Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 31
Diante de ti, uma inércia me toma.


Notas iniciais do capítulo

Sol recebe uma visita que ansiava por receber, mas que não esperava receber.

E eu agradeço meu amado Hyde (Larc~en~Ciel) pela inspiração...rs



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#10/03#

 

Naquele domingo, Sol despertou por volta das 09h30 e após tomar o seu café da manhã, preparado com muito carinho por sua tia, arrumou o apartamento, como já havia se habituado a fazer. Mas daquela vez ela foi minuciosa, até seu quarto passou pela faxina, pois pensar que Castiel podia ser mais organizado que ela lhe era uma afronta pessoal.

Pouco depois das 14h00. Maitê voltou para casa. Sol estranhou a tia voltar cedo, mas esta disse que não havia o que fazer no Buffet e como estava com enxaqueca resolveu voltar para casa e descansar um pouco. Ela foi para seu quarto pedindo apenas que a jovem não fizesse barulho. Emília se preocupou, pois a tia estava visivelmente abatida, então preparou um chá de erva-doce e lhe levou no quarto, mas ao entrar percebeu que Maitê chorava silenciosa com a cabeça recostada em seu travesseiro.

— Tia. A senhora está chorando? — preocupou-se mais, aproximando-se da cama com a caneca de porcelana na mão. — O que aconteceu?

— Não ligue pra mim, Emília! — referiu, sentando-se na cama, enxugando as lágrimas. Ela sorria, mas Sol pôde perceber que era um sorriso sem vida, diferente dos sorrisos que sua tia sempre tinha nos lábios. — Daqui a pouco isso passa! Essa caneca é pra mim?

— Sim, tia. É chá de erva-doce. Eu li que é desestressante, e como eu sei que a senhora só toma remédios naturais...

— Ahhh! Obrigada. — agradeceu, pegando a caneca e tomando um gole. — Agora me deixe descansar um pouco. — pediu e Sol se levantou da cama. Mas ao chegar na porta parou e olhou para a tia, que olhava na direção da caneca sobre o colo, porém sua mente não pensava no chá.

— Tia. — chamou-a, sem obter resposta da tia que jazia perdida em seus pensamentos.

— Tia. — chamou-a novamente, num tom mais alto, mais preocupada que antes.

— S-sim, Emília. — respondeu. Seus olhos estavam levemente avermelhados, mas suas lágrimas estavam contidas.

— Eu te amo! — disse cheia de ternura, fazendo a tia sorrir, desta vez com mais vida, embora um sorriso pequeno.

— Eu sei meu anjo. — disse, estendendo a mão para que Sol segurasse e ao fazê-lo ela a puxou para si e a abraçou de forma terna. — Eu também te amo!

Naquele momento Maitê teve a certeza que havia feito a escolha certa. E após receber um beijo na testa, Sol deixou a tia sozinha.

 

***

Enquanto Maitê descansava e chorava silenciosa em seu quarto, Sol conversava com suas amigas pelo facebook. Ela não quis usar o skype ou o whats, pois temia que o barulho do áudio incomodasse a tia, e também não queria usar o fone de ouvidos, pois se a tia a chamasse poderia não ouvir. Ela sabia que a enxaqueca não era o problema e sim o resultado deste, mas por ela mesma não gostar de falar sobre suas aflições não se sentiu no direito de perguntar, mesmo a tia já tendo mostrado por diversas vezes que era um "livro aberto". Naquele dia Sol se xingou por não ter coragem de se expor, pois na sua visão, ser assim lhe tirou o direito de pedir à tia que se expusesse para ela; e ver Maitê chorando quietinha, trancada em seu quarto, entristeceu seu coração.

< Você tem certeza que ela está triste? Talvez ela realmente esteja apenas com dor de cabeça! >  digitou Mila.

< Eu conheço a minha tia. Tem alguma coisa errada, mas ela não vai me contar, a não ser que eu pergunte. >  digitou Sol. Suas pernas estavam agitadas sobre o sofá, de onde ela teclava com seu tablet.

< Então por que não pergunta logo o que está acontecendo e acaba com essa aflição? >  digitou Ana, aproveitando que Mila não podia vê-la para devorar um pedaço delicioso de bolo de chocolate.

