Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 3
Deixando tudo para trás


Notas iniciais do capítulo

Emília Solles não é uma garota perfeita, tampouco uma rebelde sem causa que sempre se dá bem com os garotos, muito menos uma garota reprimida, eterna sofredora Ela é uma garota comum de 14 anos, com defeitos e qualidades, cuja insegurança a impedem de expor seus medos e suas dúvidas, fazendo com que estas apenas aumentem e/ou pior, que sua mente deduza as respostas, na maioria das vezes, contrárias a verdade.
Será que ela vai conseguir superar suas frustrações e abraçar sua nova vida de mente, braços e coração aberto?

(REVISADO 01/11/2016)



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 # 10/01 #

Assim que terminou de fazer a matrícula da sobrinha, Maitê entrou em seu Renault Clio prata, com um leve amassado na traseira, fruto de uma manobra equivocada dentro do estacionamento do edifício onde mora e dirigiu por 263 km até a casa da irmã caçula, Sara, em Avignon, viagem que não pôde fazer nos feriados por conta do trabalho e que fazia naquele dia por obrigação, embora fosse sua vontade.

Com o pôr do sol às suas costas Maitê parou o carro na frente da casa da irmã, e assim que entrou no imóvel, pôde notar o clima pesado que pairava no ar. Enquanto a irmã falava sobre seus planos para Londres e seu cunhado conversava com o primo por telefone, sua sobrinha, a jovem Emília, descia suas coisas do quarto para a sala, calada e cabisbaixa. A tristeza era nítida em seus olhos.

— Deixe-me te ajudar com isso, querida. — disse à sobrinha, subindo a escada atrás dela, entrando no quarto da garota, fechando a porta.

— Posso saber que cara tão triste é essa? — perguntou. — Você não está feliz de ir viver comigo, em Nice?

— Não é nada tia. Só estou cansada. — mentiu a jovem, fugindo ao olhar da tia.

— Eu sei que você queria ir para Londres com seus pais, querida, mas tente entender que eles só estão pensando no melhor para você. Eles estão indo para lá para trabalhar. Vai ser tudo muito difícil no começo. E seu inglês não serve nem pra perguntar as horas, você teria problemas para se adaptar. — disse Maitê tentando justificar a decisão da irmã, embora não concordasse. — Além do mais, você conseguiu uma bolsa de estudos integral numa das melhores escolas particulares da Côte d'Azul. Muitas empresas da região são conveniadas dela, o que significa que você terá uma excelente formação quando for para o lycée no semestre que vem.

Emília sabia que a tia estava tentando animá-la e até ficava feliz por aquela atenção, mas seu coração estava doendo. Sua mãe e seu padrasto estavam indo embora e a estavam deixando para trás. Ela até queria sorrir, mas sem conseguir mais conter sua tristeza, abraçou forte a tia e chorou, contando em seguida, após se acalmar, sobre sua discussão com a mãe, porém evitou falar sobre seu pai biológico, sua raiva ainda era grande e ela queria apagá-lo de suas lembranças.

— Eu sei que está sendo difícil para você entender a aceitar que sua mãe seja deste jeito, mas você tem que entender que ela era muito jovem quando engravidou de você. E fez isso pelos motivos errados. — Maitê não queria que ela e a mãe se separassem em clima de desavença, então tentou amenizar a situação.

— Sim, eu sei. Ela quis segurar o meu pai, mas não conseguiu. Ele a deixou mesmo assim, por causa da... f-família. — contou Emília, que havia tomado conhecimentos dos fatos na discussão com a mãe.

— Sara mal tinha completado 17 anos quando conheceu o seu pai e foi uma paixão desenfreada. Ela ficou cega. Mas ele era casado e sua mãe sabia disso. — contou, sentada na cama de Emilia, que remoia a dor de ter sido abandonada pelo pai biológico.

— Chega, tia! Eu não quero mais ouvir essa história! Ficar remoendo o passado não vai fazer ele mudar! — só o que Emília queria era que tudo aquilo terminasse logo.

Maitê não aguentava mais aquela situação. Ela havia pressionado a irmã a contar a verdade à filha, porém, não pensou que esta o faria em meio a uma discussão acalorada pela raiva. Ela não imaginou que Sara pudesse ser tão insensível. Ao mesmo tempo ela tinha certeza que esta não havia contado toda a verdade, pois se o tivesse feito Emília estaria muito mais fragilizada. Mas ela não podia tomar a frente da irmã e falar com a garota, pois além de pouco saber sobre o assunto, não podia interferir. Era a família de sua irmã e não dela. Por mais que lhe doesse, Sara era a mãe de Emília e não ela. Sendo assim, deixou o assunto de lado e ajudou a sobrinha a descer seus pertences até a sala de visitas.

