preencher novamente as folhas de dados do aluno, mas por sorte a que levava a assinatura da tia dela não estava suja, nem amassada. As demais folhas também estavam ok. Ele entrou na secretaria, entregou para a Agente os documentos que o coordenador pedagógico havia solicitado e depois preencheu a ficha de dados da Emília novamente, sério.

— Desculpe-me por isso, Nathaniel. Não queria atrasá-lo para a reunião. — disse Emília, com ar de pesar, culpando-se pelo incidente.

— Não estou atrasado. Essa reunião é com funcionários e eu sou apenas o aluno que preside o grêmio estudantil em troca de uma bolsa de estudos e que ajuda com a papelada, quando é preciso. — explicou. — E a culpa só seria sua se você tivesse provocado a minha irmã. — olhando para ela, esperando por uma resposta negativa. — Foi esse o caso?

Emília gostou de saber que Nathaniel também era bolsista. De certa forma, ela se sentiu menos diferente dos demais. Mas espantou-se ao saber que ele era irmão daquela garota folgada.

— Claro que não! Eu só esbarrei na amiga dela no banheiro mais cedo. — contou, tentando esconder seu espanto, afinal eram muito diferentes; embora, num segundo olhar, tenha notado que esteticamente eram muito parecidos.

— Não se preocupe, em casa conversarei com ela e pedirei para que te deixe em paz. — prometeu, dizendo que ela podia ir. Ele mesmo entregaria o prontuário para a diretora.

— Caso a Sra. Shermansky tenha algo de importante para te dizer eu mesmo te aviso.

Emília agradeceu e voltou para a parte interna da escola, pegando outro jornalzinho, pois o anterior havia danificado com as pisadas da Ambre.

— Melhor que ele, só dois dele! — murmurou, olhando para a foto do jornal, rindo baixinho por ter dito aquilo, lembrando novamente da amiga saliente[4]. — Bastou eu parar de andar coma a Mila para dizer coisas que ela diria.... Quer saber. Deixa eu ir para minha sala antes que o horário de almoço termine e isso aqui vire uma loucura.

Bastou pensar na sala de aula para lembrar que não tinha o cronograma de aula, muito menos a ficha de apresentação. Ela não poderia se apresentar em nenhuma sala, então, para não ficar parada ali, arriscando-se a dar de cara com a Ambre de novo, voltou para o pátio. Ela esperaria ali até a reunião acabar, para depois falar com Nathaniel, acreditando que ele havia entrado na sala de reuniões para entregar seu prontuário.

— Pela cara só pode ter cabulado todas as aulas do primeiro período e agora não sabe como entrar na sala! — disse Castiel ao vê-la sentada no banco do pátio com cara de quem estava encrencada. — Isso que é aluna exemplar!

— Não seja indelicado, Castiel. — disse Lysandre, que o acompanhava. — E ainda estamos em horário de almoço, sendo assim, é natural que ela esteja no pátio, assim como nós!

— Eu não cabulei aula nenhuma e nem fui dispensada. — revelou. — Para falar a verdade, eu nem sei qual é a minha turma e nem para que sala devo ir daqui a pouco! Não tenho o cronograma, muito menos a ficha de apresentação!

— Você perdeu as folhas? — perguntou Lysandre, que se não tivesse fixado seu cronograma na porta do seu armário, na certa, vagaria pelos corredores da escola, perdido. E mesmo assim, por sorte, Castiel era da mesma turma que ele e fazia as mesmas aulas extras, então bastava perguntar e não ligar para as piadinhas.

— Não. Na verdade, ainda não recebi! — contou, levantando-se. — Eu sou nova aqui. Hoje é meu primeiro dia de aula. Me chamo Emília.

— Então, seja bem vinda a Escola Secundária Sweet Amoris, Emília. Eu sou Lysandre! — apresentou-se o rapaz, cujos olhos de cores diferentes despertaram a atenção da garota.