< Porque eu não me sinto no direito de pedir que ela se abra comigo se eu mesma ainda não consigo me abrir com ela. >  explicou, roendo as unhas.  < Estou com raiva de mim mesma agora! >

< Mas você diz tanto que confia nela. Qual o problema? >  perguntou Ana, teclando com uma única mão, catando milho, porque a outra estava ocupada com o garfo.

< É, Sol. O que te impede de falar com ela como fala com a gente? >  endossou Mila, que postava mensagens com imagens de gatinhos, enquanto teclava, além de fuçar em sites de moda.

< É que... >  enrolou um pouco para digitar.  < Com ela é diferente. Quando eu penso em falar já começo a sentir meus olhos arderem. >  disse.

< Grande novidade. Você chora até pela morte da formiguinha, Sol. >  Mila não conseguia evitar tirar sarro da sensibilidade excessiva da amiga chorona.

< Não é hora de me zoar, Mila. Eu tô falando sério. Eu já fico anciosa só de pensar em me abrir com a minha tia. >

< Desculpa. Não resisti. Na verdade, eu te entendo. Eu também fico "ANSIOSA" quando converso sobre algum problema com meus irmãos. >  Mila tinha uma relação muito próxima com os irmãos mais velhos. Como os pais dela trabalhavam muito, eles praticamente a criaram.

< Claro que você fica "ANSIOSA" quando conversa com seus irmãos e até chora. Na maioria das vezes é porque você fez merda e eles te passam aquele sermão e te obrigam a contar pros seus pais, o que geralmente te rende mais sermão, castigo... > — Sol estava preocupada com a tia e queria desabafar e se aconselhar, então não estava no clima de ser cutucada pela amiga.

Mila apenas riu enquanto enviava a imagem de um gatinho com cara de espantado, querendo dizer que aquela reposta a surpreendeu.

< Ai, Deus. Vocês duas não tem jeito. >  Ana não sabia qual das duas era mais infantil.

< E Sol. Esse lance de você se sentir mais sensível quando pensa em se abrir com sua tia, é normal. É porque você a ama e se sente mais frágil perto dela. > pelo menos a Ana sabia conversar sem brigar ou zoar com as amigas.

< A Ana está certa, Sol. Quando eu converso com meus irmãos, independente do motivo, fico mais sensível. Isso é porque eu me importo com o que eles pensam. Se eu fiz merda sei que eles ficarão chateados e desapontá-los me entristece. Se eu estou com um problema sei que ficarão preocupados e isso também me entristece, pois não quero que se preocupem comigo. Mas vou te dizer uma coisa, é muito pior não ter com quem conversar. Mesmo quando eu sei que vou acabar tomando esporro e ficar de castigo, prefiro conversar com meus irmãos e com meus pais, mesmo tendo conversado com vocês, pois é diferente. Claro que nem tudo conto pra eles, mas quando eu sinto que preciso de mais que conselhos e abraços de amigas, me encho de coragem e corro pra eles. >  e Mila também era especial, apesar do seu gênio.

Sol ficou um tempinho sem teclar, pensando. Ela olhava para a porta do quarto da tia que ficava de frente para a sala de estar e só conseguia pensar que Maitê já estava trancada lá dentro fazia três horas, sem sair para nada e sem emitir um único som, fosse do rádio, porta do guarda-roupa fechando ou passos pelo chão. Ela queria ir até lá e bater na porta, mas ao mesmo tempo não queria incomodá-la.

“Por que não acontece nada para eu ter uma desculpa pra ir até lá?” pensou.

— Quer saber de uma coisa, eu vou até lá. Se ela brigar comigo valerá o risco! Melhor do que não saber como ela esta! — decidiu, largando o tablet sobre o sofá, mas antes de levantar o interfone tocou.

— Será que é o Castiel? Mas ainda são cinco horas. — levantou-se do sofá enquanto olhava para o relógio de parede e foi a porta.

— Alô! — atendeu, sentindo seu coração congelar e as pernas tremerem ao ouvir a voz no interfone.

— Esse é o apartamento da Emília? — perguntou o rapaz, mas ela não conseguiu responder, pois tentava controlar a respiração que começou a falhar.