Assim que terminaram, Maitê percebeu que o clima entre mãe e filha estava tenso demais. Elas mal se olhavam, e isso a incomodou profundamente. Ela chamou a irmã na cozinha e lá teve uma conversa muito séria com ela.

— Escuta aqui, minha irmã. Não me interessa as suas frustrações em relação ao Thierry e muito menos se você era jovem demais para ser mãe quando a Emília nasceu. — repreendeu-a, quase que cochichando, pois não queria que a sobrinha a ouvisse. — A escolha foi sua!

— Mas... — tentou Sara se justificar, mas foi interrompida pela mais velha.

— E sem mas... Não tem justificativa o que você fez com essa menina nos últimos 11 anos. Ela sempre foi uma filha maravilhosa e mesmo assim, você agiu como se não se importasse. — mostrou-se indignada. Sara apenas ouvia, cabisbaixa. Ela respeitava a irmã mais velha, que sempre fez de tudo por ela. — Eu sei que agora nada do que você diga ou faça irá fazer a Emília esquecer o carinho e a atenção que você lhe negou, duplamente. — dando a entender com o olhar o que Sara bem sabia. — Mas já está na hora disso mudar. Ela precisa saber que é importante na sua vida!

— Você fala como se tudo fosse minha culpa. Foi ele quem nos abandonou! — justificou a caçula, mas Maitê não lhe deu trégua.

— Errado! Thierry nunca te abandonou, porque você nunca o teve! — lembrou-a, levando a caçula a chorar. — E quanto a Emília, você sabe muito bem que foi você quem o afastou dela no momento que você escolheu não contar a ninguém quem era o pai dela, então pode secar essas suas lágrimas e mudar de postura.

Maitê só veio a saber um pouco mais sobre o pai de Emília quando a irmã lhe pediu para cuidar dela. Maitê só aceitaria tal responsabilidade se esta lhe contasse, pelo menos, quem ele era e por que fazia de tudo para mantê-lo em segredo. Mas mesmo assim, ela não tinha como saber o quanto de verdade tinha na história que lhe foi contada.

— E-Ele nos abandonou sim! Não i-importa que ele não me amava. Ele tinha que ter ficado, pela nossa f-filha! — proferiu, secando as lágrimas, em baixa voz para não ser ouvida fora da cozinha. — Ele dizia tanto que a amava, mas bastou a predileta dele choramingar de saudade pra ele ir embora, mesmo ela estando doente! E nem mesmo uma ligação ele fez pra ver se ela tinha melhorado. Ele apenas nos deixou!

— Chega de falar do Thierry, Sara. A questão aqui é você e a sua postura com Emília. Você está indo embora, para outro país e a esta deixando pra trás. Como você acha que ela está se sentindo? — repreendeu-a, perguntam-se porque não lhe dava umas chineladas. — Abandonada, Sara. É assim que ela está se sentindo. Abandonada pela mãe e pelo padrasto.

— Mas o Pablo já disse a ela que se tudo der certo, assim que nos estabilizarmos, ela poderá ir viver conosco. É uma situação temporária e ela sabe disso.

— Mas e pra você, Sara? É uma situação temporária de curto, médio ou longo prazo? — questionou, não por não querer ficar muito tempo com a sobrinha, mas por não querer que a garota fique esperando por um dia que talvez nunca chegasse. — Dos planos que você já fez desde que a mudança foi decidida não vi o nome de nenhuma escola nas suas anotações.

— Se você não quer ficar com minha filha fale logo e pare de me azucrinar. Eu a levo comigo e pronto!

— Escute aqui, Sara. — irritou-se, por um fio de tirar a Anabela do pé para atirar na irmã, que levantou da cadeira e se encostou na pia, longe dela. Apesar de já ter 32 anos, diante da irmã, Sara ainda se melindrava como quando era adolescente, apesar de odiar ser tratada como tal. — Não desvirtue as coisas, querendo fazer eu me sentir mal. Emília vai morar comigo sim, ainda mais agora, que eu vejo que pra você levá-la junto é como carregar uma mala cheia de coisas sem serventia, só por obrigação.

— Isso não é verdade! Eu amo minha filha e você sabe muito bem disso!

