Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 40
Só um empurrãozinho - parte 1-2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452438/chapter/40

#11/03#

Sentados um do lado do outro, na poltrona de espera da loja, Lys e Sol estudavam. A garota que nunca se deu bem com a matemática quebrava a cuca tentando entender o que Lys, com toda a paciência do mundo, sentado no braço da poltrona, tentava lhe ensinar. Já passava das 16h30 e além das explicações e perguntas, as únicas palavras trocadas entre eles foram: “Não entendi; preste atenção; explica de novo; você entendeu?; é muito difícil; é fácil; estou cansada; nosso tempo é curto!”

Rosa os observava de longe, tentando entender o porquê Lys estava tão distante da Sol, apesar de estar sentado ao lado dela.

— Rosa. — Leigh precisava de ajuda no provador. — Acompanhe a neta da Sra. Angel ao provador e mostre-lhe as melhores combinações com a calça que ela escolheu.

— É claro, vida. — disse ela levando a jovem ao provador, recolhendo pelo caminho algumas peças chaves para completarem o look da garota.

Embora Rosa não tivesse lá muita criatividade para criar roupas comerciais, sempre exagerando no conceitual, tinha muita criatividade quando o assunto era montar looks. Ela sabia exatamente como combinar as roupas e mais que isso, ela conseguia harmonizar as peças com a personalidade dos clientes, que sempre saiam da Lemaitre satisfeitos, como a jovem neta da Sra. Angel, uma fiel cliente do Leigh, apaixonada por seus desenhos desde que ele ainda era estagiário de Gastón, o velho alfaiate que ao se aposentar alugou a loja para ele, que ficava no primeiro piso de um velho triplex construído no final do século XIX. Triplex este que Leigh conseguiu comprar graças a Gastón ter muitas dívidas de impostos junto a prefeitura, o local precisar de algumas reformas, a quebra do mercado imobiliário por conta da crise econômica e uma herança, embora tenha adquirido uma divida de financiamento imobiliário que levaria 20 anos para ser quitada.

— Posso saber o que você tanto olha para aqueles dois, Rosa? — perguntou Leigh enquanto arrumava as roupas experimentadas pela jovem Srta Angel nas araras. — Por acaso você não está, novamente, tentando arrumar uma namorada para o Lysandre? Está?

— Ahn... O que? — fez-se de desentendida, pois Leigh já há havia proibido de se meter na vida afetiva do irmão.

— Não se faça de boba, Rosa. Eu percebi suas intenções quando me pediu para deixá-los estudar aqui na loja. — disse ele, entregando as roupas para ela segurar. — Eu já te pedi para não fazer mais isso.

— Mas, amorrr. O Lys está sempre tão sozinho. — argumentou, sem êxito.

— Ah, Rosa. Quando você vai entender que o Lysandre não tem uma namorada porque não quer. — Leigh sabia que o irmão não ficava com alguém só por ficar. — Ele só vai se envolver num relacionamento se realmente gostar da garota.

— Mas se ele não se arriscar, como vai se apaixonar? — perguntou a jovem alcoviteira sem tirar os olhos do casal de estudantes. — Além do mais, eu tenho quase certeza que ele gosta da So... Aiiiii. — resmungou sem nem mesmo completar seu argumento, ao ser puxada pelo namorado e conduzida até um dos provadores, sentindo um friozinho na espinha, pois aquilo significava que Leigh ia lhe dar umas broncas. Ela largou as roupas sobre a primeira arara que encontrou.

No provador, espaçoso para uma pessoa, mas pequeno para duas, Leigh ficou parado diante de Rosa, com os braços cruzados, olhando para ela, pensando no que dizer para que entendesse que Lysandre não precisava de ajuda para encontrar uma namorada. Rosa olhava para todos os lados, menos para o rosto do namorado. Ela sabia que ele estava bravo e que ia pedir para ela prometer que não ia bancar a casamenteira com o cunhado, promessa que ela não cumpriria.

