Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 42
Na alça do violão




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# 11/03 # 

Dragon corria de um lado para o outro enquanto seu dono limpava a frente da casa depois dele ter derrubado um dos vasos com palmeiras da Sra. Bertrand, ao tentar pegar o gato da vizinha que resolveu lhe fazer uma visita, sujando a garagem de terra. A noite estava fresca e estrelada e o cão estava feliz. A tarde daquela segunda feira tinha sido a melhor de tantas outras tardes. Depois de muito tempo, desde que ele era um filhotinho, seu dono inseriu outra fêmea na diversão dos dois. Ele até se lembrava de uma garota exibida que estava sempre junto de seu dono e que sumiu há muito tempo, mas ela nem chegava aos pés daquela que lhe foi apresentada naquele dia.

A mulher daquela tarde tinha perfume de flor, a outra cheirava a falsidade; ela tinha a voz doce e a outra tinha a voz afiada; ela tinha as mãos carinhosas e a outra estapeava seu pequeno focinho às costas de seu dono; aquela daquela tarde fez seu dono rir, enquanto a outra o fez chorar! Ele atacaria por aquela fêmea humana de pele clara e longos cabelos violáceos, cujas ondulações dançavam enquanto ela corria atrás dele na esperança de vencê-lo na disputa pelo frisbee, enquanto se a outra passasse na frente da casa de seu dono de novo, por um instante que fosse, ele correria atrás dela, fazendo-a sumir, do contrário, morderia sua bunda!

— Ninguém merece, Dragon. Há esta hora você me faz varrer a frente da casa e replantar uma palmeira! — reclamou Cast enquanto recolocava a terra no vaso, mas sem brigar com seu cachorro. — Eu espero que essa bendita palmeira não morra. É a planta favorita da dona encrenca. Minha mãe te mata, seu tonto! — preocupado com o castigo que o bagunceiro levaria se a planta morresse. Na certa ele iria para a corrente durante os dias em que seus pais estivessem em casa e para Dragon, ficar preso era desesperador, ele chorava o dia inteiro e o ruivo sofria junto com ele.

— Você não tem ideia do que fez, não é Dragon? Fica ai, parado, sentado, me olhando como se estivesse me analisando. Eu sei bem o que você quer, mas já se divertiu demais por hoje. — lembrou. O cão latiu, parecendo até que havia entendido a colocação de seu dono, que sorriu e lhe fez um carinho.

— Aposto que você preferia estar recebendo o carinho dela agora, não é garoto?! — brincou. — É Dragon, você ganhou o dia hoje! — comentou, pensando no quanto Maitê era bonita e divertida. — E eu também, garoto! E eu também! — disse baixinho com o rosto próximo a cara do cachorro, levantando em seguida, colocando água fresca na vasilha, trancando o portão que isolava os fundos da casa, pois a frente era aberta, e depois a porta da cozinha, desejando boa noite ao seu cachorro, que deitou no seu colchonete de ginástica impermeável com fronha de tecido xadrez, macio e cheiroso, pois Cast a trocava duas vezes por semana, ao lado da porta, perto da porta da cozinha, do lado de dentro da casa, o que não acontecia quando os donos da casa estavam presentes, tendo ele que dormir do lado de fora, no quintal dos fundos.

Castiel foi tomar banho e enquanto sentia a água quente do chuveiro tocar sua pele, dividia seus pensamentos entre uma tarde na praia e um momento na Lemaitre. Enquanto um o fazia rir sozinho, o outro lhe fazia torcer os lábios e menear a cabeça.

Secando o cabelo com a toalha branca de algodão, nu, no andar de cima, o ruivo saiu do quarto dos pais, indo para o dele que ficava ao lado, pois como a resistência do chuveiro do banheiro social estava queimada, usava o deles, já que não estavam em casa; era mais fácil que trocar a peça danificada.

A casa dele, que não tinha corredores internos, não era grande como as construções antigas, mas também não era pequena, sendo os cômodos bem aproveitados, inclusive o rol da escada, que por ser espaçoso era usado como local de estudos; desta forma Castiel aproveitava melhor o espaço do quarto.

Largando a toalha, como de costume, sobre a cerquinha interna do rol da escada, para secar, ele entrou no quarto dele, sentou-se a beira da cama e colocou sobre o colo o corpo do seu violão Gibson vermelho, que lhe acompanhava desde que deixou a equipe de luta greco-romana, há quase dois anos, comprado numa loja de penhores com dinheiro ganhado trabalhando nas férias de verão daquele ano. Ele teria comprado um novo, mas no caminho para a loja de instrumentos musicais passou em frente a um pet e um pequenino cachorro preto, barulhento e bagunceiro despertou sua atenção ao latir para ele, de dentro de uma gaiola na porta da loja, sentadinho sobre a tigela de leite vazia, todo molhado, com um pedaço de jornal rasgado enfiado no pescoço. Sua mãe quase teve um piripaque quando ele chegou em casa com um violão usado numa mão e um pequeno beauceron, ainda com os primeiros dentinhos na outra.