— Nossa, como seus olhos são lindos, Lysandre. Diferentes, mas lindos! — elogiou-o com certa empolgação, deixando o rapaz encabulado, não pelo elogio ou pelo olhar curioso dela, mas pela empolgação; o pegou de surpresa. Ele já estava acostumado com os olhares curiosos das pessoas para os seus olhos e em explicar o que era heterocromia.

— Uau! Você é rápida mesmo! — disse o ruivo, com o seu sarcasmo habitual. — Mal chegou e já está lançando charme!

— Como você é bobo, Castiel! — disse Lys, sério, indo embora, não pela fala de Emília ou mesmo do amigo, mas por ter colocado a mão no bolso do blazer e não ter sentido seu bloco de notas, que se desse sorte estaria no refeitório, último lugar em que esteve.

— Mas por que ele foi embora? — perguntou ela, e Castiel explicou, querendo tirar onda, que o amigo era muito reservado e a cantada dela devia tê-lo assustado, mesmo tendo certeza que ele tinha saído à procura do seu caderninho perdido, por conhecê-lo bem; caderninho este, que por sinal, estava em sua posse, tendo-o pego quando o amigo o esquecera sobre a mesa do refeitório. Até o final do segundo período ele devolveria, depois de se divertir um pouco com a cara de quem havia perdido o mundo que o rapaz de cabelo platinado sempre fazia quando não encontrava sua pequena caderneta.

— M-Minha o quê? — questionou ela, rubra de vergonha. — N-Não foi uma cantada, foi só um elogio.

— Sei... — ele estava gostando de perturbar a garota.

— M-Mas é verdade! Eu nunca tinha visto olhos com cores diferentes!

— Se está dizendo. Vou fingir que acredito, Ligeirinha! — debochou, rindo da cara que ela fez.

 Emília, envergonhada e ao mesmo tempo irritada com as gracinhas do garoto que ela mal havia conhecido, foi para o outro lado do pátio resmungando baixinho para não ser ouvida:

— Nossa, parece até que meu pé direito virou esquerdo de repente. Se não é a loira e suas amigas, é esse ruivo chato!

Castiel foi atrás do amigo, só pra ver a cara dele procurando o caderninho, lembrando de certo prendedor de cabelo e que ele guardaria para si, pois combinava com a alça nova da sua guitarra. Quem sabe um dia, se lhe desse na telha, cogitaria a possibilidade de devolvê-lo para sua dona, ou não.

Ao ver Ambre e as amigas de longe e que elas caminhavam na sua direção, sem titubear voltou para dentro da escola, indo em direção a secretaria, que estava fechada e com uma plaquinha de "volto em alguns minutos" pendurada na porta. Provavelmente a agente que lá estava havia ido ao banheiro ou falar com algum professor, mas preferiu não esperar, com medo das garotas a encontrarem. Ela teria ido atrás do presidente do grêmio, mas se tocou que pela hora ele devia estar almoçando, afinal, ele não ia ficar sem comer, então foi procurar outro lugar para se "esconder". Na coluna da escada havia uma plaquinha informando as salas de aula que havia no 2º piso e ao ler biblioteca, resolveu subir e se enfiar lá dentro até o horário de almoço terminar.

— Serão poucos minutos. — disse a si mesma.

O espaço era bonito e bem aconchegante. Ela passeou pelos corredores de estantes querendo matar o tempo, mas ao ver a lombada do seu livro favorito, O mágico de Óz, na seção infantil, sua favorita, não resistiu e o pegou, apenas para curti-lo um pouco. Ela não pretendia lê-lo, pois já conhecia a história de cor. Mas quando ela o abriu, surpreendeu-se. Era um audiobook com cenários que se montavam ao abrir as páginas. Sem conseguir - e nem querer - conter a curiosidade, pois nunca tinha ouvido um audiobook de histórias mais trabalhadas, ela pegou um discman portátil com a bibliotecária, sentou sob um puff, num cantinho, longe dos olhares, e passou o tempo ouvindo a história e vendo as imagens se montarem a cada página que abria, de acordo com as passagens do áudio. Ela nem ouviu o soar do sinal indicando o término do horário de almoço, tampouco notou que os outros alunos deixaram o local. E ela estava tão escondidinha e quieta que nem a bibliotecária a viu, se não a teria chamado e pedido para ir para a sala de aula.