— Prometa! — pediu ele. — Melhor. Jure!

— Mas, Leiiigh. — tentou dialogar, cheia de manhã, mas logo foi cortada.

— Jure, Rosa! — enfatizou.

— Eu sei que ele gosta dela!

— Igual das outras duas vezes! — lembrou-a das outras tentativas, fracassadas, dela em arrumar uma namorada para o Lys.

— Desta vez é diferente. — argumentou, mexendo no cabelo, tentando enrolar o namorado. — Tem tudo para dar certo!

— Diferente?! Como a segunda foi diferente da primeira? —refrescou a memória da namorada, que só conseguia pensar no que estava rolando do lado de fora do provador. — Vamos recordar! A primeira era linda, inteligente, independente e... lésbica! O Lysandre ficou dois dias sem falar com você por tê-lo convencido a se arriscar, ainda mais sendo ele novo no colégio.

— Mas eu não tive culpa. Ela dizia que achava o Lys uma gracinha e eles se davam super bem. Como eu ia adivinhar que ela gostava de garotas! — justificou-se.

— Ok... Mas e a segunda?

— Ela gostava do Lys, e muito!

— Sim. E como você não conseguiu convencer o Lysandre a se arriscar, ignorando que ele só estava interessado na amizade dela, você a convenceu a conquistá-lo. — lembrou, sem tirar os olhos da namorada, que não olhava para ele de jeito nenhum. — Mesmo sem o Lysandre dar bola para ela, a garota ficou no pé dele por um mês inteiro e como não conseguiu nada, fez um chabu aqui na loja, na frente das clientes. Ele foi de insensível a "viadinho" em minutos. Por uma semana ele não conseguiu dizer o seu nome, tamanha a vergonha que passou. Eu tive que intervir para ele te perdoar. Lembra disso?

— Mas a Sol é diferente. Eu sei que é... — murmurou, tentando espiar os dois do lado de fora.

— Meu Deus, Rosa. Você não está me ouvindo. — por conhecer bem a namorada, sabia que ela não ia desistir da ideia de juntar aqueles dois. Então ele segurou o rosto dela, obrigando-a a olhar para ele e a fez jurar que deixaria as coisas rolarem naturalmente, sem seus empurrõezinhos. — Jure com todas as letras, Rosa!

Leigh não conhecia Emília tão bem para achar que ela servia ou não para namorar seu irmão, mas simpatizava com a garota, que parecia ser uma boa garota. Porém, cabia ao Lysandre escolher suas namoradas, não a ele ou a Rosa. Claro que ele não pensaria duas vezes em interferir caso o caçula se envolvesse com alguma garota problema.

— Deixe ver suas mãos. — ele sabia que ela tinha o habito de cruzar os dedos quando não tinha a intenção de cumprir a promessa.

— Leeeigh... — murmurou, com seu jeitinho manhoso que derretia o namorado, mas quando se tratava do Lysandre, nem a manhã de Rosa tirava seu foco.

— Jure, Rosa! E sem cruzar os dedos!

— Eu juro... — prometeu, com pesar, pois sem cruzar os dedos ela se via obrigada a cumprir a promessa. — Eu não vou me meter entre o Lys e a Sol.

— Prometa que vai cumprir seu juramento. — pediu ele. — Minha gatinha manhosa! — que apesar do foco, já estava derretido.

— Eu prometo. — disse — "que vou tentar.", pensou.

