Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 21
Enquanto você dormia, eu te levava no colo.


Notas iniciais do capítulo

Adolescentes, principalmente garotas, na sua maioria são dramáticas e inseguras, enquanto os garotos são agitados e indecisos. Mas todos são fantasiosos, fazem tempestade num copo d'água e sofrem por antecipação. Tudo por culpa dos hormônios...

Mas, será que eles podem mudar?

REVISADO E EDITADO - 18/08/17



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#08/03#

No final do período, enquanto os alunos se preparavam para sair, Maitê chegou a escola, preocupadíssima com a sobrinha. Ela não havia chegado mais cedo por estar muito longe dali, em outra cidade, numa feira de exposições, em busca de novidades para o Buffet. Ela conversou com a diretora que, por recomendação médica, dispensou Sol das aulas da semana seguinte, a contar daquela 6ª feira, pois a aluna só havia assistido as aulas do 1º período. Ela faria todas as atividades em casa. Porém, recomendou que, assim que fosse possível, levasse a jovem numa clínica médica para uma consulta mais detalhada.

Ao entrar na enfermaria e ver a sobrinha tão abatida, Maitê suspirou, ela sabia que cedo ou tarde aquilo ia acontecer.

— Ela já havia tido alguma crise como esta, Sra. Solles? — perguntou Fran, atualizando a ficha médica da aluna.

— É Srta. Berger, Maitê Berger! — corrigiu-a. — Solles é o sobrenome de casada da minha irmã. — sem ficar chateada com o erro, pois desde que Sol foi morar com ela que acontecia.

— Mas, por favor, me chame de Maitê. Fico mais à vontade. — pediu.

A enfermeira se desculpou, pois não se ateve ao campo Responsável Legal, depois do campo com o nome dos pais da aluna, onde constava os dados da tia. Depois continuou a atualizar a ficha, descobrindo que aquela havia sido a primeira crise da aluna, mas que sua mãe teve crises constantes quando jovem, aprendendo a controlar com os anos.

Como Sol ainda jazia em sono profundo devido à dose de calmante que aplicaram, ela não conseguiria levá-la para casa sozinha, pois precisava dirigir e não queria ela deitada sozinha no banco de trás. Uma freada e pronto, a garota estaria no assoalho do carro.

Ao sair na porta Maitê avistou Castiel parado perto da enfermaria, encostado na caixa da mangueira de incêndio, esperando o sinal soar para ir para a sua detenção. Ele havia saído do laboratório antes da aula terminar, dizendo que ia ao banheiro, louco pra fumar outro cigarro, mas acabou indo para frente da enfermaria ao invés do porão.

— Ei, rapaz! — chamou-o, pedindo que se aproximasse. — Por favor, preciso que me faça um grande favor. — pediu ela, cuja preocupação fazia-se notar em seu tom de voz.

— Se estiver ao meu alcance. — respondeu ele, que sabia que ela era a tia da Emília, por tê-la visto na escola antes, duas vezes.

Da primeira era 2ª feira e Maitê foi buscar a sobrinha para irem juntas ao supermercado. Ela parou o carro na frente da escola e como ainda faltava uns 20 minutos para a saída dos alunos, ela caminhou até a cafeteria, onde comprou uma garrafinha de água e depois voltou para o veículo, encostando-se nele enquanto tomava sua água e a esperava. Castiel, que estava perdido pela parte externa, tentando não ser visto pelo Abelardo por ter fugido da aula de Artes Visuais antes do término, a viu, prestando bastante atenção na sua silhueta, como qualquer garoto quando vê uma mulher que considera bonita. Porém, não a ficou cobiçando com os olhos, até porque, sua preocupação era não ser visto pelo inspetor. Quando os alunos saíram e ele voltou a vê-la, já junto com a Emília, sabendo que esta morava com a tia, comentou consigo mesmo que a chata tinha uma tia bonita, e nada além disso. Já, da segunda vez, foi na semana de provas antes das ferias de inverno. Num dos dias a garota perdeu a hora e a tia a levou para a escola para não correr o risco de se atrasar e perder a prova. Iris, que estava com o Castiel, a avistou chegando de carro e acenou, então Maitê parou perto deles, cumprimentando-os com um "bom dia" rápido, de dentro do carro, enquanto Sol descia, que Castiel respondeu por educação, por estar com a Iris. Ela foi embora tão rápido quanto Castiel saiu de perto da amiga, deixando-a na companhia da chatinha.