Um bom tempo depois ela guardou o 3º livro que desfolhou naquele dia enquanto ouvia as histórias, totalmente perdida na hora, e foi devolver o discman, dando de cara com Nathaniel ao sair da seção, levando um leve susto, por ainda estar viajando na magia daqueles livros.

— Desculpa. Não quis te assustar.

— Está tudo bem. Eu estava distraída.

— Você gosta de literatura infantil? — perguntou, curioso, pois geralmente as meninas na idade dela já buscavam por literaturas mais juvenis.

— Ah... Sim... Quer dizer... — ficou sem graça, pois ele tinha nas mãos um livro nada infantil e com "trocentas" páginas, provavelmente sem nenhuma imagem a não ser a da capa, cujo nome do autor estava escrito com letras garrafais, Mankell, que por sinal ela nem sabia quem era e sobre o que escrevia.

Nathaniel, percebendo que ela havia ficado sem graça, notando o discman na mão dela, contornou a situação com seu sorriso expressivo nos lábios. Dava para perceber claramente o quanto ele adorava os livros.

— Você já ouviu "A história sem fim", de Wolfgang Petersen? Se não, mesmo que já tenha lido, ouça. O narrador conta muito bem a história.

Sentindo-se mais a vontade Emília sorriu e confessou. Ela adorava literatura infantil.

— Minhas amigas dizem que eu tenho que amadurecer meu gosto literário.

— Bobeira. Devemos ler o que nos dá prazer. — comentou, enquanto iam para a mesa da bibliotecária.

— O que você gosta de ler?

— Eu leio de tudo, mas prefiro mesmo os romances policiais, como esse do Henning Mankell que estou levando.

— E sobre o quê é o livro?

— Chama-se "O homem inquieto"[5] e é sobre a investigação de desaparecimento de um oficial e sua esposa e que acaba levando a situações que ocorreram na Guerra Fria e assassinos profissionais. Não sei se é bom, mas como me recomendaram, lerei.

— Prontinho, Nathaniel. Boa leitura. — disse a bibliotecária, entregando-lhe seu cartão dourado de membro vip da biblioteca, perguntando se ele queria um marcador de páginas. E percebendo que Emília havia se encantado com os diversos marcadores cartonados de bichinhos que havia na caixinha, aceitou um, deixando a garota escolher o que tinha uma coruja envocadinha numa ponta.

— Que bonitinho esse marcador. — disse ela, entregando a ele depois de ler a frase que havia no centro do marcador e olhar de perto o brasão da escola que estampava a outra ponta.

— É seu. — recusou com um sorriso. Ele já tinha tantos que se pegasse mais um acabaria largando na gaveta da sua mesa no grêmio.

Com um sorriso Sol agradeceu e eles saíram da biblioteca. Assim que ele olhou no relógio de pulso e se despediu dela para ir para sala de aula, ela lembrou que precisava da sua papelada e do seu material, então, sem graça, pois ele teria que ir ao grêmio para pegar, o que o faria demorar um pouco mais para ir para a aula, pediu-lhe, pois precisas saber para que sala ir.

— Espera. Quer dizer que você ainda não foi pra sua sala? — preocupou-se.

Ela explicou que não pôde se apresentar para nenhum professor porque não tinha a ficha de apresentação, nem o cronograma de aula, desta forma não sabia a que turma pertencia nem que aula deveria assistir, então foi para a biblioteca esperar o almoço terminar para ir falar com ele.

— Eu acabei me perdendo um pouco na hora, por causa dos livros e acho até que perdi uma aula inteira.

— Você perdeu metade do período!