Leigh sorriu e acariciou a face de Rosa, beijando de leve seus olhos fechados. Rosa já tinha os lábios entreabertos, aguardando o toque dos lábios do namorado, que adorava vê-la a espera do seu beijo, que percorria toda a face delicada dela antes de dar-lhe este gosto. Rosa sentia sua respiração ficar mais forte a cada toque dos lábios dele sobre sua testa, nariz, bochechas, queixo... Suas mãos já repuxavam o blazer preto do rapaz, que ao sentir um suspiro perto de sua boca quando tocou o queixo dela, com um sorriso nos lábios, mordiscou aquela boca macia, em seguida a beijou, trazendo a namorada mais para perto dele, envolvendo-a num abraço apertado. Rosa sentiu seu corpo inteiro arrepiar. Leigh tinha a boca quente e ela adorava seus beijos, ainda mais quando vinham depois de uma bronca ou até mesmo de alguma briga.

Do lado de fora, Lys e Sol continuavam a estudar. A garota estava cansada, mas Lys não a deixou relaxar, pois tinham até as 17h30 para concluir as três atividades.

Por sorte as atividades de Inglês e Educação Moral e Cívica foram tranquilas, pois Lys falava o idioma fluentemente e ela não tinha dificuldade com a matéria, embora seu inglês se resumisse a conseguir traduzir trechos de música e mensagens em jogos. Já a matemática estava sendo o terror do dia. Sol não aguentava mais tantos números. Ela não conseguia se lembrar quando a matéria havia ficado tão difícil.

— Por que eles tinham que envolver as letras na matemática, que só com números já é complicada. — resmungou, mordendo o lápis, que Lys, em meio as suas explicações, gentilmente tirou da boca dela, pois aquele era um hábito, na opinião dele, pouco higiênico, já que aquele objeto caia no chão, ia para o cabelo, se misturava com outros objetos dentro do estojo e passava de mão em mão quando era emprestado, colocando em seu lugar uma goma de mascar.

— Hummm. Morango. Adoro sabor de morango! — comentou ela, ao mastigar a goma, que deixou adentrar sua boca sem nem se dar conta do que era antes de tocar seus dentes nela, tamanha dúvida com a atividade. — Obrigada, Lys. — agradeceu, voltando os olhos para o amigo, que estava de face corada, pois apesar de seu gesto ter sido involuntário, cuja intenção foi apenas de lhe dar algo para mastigar, evitando assim que ela levasse o lápis novamente a boca por conta da ansiedade, sentir os lábios de Sol com a ponta dos dedos fez sua atenção quebrar, tirando-lhe o foco dos estudos. Ela nem se deu conta, só pensava nos números e em se livrar da atividade.

— Lys. Vamos parar só um pouquinho? Por favor! — pediu, com seu jeitinho manhoso de falar - antes apenas com sua tia. — Se eu olhar para estes números agora, meu cabelo vai começar a queimar, porque meu cérebro já está torrado. — dramatizou com um sorriso que fez o garoto de cabelos nevados respirar fundo e desejar se sobrepor ao vermelho.

— Tudo bem. Vamos dar uma pausa, mas só cinco minutos. — consentiu, levantando. Ele não aguentava mais ficar sentado no braço da poltrona, sua perna já estava ficando dormente e sua boca estava seca, mais por causa da aluna do que da aula, e um refrigerante lhe faria bem.

— Vou pegar um refrigerante para nós. Qual você prefere? — perguntou, diante da Free Style preta da Coca-Cola que Leigh colocou na loja no último verão, e que os clientes adoravam, pois podiam saborear inusitadas misturas das bebidas da marca enquanto estavam na loja, sendo que se comprassem as roupas a bebida, super gelada, era uma cortesia.

— Eu confio no seu bom gosto! — respondei. Desde que foi morar com a tia ela vivia a base de sucos naturais, dada Maitê ser totalmente natureba. Sua vontade era pedir que ele misturasse tudo, mas a vergonha não deixou.

— Soda e Icetea. — entregou-lhe o copo, lembrando-a do horário. — São 17h05 e daqui a pouco você tem que ir embora. É melhor retomarmos a atividade. — fazendo-a lembrar de Castiel, que iria a casa dela por conta da atividade de Economia Doméstica.