— Sol!? É você? Eu posso subir? — perguntou ele com a voz baixa, com medo dela não permitir sua entrada, mas mesmo sem ouvir um “Sim, sou eu e pode subir” a tranca da porta principal destravou, liberando sua passagem. Aliviado ele sorriu e subiu.

Sol correu até o banheiro, lavou o rosto, penteou os cabelos e retocou o gloss de seus lábios, reavivando o doce aroma e o sabor de morango. Ao voltar para a sala pegou o tablet e o jogou sobre sua cama, esquecendo totalmente que as amigas ainda estavam online, fechando a porta.

Dlin-don!

Sol respirou fundo e abriu a porta devagar. Ela queria dizer oi e ele também, mas ao fitarem-se nenhuma palavra foi dita. Desta vez era Nathaniel que sentia as pernas engessadas, parado diante da porta. Vê-la de pé diante dele, olhando-o com seus brilhantes olhos verdes depois de tê-la visto tão abatida, dopada sobre o leito da enfermaria, lhe deu um desejo enorme de abraçá-la apertado e obrigá-la a jurar que nunca mais o assustaria daquela forma. Mas além de não conseguir pronunciar nenhuma palavra, pois as que ele queria dizer não tinha coragem, e mesmo já estando seguro do que sentia - embora ainda não soubesse dizer o quanto gostava dela - não tinha a mesma segurança em relação ao que ela sentia; ele tinha medo de que ao abraçá-la perdesse o controle e se deixa-se levar por um impulso, impulso que um dia o fez cometer um grande erro.

Em contrapartida, Emília, embora estivesse eufórica de alegria por dentro, só conseguia pensar em sua amiga Melody. Ao mesmo tempo em que ela queria fechar a porta e deixá-lo do lado de fora, ela desejava puxá-lo para dentro, fechando a porta às costas dele, para que Melody ficasse de fora, e este pensamento pendia a ser mais forte que o outro, e isso a atormentava mais ainda.

— Emília. Não seja mal educada e convide seu amigo para entrar! — Maitê que já os observava há pelo menos um minuto. Ela saiu do quarto assim que ouviu a campainha, pensando se tratar do Castiel, pois estava meio perdida com o horário. Ela nem precisou ligar o rapaz a cor dos cabelos, bastou ver a forma que eles se olhavam para saber que se tratava do tal Nath, lembrando-se em seguida que foi ele que a atendeu quando foi efetuar a matrícula da sobrinha na escola.

— É c-cla-claro, tia. — gaguejou, percebendo que novamente havia perdido a ação diante do loiro, que também percebeu que estava fazendo papel de bobo. — Por favor Nath, entre! — e o rapaz entrou, sem graça, rubro como pimenta.

Sol apresentou o amigo à tia, que ao apertar a mão do rapaz a sentiu gelada.

— Eu já o conheço, Emília. Foi ele quem me atendeu quando fiz a sua matrícula, lembra. — um pequeno sorriso surgiu nos lábios do loiro, que também lembrou dela e sua bolsa gigantesca.

— É verdade. Eu havia me esquecido disso. — comentou ele, colocando a mão na nuca, meio que envergonhado pela gafe. — Me desculpe, Sra. Berger.

— Que fofo, você se lembrou do meu sobrenome. — surpreendeu-se, pela boa memória do rapaz e porque as pessoas que a conheciam por conta da Emília tendiam a chamá-la, erroneamente, de Sra. Solles. Mal sabia ela que ele só se lembrava do sobrenome dela por viver olhando o prontuário da Emília, cuja foto já tinha imprimido uma cópia e a mantinha entre seus documentos, escondidinha na carteira.

— Por favor, fique à vontade. Vou preparar um suco gelado para vocês. Melhor, como ainda não tive a chance de agradecer pelo que fez em relação a foto da matrícula, vou fazer uns canapés pra você.

— Não é necessário, Srta. Berger. Não quero incomodar.

— Faço questão. A não ser que não esteja com um pouquinho que seja de fome ou que não goste de canapés de cream cheese feito com muito carinho.