— M-Metade? — assustou-se. De tão presa nos audiobooks ela não se deu conta que ficou tempo demais na biblioteca. Que ótimo. Ela mal havia começado e já ia tomar uma bela advertência por cabular aula. Belo início para uma bolsista integral. Ela já estava se vendo diante da diretora, levando uma canetada e provavelmente com a tia do lado, ouvindo o quanto ela era irresponsável.

Vendo o olhar bem preocupado da nova aluna começar a avermelhar Nathaniel se sentiu mais que culpado, sentiu-se envergonhado pelo esquecimento, pois era sua função dar os papéis a ela, além do mapa da escola e o material, que por sinal, acabou esquecendo de entregar por ter se preocupado em resolver o problema das fotos, que também foi gerado por um erro dele ao efetuar uma matrícula sem elas.

— Peço desculpas por meu esquecimento, Emília. E não se preocupe, falarei com o Coordenador Pedagógico sobre isso. Você não será prejudicada por ter se ausentado das aulas hoje, devido um erro que não foi seu.

Ele sabia que ela poderia ter ido até a secretaria e pedido uma cópia dos papeis, mas preferiu não dizer nada, pois além de correr o risco de deixá-la mais chateada, independe de qualquer coisa, ele havia cometido um erro.

— E quer saber. Já que estamos fora da sala mesmo, vou te mostrar a escola. Quando eu falar com o professor Sartre sobre sua ausência das aulas direi que por ser seu primeiro dia e por você ainda estar um pouco deslocada resolvi te mostrar toda a escola e acabei perdendo a noção do tempo.

— M-Mas e a sua aula? Você não pode se prejudicar só porque eu não prestei atenção na hora.

— Não se preocupe. Fui dispensado das aulas hoje por causa da reunião de funcionários. Eu só ia pra aula agora porque a reunião já terminou e não precisam mais da minha ajuda.

Emília sorriu mais aliviada e o acompanhou naquele tour.

— Você sempre tem dispensa das aulas para trabalhar no grêmio, Nathaniel?

— Eu tenho que assistir as aulas como todo mundo. Mas quando é preciso, havendo urgência, se o professor em sala autorizar eu sou dispensado da aula para resolver alguma coisa do grêmio ou mesmo ajudar numa situação de aperto, como hoje que tinha apenas uma funcionária na secretária para atender todo mundo. E mesmo assim eu posso me recusar, pois perder aula não está no meu contrato. — respondeu, descendo a escada, resolvendo começar o tour pelo bloco L.1, pois o L.2 estava parte em reforma e parte em funcionamento. Sobre este ele apenas falou que a única sala ativa era a dos professores e que o acesso ao P.2, o pátio 2, era por lá.

— Mas isso não prejudica seus estudos? Ou os professores te dão pontos extras por este trabalho? — intrigou-se, passando pela enfermaria e pela sala de aula, que segundo Nathaniel era a dela.  Depois veio o grêmio, mas este ela já conhecia, assim como o banheiro feminino.

— Já recebo uma bolsa integral pelo trabalho no grêmio, então não tem pontinho extra. E eles me dispensam da aula, mas não das atividades. A única coisa que fazem é me passar o conteúdo da aula para que eu mantenha minhas anotações em dia, mas faço as atividades sozinho, como todo mundo. Se minhas notas caírem por causa do grêmio sou obrigado a deixar o cargo, pois este não pode comprometer o meu rendimento escolar. E para mim não é interessante deixar o grêmio, por causa dos créditos que ganho para a Universidade. Além disso, embora minha família possa custear meus estudos, prefiro não dar este gasto a eles.

— Isso dever ser muito cansativo e estressante. Eu não conseguiria dar conta. — comentou enquanto descia a escada, saindo das dependências do L.1, indo para o P.1, que era o pátio principal, por onde os alunos do lyceé e do 3ème - daquele ano - entravam na escola.