Talvez por ela lembrar do rosto dele, do dia que deu carona a sobrinha para não perder a prova, tenha se sentido à vontade em lhe pedir aquele favor.

— Eu preciso levar a minha pequena Emília para casa, mas sozinha não vou conseguir. Você poderia me ajudar? — pediu. — Eu prometo que depois te levo pra casa!

Castiel pôde perceber o quanto a tia da Sol era amorosa pela forma que falou com ele. Ela foi, de certa forma, carinhosa, apesar de não conhecê-lo e estar apenas fazendo um pedido. Ele queria aceitar mas tinha a detenção. Ele tocaria um foda-se no castigo, como fazia constantemente, mas daquela vez ele não podia, por algum motivo ele não queria que aquela mulher soubesse que ele estava de detenção, e se vissem ele saindo junto com ela e Emília na certa seria chamado sua atenção na frente dela.

— Bom, senhora, eu ajudaria, mas... — dizia, tentando encontrar uma palavra para substituir detenção, sendo interrompido pelo coordenador pedagógico, que foi falar com Maitê sobre as atividades domiciliares de Emília.

— Não se preocupe, Castiel. Pode ajudar a Srta. Berger a levar Emília para casa. — permitiu, sorrindo. Ele se alegrara ao ver o rapaz solidário com um colega. — Você está dispensado da sua “atividade extra”, por hoje. Falarei com seu professor e depois remarcamos. — informou, omitindo que o rapaz estaria de castigo. Como se Maitê não percebesse; mas ela não ligava para isso. Seus critérios para avaliar alguém eram outros, até porque, ela mesma amargou algumas detenções na escola.

— Obrigada, Prof. Sartre! — agradeceu ela, com um largo sorriso nos lábios. — Venha, rapaz. Ajude-me a tirá-la daquela cama! — pediu, pegando no braço de Castiel, levando-o para dentro da enfermaria.

Enquanto Maitê recebia as folhas com as atividades domiciliares da aluna e as orientações de como entregá-las, Castiel observou Emília. E vê-la naquele estado o fez se achar um idiota ainda maior pelas provocações e o fez se lembrar das palavras de Lysandre. Ele estava perdendo a chance de conhecer uma garota legal.

O sinal soou e os alunos saíram. Alguns foram na direção da enfermaria, desejando ter notícias de Emília, sendo informados que a tia estava com ela e que iria levá-la para casa. Eles pediram para vê-la, mas Fran disse que ela ainda estava sedada, levando-os a se perguntar como a tia levaria a garota para casa se ela ainda dormia.

— Com licença. — disse Maitê, saindo da enfermaria, pedindo passagem para a sobrinha, que deixou a sala nos braços do ruivo. Ela dormia profundamente e sua cabeça estava recostada no peito do rapaz, que manteve o olhar fixo no seu caminho. Ele não estava nem ai para os diversos olhares que recebeu por onde passou, principalmente da Ambre, que quis morrer, ou melhor, matar alguém e ela não perderia a chance de tentar quando pudesse, e de Nathaniel. Ver Sol nos braços do ruivo lhe causou uma estranha sensação no peito, como um aperto, mas diferente dos que já havia sentido. Era como o aperto de uma mão gelada em seu coração.

Lysandre ficou feliz por ver o amigo ajudando a Sol, significando que a antipatia dele por ela havia terminado. Mas por algum motivo, sem explicação aparente, vê-los daquela forma, mesmo Sol estando num sono profundo, lhe causou um pequeno desconforto.