Rosa e Leigh saíram do provador, pois a loja não podia ficar sozinha, já que Lys e Sol estavam estudando. Eles foram para o ateliê, deixando o jovem casal de amigos sozinhos. Na verdade Leigh queria propiciar um momento de privacidade ao irmão - por sorte a loja não tinha muito movimento às 2ªs feiras - sem a Rosa por perto, pois ele sabia que ela não ia conseguir manter sua promessa por muito tempo.

— Lys. O Castiel foi para a escola hoje? — perguntou e a preocupação em seu tom de voz fez o amigo se manter de pé ao lado dela, ao invés de sentar no braço da poltrona.

— Sim, Sol. Ele foi hoje. — respondeu. Sua voz parecia distante. Emília já estava acostumada com o tom baixo de falar do amigo, mas daquela vez ele falou mais baixo que o de costume, levando-a a pedir que repetisse a resposta, e este o fez levando seu copo até o toalete e despejando sua bebida na pia. Ela tinha perdido o sabor.

— Ele estava bem? Não se queixou de dor de cabeça? — perguntou.

Lys contou que o amigo estava tão bem que parecia outra pessoa. Sua voz antes baixa, estava neutra, não esboçava nada, nem preocupação, nem curiosidade. A jovem era tão inexperiente nas coisas do coração que não percebia o que suas perguntas causavam no platinado, até mesmo porque, ela só tinha olhos para Nathaniel.

— Que bom. Eu estava preocupada com ele. — revelou. — Ele saiu tão cedo hoje, que não vi se estava bem. — comentou com a naturalidade de quem conta algo corriqueiro.

Lys sentiu como se lhe dessem um tapa na cara. A curiosidade lhe invadiu, mas ele nada tinha a ver com a vida de ambos. Difícil foi controlar seus pensamentos regados a uma pontada de ciúme que ele não deveria ter.  

 "Como assim, saiu tão cedo que ela não o viu?" "Onde eles estavam?" "O que eles fizeram?" "Por que ele estava de bom humor?"...

Sol percebeu que Lys estava estranho. Seu olhar estava diferente, como se tivesse perdido alguma coisa, mas ao invés de estar procurando, estava olhando para ela, parado a poucos passos da poltrona em que estava sentada.

— O que foi, Lys? Eu conheço este olhar. Você perdeu seu bloco de notas e só se deu conta agora, é isso? — imaginou ser este o problema. — Quer que eu te ajude a procurar? — levantando-se — Onde você estava quando o usou pela última vez? — caminhando na direção dele, que não conseguia pensar em nada a não ser nela e Castiel juntos.

Sol parou a frente dele esperando que dissesse alguma coisa, mas ele permaneceu calado, fitando-a.

— O que foi Lys? Por que está me olhando assim? — perguntou, começando a desconfiar que o problema não era o bloco de notas. — Quer me dizer alguma coisa, é isso? Por que se for, diz logo. Estou ficando preocupada! — intimou, começando a achar que tinha dado muito trabalho e que ele estava arrependido de ter se oferecido para ajudá-la a estudar.

O silêncio dele a chateou.

— Já sei. Você cansou de ensinar alguém como eu, que demora demais para entender o básico e não sabe como me dizer isso! Não se preocupe, eu entendo. Vou terminar os exercícios em casa... Sozinha!— disse ela, dando-lhe as costas e pegando suas coisas, passando a mão no rosto, fazendo Lys perceber que seu silêncio a magoou.

— Quando é que você vai parar de deduzir as coisas, Emília Solles? — perguntou ele. Sua voz estava branda novamente.

— No mesmo dia em que você parar de ficar mudo quando alguma coisa te incomodar! — respondeu ela. A birra se fazia presente em sua voz e sua face, embora ela continuasse de costas para ele, com o envelope de, seu caderno e estojo em meio aos braços cruzados. Birra que Lys e seus outros novos amigos já conheciam.