Nathaniel não conseguiu recusar o mimo, ainda mais oferecido com um belo sorriso. Maitê foi para a cozinha e ele sentou no sofá. Sol queria sentar ao lado dele, mas estava sem graça, sentando na poltrona, levantando logo em seguida, pois a tia lhe pediu ajuda na cozinha. Na verdade ela queria sondar.

— Você já está melhor, tia? — perguntou, pois apesar de Nath estar na sala do apartamento dela, sua tia ainda parecia um pouco abatida e isso a preocupava. — Quer que eu faça outro chá?

— Não querida, aquele chá já foi suficiente. Eu já estou bem. — respondeu, mostrando-se tranquila novamente, pois embora ainda estivesse com sua mente tomada pelos acontecimentos daquela manhã, não queria preocupar Emília, que ela podia ver claramente que estava mexida por conta do rapaz que estava na sala. — Mas e você? — perguntou, olhando para a jovem com tanto afeto que a fez querer contar tudo o que estava sentindo naquele momento, mas se calou. Ela ainda não se sentia tão segura, tampouco tão à vontade para se expor a tia.

— E-Eu? O que tem eu, tia? — questionou, agindo como se não tivesse entendido a pergunta. — Maitê se aproximou mais de Emília e segurou sua mão, que também estava gelada, e sem dar voltas disse o que havia percebido:

— Emília. Tem coisas que não dá para esconder, por mais que queiramos. Eu percebi os olhares que vocês trocam. E essa inércia que se apodera de vocês dois, diz em ações que se sente atraídos um pelo outro, mas que nenhum dos dois tem coragem de revelar.

Sol não disse nada e fitou o chão. Ela estava envergonhadíssima, pois acreditava que sua paixão, amor - nem ela sabia -, pelo Nath era errado.

— Emília. Não precisa ter medo de me contar. Sei que tenho minhas regras, mas não sou nenhuma madre e nem este apartamento é um convento. Logo você fará 15 anos e é natural começar a se interessar por alguém. Se apaixonar não é nenhum pecado e Nathaniel me parece ser um rapaz de boa índole e muito responsável. — comentou, acreditando que o desconforto da sobrinha fosse por medo, visto que Sara sempre dizia que antes dos 16 anos ela não podia se quer pensar em pensar em namorar.

— Tia, eu... — titubeou, engolindo inclusive o pensamento. Ela não tinha coragem de dizer em voz alta, ainda mais para a tia, que gostava do Nath, sim, mas que ele tinha namorada e que esta era sua amiga. Só o que fez foi respirar fundo e fazer o seu bico tão conhecido pela tia, que sabia que logo depois dele viria o choro, então tratou de dispersar o assunto.

— Deixe que eu mesma prepare o suco. Fique com seu amigo! Afinal de contas ele veio aqui para ver você e não a decoração da sala. — falou, empurrando Emília para fora da cozinha, disfarçadamente.

Na sala Nath observava uma pintura que tinha na parede, acima da televisão. Era de uma garotinha com asas e parecia ter sido pintada por uma criança muito pequena.

— Então você queria ter asas? — perguntou ele para Sol, que se aproximava devagar.

— Como você sabe que fui eu que pintei a tela? — surpreendeu-se por ele ter prestado atenção justamente naquele quadro tão infantil.

— Porque tem um solzinho no canto inferior da pintura. E você ainda assina as coisas com um solzinho. — comentou, fazendo a amiga rir ao lembrar das diversas vezes que ele imprimiu duas vezes o mesmo documento para ela assinar, pois sempre desenhava o solzinho. — Eu já acostumei a te lembrar que a assinatura é com palavras e não com desenhos. — comentou, rindo junto com ela.

— Eu pintei este quadro no jardim da infância e dei para minha mãe, mas minha tia gostou e pegou para ela. — contou, pensando que se isso não tivesse acontecido, o mais provável era que a pintura nunca tivesse sido exposta em parede alguma. — Eu era muito bobinha naquela época. — comentou, pensando no motivo que a fez se pintar com asas. Ela queria poder voar e ir se encontrar com o pai, em algum lugar. Da cozinha Maitê podia ouvi-los.

— Bobinha você é até hoje, mocinha! — murmurou para si, rindo baixinho, enquanto preparava os canapés com torradinhas integrais quadradinhas e pequenas, creme cheese, tomatinho e cebolinha.