— Então diga isso a ela. Entre naquela sala, vá até sua filha e diga que a ama, que mesmo longe vai manter contato e que vai sentir falta dela. — ordenou, apontado para a porta que ligava a cozinha americana à sala de jantar. — E mais que isso. Desculpe-se com ela, por tudo o que fez e disse!

Sara sabia que se não acatasse as ordens da irmã as coisas poderiam se complicar entre as duas e ela não queria brigar com Maitê; mas não conseguiu fazê-lo. Ela foi até a sala de visitas, aproximou-se da filha, que estava sentada no sofá, triste, mas ao vê-la segurando a boneca de pano que o pai lhe dera antes de ir embora para sempre, não conseguiu. Ela disfarçou e mandou que Emília arrumasse o quarto de hospedes para a tia e que depois fosse dormir, pois as duas viajariam logo pela manhã.

A irritação de Maitê foi tão grande que decidiu voltar para Nice naquela noite mesmo. Se preciso fosse, pernoitariam num hotel qualquer pelo caminho, mas ela tiraria a sobrinha, tão amada por ela, daquela casa naquele instante.

Depois que colocaram as coisas no carro, ela se despediu da irmã e do cunhado com frieza, desejando que eles fossem felizes e prósperos em Londres, deixando claro para a irmã que ela ainda iria se arrepender das suas escolhas.

Emília se despediu do padrasto, que desejou a ela sorte na nova casa e escola e lembrou-a que assim que eles se estabilizassem ele iria buscá-la. Ela só precisava ter um pouco de paciência. Ela assentiu com a cabeça, querendo mostrar confiança, mas seus olhos lagrimejaram e seus braços envolveram a cintura dele, num abraço rápido. Ele se emocionou um pouco, mas se segurou para não demonstrar.  Quando ela foi se despedir da mãe, não conseguiu. Elas apenas se olharam e disseram adeus uma à outra.

Emília entrou no carro da tia com os olhos vertendo em lágrimas, fechou o cinto e pediu que Maitê a levasse dali, mas assim que Sara ouviu o motor do carro roncar sentiu o coração apertar, como nunca sentira antes, mas não deu o braço a torcer.

— 11 anos é tempo demais, Sara. Esqueça o passado pelo menos hoje! — disse Pablo a ela, cansado de tudo aquilo. Ele, mais que qualquer outro, tinha motivos para justificar sua distância da enteada, e mesmo assim, conseguiu ser mais atencioso que a própria esposa.

— Não dá pra recomeçar se continuarmos a manter essa pedra no caminho! — reforçou, indo até o carro, que ainda estava parado na frente da casa porque Maitê, como sempre, teve dificuldade de travar o cinto, cujo encaixe estava danificado. Ele bateu no vidro da janela do passageiro e quando a enteada o abriu ele puxou o pino da trava, abriu a porta e soltou o cinto de segurança.

— Venha cá. — fazendo-a levantar para que pudesse abraçá-la.

Apesar de não serem pai e filha, ele a viu nascer, deu-lhe seu sobrenome e a criou desde os 3 anos de idade. Ele a amava como filha, mas seu ressentimento pela traição da mulher que amava com adoração nunca o deixaram esquecer que aquela garotinha era fruto do amor que Sara tinha por outro homem.  Ele conseguiu perdoar Sara, mas nunca conseguiu esquecer que aquela garotinha que ele tanto amava também amava e preferia o “outro”, mesmo este tendo sumido da vida dela. Sua mágoa o fez ser um padrasto distante.  

— Cuide-se e obedeça sua tia. Ela é meio maluca, às vezes, mas é uma mulher séria e gosta das coisas corretas, então não vá se meter em confusão. — aconselhou-a, dando-lhe um beijo na testa. Ela o apertou e chorou um pouco. Ela gostava dele. Apesar de nunca ter sido tão atencioso como ela queria que ele fosse, ele sempre a tratou como filha e esteve por perto quando precisou. Por muitas vezes até foi carinhoso. Apesar de tudo ela teve dele muito mais atenção do que teve do pai e até mesmo da mãe. Pena que ela só se deu conta daquilo naquele abraço.

— Agora vá lá e de um abraço na sua mãe. — ele conhecia a esposa e sabia que ela não ia se deixar demonstrar que estava triste pela separação. Ela sempre fora orgulhosa demais. — Já chega de tanto rancor nessa família. — comentou, virando-a para a mãe, que tentava a todo custo não demonstrar que estava triste.