— Ah, Sol! Espirituosa como sempre! — comentou, pedindo que ela pegasse a folha de exercício que faltava concluir. — Vamos voltar à matemática que ainda falta um exercício. — ela pôde sentir que ele sorria ao falar, mas continuou emburrada.

— Não antes de você me dizer qual é o problema! — intimou, com um bico que parecia que ela havia sido beijada por um zangão. — Por que ficou me olhando daquele jeito? O que foi que eu fiz de errado, afinal? — movida mais pela curiosidade do que bela mágoa de minutos atrás.

Lys pensou por um instante, tomou coragem e perguntou, afinal de contas, deduzir era pré-julgar e este era um defeito que ele não tinha e não ia começar a cultivá-lo por se sentir atraído por aquela garota emburrada à frente dele, atração que nem ele entendia direito ainda, sendo tudo meio confuso em sua mente.

— Desculpe-me, Sol. É que... — titubeou, tentando encontrar as palavras certas, para não ser mal interpretado. — Ouvir você dizer que o Castiel saiu cedo soou estranho. — disse, sem hesitar. — O que você fazia no mesmo lugar que ele pela manhã? — deixando sua curiosidade fluir, mas tentando não se mostrar interessado demais na resposta.

Sol arregalou os olhos, deduzindo os pensamentos que passaram pela mente do amigo. Ela corou e não sabia se brigava com ele, batia-lhe ou se enfiava-se dentro de algum provador. Ela nunca imaginou que Lysandre podia ter aquele tipo de pensamento, justo ele, o mais sensível e tranquilo dos seus amigos, o mais maduro...

"Maduro? Espera ai, Emília Solles. E se o Lys não for mais... E se ele já... Aquela poesia que o garoto leu no mercado, era tão..." Pensou enquanto as dezenas de fichas entaladas começavam a cair na sua cabecinha inocente, uma da de cada vez.

— Não precisa me dizer, se não quiser. Mas vamos terminar seu exercício. — disse ele, virando-a, vendo a marca da vergonha em seu rosto delicado. Mas antes que ele dissesse mais alguma coisa ela, sem pensar, deu-lhe um tapa no braço, inconformada por ele ter imaginado que pudesse ter acontecido algo entre ela e o ruivo. Ele teria se zangado com aquela agressão, mas foi o contrário, com aquele tapa ela disse, sem emitir uma palavra, que ele estava enganado, e só o que ele podia fazer era se desculpar, e o fez, sentindo-se um idiota.

— Eu não sei se te desculpo ou se continuo brava com você, Lysandre. — disse, sentada de volta na poltrona, colocando a prancheta, que ele lhe emprestou, com a folha presa, sobre o colo. Ela parecia zangada, mas na verdade não estava. — Como você pôde imaginar eu e o Castiel... — não quis nem pronunciar o que ela pensou que ele pensou. — Justo com o Castiel. — Ela olhava para a folha de exercício tentando entender aqueles malditos números e letras, levando o lápis de volta a boca. — Só porque ele dormiu na minha casa — Lys prendeu o ar ao ouvir tal revelação, sentando, para não dizer despencando, sobre o braço da poltrona. — Como se minha tia fosse deixar ele passar a noite sozinho na casa dele depois de ter sido atropelado por um louco.

Lys entendeu o que havia acontecido e sentiu o peso da culpa lhe cair sobre os ombros. Castiel era seu melhor amigo e ele nem se quer perguntou o que havia acontecido para ele estar com aquele corte no supercílio, mancando de leve e provavelmente com a costela machucada, pois por diversas vezes na sala o viu apertando-a para sentar e se mexer na cadeira.

"Que merda de amigo eu me saí hoje!" repreendeu-se em seu silêncio, mordendo a bochecha para não se xingar em voz alta.

— Eu não o vi sair porque dormi com a minha tia e ele saiu antes de eu acordar! — revelou, num atropelo de palavras, o que havia acontecido, silenciando-se em seguida. Lys também manteve o silêncio, quebrado por Emília, fazendo o rapaz rir.