— Por que você se achava boba, Sol? — perguntou ele, olhando para ela que ainda mantinha os olhos presos na sua obra de arte. Ela titubeou um pouco, pensou e respondeu:

— Eu acreditava em fadas! — mentindo, embora ela realmente acreditasse em fadas.

— Aqui está. Um suquinho gelado e os canapés. Espeque que gostem! — disse Maitê retornando para a sala com a bandeja na mão, que Nathaniel pegou e colocou sobre a mesinha de centro.

— Bom, enquanto vocês conversam, eu vou tomar banho. E quanto a você, mocinha. Caso Castiel chegue enquanto estou no banho, por favor, não o receba com quatro pedras na mão! — pediu, e ouvir que Castiel era esperado na casa deixou Nath enciumado. Maitê os deixou a sós e foi para o quarto, e após separar suas roupas foi tomar um banho demorado e relaxante, com direito a som ambiente. Ela queria e precisava relaxar.

— O Castiel virá te ver? — perguntou com a voz levemente preocupada. — Vocês são amigos agora?

— E-ele virá para falarmos sobre a atividade de Economia Doméstica.— respondeu, sentando no sofá. — A Prof.ª Nancy nos juntou porque éramos os únicos sem par. — explicou morrendo de medo que Nath pensasse que a escolha havia sido dela.

— Hunf! Boa sorte! — desejou, embora decepcionado, tentando esconder seu ciúme. — Eu duvido que aquele encrenqueiro saiba fazer outra coisa que não sejam haburgueres! — comentou.

— Pelo contrário, Nath. Lys disse que o Castiel cozinha muito bem, mesmo não gostando muito de fazer isso. — contou, deixando o rapaz mais enciumado, pois estava tão preocupado com a presença de Castiel na vida de Emília que se esqueceu do Lysandre.

O ruivo era um chamaris de garotas tão eficiente quanto era de encrencas, assim como Lysandre, embora este fosse o ser mais pacato que havia conhecido e parecia não ligar muito para as garotas, sempre na dele, reservado. Mas ele também não ficava atrás. Ele podia não chamar muito a atenção das colegas da escola, por estar sempre focado em seus estudos e suas funções no grêmio, e até por não dar brecha para tal atenção, mas no Valstis Club[1], uma organização de líderes de negócios e profissionais que sua família fazia parte, as garotas não paravam de se jogar sobre ele, visto até pelas senhoras do clube como o genro ideal. Mas não que isso o envaidecesse. Mesmo lá ele era focado nos seus objetivos educacionais, fora que seus pais não permitiam que ele se envolvesse com as garotas. Um flerte aqui, uns beijinhos ali, tubo bem, mas namoro estava fora de cogitação.

— Quando você viu o Lysandre? — perguntou, desejando que tivesse sido na 6ª feira, na escola, mas ao ouvir que este passou horas do sábado com ela, ali naquela mesma sala, o fez se odiar por ter desistido de ir vê-la no sábado para ajudar a irmã com a matemática. Não importava o fato de que Rosa estava com ele, já que esta era cunhada do platinado e conhecida na escola por tentar agitar[2] as colegas para o garoto.

Sol percebeu que Nath ficou meio chateado em saber que Cast iria a sua casa e que Lys esteve com ela no sábado, e apesar de acreditar que ele e Melody estavam juntos, ela dava muita importância ao que ele pensava dela e principalmente, não queria que ele pensasse que ela tinha algo com qualquer garoto que fosse.

— As garotas também estiveram aqui. — contou com um sorriso, dizendo que elas só faltaram sufocá-la com tantos abraços. — Inclusive a Mel. Ela me contou que você teve que desfazer a dupla com ela por causa da Ambre. Ela estava chateada. — comentou, esperando uma reação, arrependendo-se de ter dito aquilo de imediato, pois se ele dissesse que também havia se chateado ela morreria.

— É verdade. Mas foi melhor assim. — disse ele, fazendo um pequeno sorriso surgir nos lábios de Emília e um largo no coração dela. “Ele não se importou. Será que eles...” pensou. — Ambre quer muito ir ao Alcidamo e eu achei por melhor ajudá-la, afinal ela é minha irmã. A Mel nem mesmo sabia da existência deste restaurante na cidade. — contou deixando Sol novamente confusa.