Emília foi até ela, mas esta não conseguiu abraçá-la, parando a sua frente, que também  não conseguia se desprender daquela postura distante, fruto de uma frustração gerada por culpa das péssimas escolhas que ela mesma fez na juventude. Sentindo que aquilo seria inútil a jovem desistiu, dando-lhe as costas para retornar ao carro e sair logo dali. Maitê olhava para a irmã como se fosse fuzilá-la. Pablo estava desapontado.

— F-Filha, espere. — Maitê e o cunhado respiraram aliviados. Sol olhou para a mãe. — Me desculpa pelas coisas que eu disse sobre ... — antes mesmo dela terminar de falar teve a cintura envolvida pelos braços da filha, que apertou o rosto em seu ombro e chorou, fazendo-a chorar também. Ela a apertou e disse que queria que ela fosse feliz, que se preocupava com ela, que sentiria sua falta e principalmente, que a amava e que ela era importante.

Emília sentiu a dor que a estava ferindo por ir embora sem o abraço da mãe desaparecer. Sara se sentiu mais leve ao conseguir, depois de 11 anos, dizer a filha que ela era importante e que a amava. Tanto Maitê quanto Pablo se comoveram.

Todos eles retornaram para casa, para alívio de Maitê que morria de medo de encarar viagens longas atrás do volante à noite.

Pela manhã Emília ligou para seus melhores amigos, Ken, Ana e Mila, para se despedir, mas estes pediram que ela os esperasse, pois queriam dizer "até logo" pessoalmente – adeus, jamais – e lhe entregar um presente. Assim que chegaram eles a abraçaram e foi uma choradeira só. O mais triste era o Ken, que estava perdendo a melhor amiga e seu grande amor. Ele mesmo lhe entregou o presente, comprado pelos três, e assim que ela viu o que era, vibrou, pulando no pescoço do garoto, que por pouco não deixou os óculos fundo de garrafa cair. Ele se sentiu realizado. Ela nunca havia feito aquilo, não com aquele entusiasmo.

— Nós achamos que você iria precisar de um, já que está sem laptop! — disse Mila. — Ele não é o melhor dos tablets, mas servirá para nos falarmos pela internet.

— Pois fiquem vocês sabendo que não existe no mundo um tablet melhor que esse. — falou aos amigos, admirando o aparelho branco, com capa cor de rosa com desenhos de fadinhas. — E sabem por quê? Porque este foi dado por vocês, meus melhores amigos, e que eu nunca vou esquecer! — E num abraço coletivo eles choraram novamente.

Passados meia hora, depois de todos prometerem que manteriam contato, através da internet, Maitê partiu, levando a sobrinha consigo, chegando a Nice pouco depois do horário de almoço, e como ela não estava disposta a cozinhar, levou Emília para almoçar no Ruhl Plage, um restaurante de frente ao mar de Nice, que por sinal, aquela jovenzinha há muito tempo não via. Depois de comerem, foram olhar o mar de perto, permanecendo ali por uns 15 minutos.

Antes de irem para casa Maitê aproveitou para passar em frente a escola que Emília estudaria a partir da próxima 2ª feira. Emília não imaginou que era tão grande; dava duas da sua antiga escola, que só tinha o Ensino Fundamental, enquanto aquela tinha tanto Fundamental quanto Médio. Só pelo desing moderno já dava para imaginar o alto custo de estudar lá. Por sorte sua tia havia lhe conseguido uma bolsa integral.

— De casa até aqui é rapidinho querida. Levei um 15 minutinhos de casa até aqui quando vim fazer sua matrícula. — disse Maitê a sobrinha, que nem prestou muito atenção, pois só conseguia pensar na quantidade de patricinhas e mauricinhos que estudavam ali.

Ao chegarem em casa, Maitê mostrou o apartamento para a sobrinha, pois apesar de viver em Nice há muitos anos, morava nele há pouco mais de 3, tendo-o comprado com sua parte na venda do único bem que a mãe deixou ao morrer, a casa em que ela nasceu e deixou para trás ainda criança, depois da morte do pai, tendo Sara nascido em outra cidade. Quando se formou na faculdade voltou a viver na casa, sozinha. Sua mãe passou os últimos anos de vida com ela.