Emília já conhecia aquele pátio, mas apenas naquele tour que ela reparou no quão aconchegante ele era e que além dos bancos de praça, também tinham vasos com alguns arbustos e até uma árvore no centro, cuja sombra protegia os bancos embaixo dela. Daquele pátio dava para ver o jardim. Era grande, bonito e bem cuidado, como aqueles que tinham nas revistas de jardinagem. Pena que o Nathaniel acelerou a caminhada ao passar por ele.

— Nem sempre. E eu faço porque eu quero, porque consigo dar conta e porque me rende ótimas avaliações na ficha escolar. — contou, deixando de dizer também que seu senso de gratidão não lhe deixava negar nenhum pedido à gestão e outros profissionais daquela escola, principalmente ao coordenador pedagógico, seu professor preferido, mesmo se sobrecarregando, estando exausto e querendo dizer não, que o pai gostar dele ser o presidente do grêmio e que o olhar de satisfação deste sempre que via sua ficha escolar o motivava a manter aquele ritmo louco e estressante, apesar de ter que ir a enfermaria de vez em quando pegar um analgésico para dor de cabeça, e que o trabalho o ajudava a não pensar nos seus problemas familiares, então usava o grêmio como válvula de escape, ou melhor, fuga.

Emília achou Nathaniel era muito parecido com sua amiga Ana e com o Ken em relação aos estudos, sempre dando um jeitinho de ter uma boa avaliação na ficha escolar. Ao que parecia, ela atraia aquele perfil de amigo.

— Notre! Nunca imaginei que ser presidente de grêmio fosse tão complicado. — espantou-se um pouco, pois a visão que ela tinha de um presidente de grêmio e até de um grêmio estudantil era bem diferente do que ela estava vendo. Na sua antiga escola o grêmio só ajudava na organização dos eventos e Nathaniel parecia ter muita responsabilidade, mais como um funcionário que um simples presidente de grêmio estudantil.

— A gente acostuma. — sorriu para ela

 — Mas se você perde aula por causa do grêmio, como faz para entender a matéria? — perguntou, passando em frente ao ginásio de esportes, logo depois do jardim e do bicicletário, nos fundos da escola.

— Eu uso a ASSI[6] pra isso. E nós temos os grupos de estudos com monitores na biblioteca, que também tem vários vídeos aulas disponíveis para empréstimos.

Diferente de mais cedo, embora estivessem falando do grêmio, Nathaniel parecia menos tenso, com um semblante mais sereno. Ele sorria enquanto conversava com Emília e ela se sentiu à vontade com ele, que diferente do garoto de cabelo vermelho que ela nem lembrava mais o nome, não foi indelicado com ela em nenhum momento, apesar dela ter lhe dado trabalho com a foto, ter se estranhado com a irmã dele e naquele momento o estar atropelando de perguntas sobre sua vida como presidente do grêmio, que por sinal, ele parecia gostar de falar. Ao que parecia, ela havia feito sua primeira amizade.

E se o grêmio estudantil já era tão organizado e funcional naquela escola, imagine as outras coisas. Será que tudo ali era daquele jeito?

— Meus amigos me disseram que essa escola é uma das melhores dessa região e que eu tenho sorte por ter conseguido a bolsa. — comentou, mudando o foco do grêmio para a escola.  O cheiro do cloro da piscina a fez lembrar das suas aulas de natação na Saint Ida. 

— Eles têm razão. A Escola Secundária Sweet Amoris, ou S.A. como todos chamam, não é apenas uma das melhores escolas da região como a melhor de Nice. Muitos pais desejam colocar seus filhos aqui, mas é difícil conseguir uma vaga, quanto mais uma bolsa integral. — contou.

— Isso deve ser porque o custo de estudar aqui é alto. Estou certa?

— Que nada. Muitos que não estudam aqui pensam isso, mas na verdade é difícil conseguir uma vaga porque a prioridade do dono da escola, o Sr. LeBeau, é a qualidade de ensino e não a quantidade de alunos. — explicou. — As turmas não podem ter mais que 20 alunos, então, na maioria das vezes, para um aluno novo entrar, alguém tem que sair, e saem poucos alunos daqui antes de concluir.