— As garotas também contaram que eu virei motivo de fofoca na escola. — mudou o foco da conversa, pois queria que até mesmo em pensamento, Melody ficasse do lado de fora daquele apartamento. — Ainda bem que vou ficar em casa a semana inteira. Até eu voltar o povinho já me esqueceu.

— É verdade. Você está de licença até o próximo sábado. — referiu Nath, lembrando que ela tinha atividades domiciliares. — Você sabe que tem atividades domiciliares diárias, não sabe?

— Sim, eu sei.

— Quer que eu as traga pra você? — perguntou ele com um sorriso, pensando que aquela era a chance de poder ficar mais tempo com ela, longe dos olhares e das interrupções de Melody ou qualquer outro da escola.

— Não precisa se preocupar. Lys já se prontificou a fazer isso. E ele também vai me ajudar a estudar nestes dias. — contou e de forma tão natural que Nath, para conseguir manter seu ciúme escondido, levantou e foi para a varanda.

— Você tem uma bela visão do seu apartamento. Em poucos dias as árvores e arbustos da Chenin estarão tomados pelas flores, assim como as árvores do parque. — referiu dando-lhe as costas, enquanto cruzava as salas. Seu rosto estampava seu desapontamento. “Eu devia ter vindo ontem!”, cobrou-se em silêncio, culpando a irmã pelo que acabara de ouvir dos lábios da garota por quem se via interessado e possivelmente, apaixonado.

Sol foi atrás dele, que apoiado na grade da sacada observava a copa das árvores da Chenin, boa parte já bem florida.

— Droga. Fiz tudo errado! — disse a si mesma, sem ter a intenção de se fazer ouvir, mas seu murmuro não foi baixo o suficiente. Nathaniel a ouviu, dando-se conta que não estava conseguindo disfarçar sua frustração. Mas tais palavras quebraram a insegurança que o fazia manter-se afastado dela naquela tarde de domingo. Ele ficou de frente para ela que estava parada ao seu lado, com o mesmo olhar confuso da última vez que ficaram tão perto um do outro, mas naquele momento Sol mantinha os olhos voltados para frente, que devido a sua altura (1,60m), fitava o peito de Nath, que se movia de forma a denunciar sua respiração, e percebê-lo com a respiração forte a fez se lembrar de um momento no ginásio onde ela pode sentir e ouvir o coração dele bater coladinho ao seu rosto.

Novamente tudo o que estava à volta deles foi esquecido, nada era percebido, fosse um chamado ou a presença de Maitê na sala, observando-os, silenciosa, lembrando de si mesma há alguns anos, naquela mesma varanda. Ela teria ido para a cozinha ou para seu quarto, mas sua curiosidade em ver Emília dar seu primeiro beijo era maior que sua discrição. Qualquer coisa ela vestiria a roupa de tia preocupada e desconfiada, que lhe caia tão bem.

De frente um para o outro, a um passo de distância, Sol e Nath permaneciam inertes, nenhuma palavra era dita, a não ser dentro de suas mentes, que diziam tudo o que queriam naquele momento, embora nenhum deles conseguisse, cada um com seu motivo, verbalizar seus pensamentos.

“Me abraça de novo.” “Por que não consigo dizer que a quero pra mim?” “Deixe-me sentir seu coração bater com meu rosto.” “Por que você parece gostar de mim quando estamos sozinhos?...” “Por que você me faz te querer... “...Mas quando os outros se aproximam você nem olha para mim?” “...se não está sozinho?” “Por que tenho tanto medo de te beijar?” “Por que você não me beija?” “Se me negares sua boca não sei o que faço...” “Me beija!” “...sumo!” “Me beija!”

Seus olhos agora se fitavam...

 

 

 

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Notas finais do capítulo

[1] Valstis Club: uma organização de líderes de negócios e profissionais, que prestam serviços comunitários e humanitários, cujos membros seguem padrões morais estabelecidos sobre elevados padrões éticos.

[2] Agitar: Gíria. Tentar juntar duas pessoas num envolvimento afetivo, mesmo que casual e único.