Maitê segurou Emília em pé, de frente para ela, pela cintura, para que Castiel se ajeitasse no banco traseiro do carro de forma a conseguir pegá-la, depois lhe entregou a sobrinha, com certa dificuldade, pois não se tratava de uma criança, mas uma adolescente de 1.60 m. Ela a abaixou de vagar, aproximando-a dele, que a pegou pela cintura, ajudando Maitê a colocá-la sentada no seu colo; depois ela fechou a porta traseira do carro, que por sorte era 4 pontas. Foi naquele minuto que Nathaniel se tocou que o que estava sentindo era ciúme. Ver o ruivo aninhar Emília em seu colo e tirar o cabelo do rosto dela lhe causou uma fria sensação de desconforto. Ele o fez de forma a acariciar sua face, face esta que o loiro já havia tocado e que queria tocar novamente.

Melody viu a expressão no rosto do crush e sofreu calada, indo embora sem se despedir de ninguém.

Assim que Maitê saiu com o carro, os alunos, que teriam assunto para uma semana ou mais de fofocas, foram para suas casas. Rosa acompanhou Lysandre até a loja, falando do concurso, sugerindo alguns pratos, mas o rapaz estava distante. Emília estava ocupando seus pensamentos.

Já no Sweet Amoris, Nathaniel recusou a dispensa do coordenador pedagógico e cumpriu sua detenção naquele dia mesmo. Ele estava agitado demais para ir para casa, e duas horas sozinho numa sala de aula vazia o ajudaria a colocar a cabeça no lugar. Sartre percebeu que alguma coisa incomodava o rapaz, desde cedo, e se preocupou um pouco. Mas preferiu não perguntar o que lhe afligia, pelos menos não dentro das dependências da escola, como professor e aluno. Ele o deixou sozinho, afinal, Nath não era o tipo de aluno que fugiria da detenção.

Chegando ao edifício onde Maitê morava, Castiel levou Sol até deixá-la em seu quarto, subindo os quatro lanços de escada com ela nos braços, sem reclamar um segundo sequer.

Enquanto Maitê lhe preparava um suco natural bem gelado, o rapaz observou a garota dormir, agora em sua própria cama. Ele observou os detalhes do quarto e se surpreendeu. Ele não era um quarto de patricinha ou de uma garotinha mimada. Tirando alguns detalhes em rosa, como cortina e roupas de cama, e os adesivos de fada decorando a mobília, tudo era bem neutro. Tinham fotos presas num varal de parede, a maioria delas com duas garotas e um garoto com cara de nerd, e pôsteres nas paredes, de galãs daqueles filmezinhos que ele considerava água com açúcar e que as meninas adoravam. Sobre a escrivaninha havia alguns bibelôs típicos de menina e uma boneca velha, um tanto estranha que estava mais para uma bruxa ou coisa parecida, o que o fez deduzir que devia ser lembrança da infância.

De certo ela não devia gostar muito de arrumação, sendo bem bagunceira, pois a toalha estava embolada na cadeira, os sapatos jogados embaixo da cama ao invés de na sapateira e as roupas amontoadas no mancebo. Pelos CDs no chão, perto da cama, ao lado do pequeno som portátil, descobriu que ela curtia Avril Lavigne, Demi Lovato e Adele, mas que também ouvia Rolling Stones.

Em poucos minutos observando o quarto da garota, Castiel conheceu mais dela do que nos dois meses que já convivia com ela na escola.

Depois de tomar o suco, por insistência da tia da jovem, ele foi embora, despedindo-se de Emília, com um toque de mão, segurando a mão dela para poder fazê-lo.

— Você é uma garota legal, Emilia Solles. — disse ele, que recusou a carona oferecida. Maitê precisava ficar com a sobrinha e ele não ia negociar aquilo.

Maitê o achou um garoto simpático e educado, ficando feliz pela sobrinha ter bons "amigos".

 

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Notas finais do capítulo

Será diferente agora?
Que rumo tomará a vida da Sol?
Nem eu sei.... ou será que sei...