Ele soltou a alça do instrumento e tocou, como fazia todas as noites. Esta era a forma que ele tinha de extravasar e relaxar para dormir. Os acordes de "I am mine" de Pearl Jam ecoou naquele quarto, naquela casa vazia.

Ao findar a música ele estava mais calmo e com a mente no lugar.

Ao recolocar a alça do violão no lugar ele percebeu um enfeite, um pequeno crucifixo prateado encontrado no chão do shopping, que uma garota espaçosa e apressada deixou para trás. E tocando a presilha ele lembrou da face daquela jovem, face essa que naquele fim de tarde e início de noite estava a poucos centímetros do rosto de seu melhor amigo, e um dia antes, a poucos centímetros do rosto daquele que um dia cometeu o erro de chamar de amigo. Ele soltou o tic-tac da alça, levantou e colocou o violão no suporte, foi até a cômoda e pegou um pequena caixinha preta de madeira, onde ele guardava pequenas coisas; e do meio dos seus anéis, pulseiras de couro, brincos - que raramente usava -, palhetas e botons de bandas tirou uma pequena fivela dourada, parte da uma gargantilha que enfeitou o pescoço de alguém que ele preferia não lembrar.

"Tão diferentes..." pensou fitando os dois pequenos acessórios femininos que descansavam lado a lado na palma de sua mão. "... e tão parecidas!" — comparou-as. E por alguns minutos permaneceu ali, parado, olhando para eles, atormentando-se novamente, mas desta vez o passado lhe foi um péssimo conselheiro. E cansado daqueles pensamentos, daquelas lembranças, apagou a luz e se jogou sobre a cama, de bruços, cobrindo apenas o quadril, nu, com a colcha de chenille vermelha, como todas as noites em que o frio não se fazia presente; e mesmo nestas, seu nu era coberto apenas com o edredom, totalmente. Desde pequeno ele gostava de dormir sem roupa.

Castiel não acreditava mais no amor, ele não conseguia mais confiar. Seu coração estava fechado para aquele sentimento e assim ele o manteria.

Os dois pequenos objetos jaz na lixeira.

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Notas finais do capítulo

letra completa de I am mine (eu pertenço a mim) de Pearl Jam, uma das melhores bandas grunges de todos os tempos.
Link:http://www.vagalume.com.br/pearl-jam/i-am-mine-traducao.html#ixzz2u7NXf1Ru

No jogo, Cast curte um som grunge, apesar de não aderir ao visual grunge e a Chino não fazer referências musicais para ele. Lys tem um visual mais gótico (os góticos é que curtem o visual retrô vitoriano). Mas seu gosto musical ainda não está bem definido. No ep. 36 é revelado que ele gosta de ouvir rock mais antigo e no vinil, porém, o subgênero que ele curte ainda é uma incógnita, então eu vou definir o gosto musical do meu divo, afinal, esta é minha fic e aqui eu completo as lacunas deixadas pelo jogo...rs
Claro que vou seguir o estilo visual do Lys, respeitando a personalidade dele. Sendo assim, o Lys de ESB é bem eclético no gosto musical, curtindo desde Blues a Ópera, e os clássicos do RnR (rock do século XX), dos vinis. Mas como todo mundo, ele tem seus gêneros favoritos, e estes são o gótico, indo do metal gótico, como Tristania e Birthday Massacre, ao gótico mais clássico, como The Cure, e o rock indie, como Radiohead. Quando penso na voz do Lys me vem à mente algo como a voz de Michael Kiske [https://youtu.be/XDfVZydv6IM ]

[1] Jay Neitz, da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, testaram a visão de cores dos cães. Ele confirmou que os cães realmente vêem cores, muitas cores, mas menos do que seres humanos normais. Ao invés de ver o arco-íris como azul, violeta, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho, os cães veriam como azul escuro, azul claro, amarelo, amarelo claro amarelo escuro (uma espécie de marrom), e muito cinza escuro. Em outras palavras, os cães vêem as cores do mundo basicamente como amarelo, azul e cinza. Eles vêem as cores verde, amarela e laranja como cor amarelada, e o violeta e o azul como o azul.

fonte: http://lilianrockenbach.blogspot.com.br/2010/11/os-caes-nao-sao-os-daltonicos-como-voce.html