— Nossa. Então eu só estou aqui hoje porque alguém saiu!? — surpreendeu-se, pois na Saint Ida os alunos entravam e saiam o tempo todo e as turmas tinham, em média, 35 alunos.

— Sim. Mas não se preocupe, ninguém foi expulso neste semestre, então essa pessoa deve ter saído por escolha dela ou da família. — tranquilizou-a, rindo um pouco, quase num tom de brincadeira.

— Expulso? — surpreendeu-se novamente, com medo da escola ser muito mais rigorosa do que imaginou ao falar com a Sra Shermansky. — Muitos alunos são expulsos dessa escola? A diretora é tão rigorosa assim?

— Calma. Não é bem assim. As regras são bem rígidas sim, e as advertências são aplicadas sem dó, mas é preciso muito para ser expulso. E sim, a diretora é rígida e bem linha dura, mas não a este ponto, até porque ela não tem poder para expulsar um aluno. O caso é analisado por uma equipe disciplinar, que é composta por todos os professores do aluno em questão, direção, coordenadores e em alguns casos, até pelo Sr. LeBeau. E para equilibrar com a linha dura da diretora, temos o coordenador pedagógico, o prof. Sartre. Ele é sério e até rigoroso, mas é sensato, calmo, conversa com os alunos e sempre analisa todos os fatos antes de repreender e advertir alguém. Você irá gostar dele. Todos gostam. 

— É. Ao que parece esta escola é bem diferente da minha antiga escola.  — pensou alto, perguntando-se se ia conseguir se adaptar há tantas regras, passando em frente de uma enorme sala usada como teatro e que também estava fechada para reforma, perto da Marcenaria, entrando novamente na escola.

— Não se preocupe. Aqui é legal, apesar de tudo. Você vai gostar! 

Nathaniel falou daquele lugar com tanto carinho e mostrava cada pedacinho da escola como se estivesse mostrando sua casa que foi inevitável Emília perceber que ele gostava muito daquela escola, expressando esta impressão a ele.

— Sim. Eu gosto muito daqui. — contou enquanto subiam a escada, indo para o segundo piso — Eu sempre estudei no Sweet Amoris. Esse lugar faz parte da minha história.

— Sempre? Aqui tem Escola Primária também?

— Não. Mas é como se tivesse. Esse complexo tem apenas o collège, que fica depois do bloco esportivo[7], e o lyceé, mas o Sr. LeBeau tem outros 2 complexos bem menores, que são a Escola Primária Sweet Amoris, que também engloba o Maternalle, e o Infantário Sweet Amoris. Elas são braços dessa unidade e preenchem 2 terços do quadro de alunos ingressantes[8], sendo os demais oriundos de outras escolas. Eu, assim como outros alunos, comecei no Infantário S.A., passei pela Primária S.A. e depois ingressei aqui, na Secundária Sweet Amoris.

— Baptême![9] — brincou, conhecendo os outros espaços daquele piso, fora a biblioteca, como a cozinha experimental, ateliê de artes, sala de informática, além das sala de aula, uma delas a do Nathaniel, que gostava mesmo daquela escola e daquele ritmo de vida, ao ponto dos olhos brilharem ao falar daquele lugar.

Nostálgica, lembrando da própria escola, que ela, assim como ele, também adorava, Sol sentiu uma fisgadinha no peito, de saudade. Seu olhar entristeceu.

— O que foi? Você parece chateada?

— Não é nada. Eu só lembrei da minha antiga escola. Bobagem minha. — disse ela querendo evitar falar da Saint Ida e seus amigos, pois isso a faria chorar e ela nem conhecia aquele garoto direito para bancar a chorona na frente dele. Se bem que ela esteve por um fio de chorar na frente dele quando pensou que ia ser advertida pela diretora.