O imóvel não era muito grande, porém, na medida certa. À direita ficava os dois quartos, o da tia, que era o maior, e o dela, com uma estrutura meio irregular, mas que não prejudicava o espaço útil em nada, e que antes a tia usava como escritório e quarto de bagunça. À esquerda, pegando toda a extensão do apartamento, ficava a cozinha e o banheiro, sendo este com entrada para a cozinha, que também dava acesso a pequena área de serviço. Mas como havia uma lavanderia no edifício, isso não era um problema. No centro do imóvel ficava a sala conjugada, sendo a de estar de frente ao quarto da Maitê e da larga entrada da cozinha e a de jantar de frente para o quarto da nova moradora. Ao fim havia porta dupla de vidro, que dava acesso a uma pequena varanda com vista para a rua dos fundos do prédio.

Emília adorou seu quarto, de paredes cor de rosa bem clarinho e móveis novinhos. A jovem estava tão feliz que nem ligou dele não ter um banheiro privativo, como o seu antigo quarto.

— Seu apartamento é uma graça, tia. — elogiou, encantada, pois sonhava em conhecer aquele lugar, tendo ido visitá-la pela última vez quando tinha 10 anos, recém completados. Sua avó ainda vivia. — Eu sempre quis vir aqui, mas a senhora sabe, a mamãe não gosta daqui e nem me deixava vir sozinha.

Enquanto sua avó estava viva, Sol viajava para Nice todos os verões, com sua mãe e seu padrasto, porém, sua tia mal parava em casa. Como ela se dedicava muito a sua profissão e os períodos de férias e feriados longos eram justamente os períodos do ano que ela mais trabalhava, Sol mal conseguia ficar com ela. Mas pelo menos uma vez por mês Maitê ia visitá-la em Avington, não ficando mais que uma manhã, pois ela não descuidava da mãe enferma.

Quando sua avó falecera sua mãe parou de ir a Nice, pois dizia que a cidade a fazia lembrar da mãe, além de um pai que ela nem se quer conheceu porque este foi levado pela morte antes mesmo dela nascer. E como Maitê vivia para o trabalho, sendo uma Promoter conceituada na região, e não podia se dedicar a ela, Sara não a deixava ir visitar a tia, pois a irmã não teria como cuidar dela com sua rotina louca no Buffet e suas tantas festas e eventos para organizar e gerenciar. Porém esta nunca deixou de visitá-la, aumentando o tempo de uma manhã mensal para um dia inteiro e uma semana logo após as férias de verão, na última semana de setembro, mês em que Maitê gozava suas férias do trabalho.

— Não se preocupe, querida. Eu nunca me importei em ter que ir a Avignon para te visitar. Eu gostava de bancar a turista e de ser guiada pelos pontos turísticos da cidade por você. — comentou aquela mulher de baixa estatura, apenas 3 centímetros mais alta que a sobrinha, com cara de menina em curvas de mulher, cujas madeixas dos cabelos em ondas, ora cacheadas ora soltas, violeta avermelhado no mais belo tom amaranth, encantava a todos com seus brilhantes olhos cor de mel - quando não estava de lentes coloridas - e seu sorriso expressivo, inclusive a sobrinha.

Durante o resto do dia tia e sobrinha ficaram juntas, arrumando o quarto do jeito que Emília queria. Sobre a mesa de estudos pousou um tablet e um porta retrato com a foto de um quarteto "inseparável"– pelo menos no coração e na alma.

— Sabe, tia. Agora que já estou aqui, me sinto bem melhor! — comentou Emília, sentido-se feliz por estar morando com a tia, que sempre a tratou com um carinho enorme, mais que sua própria mãe. — Não me sinto mais tão sozinha. Saber que a senhora vai estar sempre por perto me deixa feliz!

Elas se abraçaram e depois foram para a cozinha preparar o jantar, uma macarronada com molho a bolonhesa. Maitê tinha uma alimentação super saudável, mas pela sobrinha, abriu uma exceção naquela noite.

Naquela noite mesmo Emília estreou seu tablet novo, tirando fotos do seu novo quarto e enviando para os amigos, que ficaram horas com ela, papeando pelo Whatsapp. Melhor que ganhar um tablet, era ganhar um tablet que também funcionava como celular.

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Notas finais do capítulo

Como podem notar, Emília não teve uma convivência muito harmoniosa com a mãe e o padrasto. Mas sempre se deu muito bem com a tia, que a ama como uma filha. Tudo tende a mudar para melhor em sua vida. Ou será que não?

Planta desenhada no Floorplanner: http://br.floorplanner.com
Assim que eu conseguir recuperar os arquivos do meu falecido PC a planta do apartamento será trocada por uma foto do apartamento, que foi feito no TS4, tendo como base a arquitetura dos prédios locais.