— O que o basquete tem a ver com a matemática? Não estou entendendo!

— Não é basquete, Sol. É bhaskara, uma fórmula matemática! — corrigiu-a. — Você está tão zangada comigo que está lendo o enunciado errado. — Sol não teve alternativa a não ser rir de si mesma. Lys se desculpou novamente e Sol disse que só o perdoaria se explicasse para ela como resolver a tal fórmula.

Rosa ouviu os risos e com a desculpa de ir ao toalete saiu do ateliê, vendo Sol e Lys mais soltos, embora ainda estivessem estudando. Ela foi ao toalete como havia dito, lavou as mãos e ajeitou o cabelo, depois saiu, e ao passar ao lado do casal esbarrou em Lysandre, "empurrando-o", sem querer, sobre a amiga, mas não ficou para ver o resultado, continuou seu caminho de volta ao ateliê, pois se demorasse Leigh iria atrás dela.

Lys caiu sobre Emília que ficou prensada entre ele e a poltrona, seus rostos ficaram a menos de um palmo de distância um do outro, e Lys tinha a pele tão clara que era impossível não perceber seu rubor. Os risos cessaram, ambos estavam sem graça. Sol não sabia o que fazer; Lys estava tão perto que ela pôde sentir seu coração bater, deixando-a confusa, pois parecia ser o mesmo ritmo que o seu coração batia quando Nath chegava perto dela.

"Por que o coração do Lys está batendo tão rápido? E por que ele está me olhando deste jeito?", perguntou-se, sentindo a timidez lhe envolver, sem conseguir desviar o olhar do amigo ruborizado, que não conseguiu proferir nenhuma palavra, seduzido por um perfume adocicado e pelo pensamento que controlou suas ações.

Rosa, que não conseguiu dominar a curiosidade, espiava os dois por trás da cortina da porta do ateliê.

— E-eu já estava indo, amor. — disse ao sentir Leigh pegar sua mão e a conduzir de volta para a mesa de modelagem. — Eu só queria... — murmurou, olhando para a cortina que se distanciava rapidamente. Leigh não a deixaria espirar o irmão, mesmo ele estando tão curioso quando ela.

Sol sentiu sua pele arrepiar ao ter sua face corada tocada pelos dedos de Lysandre, cuja mente traiçoeira o levou para um fim de tarde de verão quando ele ainda tinha 13 anos e teve seus lábios tocados pela primeira vez. O perfume primaveril que o inebriou naquele verão parecia seduzi-lo igualmente naquele momento.

Sol olhava para Lys, que apesar de tão perto, parecia tão longe, perguntando-se o que ele queria dela. Ela o teria afastado, empurrado, mas o toque da mão dele era tão macio e leve, e a forma que ele a olhava, tão sedutor, que a envolveu de uma forma que ela não conseguia entender. Os olhos dele seguiam os dedos que contornavam a sua face, mas cada vez que seus olhos se cruzavam ele parecia mais distante, como se estivesse em busca de alguma coisa, ou de alguém, mas o que ou quem?

"O que ele vai fazer?" pensou ela prendendo a respiração assim que os dedos dele pousaram em seus lábios, arrancando o restinho de gloss que ela ainda tinha no lábio inferior, levando o dedo a sua própria boca para sentir o que ainda havia do sabor do morango. "Ele vai me..." pensou ela, sentindo que ia ser beijada, quando seus ouvidos o ouviram, em alto e bom tom:

— Atividade de ciências!?

— C-Castiel! O que você faz aqui! — perguntou ela, recompondo-se, tendo Lysandre levantado sem dizer nada. Sua face havia perdido a sedução e ganhado a interrogação novamente. Lys era novamente o garoto que ela conhecia.

~~~~§§~~~~

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Lemaitre - Loja do Leigh - sobrenome de solteira da avó materna deles.

Prada Infusion d’Iris.... Hummm.......