— Você gostava da sua antiga escola não é!? Mas não se preocupe, fará novos amigos aqui. Os alunos da Sweet Amoris são bem receptivos. Apesar de ser uma escola rigorosa somos bem divertidos. — comentou. Ela sorriu, lembrando das fotos do painel, e perguntou sobre os alunos, querendo saber como eram, afinal de contas, conviveria com eles a semana inteira.

— Se a sua preocupação são os esnobes, não se preocupe, eles nem se misturam com quem sabe andar olhando pra frente. — brincou ele, referindo-se eles andarem olhando para cima por empinarem demais os narizes. Eles já caminhavam pelo terceiro e último piso. — Apesar de ser uma escola conceituada e cara, graças ao Sistema de Bolsas a escola também é filantrópica e consegue ser bem mista. Praticamente um terço dos alunos da Sweet Amoris são bolsistas. 

Emília gostou de saber daquilo, pois assim não teria medo de contar que era bolsista. 

— Estes alunos conseguem o benefício por terem algum talento, seja acadêmico, nas Artes ou nos Esportes. — gosto que mal pode saborear, pois ela não tinha talento especial nenhum para justificar sua bolsa. Era melhor nem comentar. Ela não queria ninguém pensando besteira sobre como sua tia havia conseguido a bolsa com um cliente do Buffet. — Mas isso só é possível graças a parceria que algumas empresas importantes tem com a escola, que repassam para Sistema de Bolsas o valor correspondente aos custos dos estudos deles aqui na S.A. A escola mesmo, só se certifica que estes alunos realmente aprendam, pois eles acabam virando estagiários destas empresas, então não podem vacilar nos estudos. Conseguir uma bolsa aqui é difícil, mas manter é muito mais.

Aquela colocação dele a assustou, mas se conteve.

— Nunca pensei que pudesse ter uma escola particular assim. Este Sr. LeBeau deve ser um homem muito bom. Eu ficaria feliz de conhecê-lo.

— Ele é um homem altruísta. Mas vem bem pouco a escola, então não espere conhecê-lo tão cedo.  

Saber que a escola tinha alunos de classes sociais diferentes fez Emília perder um pouco do medo de encarar aquele novo desafio. Se ela tivesse sorte estudaria numa turma bem legal e faria amigos rápido, o que a deixaria mais animada para estudar e assim, aprender e manter a bolsa. Era melhor torcer e esperar para ver.

Depois de andarem por toda a escola e Emília constatar que apesar da escola Secundária Sweet Amoris ser, de fato, bem grande - em relação a construção -, não tinha tantos alunos quanto ela imaginou que teria. Além das turmas serem pequenas, os ciclos eram separados e ela, por sorte, conviveria apenas com o pessoal do lyceé. A escola era grande porque, diferente da sua antiga escola que era apenas de Ensino Fundamental, também era profissionalizante e tinha mais clubes.

De volta ao grêmio, Nathaniel entregou a Emília as chaves do armário e o material escolar, além dos seus papéis. Mas eram tantos livros que ele a ajudou a carregar.

— Obrigada, Nathaniel. Eu não conseguiria carregar tudo sozinha. — agradeceu, sorridente, enquanto abria o armário.

— Não precisa agradecer, Emília. Não me custou nada!

— Pode me chamar de Sol. Meus amigos me chamam assim. — pediu ela, querendo criar um laço de amizade. Nathaniel apenas sorriu.

O sinal soou e os alunos saíram das salas. Eram 16h30 e havia encerrado o período. Era hora de ir para casa. Quando Ambre viu o irmão ao lado de Emília, ficou possessa. Agora ela era sua inimiga declarada. Lysandre passou por eles como se não os tivessem visto. Na verdade não os viu, ele ainda estava preocupado com seu bloco de notas, sem saber que estava com o Castiel. Já este, estava tão focado na cara de preocupado do amigo que ao ver os dois juntos, não deu bola, ignorando-os. Era só mais uma novata e o CDF "prestativo".

Iris e Melody se aproximaram querendo conhecer a nova aluna e ele as apresentou, dizendo a Sol que elas eram da turma dela. Na verdade, Melody, sempre com medo de que Nathaniel se apaixonasse por alguma garota, queria saber quem era aquela ao lado dele. Depois de alguns minutos eles se despediram e foram embora, exceto Nathaniel que foi conversar com o coordenador pedagógico sobre Emília, como prometido a ela, contando-lhe toda a verdade, inclusive sobre ele ter feito a matrícula e não ter pego as fotos, e não a história que havia dito a ela que contaria a ele, pois além de Sartre lhe depositar total confiança e que ele nada faria para perdê-la, era flexível, tendo entendido e justificado as ausências da garota. Mas o rapaz não escapou de uma repreensão por seus erros, assim como a funcionária que lhe pediu para atender o balcão não escapou de uma repreensão maior, pois Nathaniel não era estagiário remunerado daquela escola, era um aluno que presidia o grêmio em troca de uma bolsa, que era um benefício e não uma remuneração, desta forma, não podia, em nenhuma circunstância, atender o público no balcão da secretaria. Nem mesmo ele ou a diretora pediam para o rapaz fazer aquilo. A jovem levaria alguns dias para perdoar o aluno por ter contado a verdade ao seu chefe.

Emília ainda tinha uns trocados no bolso, mas resolveu voltar a pé para casa, afinal, segundo a tia, eram apenas 15 minutos de caminhada.

 

 

 

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Notas finais do capítulo

[1] Vending Machine é uma máquina automática que fornece diferentes tipos de produtos como cafés, doces, salgados e bebidas sem contato manual para a liberação dos consumíveis. Também são conhecidas como máquinas para autosserviço.

[2] Brunch - Refeição servida normalmente nos finais de semana e feriados, iniciando na metade da manhã, sem hora para terminar, pois substitui o café da manhã tradicional e o almoço, sendo algo como um café da manhã mais reforçado que o breakfast e mais leve que o almoço. Surgiu na Inglaterra, no final do século XIX, para alimentar os "baladeiros" da época que acordavam tarde no dia seguinte, geralmente domingo. 

[3] Notre - Nossa em francês. A palavra será usada na fic como uma expressão de surpresa. 

[4] [4] Mila é saliente com as amigas, de falar muita besteira, mas com os garotos não dá liberdade pra isso, salvo com o Ken por ser melhor amigo. Porém, ela não é do tipo que fica esperando o garoto dar o 1º passo. Se está muito interessada ela toma a iniciativa. Ela gosta de admirar garotos bonitos, mas só de zoeira mesmo. 

[5] Indicaram-me o livro, mas ainda não decidi se procuro para ler ou não, pois quem indicou não tem para emprestar e não quero comprar...rs 

[6] ASSI - Assistência Individualizada. Todas as escolas na França têm na grade uma quantidade de horas reservada para aulas individualizada. O aluno usa essa hora para sanar suas dúvidas. Não é por disciplina, mas sim, hora livre e que o aluno usa da forma que for melhor para ele.

[7] O bloco esportivo é a área que tem o ginásio, a piscina e a pista de atletismo, e ele fica bem no meio do terreno da escola. A S.A. fica no meio da quadra e tem acesso a duas ruas. O EM tem o acesso por uma rua e o EF por outra, então os ciclos não se misturam. O único espaço que os ciclos compartilham é o esportivo, mas utilizam em horários diferenciados. Apenas os alunos do último ano do EF interagem 1 vez por semana, na aula de Economia Doméstica.

[8] Aluno ingressante é o que entra na escola no 1º ano do 1º ciclo da unidade, sendo, no caso do S.A., o 6ème, que equivale ao 6º ano do nosso Fundamental I. Entrou na escola em outras séries não é mais ingressante, mas apenas novato. 

[9] Baptême: Caramba, caracas.